“Top Gun: Maverick” tem uma das maiores estreias do ano nos cinemas
“Top Gun: Maverick” é a maior estreia deste fim de semana. Com Tom Cruise à frente de caças velozes e um grandioso espetáculo visual, o filme aterrissa em mais de 1,6 mil salas nesta quinta (26/5), num dos maiores lançamentos do ano nos cinemas brasileiros. A programação se completa com mais três títulos, que podem ser conferidos abaixo com maiores informações e seus trailers. | TOP GUN: MAVERICK | Um dos últimos grandes astros de Hollywood, Tom Cruise chega aos 60 anos no auge. É impressionante que, a esta altura da carreira, seus dois filmes mais recentes sejam considerados os melhores de toda a sua trajetória. Aplaudidíssimo no Festival de Cannes, “Top Gun: Maverick” voa alto com 97% de aprovação da crítica contabilizada no Rotten Tomatoes, tornando-se o filme mais bem avaliado de sua filmografia, empatado com “Missão: Impossível – Efeito Fallout”, o lançamento anterior. O mais interessante é que “Top Gun: Maverick” é um filme-fetiche de Tom Cruise, idolatrando-o sem pudor. Toda a trama gira em torno dele, ao retomar o papel que o projetou no cinema de ação. O longa chega a repetir vários elementos do lançamento original – recriações de cenas e até de música-tema – , mas se prova muito melhor que a velha propaganda de recrutamento militar, lançada em 1986 com rock da MTV. Principalmente porque os tempos mudaram. Pilotos de caça viraram uma espécie em extinção nos conflitos modernos de drones. Não há glamour nos jogos de guerra à distância, e nesse sentido o patriotismo da antiga produção virou um espetáculo anacrônico. Este contexto é explorado na continuação, que reencontra o personagem Maverick mais humilde e tendo uma última chance, após um percurso sem promoções, como instrutor da escola de pilotos em que se graduou. Nesta nova situação, ele vai precisar lidar com alunos que o acham ultrapassado, entre eles o filho amargurado de Goose (Anthony Edwards), falecido no filme de 1986. O desafio se torna ainda maior quando tem que liderar os pilotos numa situação de batalha real. O filho de Goose é vivido por Miles Teller (“Whiplash”) e os demais intérpretes de pilotos são Monica Barbaro (“Chicago Justice”), Glen Powell (“Estrelas Além do Tempo”), Danny Ramirez (“Falcão e o Soldado Invernal”), Jay Ellis (“Insecure”) e Lewis Pullman (filho de Bill Pullman, visto em “A Guerra dos Sexos”). Além deles, o elenco ainda inclui Jennifer Connelly (“Expresso do Amanhã”), Ed Harris (“Westworld”), Jon Hamm (“Mad Men”) e Val Kilmer, que também reprisa seu papel do primeiro “Top Gun” como Iceman. A direção está a cargo de Joseph Kosinski, que já tinha dirigido Cruise na sci-fi “Oblivion” (2013) e se consagra de vez no comando das cenas aéreas. Quem ver em tela IMAX deve se preparar para a vertigem. | LUTA PELA FÉ – A HISTÓRIA DO PADRE STU | O astro Mark Wahlberg (“Uncharted”) investiu seu próprio dinheiro para produzir esse drama religioso baseado em história real, que mostra a transformação de um bad boy num padre adorado. O filme mostra toda a trajetória do protagonista, vivido pelo próprio Wahlberg, desde seu passado como boxeador, sua mudança para Los Angeles com o sonho de virar ator e o emprego de balconista que o fez encontrar a religião – na verdade, uma bela latina que só namorava homens batizados. Mas é só após um grave acidente de moto, responsável por sequelas, que Stu encontra sua vocação, usando o que lhe restou de capacidade física para seguir o sacerdócio. E seu exemplo acaba inspirando multidões. A produção também destaca Mel Gibson (“A Força da Natureza”) e Jacki Weaver (“O Grito”) como os pais de Stu, além de Teresa Ruiz (“Luis Miguel: A Série”) e Malcolm McDowell (“Gossip Girl”). Roteiro e direção são de Rosalind Ross, que é namorada de Gibson e estreia nas duas funções no cinema, após escrever um curta e um episódio da serie “Matador” em 2014. A crítica americana não aprovou (43% no Rotten Tomatoes) e o público não se importou, rendendo uma bilheteria abaixo das expectativas (R$ 20 milhões, metade do orçamento de US$ 40 milhões). Wahlberg perdeu dinheiro. | TANTAS ALMAS | O diretor colombiano Nicolás Rincón Gille usou sua experiência como documentarista nesta estreia na ficção, filmada com atores não profissionais e em locações reais, numa intersecção com seus documentários. Na trama, o pescador José atravessa o rio Magdalena, o maior da Colômbia, em busca dos corpos de seus dois filhos, assassinados por paramilitares. Apesar de sua dor, José está determinado a encontrá-los para dar o enterro que merecem e, assim, impedir que permaneçam como almas errantes. Em sua jornada, encontra a magia de um país despedaçado. Gille já tinha filmado a violência rural, o rio e as superstições colombianas em três longas documentais. Ao reunir essas referências numa única narrativa, atingiu uma síntese tão imersiva quanto realista: um retrato da Colômbia profunda não visto em postais, que impressionou a crítica internacional e venceu o Festival de Marrakech. | SUZANNE DAVEAU | O documentário português é dedicado à geógrafa Suzanne Daveau, com material de arquivo e depoimentos para a câmera, cobrindo desde seus anos estudantis durante a 2ª Guerra Mundial e pesquisas de campo na África e Portugal. Dirigido por Luísa Homem (“No Trilho dos Naturalistas: São Tomé e Príncipe”), o filme traça o esboço de uma mulher aventureira, que atravessa o século 20 até aos dias de hoje, guiada pela paixão da investigação geográfica – que rendeu uma extensa coleção de obras publicadas.
10 estreias digitais para programar o cinema em casa
A seleção de estreias digitais dessa semana abre com uma animação com personagens clássicos da Disney e fecha com uma adaptação dos quadrinhos da Marvel. Entre as duas produções, há um thriller de vingança premiado, vários dramas e comédias, mas principalmente uma diferença de qualidade chocante. Na verdade, o que chama a atenção é que o filme de Tico e Teco é exclusivo do streaming, enquanto Morbius sugou o público nas bilheterias de cinema, antes de chegar morto-vivo às plataformas de VOD. Quem já viu em tela grande, não deve querer passar pelo trauma de novo. Mas como não é possível ignorar nada com a grife Marvel nos dias atuais, lá está Jared Leto, vencedor do Framboesa de Ouro de Pior Ator Coadjuvante (por “Casa Gucci”), puxando o pé da lista abaixo. Confira a seguir os 10 títulos que se destacam entre os novos lançamentos nas plataformas de assinatura e locação. | TICO E TECO: DEFENSORES DA LEI | DISNEY+ A amada dupla de esquilos Tico e Teco volta à animação num filme que é metalinguagem ambulante. Com referências a perder de vista, a trama conta com a participação de vários personagens da Disney, além de zoar a evolução da animação nas últimas décadas. De fato, a produção chama atenção pela mistura de todo o tipo de animação existente (da convencional à computadorizada, sem esquecer massinhas), que, como se não bastasse, ainda convivem com atores de carne e osso. São ecos pós-modernos de “Uma Cilada para Roger Rabbit” (1988), mas em tom de sátira assumida. A trama encontra os esquilos muito tempo depois de sua famosa série dos anos 1980 ser cancelada. Desde então, Tico se rendeu a uma vida doméstica suburbana como um vendedor de seguros, enquanto Teco passou por uma harmonização facial em CGI (computação gráfica) e vive no circuito de convenções nostálgicas, desesperado para resgatar seus dias de glória. Quando um ex-colega de elenco desaparece misteriosamente, eles decidem consertar a amizade rompida e assumir mais uma vez suas personalidades de Defensores da Lei num caso que parece envolver o sumiço de vários personagens da Disney. Sem falar que, 30 anos depois, os executivos do estúdio veem que chegou a hora de um reboot. Escrita pelos roteiristas de “Dolittle” (Dan Gregor e Doug Mand), a animação destaca as vozes originais dos comediantes John Mulaney (“Saturday Night Live”) e Andy Samberg (“Brooklyn Nine-Nine”) e conta com direção de Akiva Schaffer (“Popstar: Sem Parar, Sem Limites”), parceiro de Samberg na trupe de humor Lonely Island. | O CONTADOR DE CARTAS | NOW, VIVO PLAY, VOD* O novo filme de Paul Schrader (“Fé Corrompida”) traz Oscar Isaac (“Cavaleiro da Lua”) como um jogador de pôquer de passado complicado. Ex-interrogador militar implicado num crime, ele aprendeu a contar cartas na prisão e tenta esquecer seus traumas nos cassinos. Mas o destino coloca em seu caminho um jovem (Tye Sheridan, de “X-Men: Fênix Negra”) com vingança em mente, que tenta convencê-lo a se juntar a um plano contra seu ex-comandante, interpretado por Willem Dafoe (“Aquaman”). A produção também traz Tiffany Hadish (“Sócias em Guerra”) como amante do protagonista, além de marcar a retomada da parceria entre Schrader e Martin Scorsese, interrompida após “A Última Tentação de Cristo”, em 1988. O diretor de “O Contador de Cartas” escreveu alguns dos títulos mais famosos de Scorsese, como “Taxi Driver”, “Touro Indomável” e o filme da crucificação, e agora reata as colaborações com o veterano cineasta assumindo a função de produtor do novo filme. Exibido no Festival de Veneza e indicado ao Gotham Awards de Melhor Roteiro e Ator, o longa agradou a crítica internacional, com 87% de aprovação no Rotten Tomatoes. | O PACTO | NOW, VIVO PLAY, VOD* O célebre diretor dinamarquês Bille August (“Trem Noturno para Lisboa”) examina o final da vida de Karen Blixen (a autora do livro que virou o filme “Entre Dois Amores”) na década de 1940, 17 anos após desistir de sua aventura na África e voltar para a Dinamarca. Destruída pela sífilis e arrasada por ter perdido sua fazenda e o amor de sua vida, ela se reinventa como uma superestrela literária, tornando-se mundialmente famosa, mas extremamente solitária aos 63 anos. Até conhecer o poeta Thorkild Bjørnvig, de 30 anos. Juntos, eles fazem um pacto: ela promete torná-lo um grande artista, em troca dele obedecê-la incondicionalmente – independentemente do preço. Intérpretes do casal central, Birthe Neumann (“Festa de Família”) e Simon Bennebjerg (“Lover”) venceram o Robert (o Oscar dinamarquês) de Melhor Atriz e Ator do ano. | SPACEWALKER – RUMO AO DESCONHECIDO | NOW, VOD* Espécie de “Os Eleitos” (1983) e “Apolo 13” (1995) soviético, o filme de Dmitriy Kiselev (“Trovão Negro”) acompanha a seleção, a preparação e o voo dos cosmonautas responsáveis pela primeira caminhada no espaço. Pouco conhecida no Ocidente, devido à Cortina de Ferro, a história é real e apresentada com uma fotografia e efeitos de realismo impressionante, ao estilo de “Gravidade” (2013), que reforçam a narrativa épica, com vários elementos dramáticos e cenas de suspense eletrizante, especialmente após a missão começar a dar errado. | VALE NIGHT | STAR+ Gabriela Dias (“Cidade Proibida”) e Pedro Ottoni (“Pai em Dobro”) vivem um casal da periferia de São Paulo nesta comédia divertida, que conta com participação de Linn da Quebrada, do “BBB 22”. Cansada de lidar com as responsabilidades do primeiro filho, Daiana (Dias) resolve pegar um “vale night” para passar a noite com as amigas, mas para isso precisa deixar o filho com o pai irresponsável da criança. Sem a menor noção, Vini (Ottoni) também decide sair na noite, levando o bebê para um baile funk. Só que a criança some enquanto ele dança, fazendo com que mobilize os amigos (entre eles, Linn) numa busca por toda a comunidade, enquanto enrola Daiana para ela não perceber nada. Além de entreter, o filme dirigido por Luis Pinheiro (“Mulheres Alteradas”) também mostra que as histórias de favela podem ser muito mais variadas que as tramas insistentes de crime e violência. O elenco ainda inclui Yuri Marçal (“Desjuntados”), Jonathan Haagensen (“Onisciente”), Maíra Azevedo (a Tia Má, de “Medida Provisória”), Neusa Borges (“Juntos e Enrolados”), Sol Menezes (“Irmandade”), Natallia Rodrigues (“O Doutrinador”) e Iara Jamra (“O Signo da Cidade”), entre outros. | CASAL DE FACHADA | STAR+ O comediante mexicano Eugenio Derbez (“No Ritmo do Coração”) acaba no lugar e na hora errados para tudo dar certo, quando um paparazzi flagra uma estrela de cinema famosa com seu amante casado. Vendo a carreira da atriz em jogo, seu agente procura o segundo homem na foto com uma proposta: fingir ser amante da beldade para encobrir o escândalo. Só que o personagem de Derbez é um mero manobrista, que topa prontamente por achar que é pegadinha. A situação se complica quando ele desperta o interesse dos paparazzi, o que também lhe transforma em celebridade e força a atriz a desempenhar melhor seu papel de namorada. Essa trama de Sessão da Tarde já foi reciclada várias vezes, mas continua simpática. E embora a premissa lembre muitos filmes, esta versão específica é remake da comédia francesa “Contratado para Amar” (2006), com direção de Richard Wong (da premiada comédia indie “Come As You Are”), a atriz Samara Weaving (do terrir “Casamento Sangrento”) no papel da estrela e o ator Max Greenfield (de “New Girl”) como o amante. | NOSSA INFÂNCIA EM TBILISI | FILMICCA Passado na capital da Georgia no início dos anos 1990, o primeiro longa do casal Thierry e Téona Grenade acompanha Giorgi, um adolescente de 16 anos que descobre outro mundo ao conhecer os filmes americanos proibidos antes da queda da União Soviética. Inspirado pelos gângsteres de Hollywood, Giorgi acredita que pode ter sucesso seguindo o caminho de seus ídolos: Tony Montana e Vito Corleone. Entretanto, nessa jornada violenta, ele começa a virar má influência para seu irmãozinho talentoso de 12 anos, caindo num dilema: o que fazer para impedir o menino de seguí-lo, já que ele poderia facilmente se tornar um pianista famoso? Cenas comoventes do dia a dia dos irmãos transformam o filme num grande drama sobre fraternidade numa sociedade implacável. | DECEPTION | MUBI O premiado cineasta francês Arnaud Desplechin (vencedor do César por “Três Lembranças da Minha Juventude”) adapta a obra autoficcional do premiado escritor americano Philip Roth (vencedor do Pulitzer por “Pastoral Americana”) num drama sobre sexo e literatura, onde o maior fetiche são as palavras. Denis Podalydès (“O Oficial e o Espião”) vive o alter-ego de Philip Roth, enquanto escreve, tem conversas com sua esposa, encontra sua amante e convive com outras mulheres, que podem ser sonhos ou personagens de ficção. Eles transam, brigam, fazem as pazes e conversam por horas, enquanto “Philip” assume que seu verdadeiro prazer é ouvir palavras. O resultado é muito falatório e teatralidade – o equivalente visual das longas prosas literárias – , ao menos até a tela se encher com a arrebatadora presença de Léa Seydoux. Como a amante fogosa, a estrela francesa de “007 – Sem Tempo para Morrer” incendeia as cenas, transformando cada gesto, olhar e as mencionadas palavras em frisson sexual, numa prévia do que vai ser a sua versão de “Emmanuelle”. | MIRADOR | NOW Premiado no Festival Ibero-Americano de Miami, o filme de estreia de Bruno Costa acompanha um boxeador amador (Edilson Silva, de “Bacurau”) que treina para retornar aos ringues, enquanto divide seu tempo com dois subempregos em Curitiba. Pai de uma menina pequena, fruto de uma relação casual, ele vê sua vida colocada de cabeça para baixo quando precisa cuidar sozinho da filha. A obra chama atenção por elementos autorais, como a opção de transformar as dificuldades em problemas físicos – a rotina exaustiva de treinos e bicos para sobreviver. A captação de sons externos bastante limitada ainda reflete a falta de amigos, lazer e expectativas do personagem central, servindo para ampliar sua solidão. E o fato de ser uma obra aberta, sem desfechos para os problemas, acaba simbolizando a falta de controle do protagonista sobre a própria existência. Muito intertexto e um diretor para acompanhar com atenção. | MORBIUS | NOW, VIVO PLAY, VOD* Lançado logo após o fenômeno “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, a nova produção da Sony baseada nos quadrinhos da Marvel é um anticlímax completo. Fracasso de público e crítica, o longa rendeu US$ 163 milhões em todo o mundo – 8,6% do que fez o mais recente “Homem-Aranha” – e ainda foi considerado podre pela crítica internacional, com apenas 18% de aprovação no Rotten Tomatoes. O pior é que a premissa era promissora. Interpretado por Jared Leto (o Coringa do “Esquadrão Suicida”), Michael Morbius é introduzido como um bioquímico vencedor do Prêmio Nobel que, ao tentar descobrir a cura para um doença terminal, transforma-se acidentalmente num vampiro. Embora tenha ficado superpoderoso como efeito colateral, ele precisa lutar contra o desejo de matar e se alimentar de sangue humano. O que deu errado? Bom, o roteiro é da dupla Burk Sharpless e Matt Sazama (do infame “Os Deuses do Egito”), enquanto a direção ficou a cargo do sueco Daniel Espinosa (do insonso “Vida”). O elenco inclui ainda Tyrese Gibson (“Velozes e Furiosos 8”), Jared Harris (“Chernobyl”), Adria Arjona (“Círculo de Fogo 2: A Revolta”) e Matt Smith (de “Doctor Who” e “The Crown”), rostos conhecidos que podem levar o público a querer conferir a produção com a “grife” da Marvel. * Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Google Play, Looke, Microsoft Store, Loja Prime e YouTube, entre outras, sem necessidade de assinatura mensal.
Com destaque para “Pureza”, cinemas exibem 10 estreias na semana
Os cinemas brasileiros recebem 10 filmes novos nesta quinta (19/5). E como se não fosse bastante, “Top Gun: Maverick” tem “pré-estreias” em sessões concorridas no sábado e no domingo (22/5). Os dois lançamentos americanos da programação oficial têm distribuição mais ampla, mas é um drama brasileiro que desperta maior atenção. “Pureza” rendeu até matéria no “Fantástico” no domingo passado (15/5), relembrando a história real que o inspirou. Continue lendo abaixo para saber mais sobre esta e as demais estreias da semana. | PUREZA | Inspirado na história real de uma mãe, “Pureza” é um filme-denúncia sobre a situação de trabalho escravo que ainda persiste no Brasil. Dira Paes (“Pantanal”) interpreta a personagem do título, Dona Pureza, uma mulher sem notícias do filho, que foi para um garimpo na Amazônia e sumiu. Ao partir em sua busca, ela acaba testemunhando o aliciamento e cárcere privado de trabalhadores rurais, que, após serem enganados com ofertas de emprego, são forçados a trabalhar como escravos numa fazenda sob a mira de armas. Dona Pureza vira cozinheira dessa gente e, enquanto recolhe provas dos crimes, descobre que o filho foi vítima do mesmo esquema, preso em outra fazenda do grupo de criminosos. O que acontece a seguir é spoiler do desfecho, mas foi fundamental para a história de combate ao trabalho análogo à escravidão no território brasileiro. Em 1997, a Dona Pureza, que inspirou o filme, recebeu em Londres o prêmio anti-escravidão da mais antiga organização de combate a esse tipo de exploração no mundo. “Pureza” é o segundo longa de ficção de Renato Barbieri, especializada em documentários sobre o Brasil profundo, que em 2019 fez um registro documental da escravidão atual na Amazônia, no filme “Servidão”. Mas se o tema arrancou elogios unânimes, a realização dividiu a crítica. Foi chamado de “filme de Oscar” e também de narrativa convencional. | DOG – A AVENTURA DE UMA VIDA | Primeiro filme dirigido por Channing Tatum (“Kingsman: O Círculo Dourado”), a comédia “Dog” traz o ator contracenando com um cachorro. O aspecto mais curioso é que os dois interpretam veteranos de guerra, em viagem para o funeral de um colega soldado. O projeto foi concebido pela entourage do ator. A história partiu de Brett Rodriguez, um assistente, dublê e consultor militar dos filmes de Tatum. E o roteiro final foi assinado por Reid Carolin (produtor-roteirista de “Magic Mike”), que é sócio e parceiro do astro há mais de uma década, e também dividiu a direção do filme com o amigão. O enredo é de um road movie rumo à superação, com um soldado que reluta em aceitar a vida civil e um cachorro que não aceita nenhum substituto para seu dono querido – o militar morto cujo funeral eles pretendem atender. Embora previsível como todo filme de jornada, gera empatia e conquistou a crítica americana – 76% de aprovação no Rotten Tomatoes. | CHAMAS DA VINGANÇA | O livro “A Incendiária” (1980) de Stephen King, é uma das principais influências de “Stranger Things” e foi filmado pela primeira vez em 1984 com ninguém menos que Drew Barrymore, então com 9 anos de idade, no papel principal. A protagonista é uma garotinha superpoderosa, capaz de incendiar objetos – e pessoas! – com a força do pensamento, que passa a ser perseguida por uma agência governamental secreta com o objetivo de transformar seu dom numa arma. Inspiração clara para a personagem Eleven, a menina é agora interpretada por Ryan Kiera Armstrong, de 11 anos – que coadjuvou na série infantil “Anne with an E” e na sci-fi “A Guerra do Amanhã”. E o elenco ainda inclui Zac Efron (“Vizinhos”) como seu pai e Sydney Lemmon (“Helstrom”) como sua mãe, além de Gloria Reuben (“Mr. Robot”) como a vilã principal. Vale apontar que o público americano ignorou o remake (abriu em 4º lugar na semana passada nos EUA), e a crítica lamentou ter precisado vê-lo – míseros 12% de aprovação no Rotten Tomatoes. | A MEDIUM | Longe de ser um terror hollywoodiano, “A Médium” é uma história assustadora baseada na espiritualidade tailandesa. O diretor Banjong Pisanthanakun é especialista no gênero, responsável pelo sucesso “Espíritos” (2004), que virou franquia, e vários outros horrores made in Thailand. Sua abordagem segue de perto a escola “found footage” (mais “Holocausto Canibal” que “A Bruxa de Blair”), com equipe de (falsos) documentaristas mobilizada para acompanhar um exorcismo com rituais muito diferentes dos apresentados nos terrores católicos. Na trama, Nim, uma importante médium que mora ao norte da Tailândia, percebe comportamentos cada vez mais sinistros em sua jovem sobrinha Mink, indicando que talvez ela esteja sendo possuída por uma entidade maligna ancestral. A médium logo descobre que a jovem é vítima de algo que aconteceu em sua família, muitos anos atrás. E a câmera tremida deixa tudo muito mais realista e arrepiante. | O PAI DA RITA | Este é apenas o segundo longa de ficção de Joel Zito Araújo, o diretor do premiado “Filhas do Vento”, vencedor de nada menos que oito kikitos no Festival de Gramado de 2005. Desde então, ele fez alguns curtas e documentários, mas a demora em retornar ao cinema autoral não deixa de ser significativa para ilustrar as dificuldades que enfrentam os cineastas negros no Brasil, especialmente quando decidem filmar histórias negras com atores negros. “O Pai da Rita” é uma comédia, de premissa até bem comercial, não muito diferente do novo sucesso de Maisa na Netflix, “Pai em Dobro”, mas com um ponto de vista inverso e tendo como pano de fundo a celebração do samba. Ailton Graça (“Galeria Futuro”) e Wilson Rabelo (“Dom”) vivem dois compositores da velha guarda da Vai-Vai, que compartilham uma kitnet, décadas de amizade, o amor por sua escola de samba e uma dúvida do passado: o que aconteceu com a passista Rita, paixão de ambos. O surgimento da Ritinha (Jéssica Barbosa, de “Mormaço”), filha da passista, traz uma nova dúvida e ameaça desmoronar essa grande amizade. O detalhe é que há um terceiro possível pai nesta história: o cantor e compositor Chico Buarque, que compôs uma música sobre sua paixão por Rita no começo da carreira. A música existe mesmo: “A Rita”. E este é apenas um dos muitos elementos que enriquecem a produção, que ainda comenta a situação do samba, a crise econômica, a especulação imobiliária e muito mais. | QUATRO AMIGAS NUMA FRIA | A nova comédia de Roberto Santucci, diretor dos blockbusters “De Pernas pro Ar” e “Até que a Sorte nos Separe”, é um filme de turismo passado em Barriloche. Maria Flor (“Irmãos Freitas”), Fernanda Paes Leme (“Cinderela Pop”), Micheli Machado (“Auto Posto”) e Priscila Assum (“Reality Z”) são as quatro amigas do título, brasileiras que resolvem passar as férias no sul da Argentina e sentem o choque térmico – e cultural. Achando que vão se dar bem, começam a se dar cada vez mais mal. Mas só até a reviravolta romântica, é claro. | A FELICIDADE DAS COISAS | A coisa que a protagonista (Patrícia Saravy, de “Tentei”) do drama nacional imagina que possa lhe trazer felicidade é uma piscina, que ela sonha em construir para os filhos na modesta casa de praia em que mora com a mãe. Ela está grávida do terceiro filho e os problemas financeiros tornam cada vez mais difícil ser feliz, mas ela insiste, lutando por seu objeto de desejo, contra tudo e todos, com um símbolo de resistência por suas crianças. A diretora Thais Fujinaga (“A Cidade onde Envelheço”) se inspirou em sua infância para conceber seu segundo longa, que foi filmado na região em que passava os verões na adolescência. Os críticos de carteirinha gostaram. “A Felicidade das Coisas” venceu o prêmio de Melhor Estreia Brasileira, entregue pela Abraccine na Mostra de São Paulo do ano passado. | MENTES EXTRAORDINÁRIAS | A comédia dramática francesa escrita, dirigida e estrelada por Bernard Campan (“Les Trois Frères”) mostra como um encontro fortuito com um rapaz com deficiência física e intelectual muda a vida de um agente funerário. Após quase atropelar o deficiente rejeitado, o personagem de Campan tenta ajudá-lo. Mas logo cria um vínculo e acaba levando-o numa viagem rumo a um funeral, dando início a uma amizade inesperada. | MISS FRANÇA | A comédia francesa de Ruben Alves (“A Gaiola Dourada”) trata de identidade de gênero. Alexandre Wetter (visto em “Emily in Paris”) é um jovem que, desde a infância sonha virar Miss França. E quando começa a assumir cada vez mais características femininas, resolve se inscrever no disputado concurso beleza, surpreendendo muitos ao conseguir ser aprovado. Apoiado por sua excêntrica família, Alex vai enfrentando as fases do concurso e descobrindo um mundo de beleza, exigência e sofisticação, no qual o maior prêmio será a felicidade de ser ele mesmo – mesmo que esta sinopse, baseada no roteiro, insista em lhe chamar pelo pronome errado. | TWENTY ONE PILOTS CINEMA EXPERIENCE | O documentário musical acompanha uma apresentação em estúdio do Twenty One Pilots, feita durante a pandemia, em celebração ao lançamento do álbum “Scaled and Icy”, de 2021. A produção traz áudio e imagem remasterizados para a tela grande, acompanhado por conteúdo inédito para os fãs da dupla.
10 estreias de filmes pra ver em casa no fim de semana
A programação de cinema digital está repleta de comédias, especialmente comédias românticas para ver a dois. Mas também há drama nacional e espionagem de guerra para quem prefere tramas séries, além de “terror artístico” e anime de grife para geeks assumidos. Confira abaixo os 10 melhores títulos selecionados entre as estreias da semana, com seus respectivos trailers. | CASE COMIGO | NOW, VIVO PLAY, VOD* A comédia romântica estrelada por Jennifer Lopez (“As Golpistas”) e Owen Wilson (“Loki”) tem uma premissa similar ao clássico “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999), só que no contexto do mundo da música em vez da indústria cinematográfica. Lopez é um cantora famosa que pretende se casar com outro astro popular (vivido pelo ídolo colombiano Maluma) num show com todos os ingressos vendidos. Entretanto, descobre que ele é infiel e, no show lotado, escolhe uma pessoa aleatória na plateia para se casar. O escolhido é um professor divorciado (Wilson), que nem é fã da cantora e só foi ao show por insistência da filha (Chloe Colemana, de “Aprendiz de Espiã”) e de uma colega (Sarah Silverman, de “Popstar: Sem Parar, Sem Limites”). Convencido pelo empresário da artista (John Bradley, de “Game of Thrones”) a fingir por três meses que eles são um casal feliz, professor e cantora logo caem nos clichês de toda comédia romântica. A direção é de Kat Coiro (“Um Caso de Amor”), que está gravando atualmente os episódios da série da Mulher-Hulk. | DE VOLTA AO BAILE | NETFLIX A atriz Rebel Wilson (“A Escolha Perfeita”) vive uma cheerleader de 37 anos na comédia sobre tempo perdido. Na trama, ela acorda de um coma de duas décadas e resolve retomar sua vida do ponto em que foi interrompida, voltando para a escola para terminar o Ensino Médio e assumir seu posto como líder de torcida. Impressiona ela caber no traje – Wilson perdeu 30 quilos no ano passado – , mas a busca de humor é baseada em seu choque cultural com a nova geração. Sessão da Tarde em piloto automático, o primeiro longa assinado pelo diretor de séries Alex Hardcastle (“Grace & Frankie”, “You’re the Worst”) também inclui no elenco Angourie Rice (“Homem-Aranha: Longe de Casa”), Justin Hartley (“This Is Us”), Sam Richardson (“A Última Ressaca do Ano”), Alicia Silverstone (“O Clube das Babás”) e Chris Parnell (“Goosebumps 2”). | DIVERSÃO A TRÊS | NOW, VIVO PLAY, VOD* A comédia indie traz Lauren Lapkus (“Good Girls”) e Nicholas Rutherford (“Dream Corp LLC”) como um casal que percebe que seus pais têm uma vida sexual mais excitante do que a deles. Interessados em apimentar a relação, eles decidem tentar sexo a três. Mas o constrangimento e as dificuldades encontradas levam a iniciativa para um rumo inesperado, expondo problemas de relacionamento mais profundos e ameaçando o futuro do jovem casal. Com 91% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme é dirigido por Robert Schwartzman, mais conhecido por ter vivido há 21 anos o interesse romântico de Anne Hathaway em “O Diário de Princesa”. O elenco atraente ainda destaca Lucy Hale (“Pretty Little Liars”), Beck Bennett (“Saturday Night Live”) e Dree Hemingway (filha de Mariel e bisneta de Ernest Hemingway). | AMARRAÇÃO DO AMOR | AMAZON PRIME VIDEO, NOW, VIVO PLAY, VOD* Em tempos de intolerância religiosa contra o Exu da Sapucaí, a comédia brasileira sobre os problemas de um casal de religiões diferentes se torna bastante relevante, ainda que seu objetivo principal seja fazer rir – o que consegue com Cacau Protásio (“Juntos e Enrolados”) roubando as cenas como a mãe do noivo. Lucas (Bruno Suzano, de “Órfãos da Terra”) e Bebel (Samya Pascotto, de “Sentença”) querem um casamento simples. Mas o pai da noiva (Ary França, de “Samantha!”) luta para que prevaleçam as tradições judaicas, enquanto a mãe de Lucas (Protásio) se esforça para levar para a futura família as tradições da umbanda. A direção é de Caroline Fioratti (de “Meus 15 Anos”). | O REI DAS FUGAS | NETFLIX A vida de um famoso bandido polonês, que virou mito pelas incontáveis fugas da prisão, vira uma comédia de ação mirabolante no longa do novato Mateusz Rakowicz. Altamente estilizada, a trama se passa nos últimos dias do comunismo na Polônia, após o ladrão Zdzislaw Najmrodzki se tornar herói popular ao escapar da polícia 29 vezes. Entretanto, um amor inesperado e a queda do Muro de Berlim começam a mudar tudo em sua vida. A história é real – e foi premiada na Polônia pela recriação de época e figurino – , mas a forma cômica como é apresentada é tudo menos realista. Como curiosidade, o intérprete do ladrão, Dawid Ogrodnik, é um conhecido do cinema brasileiro, já tendo trabalhado com Cacá Diegues em “O Grande Circo Místico” (2018). Ele também foi o principal intérprete masculino do premiadíssimo “Ida”, de Pawel Pawlikowski, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015. | DELICIOSO – DA COZINHA PARA O MUNDO | NOW, VIVO PLAY, VOD* A comédia culinária conta a história do primeiro restaurante francês. A trama se passa na véspera da Revolução, quando um cozinheiro demitido por seu mestre, o duque de Chamfort, conhece uma mulher surpreendente que o estimula a empreender sua própria revolução. Mas ao abrir um lugar para a alimentação de todos, eles não ganham só clientes. Arranjam também um inimigo poderoso. Dirigida por Éric Besnard (“O Sentido do Amor”), a produção concorreu a dois Césars (o Oscar francês) nas categorias de figurino e cenografia (design de produção) e conta com impressionantes 100% de aprovação no site Rotten Tomatoes. | THELMA | MUBI O longa do dinamarquês Joaquim Trier, que antecedeu a consagração de “A Pior Pessoa do Mundo” (indicado ao Oscar 2022), é um terror de temática lésbica com ecos de “Carrie, a Estranha” (1976). Eili Harboe (de “A Onda”) vive uma menina reprimida que começa a manifestar poderes psíquicos destrutivos de forma inconsciente, ao sentir atração por uma colega de aula (a cantora Kaya Wilkins, mais conhecida pelo nome artístico de Okay Kaya). O clima é bastante sensual, graças à beleza da fotografia e das jovens, mas também há cenas tensas. A temática de “Thelma” surpreende na filmografia de Trier – de dramas sóbrios e realistas, como “Começar de Novo” (2006), “Oslo, 31 de Agosto” (2011) e “Mais Forte que Bombas” (2015) – , mas a qualidade permanece, já que o filme foi selecionado como candidato da Noruega a uma vaga no Oscar de Melhor Filme Internacional de 2018. Acabou não conseguindo a indicação, mas venceu 15 prêmios internacionais. | O SOLDADO QUE NÃO EXISTIU | NETFLIX O filme de guerra estrelado por Colin Firth (“Kingsman: Serviço Secreto”) e Matthew Macfadyen (“Succession”) conta a história real de como o serviço secreto britânico enganou o exército nazista com a ajuda de um cadáver. Apostando numa estratégia de desinformação, os ingleses criam um soldado que nunca existiu, transformando um cadáver no mensageiro de ordens falsas sobre uma grande invasão da Grécia, jamais planejada, com o objetivo de desviar as forças nazistas para longe do local onde a verdadeira invasão aconteceria. A direção é de John Madden (“O Exótico Hotel Marigold”) e o grande elenco ainda inclui Kelly Macdonald (“Boardwalk Empire”), Penelope Wilton (“After Life”), Johnny Flynn (“Stardust”), Jason Isaacs (“Star Trek: Discovery”), Mark Gatiss (“A Favorita”) e Paul Ritter (“Friday Night Dinner”). | CURRAL | NETFLIX O primeiro longa de ficção de Marcelo Brennand compartilha a temática e de seu documentário “Porta a Porta” (2010), abordando as campanhas políticas do interior do Nordeste. Na trama, um político que se apresenta como renovação repete os mesmos métodos que denuncia como ultrapassados. O elenco traz Thomas Aquino (“Bacurau”), premiado no Festival de Huelva (Espanha) por seu desempenho, além de José Dumont (“Onde Nascem os Fortes”) e Rodrigo García (“Onde Está Meu Coração”). A estreia está marcada para domingo (15/5). | GHOST IN THE SHELL SAC_2045 – GUERRA SUSTENTÁVEL | NETFLIX O longa animado é uma versão resumida e reeditada da série “Ghost in the Shell SAC_2045”, que continua a longa trajetória da franquia criada pelo mangaká Masamune Shirow em 1989, e que explodiu na cultura pop com o anime “Ghost in the Shell” de 1995. Comparado ao impacto de “Akira” (1988), o longa original apresentou a obra de Shirow ao mundo ocidental e influenciou todas as produções focadas em sci-fi cyberpunk que vieram depois – inclusive a trilogia “Matrix”. O sucesso de filme originou mais três longas, quatro OVAs (filmes lançados diretamente em vídeo) e duas séries de televisão, além de uma adaptação live-action estrelada por Scarlett Johansson, que foi muito criticada por trazer uma atriz não asiática no papel principal. Todos os lançamentos acompanham investigações da major Mokoto Kusanagi, comandante ciborgue de uma unidade de combate ao terrorismo cibernético chamada Seção 9, que luta contra uma conspiração de hackers para levar anarquia às ruas de uma megacidade japonesa do futuro. Quem assina o novo longa é Michihito Fujii, estreante na saga animada após uma carreira repleta de longas premiados, como “A Jornalista” (2019), que virou uma série da Netflix em janeiro passado. * Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Google Play, Looke, Microsoft Store, Loja Prime e YouTube, entre outras, sem necessidade de assinatura mensal.
Épico viking e o “Talento” de Nicolas Cage marcam estreias de cinema
A programação de cinema recebe cinco novos filmes nesta quinta (12/5), mas apenas dois chegam no circuito mais amplo: “O Homem do Norte”, um épico viking do diretor de “A Bruxa”, e “O Peso do Talento”, comédia em que Nicolas Cage interpreta Nick Cage, uma versão exagerada dele mesmo. Ambos tiveram boa recepção da imprensa internacional, atingindo respectivamente 89% e 86% de aprovação no Rotten Tomatoes, que contabiliza a nota média das críticas em inglês. Os demais títulos são restritos ao circuito limitado. Mas até os dois maiores lançamentos terão dificuldades de distribuição, devido à concentração de telas com “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”. O filme da Disney/Marvel ocupou 70% de todo o parque exibidor nacional na semana passada e permanece como o título com mais cópias em cartaz. Conheça abaixo as estrelas e seus trailers. | O HOMEM DO NORTE | O épico viking estrelado por Alexander Skarsgård (“Big Little Lies”) e Anya Taylor-Joy (“O Gambito da Rainha”) é um filme de vingança sangrento, com cenas de batalha apresentadas com violência extrema pelo diretor Robert Eggers, responsável pelos terrores “A Bruxa” (2015) e “O Farol” (2019) Em sua produção de maior orçamento e ambição, ele conta com um elenco grandioso, que ainda destaca Nicole Kidman (“Aquaman”), Ethan Hawke (“Cavaleiro da Lua”), Willem Dafoe (“O Farol”), Claes Bang (“Drácula”), Ralph Ineson (“A Bruxa”) e a cantora Bjork. Ambientada na Islândia na virada do século 10, a trama acompanha o filho de um rei, que na infância testemunha o assassinato do pai e passa anos esperando acertar as contas com o usurpador. Esse resumo sintetiza uma história presente em várias sagas nórdicas e que, como apurou Eggers, inspirou Shakespeare a escrever nada menos que a peça “Hamlet”. | O PESO DO TALENTO | A comédia de ação é uma sátira à carreira do astro Nicolas Cage. O filme mostra o ator falido e sem ofertas de trabalho, o que o leva a aceitar o convite para uma aparição paga na festa de um fã milionário espanhol. Na verdade, o personagem interpretado por Pedro Pascal (“The Mandalorian”) comanda um cartel de drogas e a ida à festa se torna uma oportunidade para a CIA fazer Cage virar espião. A situação se complica por o ator começar a demonstrar sintomas de esquizofrenia, ao se ver humilhado por uma versão de si mesmo dos anos 1990, e pela chegada surpresa de sua ex-mulher e a filha, trazidas pelo milionário para uma reconciliação. Com as vidas de quem ama em risco, Cage decide assumir sua própria lenda, canalizando seus personagens mais icônicos para salvar a si mesmo e seus entes queridos. Dirigido por Tom Gormican, que também escreveu o roteiro com Kevin Ettan, seu parceiro criativo na série “Ghosted”, o longa ainda inclui Neil Patrick Harris (“How I Met Your Mother”) como empresário de Cage e Tiffany Haddish (“Rainhas do Crime”) como uma agente da CIA. | @ARTHUR.RAMBO – ÓDIO NAS REDES | O novo drama do cineasta francês Laurent Cantet, vencedor da Palma de Ouro por “Entre os Muros da Escola”, aborda a cultura do cancelamento. A produção traz o ator Rabah Nait Oufella, revelado por Cantet em seu filme premiado de 2008, como Karim D., um escritor jovem que é o frisson do momento. Até vir à tona que ele também já foi Arthur Rambo, pseudônimo que usava na adolescência para trollar as redes sociais, espalhando mensagens de ódio que agora voltam para assombrá-lo. A premissa não pode ser mais atual e é comandada por um diretor acostumado com temas provocativos. Mas assim como a polarização das redes sociais, o resultado divide opiniões. | ÁGUAS SELVAGENS | O suspense do argentino Roly Santos (“Manos Unidas”) mistura espanhol e português para acompanhar um ex-policial (o uruguaio Roberto Birindelli, de “Dom”) contratado como detetive para investigar um crime na Tríplice Fronteira. Atormentado por seus próprios problemas pessoais, ele acaba tropeçando numa organização criminosa envolvida com assassinatos, prostituição, pedofilia e tráfico de crianças. O elenco inclui as brasileiras Mayana Neiva (“Rotas do Ódio”), Allana Lopes (“O Cemitério das Almas Perdidas”) e Leona Cavalli (“Órfãos da Terra”). | CROCODILOS – A MORTE TE ESPERA | O trash australiano é uma espécie de “Predadores Assassinos” de baixo orçamento, que transforma o furacão do filme americano numa enchente de caverna e o ataque de dezenas de jacarés num único crocodilo faminto. Cinco amigos decidem explorar um sistema de cavernas no norte da Austrália e após uma forte tempestade ficam presos numa gruta, com a água subindo e um predador aproveitando a cheia para mastigá-los um por um. Por incrível que pareça, o lançamento faz parte de uma franquia e foi dirigido por um especialista em “terrores da natureza”. É continuação de “Medo Profundo”, feito pelo mesmo diretor, Andrew Traucki, em 2007. Entre um e outro, o australiano ainda fez filmes de tubarão e leopardo assassinos, “Perigo em Alto Mar” (2010) e “The Jungle” (2013). | MEU AMIGÃOZÃO – O FILME | A animação brasileira é baseada na série infantil de mesmo nome e conta com direção de um dos criadores da atração original, Andrés Lieban. A história gira em torno de três crianças com problemas de socialização que criam amigos imaginários para enfrentar os problemas da infância. No filme, Yuri, Lili e Matt precisam encarar seu maior terror: seus pais vão mandá-los para uma colônia de férias, onde, pela primeira vez, eles terão que passar dias inteiros longe de casa. Diante deste medo, ele se juntam a seus Amigãozões para se refugiar num mundo de fantasia que parece ter sido feito especialmente para eles, repleto de ambientes e criaturas incríveis. O problema é que o lugar também é habitado por Duvi Dudum, uma criatura sombria, capaz de assumir diferentes formas muito sedutoras para conseguir o que quer: separar as crianças dos seus Amigãozões.
Os 10 melhores filmes que estreiam em casa
A programação de estreias digitais se divide em filmes com apelo para o grande público e títulos voltados a cinéfilos de carteirinha. Vai da animação para crianças e comédia nacional até obras premiadas em festivais europeus, sem esquecer um cult para geeks musicais – e com um bom e indefectível banho de sangue para quem tem gosto mais extremo. Escolha seu preferido na lista abaixo, que reúne os 10 melhores lançamentos da semana nas plataformas de VOD e de assinatura, acompanhados por seus trailers. OS CARAS MALVADOS | NOW, VOD* Atual líder das bilheterias nos EUA, a produção da DreamWorks Animation sobre os estereótipos dos vilões das fábulas encantadas tem ritmo veloz, é engraçada, embute uma mensagem importante contra aparências e apresenta tudo com um visual tão atraente que é impossível não prestar atenção. A animação gira em torno de um grupo típico de vilões de histórias infantis, que praticam crimes sofisticados sob o comando de um Lobo Mau. Entretanto, tudo muda quando o vilão pratica um ato altruísta, salva a vovozinha e se vê inundado por uma sensação positiva que o surpreende, despertando nele a vontade de, entre outras boas ações, salvar até três e mais porquinhos de testes de laboratório. O problema passa a ser convencer seus capangas a embarcarem na sua missão mais ousada: virarem os caras bonzinhos – ou os novos malvados favoritos das crianças. A história é baseada no best-seller homônimo de Aaron Blabey, foi adaptada por Etan Cohen (“MIB: Homens de Preto III”) e dirigida por Pierre Perifel, que estreia no comando de longas após trabalhar na animação da trilogia “Kung Fu Panda”. E inclui, entre seus dubladores originais, Sam Rockwell (“Três Anúncios para o Crime”) como Lobo Mau, Awkwafina (“Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”) como Tarântula, Marc Maron (“GLOW”) como Cobra, Anthony Ramos (“Em um Bairro de Nova York”) como Piranha, Craig Robinson (“Meu Nome É Dolemite”) como Tubarão e Zazie Beetz (“Coringa”) como uma raposa chamada Diane Foxington. GREAT FREEDOM | MUBI Premiado nos festivais de Cannes, Viena, Atenas e muitos outros, o filme do austríaco Sebastian Meise chama atenção para um aspecto pouco explorado do pós-guerra, revelando que a libertação dos campos de concentração nazistas não representou o fim da opressão para todas as minorias perseguidas da Europa. Nem todos foram perdoados por seus “crimes” de existência. A trama traz Franz Rogowski (“Undine”) como um homem condenado por ser gay, que passa a vida na prisão porque a lei de seu país continuou criminalizando a homossexualidade, mesmo após a queda de Hitler. Ele cumpre a pena apenas para voltar a ser preso, numa rotina repetitiva que o aproxima de seu companheiro de cela, um assassino condenado à prisão perpétua. À medida que esse relacionamento floresce, a obra pondera a força do amor contra a opressão e a capacidade do espírito humano de resistir à desumanização. Impactante, tem 96% de aprovação no Rotten Tomatoes, a nota mais alta da crítica entre os títulos desta semana. O CHOQUE DO FUTURO | FILMICCA O filme cult de semana é uma homenagem aos pioneiros da música eletrônica. Passado em Paris no final dos anos 1970, acompanha uma compositora obcecada em criar a música do futuro, apenas para ser desacreditada por todos, porque barulho de sintetizador não seria música. Fãs de rock/eletrônica vão amar as referências e a evolução do processo que levou à criação do pop do futuro (nosso presente), mas o grande público pode não sentir o mesmo apelo em ver uma garota passar quase todo o filme cercada por baterias eletrônicas, sintetizadores, sequenciadores, gravadores de rolo e equipamentos de computação. Totalmente musical, “O Choque do Futuro” é o primeiro filme dirigido pelo compositor Marc Collin, fundador da banda Nouvelle Vague, e traz em seu elenco vários artistas do pop rock francês, como Clara Luciani (ex-integrante da banda La Femme), Corinne e Elli Medeiros (pioneira do electropop europeu), além de Alma Jodorowsky, neta do cineasta Alejandro Jodorowsky e diretora de clipes, no papel principal. MADRE | NOW A “madre” do título é uma mulher espanhola que perdeu o filho há dez anos, desaparecido numa praia francesa durante as férias de verão. Inconformada, ela largou tudo para viver na mesma praia em que o filho foi visto pela última vez, mas depois de uma década, quando começa a se recuperar do trauma, conhece um adolescente que lembra o menino desaparecido, com a idade que ele teria hoje. Os dois embarcam em uma estranha relação, baseada em desconfiança. O filme de Rodrigo Sorogoyen (“O Anticandidato”) venceu cinco prêmios internacionais e consagrou a esposa do diretor, Marta Nieto (“Feria: Segredos Obscuros”), premiada como Melhor Atriz da mostra Horizontes no Festival de Veneza passado, por seu desempenho no papel-título. TRE PIANI | NOW O premiado diretor italiano Nanni Moretti (“A Missa Acabou”) conta a história de três famílias que vivem em apartamentos diferentes no mesmo condomínio, todos confrontados com problemas muito intensos. Há uma mulher que luta contra a solidão e a áspera relação do marido com o irmão, um casal que enfrenta a terrível suspeita de que o seu vizinho, um idoso, abusou da filha, e pai e mãe desesperados, após seu filho atropelar e matar uma mulher. Baseado em romance de Eshkol Nevo, foi exibido no Festival de Cannes do ano passado e concorreu ao David di Donatello (o Oscar italiano) na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. SPREE | HBO MAX A comédia de humor sangrento traz Joe Keery (de “Stranger Things”) como um jovem obcecado por estourar nas redes sociais e que elabora um plano ousado para se tornar viral. Disfarçando-se de motorista de aplicativo, ele começa a fazer pegadinhas com os passageiros, enquanto transmite tudo ao vivo. Conforme sua popularidade aumenta, mais perigosas se tornam as “brincadeiras” de suas viagens, até o sangue começar a jorrar. Só que nem todos estão convencidos de suas façanhas, como um influencer famoso que reclama que as mortes não são convincentes o suficiente, e sim fakes. O que o protagonista encara como um desafio para se superar. Dirigido por Eugene Kotlyarenko (“A Casa Dividida”), “Spree” é um “Jackass” do terror com características visuais bastante distintas. Todo a filmagem replica a estética das transmissões de lives, com direito a ângulos trêmulos, rolagem das mensagens dos espectadores e até o uso ocasional de telas divididas. Sempre em cena, o personagem sádico de Kerry também se dirige aos espectadores, explica seus planos e algumas vezes pisca para a câmera com a cumplicidade de quem compartilha uma piada sem que a vítima saiba o que vai acontecer. O mais interessante na proposta é que, apesar da violência visceral e chocante, os seguidores do protagonista assistem a tudo em seus smartphones totalmente insensíveis, achando o absurdo muito engraçado – do mesmo modo que o filme convida o público a fazer. TORRE. UM DIA BRILHANTE | MUBI Cultuado pela crítica polonesa, o primeiro longa da diretora Jagoda Szelc tem traços de terror exagerado, embora pareça inicialmente um drama de família. O filme se concentra no reencontro de duas irmãs, Mula (Anna Krotoska, de “Confie em Mim”) e Kaja (Malgorzata Szczerbowska, de “Monstros da Cracóvia”). A primeira criou a filha da segunda como se fosse sua, devido à instabilidade mental da irmã. Mas no dia da celebração da primeira comunhão da menina, ela permite a visita da mãe biológica, após seis anos distante, desde que aceite se comportar como tia. Apesar disso, desconfia de cada interação entre sua irmã e a filha. O tom predominante sinistro é estabelecido desde os segundos iniciais, mas se intensifica quando, em meio às tensões familiares, Maja começa a ter sonhos/visões alarmantes. Ao mesmo tempo, a “segunda vinda” de Kaja passa a assumir simbolismo religioso, ao estilo do divisivo “Mãe” (2017). Assim como no filme de Darren Aronofsky, nem tudo é claro e o clímax horripilante revela-se completamente inesperado. BAGDÁ VIVE EM MIM | VIVO PLAY O premiado filme do diretor Samir (de apenas um nome, como Madonna) acompanha imigrantes iraquianos em Londres, que tentam levar suas vidas com mais liberdade em relação ao conservadorismo de seu país natal. Um café da moda serve de ponto de encontro para os artistas, comunistas e gays ainda enrustidos do Iraque, mas sua proximidade de uma mesquita leva um fanático religioso a pregar contra os pecadores que perderam de vista os bons costumes muçulmanos. Logo, a vida de todos é virada do avesso. A autenticidade dos personagens e seus dramas torna a história quase documental. E não é à toa. Amir filmou um documentário sobre tema similar, “Forget Baghdad: Jews and Arabs — The Iraqi Connection”, que mostrou imigrantes iraquianos em Israel, forçados a mudar sua cultura e idioma para se tornarem “os inimigos de seu próprio passado”. O novo filme, porém, é um pouco mais esperançoso, buscando demonstrar que a cultura iraquiana pode coexistir com a do Ocidente, apesar dos protestos dos mais radicais. OS OPOSTOS SEMPRE SE ATRAEM | NETFLIX Continuação de “Os Opostos se Atraem” (2012), a comédia francesa de ação volta a trazer Omar Sy (“Lupin”) e Laurent Lafitte (“O Professor Substituto”) como uma dupla policial com estilos, vivências e carreiras muito distintas. Dez anos depois de trabalharem juntos, eles seguiram rumos muitos diferentes, mas precisam deixar sua incompatibilidade de lado mais uma vez para se juntarem numa nova investigação, um caso de tráfico que os leva aos Alpes Franceses e acaba se revelando um crime em grande escala. O primeiro filme foi destruído pela crítica internacional, mas fez bilheteria suficiente na França para a Netflix apostar que o sucesso recente de Omar Sy em “Lupin” atrairia mais público para esta continuação, produzida exclusivamente para o streaming. TÔ RYCA! 2 | NOW, VIVO PLAY, VOD* Maior bilheteria nacional de 2022, a produção se aproveita do carisma de Samantha Schmutz para fazer humor de apelo popular. A trama, porém, deveria se chamar “Tô Pobre”, já que utiliza o velho artifício que também justificou as continuações de “Até que a Sorte nos Separe”, fazendo a pobre que ficou milionária no primeiro filme perder tudo de novo, de uma hora para outra. Mais uma vez miserável, ele enfrenta os perrengues típicos da classe trabalhadora, que são mostrados da mesma forma estereotipada como os clichês de novo rico do filme “original”. Assim como no filme anterior, o roteiro é de Fil Braz e a direção é assinada por Pedro Antônio. Já o elenco acrescentou Rafael Portugal (“Porta dos Fundos: Te Prego Lá Fora”), Evelyn Castro (“Tô de Graça”) e participação especial da dupla sertaneja Maiara e Maraisa. * Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Google Play, Looke, Microsoft Store, Loja Prime e YouTube, entre outras, sem necessidade de assinatura mensal.
“Doutor Estranho” estreia em mais de 2 mil cinemas
Novo filme da Marvel, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” chega em mais de duas mil telas nesta quinta (5/5), numa distribuição massiva que reproduz de forma ambiciosa o tom excessivo de sua trama, com múltiplos universos, versões de personagens e efeitos visuais. É uma produção tão cheia de informações que beira o kitsch. Também é um dos poucos lançamentos recentes que realmente foi concebido para aproveitar ao máximo a projeção em 3D – olha a dica. Apesar do monopólio de salas, o circuito de arte também recebe três novos títulos, inclusive um longa ucraniano sobre a guerra no país. Confira abaixo os títulos, os detalhes e os trailers das quatro estreias que entram em cartaz nesta semana. DOUTOR ESTRANHO NO MULTIVERSO DA LOUCURA O Universo Marvel vira Multiverso no filme mais esperado do ano. Continuação direta do fenômeno “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, a produção conta o que acontece após o Doutor Estranho quebrar os limites entre as dimensões, resultando numa multiplicação de personagens e versões de personagens. Se antes eles vinham do catálogo da Sony, agora os heróis brotam de lugares ainda mais improváveis, como séries animadas da Disney+ e filmes supostamente enterrados da 20th Century Fox. E com dois detalhes contrastantes: o dobro de efeitos de “Homem-Aranha” e nem metade da emoção gerada por aquele filme. Os trailers já entregaram demais e os fãs mais obcecados irão ao cinema já sabendo o que e quem esperar. Mas vale destacar que, além do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) e sua (spoiler) inimiga Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), a participação de America Chavez, uma heroína de outro universo vivida por Xochitl Gomez (“O Clube das Babás”), é bastante importante. O roteiro é de Michael Waldron, criador de “Loki”, que plantou as sementes do multiverso naquela série e aqui se perde entre as dimensões, demonstrando falta de concisão. Felizmente, o longa conta com direção de Sam Raimi, que em seu retorno aos personagens da Marvel, após comandar a trilogia original do Homem-Aranha, consegue fazer com que o multiexcesso vire diversão – mesmo aumentando as referências com ecos de sua própria franquia “Evil Dead”. KLONDIKE – A GUERRA NA UCRÂNIA A diretora Marina Er Gorbach concebeu seu filme, exibido sob elogios no Festival de Sundance em janeiro e premiado em Berlim em fevereiro, como um alerta ao mundo sobre a situação da Ucrânia. Mas após a invasão do país pela Rússia, quatro dias após a Berlinale, “Klondike” acabou se tornando ainda mais relevante, um retrato da população submetida ao que o título no Brasil chama de “Guerra na Ucrânia”. A trama, na verdade, aborda o conflito civil do leste do país de 2014, época em que começaram os bombardeios de separatistas apoiados por Moscou. A personagem principal é Irka, jovem grávida que vive com o marido num vilarejo sob a sombra da violência, até tudo virar destroços. A destruição de seu lar é refletida pelo esfacelamento de famílias, com irmãos se dividindo entre “russos” e ucranianos. Com o teto caindo sob suas cabeças, o casal grávido também representa a luta pelo direito à vida em meio ao caos. Por todo o contexto, o filme atingiu 95% de aprovação no Rotten Tomatoes. A FRATURA Premiado com a Palma Queer do Festival de Cannes, o novo drama da cineasta francesa Catherine Corsini (“Um Belo Verão”) registra o impacto de protestos políticos violentos em Paris no atendimento de emergência de um pronto-socorro. As protagonistas são um casal lésbico prestes a se separar, que está no hospital por conta de um acidente e logo se vê em meio a vários feridos, sendo atendidas por uma equipe sobrecarregada e presas num confinamento que atravessa a noite. Com tanta tragédia, o mais incrível é que a trama é uma comédia. As atrizes Valeria Bruni Tedeschi (“Loucas de Alegria”) e Marina Foïs (“Polissia”) interpretam o casal central, e o elenco ainda destaca Pio Marmaï (“Como Virei Super-Herói”) e principalmente Aïssatou Diallo Sagna, que antes deste filme era uma agente de saúde e nesta estreia no cinema acabou premiada com o César (o Oscar francês) de Melhor Atriz Coadjuvante do ano. MIRADOR Premiado no Festival Ibero-Americano de Miami, o filme de estreia de Bruno Costa acompanha um boxeador amador (Edilson Silva, de “Bacurau”), que treina para retornar aos ringues enquanto divide seu tempo com dois subempregos em Curitiba. Pai de uma menina pequena, fruto de uma relação casual, ele vê sua vida colocada de cabeça para baixo quando precisa cuidar sozinho de sua filha. A obra chama atenção por elementos autorais, como a opção de Bruno Costa em transformar as dificuldades em problemas físicos – a rotina exaustiva de treinos e bicos para sobreviver, que rendem cansaço e transpiração. A captação de sons externos bastante limitada ainda reflete a falta de amigos, lazer e expectativas do personagem central, servindo para ampliar sua solidão. E o fato de ser uma obra aberta, sem desfechos para os problemas, acaba simbolizando a falta de controle do protagonista sobre a própria existência. Muito intertexto e um diretor para acompanhar com atenção.
Os 10 melhores filmes que estreiam em casa
O premiado “Licorice Pizza” e a aventura de ação “Uncharted” são as principais estreias digitais, mas a seleção dos lançamentos também inclui dramas adolescentes em várias línguas – inclusive em português – , filmes europeus consagrados, um anime deslumbrante e um documentário para fãs do Britpop dos anos 1990. Confira abaixo as 10 sugestões de títulos que chegam ao VOD e às plataformas de assinatura nesta semana, com seus respectivos trailers. LICORICE PIZZA | VOD* Indicado a três Oscars, inclusive de Melhor Filme, e vencedor de 58 prêmios internacionais, o novo longa de Paul Thomas Anderson (“O Mestre” e “Trama Fantasma”) gira em torno do crush de um adolescente extremamente bem resolvido por uma mulher mais velha nos anos 1970. Tentando capitalizar sua incipiente carreira de ator, o jovem consegue manter a mulher por perto ao convencê-la a embarcar com ele em empreendimentos mirabolantes, levando-a a conhecê-lo melhor. Este romance entre um casal desencontrado poderia render polêmica, mas acaba se mostrando fofo na tela, justamente por tudo o que tem de equivocado, e acabou cativando a crítica americana, que o aclamou com 90% de aprovação no Rotten Tomatoes. A produção marca a estreia da cantora Alana Haim (do grupo musical Haim), de 30 anos, em seu primeiro papel no cinema. O diretor é muito amigo das irmãs Haim e já dirigiu nada menos que 9 clipes do trio musical (por sinal, Danielle e Heste Haim também aparecem no filme como irmãs da protagonista). Seu parceiro em cena também é estreante: Cooper Hoffman, filho do falecido ator Philip Seymour Hoffman, que fez o filme com 18 anos. O pai do jovem estrelou cinco longas de Anderson. Em contraste com o casal de iniciantes, o elenco de apoio é uma constelação de estrelas, incluindo Bradley Cooper (“Nasce uma Estrela”), Sean Penn (“O Gênio e o Louco”), Maya Rudolph (“O Halloween do Hubbie”), Ben Stiller (“A Vida Secreta de Walter Mitty”), John C. Reilly (“Kong: A Ilha da Caveira”), Emma Dumont (“The Gifted”), Skyler Gisondo (“Santa Clarita Diet”), Benny Safdie (“Bom Comportamento”), Mary Elizabeth Ellis (“Lodge 49”) e o cantor Tom Waits (“Os Mortos Não Morrem”). UNCHARTED – FORA DO MAPA | NOW, VIVO PLAY, VOD* Baseado num game de sucesso, “Uncharted” traz Tom Holland como Nathan Drake, que nos jogos da Naughty Dog é um arqueólogo aventureiro. Só que este Indiana Jones digital é completamente diferente no filme, porque o ator não tem a idade nem a aparência física do papel. Para contornar esse “detalhe”, a trama é apresentada como uma história de origem – nunca vista nos games – , em que Drake ainda é um jovem diletante e tem seu primeiro encontro com um caçador de tesouros que irá se tornar seu mentor na busca por uma fortuna perdida. Mark Wahlberg (“O Grande Herói”) vive o segundo protagonista, após ser cotado para viver Drake numa versão anterior do projeto – em desenvolvimento há mais de uma década. O elenco também inclui Antonio Banderas (“Dor e Glória”), Sophia Ali (“Grey’s Anatomy”) e Tati Gabrielle (“O Mundo Sombrio de Sabrina”). Lançado logo após Holland encabeçar o fenômeno de “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, “Uncharted” sofreu o peso de muita expectativa. Sua missão era simplesmente lançar uma nova franquia para a Sony. Mas apesar do entusiasmo dos executivos do estúdio e da bilheteria de estreia, teve sucesso apenas modesto nos cinemas, praticamente se pagando. E foi considerado medíocre pela crítica, com apenas 40% de aprovação no Rotten Tomatoes, mantendo a baixa média dos filmes dirigidos por Ruben Fleischer (o diretor dos 30% de “Venom”). Mesmo assim, fãs de aventuras mirabolantes à la “Piratas do Caribe” podem se satisfazer ao matar a saudade de uma produção repleta de ação, efeitos, piadinhas e buracos narrativos. MEU NOME É BAGDÁ | STAR+ Premiado no Festival de Berlim, o filme de Caru Alves de Sousa (“De Menor”) gira em torno de uma jovem skatista, interpretada pela novata Grace Orsato. Aos 16 anos, ela passa os dias ao lado dos amigos, fazendo manobras na pista local, fumando maconha e jogando baralho. Como a única menina a frequentar a pista de skate do bairro, ela sofre assédio e preconceito, inclusive da polícia. Mas, com sua atitude, abre caminho para outras. Aos poucos, ela conhece mais meninas skatistas, se aproxima de Vanessa (Nick Batista) e estreita novos laços de amizade. A trama é livremente inspirada no livro “Bagdá — O Skatista”, de Toni Brandão, lançado em 2009, mas centrado na figura de um menino. A versão cinematográfica mudou de ponto de vista da trama para incorporar questionamentos de gênero e a opção tem grande importância no desenvolvimento do longa, um dos melhores dramas adolescentes brasileiros recentes. APENAS NÓS | NOW, VIVO PLAY, VOD* O longa de estreia do cineasta inglês Tom Beard é um elogiadíssimo drama familiar, que narra as dificuldades de uma adolescente para lidar com as complexidades de sua família disfuncional e perturbada. Durante a estadia em uma cidade litorânea, a jovem protagonista passa a ter que cuidar da mãe, que está doente, e de seu desobediente irmão mais novo, além de conviver com novos vizinhos com comportamentos que não consegue processar. Com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme impressiona pela qualidade realista das interpretações, não apenas de seus atores famosos, mas de suas crianças. Na verdade, já era um sinal do que aguardava sua atriz principal. A produção é de 2018 e destacava uma inspiradíssima Emilia Jones, então com 16 anos, que agora é mundialmente conhecida por comover o mundo em “No Ritmo do Coração”, filme vencedor do Oscar 2022. O resto do elenco inclui Samantha Morton (“The Walking Dead”), Billie Piper (“Penny Dreadful”), Daniel Mays (“Belas Maldições”) e as crianças Badger Skelton (“O Último Ônibus do Mundo”) e Bella Ramsey (“Game of Thrones”). LOLA E O MAR | FILMICCA Indicado ao César (o Oscar francês) de 2020, o drama belga conta a história de Lola, uma adolescente trans que conta com o apoio de sua mãe para fazer a transição e mudar de vida. Só que a mãe morre repentinamente, o que leva Lola a bater de frente com seu pai distante e homofóbico, embarcando com ele numa jornada rumo ao mar para cumprir o último desejo da pessoa mais querida de sua vida. A estreante Mya Bollaers, que interpreta Lola, é um grande achado do diretor Laurent Micheli e sua performance valoriza muito a produção. ESPÍRITO INDOMÁVEL | NOW, VIVO PLAY, VOD* O drama juvenil de esportes acompanha a vida do indígena canadense Saul Indian Horse, da infância à maturidade, enquanto ele sobrevive ao internato e ao racismo dos anos 1970 para se tornar um talentoso jogador de hóquei. Mas para alcançar seus sonhos, o jovem precisa encontrar seu próprio caminho, superando obstáculos ao lutar contra estereótipos e o alcoolismo. A adaptação do romance de Richard Wagamese (1955–2017) tem direção de Stephen S. Campanelli, que em sua carreira oscilante já comandou até trash de Nicolas Cage (“A Ilha”), mas consagrou-se com esta produção, vencedora de 10 troféus no circuito de festivais e premiações canadenses – a maioria em votação do público. LUZIFER | MUBI O cineasta austríaco Peter Brunner é obcecado por personagens torturados por condições especiais, sejam doenças ou obsessões patológicas. Sua nova vítima é Johannes, um homem com o coração de riança, que vive isolado numa cabana alpina com sua mãe. Sua vida diária é regida por orações e rituais. Mas, de repente, a modernidade se intromete em seu mundo de natureza e adoração divina, quando um projeto turístico ameaça envenenar seu paraíso e despertar o diabo. O grande destaque desta fábula moderna sobre a inocência perdida é o ator Franz Rogowski (“Undine”), numa performance que equilibra o encantamento infantil com a raiva extrema. Ele foi premiado como Melhor Ator no Festival de Sitges do ano passado – o festival espanhol é um dos principais eventos mundiais do cinema fantástico. IN THE AISLES | MUBI A plataforma MUBI está realizando um ciclo dedicado ao ator Franz Rogowski, que também inclui o último longa-metragem do alemão Thomas Stuber – lançado há quatro anos. Exibido nos cinemas brasileiros com o título traduzido para “Nos Corredores”, o filme traz Rogowski como um homem recluso que começa a trabalhar como estoquista no turno da noite em um supermercado. Ele logo se vê cativado por sua misteriosa colega de trabalho (Sandra Hüller, de “Toni Erdmann”), encontrando nesta atração uma forma de amenizar a opressão do ambiente, repleto de corredores longos e imponentes com empilhadeiras giratórias, que simbolizam a monotonia do trabalhado de baixa renda. Só que a mulher possui segredos desconhecidos e resolve sair subitamente de licença, deixando o novo funcionário sozinho com seus demônios noturnos. O filme venceu 12 prêmios em importantes festivais europeus, como Berlim, Atenas, Valladolid e Nápoles, além de render o Lola (o Oscar alemão) para Rugowski. BUBBLE | NETFLIX Com um visual de tirar o fôlego, “Bubble” reúne em sua equipe alguns dos maiores nomes do anime atual. A direção é de Tetsurô Araki, responsável por “Ataque aos Titãs”, o roteiro foi escrito por Gen Urobuchi, criador de “Psycho-Pass” e da trilogia animada de “Godzilla” na Netflix, e o responsável pelo design dos personagens é ninguém menos que Takeshi Obata, o autor de “Death Note”. A produção não é baseada em nenhum mangá existente, mas se inspira da fábula de “A Pequena Sereia”, transformada num conto sci-fi pós-apocalíptico. Era uma vez um futuro em que uma chuva de bolhas (bubbles) sugou toda a gravidade de Tóquio, deixando o local proibido, abandonado e sem moradores. Mas não totalmente desabitado. Por conta de suas particularidades, a cidade vira um refúgio de jovens órfãos praticantes de parkour, que desafiam as restrições após perderem os pais na inversão gravitacional. Após um salto arriscado, um dos meninos acaba caindo no mar, à margem da capital japonesa, apenas para ser salvo por uma garota com poderes especiais, que parece surgir de suas próprias bolhas de respiração na água, e esse encontro acaba impactando a vida de todos. OASIS KNEBWORTH 1996 | VOD* O documentário celebra os shows mais famosos da banda Oasis, que ocorreram no Knebworth Park, na Inglaterra, em 10 e 11 de agosto de 1996. As apresentações reuniram mais de 250 mil fãs e são considerados os maiores concertos já realizados no Reino Unido em todos os tempos. Organizados logo após o lançamento do disco “(What’s the Story) Morning Glory?”, que tinha hits como “Wonderwall”, “Don’t Look Back in Anger” e “Champagne Supernova”, os shows esgotaram rapidamente, com 2,5 milhões de pessoas candidatando-se a comprar os ingressos – também a maior procura por um espetáculo na história da cultura britânica. Na época, não havia banda mais popular na Inglaterra. Nem mais arrogante. E o sucesso sem precedentes acabou alimentando egos que já eram grandes antes mesmo da fama. As brigas dos irmãos Liam e Noel Gallgher pelo controle do grupo levaram à mudanças de integrantes e trocas de farpas públicas, mas o Oasis persistiu até 2009. A celebração do auge do Britpop tem direção de Jake Scott (do cult “Corações Perdidos”) e foi lançada nos cinemas no ano passado para comemorar os 25 anos das apresentações. * Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Google Play, Looke, Microsoft Store, Amazon e YouTube, entre outras, sem necessidade de assinatura mensal.
Confira as estreias de cinema da semana
Os cinemas recebem sete lançamentos nesta quinta (28/4), mas a maioria visa o circuito limitado das “salas de arte”. O filme com maior distribuição é uma animação japonesa para público bastante específico, enquanto as alternativas mais populares incluem um novo longa derivado da série “Downton Abbey” e uma comédia romântica brasileira. Vale destacar que a programação também recebe filmes premiados e com até 100% de aprovação do site Rotten Tomatoes (que contabiliza as críticas da imprensa em inglês), disponibilizados num número bastante reduzido de salas (num punhado de capitais). Confira abaixo as sete estreias da semana com seus respectivos trailers. DOWNTON ABBEY – UMA NOVA ERA O segundo filme baseado na série britânica volta a trazer a maioria do elenco original numa trama que é literalmente cinematográfica, ao mostrar a produção de um filme na propriedade da família Crawley. Em sua volta às telas, os personagens também embarcam numa viagem de veraneio, após a Condessa de Grantham (Maggie Smith) herdar uma villa na Riviera Francesa – e deixar todos curiosos para descobrir o mistério por trás dessa herança. E além da paisagem esplendorosa do litoral francês, ainda há um casamento. O roteiro é de Julian Fellowes, que conduziu a série de época entre 2010 e 2015, e a direção está a cargo do cineasta Simon Curtis (“Sete Dias com Marilyn”). JUJUTSU KAISEN 0 Originalmente um mangá criado por Gege Akutami em 2018 e transformado em série anime há menos de dois anos, “Jujutsu Kaisen” pode ser considerado um fenômeno. Sua popularidade é tanta que já ganhou versões romanceadas, um spin-off em quadrinhos, games, podcast e até uma série de reação aos episódios do desenho. Agora chega a seu primeiro filme. A trama do longa-metragem é um prólogo inspirado por um mangá homônimo (o spin-off criado por Akutami há 16 meses) e se foca em Yuta Okkotsu, personagem apenas mencionado no anime original. Ele é um jovem amaldiçoado por uma amiga de infância morta, que entra na escola de um xamã para aprender a controlar a maldição e transformá-la em poder. INCOMPATÍVEL A comédia de Johnny Araujo (“Legalize Já: Amizade Nunca Morre”) segue a conhecida linha dos romances que começam como guerra de sexos. A produção nacional traz Gabriel Louchard (“Teocracia em Vertigem”) como um homem prestes a se casar com a garota dos seus sonhos, quando vê seu relacionamento acabar por causa de um teste de compatibilidade proposto por uma famosa influencer (Nathalia Dill, de “Talvez uma História de Amor”). Enfurecido, ele assume o pseudônimo de “Incompatível” para travar uma guerra com a Youtuber com o objetivo de se vingar. Só que quando seu plano começa a dar certo, ele percebe que a rival não é tão ruim assim. De fato, pode até ser, quem sabe, apaixonante. PARIS, 13º DISTRITO Filmado em preto e branco pelo premiado Jacques Audiard (Palma de Ouro em Cannes por “Dheepan: O Refúgio”), o drama passado no bairro parisiense de Les Olympiades (a maior “Chinatown” da Europa) é uma história de encontros românticos. Emilie (Lucie Zhang) encontra Camille (Makita Samba), que se sente atraído por Nora (Noémie Merlant, de “Retrato de uma Jovem em Chamas”), que acaba cruzando com Amber (Jehnny Beth, de “Um Amor Impossível”). Três garotas e um garoto do novo milênio, que são amigos e às vezes amantes, e frequentemente as duas coisas. Os dois atores iniciantes do elenco, Zhang e Samba, foram indicados ao César (o Oscar francês) como Revelações do ano, e a trilha sonora do músico eletrônico Rone foi premiada no Festival de Cannes. UM CONTO DE AMOR E DESEJO Versos eróticos da antiga poesia árabe arrebatam um jovem dolorosamente reprimido no drama de amadurecimento da diretora tunisiana Leyla Bouzid (“Assim Que Abro Meus Olhos”), com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes. Na trama, o personagem de Sami Outalbali (“Sex Education”), um francês de origem argelina criado nos subúrbios parisienses, compartilha aulas de literatura com uma jovem tunisiana (a estreante Zbeida Belhajamor) cheia de energia que acaba de chegar de Túnis. Surpreso com o ensino de poesia sensual árabe na faculdade, ele encontra dificuldades para superar sua barreiras enquanto lida com o fato de estar cada vez mais apaixonado pela colega desinibida. COMO MATAR A BESTA O horror gótico da América do Sul, com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, passa-se na fronteira entre Argentina e Brasil, e acompanha a busca de uma jovem (a estreante Tamara Rocca) pelo irmão desaparecido. Ela se hospeda na casa de sua estranha Tia Inés (Ana Brun, de “As Herdeiras”), próxima da floresta onde, de acordo com rumores, uma perigosa besta surgiu uma semana antes – que dizem ser o espírito de um homem mau capaz de tomar a forma de diferentes animais. Longa de estreia da argentina Agustina San Martín, o filme foi bastante elogiado pela narrativa atmosférica e o simbolismo presente em sua história, que vagueia entre ideias abstratas de medo e empoderamento feminino. A CRIANÇA DO DIABO Outro terror sul-americano. A principal diferença é que aqui o ritmo lento está mais para característica de filme trash que de cinema de arte. Uma jovem enfermeira americana é assombrada por um trauma de infância ao ir trabalhar em uma casa remota para cuidar de um velho. Quando coisas sinistras e estranhas começam a acontecer, ela decide querer saber mais sobre a família que a contratou. O colombiano David Bohorquez já fez os terrores “Demental” (2014) e “Caliban” (2019), mas é mais conhecido como diretor de clipes de música pop latina (Maite Perroni, Sebastián Yatra, etc).
“Batman”, “Morte no Nilo” e as estreias digitais da semana
O blockbuster “Batman” é a principal estreia digital desta semana, numa programação que também oferece “Morte no Nilo”, “Eduardo e Monica” e títulos premiados dos mais diversos gêneros, desde filme de guerra até suspense tenso “de arte”. Confira abaixo 10 sugestões de lançamentos para transformar sua Smart TV em cinema durante o feriadão, com ligeiras informações e seus respectivos trailers. BATMAN | HBO MAX, VOD* A superprodução da Warner Bros. é a maior bilheteria de 2022 e chega ao streaming enquanto ainda está em cartaz nos cinemas. Longo, ambicioso e sombrio, também é o filme que os fãs esperam que seja. Nem pior nem melhor, seu tom extremamente sério combina com a abordagem de Christopher Nolan, enquanto o visual expressionista o aproxima do “Batman” de Tim Burton. A maior diferença é que o novo diretor, Matt Reeves, mostra-se mais integrado à visão sinergética do conglomerado, introduzindo vários elementos na trama para multiplicá-los em séries de streaming e na inevitável continuação. Se Robert Pattinson interpreta o primeiro Batman emo, por outro lado demonstra a melhor química com uma Mulher-Gato do cinema, papel desempenhado por Zoe Kravitz com um visual inspirado na Selina Kyle dos quadrinhos de “Batman: Ano Um”. Esta fase, por sinal, é exatamente a época explorada pela trama, antes da fama do herói se solidificar no submundo do crime. O período ainda permite apresentar os demais vilões em seus primeiros passos – e bem diferentes dos quadrinhos – , como um Pinguim mafioso (Colin Farrell) e principalmente um Charada serial killer (Paul Dano), mais perigoso que nas publicações da DC Comics – cometendo crimes tão brutais que tornam este “Batman” nada apropriado para crianças. MORTE NO NILO | STAR+ A continuação de “Assassinato no Expresso do Oriente” troca o homicídio misterioso num trem em meio à paisagem gelada dos Alpes por um homicídio misterioso num cruzeiro luxuoso pelo rio Nilo. A estrutura familiar é revisitada por Kenneth Branagh, que retoma a jornada dupla como diretor e intérprete do detetive Hercule Poirot, investigando a morte trágica da vez, durante uma viagem de lua de mel nos anos 1930. O livro de Agatha Christie em que a produção se baseia foi publicado em 1937 e já teve uma adaptação anterior no cinema, em 1978, repleta de astros famosos. A nova versão não fica atrás, reunindo Gal Gadot (“Mulher-Maravilha”) e um elenco grandioso de suspeitos: Annette Bening (“Capitã Marvel”), Letitia Wright (“Pantera Negra”), Ali Fazal (“Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha”), Sophie Okonedo (“Hellboy”), Emma Mackey (“Sex Education”), Dawn French (“Delicious”), Rose Leslie (“Game of Thrones”), Jennifer Saunders (“Absolutely Fabulous”), Russell Brand (“Arthur, o Milionário Irresistível”) e Harmie Hammer (“Me Chame Pelo Seu Nome”) em seu último trabalho de destaque, antes de mensagens sexuais polêmicas virem à tona e implodirem sua carreira. Para completar, Tom Bateman também retoma o papel de Monsieur Bouc, servindo como assistente de Poirot, embora seu personagem não faça originalmente parte desta história famosa. EDUARDO E MONICA | NOW, Vivo Play, VOD* Gabriel Leone (novela “Os Dias Eram Assim”) e Alice Braga (“A Rainha do Sul”) dão vida ao casal que ficou conhecido pela música cantada por Renato Russo em 1986. Um casal tão diferente que não poderia dar certo, mas deu. Ao mesmo tempo, a trama se dedica à refletir esta romantização das diferenças, mostrando que a realidade é dura para os românticos incorrigíveis. Premiado como Melhor Filme Internacional no Festival de Edmonton, no Canadá, o romance moderno tem direção de René Sampaio, que já tinha levado outra música da Legião Urbana para o cinema, “Faroeste Caboclo” (2013). Por sinal, o elenco coadjuvante inclui um integrante da adaptação anterior, Fabricio Boliveira – além de Victor Lamoglia (“Socorro! Virei uma Garota”), Otávio Augusto (“Hebe”), Bruna Spinola (“Impuros”) e Ivan Mendes (“Me Chama de Bruna”). TOGETHER | NOW, VIVO PLAY A comédia britânica traz James McAvoy (“X-Men: Fênix Negra”) e Sharon Horgan (“Catastrophe”) como um casal em crise durante a quarentena da pandemia. A experiência claustrofóbica alimenta discussões constantes, enquanto os protagonistas tentam encontrar uma maneira de não se matar durante o isolamento sob o olhar aterrorizado do filho pequeno. O roteiro é de Dennis Kelly, criador das séries “Utopia” e “The Third Day”, e a direção marcou a volta de Stephen Daldry ao cinema, sete anos após seu último filme, “Trash: A Esperança Vem do Lixo” (2014), realizado no Rio. Desde então, ele vem se dedicando aos bastidores da série “The Crown”. Por sinal, Daldry divide a direção de “Together” com Justin Martin, que foi seu assistente nos episódios que comandou na série da Netflix. REVELAÇÕES | NOW O suspense do diretor romeno Bogdan George Apetri foi considerado um dos melhores filmes do último Festival de Veneza pela crítica especializada, venceu o Festival de Varsóvia e atingiu simplesmente 100% de aprovação no Rotten Tomatoes. A trama de mistério começa quando uma jovem noviça deixa o mosteiro onde vive para tratar de um assunto urgente e desaparece. Quando um detetive da polícia abre uma investigação sobre seu paradeiro, descobre pistas que levam não apenas à verdade sobre o que aconteceu, mas também a um milagre. A produção integra uma trilogia criminal de Apetri sobre a situação da Romênia após a queda do comunismo, do qual também faz parte “Sem Suspeitas” (2020), igualmente premiado no Festival de Varsóvia. ANTOLOGIA DA CIDADE FANTASMA | MUBI Lançado em 2019, o filme do premiado cineasta canadense Denis Coté (“Vic+Flo Viram um Urso”) se passa em uma cidade pequena e distante, após um homem morrer em um acidente de carro sob circunstâncias misteriosas. Enquanto os poucos habitantes do local permanecem relutantes em debater as possíveis causas da tragédia, a família do falecido e o prefeito começam a perceber estranhos e atípicos eventos que mudam suas concepções da realidade. A forma gradual como o drama cotidiano se transforma numa legítima história de fantasmas impressionou a crítica internacional e lhe rendeu 97% de aprovação no Rotten Tomatoes. DEIXANDO O AFEGANISTÃO | NOW, VOD* Este filme de guerra impactante, cheio de sujeita, caos e traição, lembra eventos atuais, mas é passado em 1989, no final da guerra do Afeganistão contra a União Soviética. Durante a retirada das tropas, o piloto soviético Alexander Vasiliev, filho de um general, é capturado pelos Mujahidin, obrigando a 108ª Divisão de Infantaria a adiar o retorno à Rússia para uma última missão de resgate. Baseado em fatos reais, a história desta trágica campanha de retirada revela o perigo, o horror e a complexidade da natureza humana em tempos de guerra. Seu roteiro, escrito pelo cineasta Pavel Lungin (“Dama de Espadas”), foi premiado no Festival de Xangai, na China, em 2019. THE TALE OF KING CRAB | MUBI Em tom de fábula e com fotografia épica, acompanha o destino de um bêbado errante do século 19, que é expulso da Itália por um crime e vai parar na Terra do Fogo argentina, onde passa a procurar por um tesouro místico e, com sorte, redenção. Exibido na Mostra de São Paulo do ano passado, o primeiro longa de ficção dos jovens ítalo-americanos Alessio Rigo de Righi e Matteo Zoppis concorreu ao David di Donatello (o Oscar Italiano) na categoria de Melhor Estreia na Direção, e tem 91% de aprovação no Rotten Tomatoes. GAROTO CHIFFON | NOW A comédia francesa acompanha um ator em crise, atormentado por fracassos românticos e profissionais, que escapa de Paris para encontrar refúgio com sua mãe. Só que ela se revela mais invasiva que o esperado. Escrito, dirigido e estrelado por Nicolas Maury, concorreu ao César (o Oscar francês) de Melhor Filme de Estreia. Mas na verdade foi o segundo longa realizado pelo ator da série “Dix pour Cent”. ABERCROMBIE & FITCH: ASCENSÃO E QUEDA | NETFLIX O documentário revisita o impacto da grife A&F na moda e na cultura pop na virada do milênio, e mostra como a marca, que explorava corpos masculinos seminus para vender roupas, implodiu ao praticar uma política discriminatória de exclusão. A direção é de Alison Klayman, premiada no Festival de Sundance de 2012 por um documentário sobre o artista/ativista Ai Weiwei, e que no ano passado se envolveu numa polêmica com Alanis Morissette por seu documentário sobre a cantora, “Jagged” – disponível na HBO Max. * Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Google Play, Looke, Microsoft Store e YouTube, entre outras, sem necessidade de assinatura mensal.
“Cidade Perdida” é a maior estreia de cinema
A programação de cinema vai levar dois grandes lançamentos aos multiplexes, enquanto o circuito de arte contará com mais três opções a partir desta quinta (21/4). Com lançamento em 600 salas, “Cidade Perdida” tem a maior distribuição da semana, mas o nacional “Detetives do Prédio Azul 3: Uma Aventura no Fim do Mundo” deve atrair mais crianças. Já o destaque entre os lançamentos limitados pertence a “Flee”, uma animação para adultos que também é documentário animado, vencedor de nada menos que 82 prêmios internacionais. Confira abaixo os cinco títulos que chegam aos cinemas nesta semana, com seus respectivos trailers e mais informações. CIDADE PERDIDA A comédia estrelada por Sandra Bullock (“Imperdoável”) e Channing Tatum (“Magic Mike”) segue uma escritora de romances de aventura que se vê forçada a fazer uma turnê literária com o modelo de capa de seu novo livro. Irritada com a companhia do bonitão sem conteúdo, ela se vê numa situação ainda mais indesejável ao ser sequestrada. Mas até isso piora, quando o tal modelo sem noção resolve tentar salvá-la, fazendo com que os dois acabem perdidos na selva. No meio dessa confusão, ainda há uma trama de tesouro perdido e o desenvolvimento de uma comédia romântica. O roteiro é de Dana Fox (“Megarrromântico”) e Oren Uziel (“Mortal Kombat”), a direção dos irmãos Adam e Aaron Nee (“The Last Romantic”), e o elenco ainda conta com o ator Daniel Radcliffe (o “Harry Potter”) no papel de vilão e participação especial de Brad Pitt (“Era uma Vez… em Hollywood”). DETETIVES DO PRÉDIO AZUL 3: UMA AVENTURA NO FIM DO MUNDO Demorou, mas o terceiro filme derivado da série infantil finalmente chegou aos cinemas. O atraso de dois anos no planejamento original, devido à pandemia, transformou o longa dirigido por Mauro Lima (“Tim Maia”) numa despedida tardia do trio de protagonistas, Bento (Anderson Lima), Sol (Leticia Braga) e Pippo (Pedro Motta), substituídos desde 2021 por um novo time de detetives mirins nos episódios da atração exibida no Gloob. Produção para crianças pequenas, a aventura ao estilo “Harry Potter brasileiro” acompanha o trio e a feiticeira-mirim Berenice (Nicole Orsini) numa viagem até o Fim do Mundo – também chamado de Argentina – para salvar o porteiro Severino (Ronaldo Reis) da influência de um objeto místico maligno. Mas, para isso, eles precisam vencer também a bruxa Duvíbora (vivida por Alexandra Richter, de “Minha Mãe é uma Peça”) e sua filha Dunhoca (Klara Castanho, de “De Volta aos 15”), que farão de tudo para colocar as mãos na relíquia. Entre outras participações, o elenco ainda inclui Lázaro Ramos (“O Silêncio da Chuva”), Alinne Moraes (“Tim Maia”) e Rafael Cardoso (“Salve-se quem Puder”). FLEE – NENHUM LUGAR PARA CHAMAR DE LAR O criativo documentário do dinamarquês Jonas Poher Rasmussen (“Searching for Bill”) narra, via animação, a história real de um refugiado chamado Amin. Na véspera de seu casamento gay, ele revela o seu passado oculto pela primeira vez, contando como chegou ainda menor na Dinamarca, fugindo sozinho do Afeganistão. O relato ganha vida via desenho animado, num resultado tão impressionante que fez História no Oscar 2022, como o primeiro longa indicado simultaneamente nas categorias de Melhor Filme Internacional, Animação e Documentário. “Flee” não conquistou o Oscar, mas venceu 82 outros prêmios internacionais desde sua première como Melhor Documentário do Festival de Sundance em janeiro de 2021, incluindo os troféus de Melhor Documentário e Animação entregues pela Academia Europeia de Cinema. div> A NOITE DO TRIUNFO Premiada como Melhor Comédia da Europa (pela Academia Europeia de Cinema) em 2020, a produção francesa gira em torno de um ator decadente (Kad Merad, de “Um Amante Francês”) que começa a dar aulas de teatro num presídio na tentativa de encenar “Esperando Godot” com os encarcerados. Mesmo feito para divertir, o filme de Emmanuel Courcol (“Cessar Fogo”) apresenta momentos tocantes, especialmente na forma como busca identificar a situação dos presidiários com o drama existencial de Vladimir e Estragon, os personagens que esperam Godot. NUNCA FOMOS TÃO MODERNOS Apesar do título, a comédia brasileira tem premissa bem antiguinha: mulher tenta despertar ciúmes no marido e acaba criando diversas confusões. Incontáveis comédias italianas foram produzidas com este tema entre os anos de 1960 e 1970. Letícia Spiller vive a mulher e a direção é de Guga Moretzsohn, mais conhecido como o ator Guga Coelho – que trabalhou com Spiller nas novelas “Esplendor” e “Sabor da Paixão”. div>
10 filmes que chegam nas plataformas digitais
A programação de lançamentos digitais da semana está cheia de filmes europeus premiados. Mas também têm besteirol brasileiro e um filme de videocassetadas pra quem preferir apenas escapismo. As 10 estreias mais relevantes podem ser conferidas abaixo, com mais detalhes e seus respectivos trailers. JACKASS PARA SEMPRE | NOW, VIVO PLAY, VOD* Previsto para outubro passado nos cinemas brasileiros, o novo filme da trupe liderada por Johnny Knoxville só chegou nesta sexta (15/4) e exclusivamente nas plataformas digitais. A produção reúne o elenco original de “Jackass” para mais piadas cruéis com eles mesmos, geralmente perigosas e quase sempre absurdas, agora com o auxílio de novos integrantes. A crítica americana achou todos os desafios com risco de morte muito engraçados, o que rendeu 86% de aprovação no Rotten Tomatoes. A direção é de Jeff Tremaine, um dos criadores de “Jackass” na MTV no ano 2000 e responsável por manter as videocassetadas da franquia no cinema desde “Jackass: Cara-de-Pau – O Filme” em 2002. Também como sempre, roteiro e produção levam a assinatura do cineasta Spike Jonze (“Ela”), que é cocriador da série com Tremaine e Knoxville. HISTÓRIAS DE MENINAS | NOW O grande vencedor do Goya (o Oscar espanhol) do ano passado também chega às plataformas digitais sem cruzar o circuito comercial de cinema. Passado em Zaragoza no início dos anos 1990, numa escola católica para meninas, a trama mostra como a chegada de uma garota vinda de Barcelona apresenta a adolescência para as meninas comportadas do interior e revela que a educação conservadora é cheia de tabus e contradições. O longa de estreia da diretora Pilar Palomero venceu ao todo 29 prêmios internacionais, incluindo o Platino de Melhor Trabalho de Estreia Ibero-americana. FABIAN – O MUNDO ESTÁ ACABANDO | NOW O Fabian do título é um publicitário que vagueia pelos clubes mais decadentes de Berlim em busca de emoção, até ver seu mundo virar do avesso ao se apaixonar por uma atriz judia. Só que, na Alemanha dos anos 1930, não é apenas seu mundo que está desmoronando… Logo, seus planos e esperanças se tornam rapidamente ultrapassados pela ascensão do nazismo que torna tudo ao seu redor irremediavelmente sombrio. Diferente da primeira adaptação do romance biográfico de Erich Kästner, lançada em 1980, a versão do veterano diretor Dominik Graf (“Duas Irmãs, Uma Paixão”) narra a história do personagem interpretado por Tom Schilling (“Lara”) não como um drama de época, mas como um alerta sobre o presente, alimentado por uma cena de abertura virtuosa, que começa numa estação moderna de metrô de Berlim, antes de emergir em 1931. Afinal, simpatizantes dos nazistas estão voltando ao poder nos dias que correm. Vencedor de três troféus da Academia Alemã de Cinema, inclusive de Melhor Filme de 2021, tem 87% de aprovação no Rotten Tomatoes. OS TRADUTORES | NOW, VIVO PLAY, VOD* O curioso suspense literário francês é basicamente um mistério ao estilo de Agatha Christie sem cadáver. Os suspeitos são nove tradutores trancados em um bunker de luxo para traduzir um aguardado livro que encerra uma trilogia best-seller. Embora estejam confinados sem nenhuma comunicação externa, para evitar qualquer tipo de vazamento, uma crise se instaura quando alguém posta na internet as 10 primeiras páginas do livro e chantageia o editor a pagar 5 milhões de euros para não publicar o restante. Uma caçada se desdobra dentro do bunker em busca ao culpado. Quem matou, ou melhor, vazou o livro? Como uma boa produção “whodunit”, o segundo longa de Régis Roinsard (do delicioso “A Datilógrafa”) reúne um elenco internacional de peso, liderado pelo francês Lambert Wilson (“Matrix Resurrections”), a ucraniana Olga Kurylenko (“Viúva Negra”), a dinamarquesa Sidse Babett Knudsen (“Westworld”), o inglês Alex Lawther (“The End of the F***ing World”), a portuguesa Maria Leite (“Diamantino”), o italiano Riccardo Scamarcio (“John Wick: Um Novo Dia para Matar”), o espanhol Eduardo Noriega (“Perfeitos Desconhecidos”) e o belga Patrick Bauchau (“A Jovem Rainha”). LARA | NOW A Lara do título é uma pianista frustrada, que dedicou sua vida para transformar o filho num grande músico. Só que, ao mesmo tempo, tornou o rapaz ressentido pela falta de empatia, ignorando as dificuldades que ele enfrentava para atingir o nível exigido. Em seu aniversário de 60 anos, ela faz planos para ver o primeiro grande concerto de piano do filho. Mas não foi convidada e tudo indica que nem será bem-vinda à apresentação. O que não a impede de comprar todos os ingressos que encontra e distribuí-los para garantir lotação máxima. O drama de Jan-Ole Gerster (“Oh Boy”) venceu 12 prêmios internacionais, com destaque para o troféu de Melhor Atriz conquistado por Corinna Harfouch (“Aqui e Agora”), a Lara, no Festival de Karlovy Vary. Tom Schilling (de “Fabian – O Mundo Está Acabando”) interpreta seu filho. NO RITMO DA VIDA | NOW, VIVO PLAY, *VOD A produção canadense acompanha um jovem que se cansa de sua cidade e se muda para a casa da avó no interior, dividindo-se entre cuidar da senhorinha que começa a dar sinais de demência e trabalhar como drag queen em um bar local. O primeiro longa de Phil Connell atingiu 92% de aprovação no Rotten Tomatoes, venceu 10 prêmios em festivais do circuito LGBTQIAP+ e registrou um dos últimos papéis da veterana Cloris Leachman (vencedora do Oscar por “A Última Sessão de Cinema”), intérprete da vovó, que morreu em janeiro do ano passado. A QUEDA | FILMICCA O longa de estreia da ucraniana Marina Stepanska mostra uma juventude que busca encontrar seu lugar num país que apensas recentemente se libertou da influência soviética. Os personagens principais são Angon, um músico de sucesso que acaba de sair de um período de reabilitação, e Katia, que está prestes a se mudar para Berlim com seu namorado alemão. Um encontro casual cria complicações não intencionais para ambos. Lindamente filmado no interior da Ucrânia, com cenas lentas e questões políticas, conquistou três prêmios da Academia Ucraniana de Cinema, inclusive o troféu de Melhor Atriz para Darya Plakhtiy (“A Sniper Russa”). Todos os lugares vislumbrados na tela estão agora destruídos, assim como os sonhos da geração dos protagonistas. WHITE BUILDING | MUBI Um jovem enfrenta a perspectiva de demolição do conjunto habitacional em que viveu toda a vida na capital do Camboja, além das pressões da família, amigos e vizinhos que surgem e se cruzam neste momento de mudança repentina. Co-produzido pelo mestre chinês Jia Zhangke (“Amor Até as Cinzas”), o longa de estreia do cambojano Neang Kavich reflete o abandono dos mais pobres pelas autoridades das grandes cidades, que se tornam parceiras da especulação imobiliária. O também estreante Piseth Chhun, ator que vive o protagonista, foi premiado por seu desempenho no Festival de Veneza do ano passado. JUNTOS E ENROLADOS | NOW, VIVO PLAY, VOD* A nova aposta de humor popular brasileiro traz Cacau Protásio e Rafael Portugal como noivos que resolvem se divorciar em plena festa de casamento. A produção acabou ganhando notoriedade há dois anos e meio devido a ataques racistas contra Protásio, durante filmagens num quartel de bombeiros. A comediante interpreta uma bombeira na história. Ironicamente, o filme é exemplar por fazer humor sem ofender ninguém. Ao contrário, exalta a luta cotidiana dos trabalhadores brasileiros, ainda que apele para todos os clichês possíveis. A direção é de Eduardo Vaisman (“Valentins”) e Rodrigo Van Der Put (“Detetive Madeinusa”) e o elenco ainda reúne veteranos das comédias, como Fafy Siqueira, Neuza Borges, Tony Tornado e Berta Loran. BABENCO: ALGUÉM TEM QUE OUVIR O CORAÇÃO E DIZER PAROU | GLOBOPLAY O primeiro longa dirigido por Barbara Paz, eleito o Melhor Documentário do Festival de Veneza de 2019, aproveita a intimidade da diretora iniciante com o cineasta veterano. Parceira de vida de Babenco, Paz registrou com belíssima fotografia em preto e branco os últimos instantes do diretor – ele morreu em 2016, depois de uma luta contra o câncer – numa obra que também serve de testamento das realizações de um dos maiores cineastas do Brasil – mesmo ele sendo argentino. Selecionado para representar o Brasil no Oscar do ano passado, a produção teve uma trajetória internacional premiada e atingiu 80% de aprovação no Rotten Tomatoes. Além de grande conquista em Veneza, foi aclamado pela Academia Brasileira de Cinema com quatro troféus, incluindo vitórias nas categorias de Melhor Documentário e Melhor Filme de Estreia. * Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Google Play, Looke, Microsoft Store e YouTube, entre outras, sem necessidade de assinatura mensal.











