Regina Duarte já teria percebido a roubada em que se meteu
Regina Duarte começa a perceber ter cometido o maior erro de seus 73 anos de vida. Há quase duas semanas em isolamento, em São Paulo, a secretária Nacional de Cultura estaria, segundo o colunista Anselmo Gois, de O Globo, cada vez mais impressionada com as pedras que estão colocando em seu caminho, em Brasília. A curta nota de Gois tem o título de “punhalada nas costas”. Empossada no cargo no começo de março, só agora ela conseguiu definir o número dois da secretaria. Mas não foi por falta de iniciativa. Desde o dia de sua posse, ela enfrenta ataques do gabinete do ódio e seus (supostos) líderes extremistas Olavo de Carvalho e Carlos Bolsonaro. Quem assumiu como seu braço direito foi o advogado Pedro Horta, que é bolsonarista confesso, após a preferência inicial da atriz, o gestor público e produtor Humberto Braga, ser alvo de uma campanha nas redes sociais que o acusava de ser um “esquerdista” tentando se infiltrar no governo. A secretária da Cultura teria tentado indicar outros “esquerdistas”, e um deles foi barrado pelo próprio presidente. Na semana passada, o pesquisador Aquiles Brayner, indicado para a diretoria do Departamento de Livro, Literatura e Bibliotecas, foi demitido apenas três dias após sua nomeação, também após pressão de perfis radicais nas redes sociais. Segundo Brayner, estes extremistas fazem um “grande complô para derrubar qualquer ação legítima no âmbito da cultura”. Ela também está tendo que engolir ataques de Sérgio Camargo, da Fundação Palmares, supostamente seu subordinado, que Bolsonaro não lhe deixa demitir. E o pesadelo se estende à indefinição das chefias do Iphan e a Funarte, dois dos mais importantes órgãos vinculados à pasta da Cultura. Para aceitar o convite de Bolsonaro para assumir a Cultura, a atriz encerrou sua relação contratual de mais de 50 anos com a rede Globo. Ela abriu mão de sua carreira, benefícios e um salário muito maior para atender ao apelo do presidente, acreditando em promessas de “carta branca” para montar sua equipe que não estão sendo cumpridas. As dificuldades têm paralisado a secretaria de Cultura, o que, tudo indica, seria o objetivo maior da atividade bolsonarista. Enquanto isso, Regina ouve queixa constante de artistas que clamam por apoio à classe, gravemente atingida pelo fim das atividades imposto pela pandemia de coronavírus. Segundo outra colunista da grande imprensa, Mônica Bergamo da Folha de S. Paulo, ela tem recebido apelos de seus familiares para deixar o governo, que foram intensificados depois da demissão de Sergio Moro da Justiça. Essa campanha teria agradado Bolsonaro. A Folha apurou que ele disse a aliados que espera que parta da própria Regina uma decisão de deixar o governo. Para ajudar, ele teria dado carta branca para seus apoiadores aumentarem o tom das críticas contra a secretária. A ex-atriz chegou a dizer que considerava Bolsonaro incompreendido. Em menos de dois meses no governo, já pode tê-lo compreendido o suficiente para se lamentar.
Ancine quer transformar verba de fomento do audiovisual em empréstimo bancário
A diretoria da Ancine (Agência Nacional de Cinema) aprovou na quarta-feira (22/4), uma proposta de transformação do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) num fundo de empréstimos destinados a cinemas e empresas de audiovisual. A justificativa é ajudar as atividades economicamente impactadas pela quarentena do coronavírus. Os empréstimos fornecidos pela Ancine teriam como objetivo manter o giro de capital de empresas do setor, que tiveram as portas de estabelecimentos fechadas em todo o Brasil em março. Congelado há um ano e meio, desde a posse de Jair Bolsonaro, o FSA poderia possuir mais de R$ 1,5 bilhão em caixa, pois a verba prevista para 2019 representava metade desse valor e a de 2020 não foi apresentada – antes de Bolsonaro, o FSA era liberado para projetos no início de cada ano, repartindo montante referente à cobrança fiscal do ano anterior. O dinheiro atual está parado desde 2018. De fato, o descaso com o FSA é tão grave que a justiça chegou a dar ganho de causa, em primeira instância, para as empresas de telecomunicação deixarem de pagar o Condecine. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) suspendeu um pagamento de R$ 742,9 milhões à Ancine, que deveria ter sido alocado em março para o fomento de obras de 2020. A Ancine poderia contra-argumentar que esse dinheiro representaria empregos, já que seria destinado a novas produções, mas, como está sentada sobre montante igual há 17 meses, precisou ouvir de uma desembargadora que cobrar esse dinheiro poderia custar, justamente, empregos no setor. Para sorte da agência estatal, a decisão foi barrada pelo STF, mas o Congresso permitiu seu parcelamento a longo prazo. O Condecine é a taxa setorial que alimenta o FSA. Cobrada junto à indústria de telefonia e audiovisual, significa, textualmente, Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional. Pela lei, as empresas audiovisuais têm seu lucro taxado para ajudar a produzir novos conteúdos e assim fazer crescer todo o setor, funcionando tanto como fomento como regulação. Quando as produções financiadas pelo FSA são bem-sucedidas, a Ancine recupera o dinheiro e participa de seus lucros, que retornam para o mercado por meio de novos fomentos. Quando fracassam, a Ancine assume o prejuízo. Afinal, o objetivo não é dar dinheiro para o Estado e sim para a Cultura. A proposta atual, porém, transforma o dinheiro do fomento em empréstimo bancário, “na forma da criação de linhas de crédito com prazos (carência e pagamento) e juros adequados, conforme pactuado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”. As aspas são de documento da própria Ancine. Há pontos positivos, já que exibidores de pequeno porte teriam acesso não reembolsável a recursos do FSA. Além disso, o BNDES também suspenderia a cobrança de parcelas de dívidas feitas por essas companhias antes do período da quarentena da covid-19. Mas “emprestar” à juros não é o objetivo da arrecadação do Condecine. Para piorar, esses “rendimentos das aplicações realizadas pelos agentes financeiros durante o período de custódia dos recursos do FSA” não seriam automaticamente acrescidos ao FSA. Os valores – que se juntam ainda sos juros de 17 meses de investimentos da verba paralisada e retornos financeiros de blockbusters – entrariam no Tesouro Nacional, aguardando nova fase burocrática para retornar ao FSA – uma exigência do TCU (Tribunal de Contas da União) para identificar cada montante. De todo modo, essa proposta financista precisa ser aprovada pelo Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual (CGFSA), responsável por liberar a verba. E o detalhe é que, desde a posse de Bolsonaro, o CGFSA só fez uma reunião – em dezembro passado – e ainda nem sequer estabeleceu os critérios para a aplicação de recursos do FSA referentes ao plano anual de investimentos de… 2018. Vale lembrar, ainda, que a crise dos cinemas poderia ser amenizada com uma ação do Congresso, ao derrubar o veto do presidente Jair Bolsonaro à Lei do Audiovisual, que inclui o Recine, projeto de incentivo ao parque exibidor.
Casseta & Planeta abre festival de lives do governo de São Paulo
O grupo de humor Casseta & Planeta abre nesta terça-feira (21/4), às 21h30, o festival de lives #CulturaEmCasa, promovido pelo governo do estado de São Paulo. A trupe de humoristas terá ainda uma segunda apresentação no dia 28 e Helio de la Peña, um dos integrantes do Casseta, anunciou no Instagram que os cachês do grupo serão doados integralmente ao projeto social Mães da Favela, da Central Única das Favelas, para beneficiar famílias carentes de São Paulo. A programação ainda prevê participações do rapper Rincon Sapiência, na quarta-feira, além de outros shows, como Marcelo Jeneci, Céu, Leci Brandão, Erasmo Carlos e Karol Conka, ao lado de performances de atores, como Eva Wilma e Elias Andreato. Veja abaixo as apresentações confirmadas, que acontecerão diariamente às 21h30. O festival #CulturaEmCasa é uma iniciativa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e acompanha o lançamento de uma plataforma de streaming também chamada de #CulturaEmCasa. O serviço, gratuito, foi planejado para reunir conteúdos exclusivos, como as lives, e também acervo das diferentes entidades administradas pela pasta, como a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), a São Paulo Companhia de Dança e a Pinacoteca de São Paulo. O projeto está orçado em R$ 1 milhão. Em comunicado, a secretaria explica que o valor foi remanejado de “projetos de difusão que foram suspensos devido à pandemia do coronavírus e que visavam os mesmos objetivos: democratizar o acesso a conteúdos culturais e gerar oportunidades para artistas e técnicos”. O montante cobre a criação, a produção de conteúdo, a atualização e a manutenção da plataforma, que deve ser mantida no ar mesmo depois de a quarentena acabar, como um projeto em constante atualização. Segundo o secretário Sérgio Sá Leitão, além de ser uma forma de levar as produções culturais para mais pessoas durante a pandemia e também depois dela, a plataforma foi pensada como um meio de geração de renda para os profissionais do setor, que estão desempregados. Todos os autores, artistas e técnicos envolvidos no projeto estão sendo remunerados. Sem propostas para a Cultura durante a crise sanitária, o presidente Jair Bolsonaro deixou claro seu apreço pela classe ao se manifestar contra a iniciativa no seu palanque virtual. Confira abaixo o vídeo de apresentação do projeto e a programação de lives, que poderão ser conferidas no site da plataforma: https://culturaemcasa.com.br/ 21/04 às 21h30: Casseta & Planeta 22/04 às 21h30: Rincon Sapiência 23/04 às 21h30: ARAP, com Elias Andreato 24/04 às 21h30: Anelis Assumpção + Curumim 25/04 às 21h30: Marcelo Jeneci 26/04 às 21h30: Eva Wilma 27/04 às 21h30: Céu 28/04 às 21h30: Casseta & Planeta 29/04 às 21h30: Leci Brandão 30/04 às 21h30: Aílton Graça 01/05 às 21h30: Tulipa 02/05 às 21h30: Erasmo Carlos 03/05 às 21h30: Karol Conka
Regina Duarte vira alvo de protestos diante de mortes de artistas e falta de apoio ao setor cultural
Um grupo de atores, diretores e produtores iniciou uma campanha virtual criticando a omissão de Regina Duarte durante a pandemia do coronavírus. Em vários vídeos publicados nas redes sociais, muitos pergunta “Cadê você, Regina?”. A crítica mais contundente partiu de Marcos Caruso, que lamentou que a Secretaria Especial de Cultura, comandada por Regina Duarte, não esteja se manifestando sobre as mortes de importantes artistas brasileiros que aconteceram esta semana, como o cantor Moraes Moreira e os escritores Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza. “Há poucos dias, em quatro dias perdemos três dos maiores expoentes da nossa cultura. E, por conta do isolamento social, filas não se aglomeraram diante do [Teatro] Municipal pra se despedir do Moraes Moreira. A Academia Brasileira”, afirmou ele. “Então eu acho que uma nota de pesar, em nome do Brasil aos seus filhos eméritos, poderia ter sido dada. Seria o mínimo. Cultura também é cultivar bons hábitos”, disse Caruso, que não citou Regina, mas foi claro nas críticas. “Muitas palavras poderiam traduzir o meu sentimento, mas eu prefiro dizer que, no mínimo, eu estou triste. É o mínimo sentimento diante do que eu esperaria que no mínimo fosse feito pela Cultura do meu país.” O vídeo tem sido compartilhado na internet por críticos do governo Jair Bolsonaro, incluindo atores como José de Abreu e Lúcio Mauro Filho. Este questionamento se junta a outros, sobre o que Regina está fazendo em relação aos artistas que perderam suas fontes de arrecadações e o que impede a liberação de verbas do setor, como o Fundo Nacional de Cultura e o Fundo Setorial do Audiovisual – este está travado desde a posse de Bolsonaro. Para os artistas, a Secretária de Cultura do governo de Jair Bolsonaro não tem tomado nenhuma providência para ajudar a classe artística, uma vez que produções audiovisuais estão suspensas e teatros fechados. O movimento querendo saber onde está Regina inclui nomes como Marcelo Várzea, Lavínia Pannunzio, Iara Jamra, Paula Cohen, Rubens Caribé, Renata Carvalho, Adriano Tunes e Fernando Eiras. Veja abaixo alguns vídeos do protesto virtual. Ver essa foto no Instagram Cultura também é cultivar bons hábitos. Uma publicação compartilhada por Marcos Caruso (@marcos_caruso) em 17 de Abr, 2020 às 11:20 PDT Ver essa foto no Instagram Cadê Regina? Uma publicação compartilhada por Marcelo Varzea (@marcelovarzea) em 17 de Abr, 2020 às 6:27 PDT Ver essa foto no Instagram CADÊ REGINA? #MovimentoArtigoQuinto #ATAC #TrabalhadoresDaCultura #TrabalhadorasDaCultura #SomosTrabalhadoresDaCultura #SomosTrabalhadorasDaCultura #TrabalhadoresDasArtes #TrabalhadorasDasArtes #CulturaEVida #CadeRegina @reginaduarte #reginaduarte @artigo5quinto @atac.cultura Uma publicação compartilhada por Marcelo Varzea (@marcelovarzea) em 17 de Abr, 2020 às 8:06 PDT Ver essa foto no Instagram Cadê Regina! #MovimentoArtigoQuinto #ATAC #TrabalhadoresDaCultura #TrabalhadorasDaCultura #SomosTrabalhadoresDaCultura #SomosTrabalhadorasDaCultura #TrabalhadoresDasArtes #TrabalhadorasDasArtes #CulturaEVida #CadeRegina @reginaduarte #reginaduarte @artigo5quinto @atac.cultura Uma publicação compartilhada por Renata Carvalho (@renatacarvalhoteatro) em 17 de Abr, 2020 às 2:59 PDT Ver essa foto no Instagram #MovimentoArtigoQuinto #ATAC #TrabalhadoresDaCultura #TrabalhadorasDaCultura #SomosTrabalhadoresDaCultura #SomosTrabalhadorasDaCultura #TrabalhadoresDasArtes #TrabalhadorasDasArtes #CulturaEVida #CadeRegina Uma publicação compartilhada por Valdir Rivaben (@valdirrivaben) em 17 de Abr, 2020 às 5:00 PDT Ver essa foto no Instagram E aí @celso_curi queridíssimo? Cadê ela? Cadê? Cadê Regina Duarte?? #artigoquinto #cadereginaduarte #trabalhadoresdacultura @artigo5quinto @reginaduarte Uma publicação compartilhada por Paula Cohen (@paulacohenoficial) em 17 de Abr, 2020 às 10:52 PDT Ver essa foto no Instagram Cadê você Regina Duarte??? Nos artistas estamos precisando de iniciativas que nos ajudem a atravessar este momento que nos atinge absurdamente!! Cadê você Regina!? Quais as medidas que estão sendo tomadas para cuidar, proteger e incentivar a classe artista como um todo!? Cadê!? É mais que urgente um posicionamento seu!! #movimentoartigoquinto #artigoquinto #trabalhadoresdacultura #somostrabalhadoresdacultura #reginaduarte #cadereginaduarte #cadeaministradacultura @reginaduarte @artigo5quinto Uma publicação compartilhada por Paula Cohen (@paulacohenoficial) em 17 de Abr, 2020 às 7:32 PDT Ver essa foto no Instagram CADÊ REGINA? #MovimentoArtigoQuinto #TrabalhadoresDaCultura #TrabalhadorasDaCultura #SomosTrabalhadoresDaCultura #SomosTrabalhadorasDaCultura #TrabalhadoresDasArtes #TrabalhadorasDasArtes #CulturaEVida #CadeRegina @reginaduarte #reginaduarte Uma publicação compartilhada por Adriano Tunes (@adrianotunesreal) em 18 de Abr, 2020 às 10:43 PDT
Prefeitura do Rio usa cinema para entreter subúrbio em quarentena
A prefeitura do Rio de Janeiro está usando o cinema para entreter os moradores do subúrbio da cidade durante o período de isolamento social, contra o novo coronavírus, por meio do projeto Cinema nas Janelas, com exibição de filmes que os moradores assistem de suas janelas. O projeto é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura em parceria com a companhia Rioluz, a distribuidora RioFilme e o Cinemão, que promove intervenções cinematográficas em espaços públicos da cidade. A primeira exibição ocorreu no bairro Engenho Novo, nos dias 4 e 5 de abril, e nesta sexta (17/4) chega a Lins de Vasconcelos, onde um telão inflável de 8m x 6m está sendo instalado no estacionamento do conjunto habitacional Condomínio Parque Lins. O objetivo é levar diversão, cultura e cinema de um jeito seguro, unindo as famílias que estão de quarentena, sem sair de casa. A sessão de amanhã projetará 11 curtas-metragens, alguns premiados na Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Os filmes foram cedidos pela Lumen Produções Culturais e cineastas como Cavi Borges, Frederico Cardoso e Matheus Seabra.
Ancine dá prazos, mas não fundos contra a crise do audiovisual
Um dia após anunciar sua primeira medida para o setor audiovisual em meio à pandemia de coronavírus – qual seja, obrigar que filmes e séries incluam bandeiras brasileiras! – a Ancine (Agência Nacional do Cinema) acordou para a realidade e emitiu uma portaria que leva em conta os efeitos da crise de saúde. Entre elas estão ações reivindicadas pelo setor, como a flexibilização de prazos para a execução de produções financiadas com dinheiro público. Publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (20/3), a nova portaria da Ancine suspende os prazos para a apresentação de prestação de contas de projetos audiovisuais que receberam recursos públicos, a realização de inspeções in loco e os prazos para o lançamento comercial de obras audiovisuais produzidas com recursos do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), já que as salas de cinema estão fechadas para evitar o contágio da covid-19. A agência também anunciou que as propostas poderão pedir a prorrogação de prazos para captação de recursos púbicos por leis de incentivo. Porém, a principal demanda de entidades do setor, que é a liberação imediata dos recursos do FSA de 2018 não foi contemplada. Em vez disso, transfere a responsabilidade de financiar o setor para o BNDES, sugerindo que o banco priorize o lançamento de novas linhas de crédito para o desenvolvimento da atividade audiovisual. Ou seja, a Ancine deu prazos, mas não fundos para enfrentar a crise do audiovisual, segmento que já sofria financeiramente com o governo de Jair Bolsonaro antes da pandemia. Desde que assumiu a presidência, Bolsonaro travou o setor com paralisação de verbas, extinção de apoios, vetos a projetos de incentivo, censura de conteúdo e muitas ameaças. Proveniente do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), a verba do setor referente à arrecadação de 2018 corresponde a mais de R$ 700 milhões e está completando aniversário de 15 meses parada, após ser cobrada por meio de taxação do setor audiovisual e não liberada por parte da Ancine. O valor arrecadado em 2019, por sua vez, nem sequer começou a ser mencionado. Mas é possível especular que a arrecadação do Condecine já tenha somado R$ 1,5 bilhão, montante “esquecido” nas contas do governo federal por burocracia, má vontade política ou coisa pior. “É um movimento importante que Ancine tenha se manifestado”, disse o diretor e produtor de cinema Flávio Tambellini para o jornal O Globo. “Porém, tem que ter uma série de medidas mais contundentes, de injeção de recursos, devido ao fato do audiovisual já estar em pane antes do coronavírus. E, agora, se a gente não tomar cuidado, vai ser um tiro fatal”.
São Paulo e Rio assumem a frente da resposta cultural à crise do coronavírus no Brasil
Os governos de São Paulo e Rio tomaram a frente das soluções para a indústria cultural, durante a crise gerada pela pandemia de coronavírus no Brasil. No mesmo dia em que a Ancine publicou a impressionante decisão urgente de obrigar filmes e séries com financiamento público a exibirem a bandeira nacional, as secretarias municipais de Cultura das duas maiores cidades brasileiras, bem como a secretaria estadual do governo de São Paulo, anunciaram medidas concretas. O secretário de Cultura Alê Youssef anunciou nesta quinta (19/3) a iniciativa Janelas de São Paulo, que envolve cerca de 8 mil artistas. Eles farão apresentações gravadas em suas casas, que serão pagas e divulgadas pela Prefeitura na internet. A proposta deve abranger criadores de diversas linguagens artísticas, inspiradas pelas cantorias nas janelas de cidades italianas durante a quarentena naquele país, assim como o surgimento de shows online organizados por artistas da música pop internacional. O material gravado pelos artistas ficará disponível nas páginas da prefeitura, nas redes sociais e também, provavelmente, na plataforma de streaming Spcine Play, mantida pelo município. O serviço, por sinal, liberou diversos filmes para serem vistos de graça pelo público, na terça passada (17/3). O projeto Janelas de São Paulo tem orçamento de R$ 10 milhões. Além disso, a secretaria paulistana destaca que outros R$ 93 milhões serão disponibilizados em forma de fomentos e programas que já estavam previstos antes do surto do vírus, e que tiveram os prazos estendidos, atendendo reivindicação do setor. Também para garantir renda, os contratos já assinados foram prorrogados. Mesmo as atividades que tiveram de ser adiadas serão pagas como acordado antes do coronavírus e reagendadas para entrega ou exibição após a crise. Já o governo do estado de São Paulo anunciou uma linha de crédito com 12 meses de carência para proteger empresas durante a crise provocada pela pandemia. Dos R$ 500 milhões anunciados, R$ 275 milhões são destinados exclusivamente para os setores de cultura e economia criativa, turismo e comércio, vistos como os mais impactados pela situação. Só para as áreas de cultura e economia criativa, que normalmente respondem por 3,9% do PIB do estado, a perda com a pandemia do coronavírus é estimada em R$ 34,5 bilhões pelo secretário Sérgio Sá Leitão. Outra ação anunciada é o programa Cultura em Casa, que está reunindo, em um site, links para conteúdo cultural que o público pode ver em casa para se entreter. Aos poucos, a lista deve engordar com opções de todas as entidades culturais ligadas ao governo. No Rio, o secretário municipal de Cultura, Adolfo Konder, informou que a pasta vai adiantar o processo de seleção dos editais dos Pontos de Cultura e da Música para Lonas, Arenas e Areninhas. Sarão dez pontos de cultura financiados com R$ 70 mil, e um Pontão de Cultura, que receberá R$ 300 mil. Os projetos de música selecionados receberão R$ 30 mil cada. Assim como na cidade de São Paulo, a proposta é que cada projeto selecionado receba os recursos o quanto antes, independentemente do processo de realização. Konder também informou que está fazendo estudo orçamentário para viabilizar financiamentos de ações e projetos em plataformas online voltados para pequenos produtores e artistas de rua. O projeto Janelas de São Paulo pode servir de exemplo para a iniciativa carioca.
Regina Duarte é enquadrada pelo governo Bolsonaro em tempo recorde
Empossada na quarta-feira (4/9) secretária de Cultura do Brasil, Regina Duarte foi enquadrada pelo governo em tempo recorde, em menos de uma semana no cargo. Nenhum outro ministro recebeu recado de que pode cair em tempo tão breve. Nesta segunda (9/8), ela recebeu uma reprimenda pública do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, via Twitter, em resposta a uma entrevista que deu ao programa “Fantástico”, exibida no domingo (8/3) pela Rede Globo. O trecho que incomodou o governo foi a constatação feita por Regina de que passou “os primeiros dias desfazendo intrigas, respondendo a acusações que não são verdadeiras. A gente começou com enormes dificuldades por causa de uma facção que quer ocupar esse lugar. Já tem hashtag #foraregina”. Tudo o que ela disse é verdade. Mas Luiz Eduardo Ramos contestou, em nome do governo, o tom e a escolha de palavras da atriz. “O uso do termo ‘facção’ em entrevista, sem nomear seus supostos integrantes, dá a entender que há divisões inexistentes e inaceitáveis em nosso governo”, ele escreveu. Ramos ainda definiu o que é Cultura, caso a secretária não soubesse, e mandou, educadamente, ela bater continência e seguir o Chefe. Ou, senão… “O Presidente valoriza a cultura, que deve se espelhar na família tradicional e nos princípios cristãos. Nosso governo tem um norte: a vontade da maioria do seu povo. Nisso Regina e Bolsonaro devem estar juntos”, escreveu Ramos. “São seus ministros e secretários que devem se moldar aos princípios publicamente defendidos pelo Presidente da República, não o contrário”, acrescentou, no enquadramento. Além do puxão de orelha público, o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, descreveu que Carlos Bolsonaro, o filho mais radical, “ficou apoplético” com a entrevista ao “Fantástico”. Ele cita como fontes “assessores do Palácio do Planalto”, que teriam ouvido “o incontrolável Carluxo” dizer na manhã desta segunda que “sua missão é tirar Regina do governo”. Carlos “sentiu-se atingido com a fala da atriz”. “Carluxo” já teria sido responsável pela queda de três Ministros do governo do pai. A entrevista de Regina Duarte também foi ironizada por Sérgio Camargo, da Fundação Palmares, descrito por ela como “ativista, mais que um gestor público”. Na entrevista, ela disse que estava “adiando esse problema” para resolver (demitir) quando baixasse a temperatura. E essa foi a deixa para Camargo aumentar a temperatura. “Bom dia a todos, exceto a quem chama apoiadores do Bolsonaro de facção e o negro que não se submete aos seus amigos da esquerda de ‘problema que vai resolver”‘, ele escreveu no Twitter. Aos poucos, Regina Duarte começa a descobrir o que muitos brasileiros sempre souberam. Ao assumir um cargo no governo, ela acreditou que teria carta-branca para fazer o que quisesse na Cultura. Largou o emprego de mais de 50 anos na Globo para atender ao convite do presidente e ser a “salvadora” da Cultura no Brasil, em chamas após o próprio Bolsonaro assumir o cargo. Regina chegou a dizer que considerava Bolsonaro incompreendido. Talvez agora comece a compreendê-lo melhor.
Diretor de Parasita elogia Bacurau e pede que governo brasileiro apoie mais o cinema nacional
O sul-coreano Bong Joon-ho, diretor de “Parasita”, filme vencedor do Oscar 2020, assistiu nesta sexta (6/3) em Londres a uma exibição de “Bacurau”, dos brasileiros Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, e ao final falou sobre o que achou do longa para a BBC News. “É muito bonito. Tem uma energia única, traz uma força enigmática e primitiva”, diz, acrescentando que gostou muito do filme e da experiência proporcionada por “Bacurau”. Bong Joon-ho, que contou com apoio do governo sul-coreano para realizar “Parasita” e todos os seus filmes, também comentou o ataque que o governo brasileiro vem fazendo ao cinema nacional. “Eu espero que o governo brasileiro apoie mais a indústria de cinema brasileira e seus incríveis cineastas, como Kleber Mendonça e Juliano Dornelles. A indústria cinematográfica é arriscada e precisa de segurança e estabilidade”, comentou. O diretor sul-coreano também viu paralelos temáticos entre “Parasita” e “Bacurau”. “São pessoas e lugares diferentes, mas há uma conexão, da luta dos oprimidos”, comparou. Mas observou uma grande diferença entre os dois filmes. “Infelizmente, as pessoas das classes baixas em ‘Parasita’ nunca ficam tão bravos quanto as de ‘Bacurau’, nunca pegam em armas! Eles só querem um pouco de dinheiro. Isso é tão triste!”, comentou Bong, rindo, para o colega Kleber Mendonça Filho. Tanto “Parasita” quanto “Bacurau” foram exibidos no Festival de Cannes do ano passado. Na ocasião, Bong Joon-ho não conseguiu assistir ao longa brasileiro. “Parasita” acabou vencendo a Palma de Ouro e “Bacurau” ficou com o equivalente ao terceiro lugar na premiação, vencendo o Prêmio do Júri. Os diretores ainda se encontraram no Festival de Sidney. E pelo jeito ficaram amigos. Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles registraram o novo encontro em suas redes sociais, brincando que Bong finalmente viu o filme brasileiro. Veja abaixo. Ver essa foto no Instagram Bong Joon Ho finalmente conseguiu assistir BACURAU. Achou o filme muito massa. ⚡️⚡️⚡️ Uma publicação compartilhada por Juliano Dornelles (@jdornelles) em 6 de Mar, 2020 às 6:19 PST Ver essa foto no Instagram Eu com diretor Bong. Uma noite memorável em Londres depois da sessão especial no @britishfilminstitute de #bacurau. Bong, grande pessoa e artista. ❤️🍷 Uma publicação compartilhada por Kleber Mendonça Filho (@kleber_mendonca_filho) em 6 de Mar, 2020 às 5:51 PST Ver essa foto no Instagram Com Emilie, Juliano e Bong. 🍷❤️ #Bacurau #bfisouthbank Uma publicação compartilhada por Kleber Mendonça Filho (@kleber_mendonca_filho) em 6 de Mar, 2020 às 6:20 PST
Guerra Cultural: Regina Duarte assume a Secretaria da Cultura sob ataque de olavistas
A atriz Regina Duarte assumiu a Secretaria Especial da Cultura do governo de Jair Bolsonaro nesta quarta-feira (4/3) e já começou a ser atacada. A hashtag #foraRegina subiu nos trending topics do Twitter. A ironia é que quem impulsionou os ataques foram pessoas ligadas ao presidente Bolsonaro. Ou melhor, ao guru do presidente, Olavo de Carvalho. Regina virou alvo da ala olavista do governo porque sua posse coincidiu com a demissão de seis funcionários da pasta ligados aos pensamentos mais antiquados do conservadorismo extremo brasileiro. As exonerações foram assinadas pelo general Walter Souza Braga Netto, ministro da Casa Civil, e publicados nesta quarta no Diário Oficial, mas os olavistas veem o dedo da ex-atriz da Globo. Entre os demitidos, está Dante Mantovani, ex-presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes), autor da seguinte pérola: “o rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo”. Outro demitido, Camilo Calandreli, ex-secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, chegou a dizer que a lei Rouanet “passou a ser utilizada como mecanismo de ideologização política”, apropriada pelo “marxismo cultural” durante o governo do PT. Antes das hashtags subirem, Olavo postou: “Aplaudir a indicação da Regina Duarte parece ter sido uma cagada minha, mais uma entre tantas. Não sei onde vou arranjar tanto papel higiênico.” Em sua posse, em evento pouco prestigiado pela classe artística, Regina prometeu pacificar a pasta e manter diálogo constante com a classe cultural, a sociedade e o Congresso. “Meu propósito aqui é de pacificação, diálogo permanente com o setor cultural, estados e municípios, Parlamento e com os órgãos de controle”, disse, em um discurso de 15 minutos, pontuado por intervenções performáticas. Olhando para Bolsonaro, por exemplo, a atriz reforçou a promessa feita a ela de que teria liberdade para escolher os integrantes da secretaria. “Então, o convite que me trouxe até aqui falava em porteira fechada, carta branca. Não vou esquecer não, hein?” Entre caretas, continências e coraçõezinhos com as mãos, ela também exaltou o papel e a diversidade da cultura brasileira, defendeu valores familiares e a repartição com equilíbrio de recursos de fomento. “Posso ser um tanto ingênua, mas eu acredito que possa se fazer muita cultura e arte com os recursos que nós temos com criatividade”, disse. No evento, estiveram presentes atores como Carlos Vereza, Rosamaria Murtinho, Mylla Christie, Mário Frias e Maria Paula, além do locutor de rodeios Cuiabano Lima. A equipe de Regina ainda não foi anunciada, mas o ator e produtor teatral Humberto Braga e Vereza devem integrar a Secretaria de Cultura. A atriz é a quarta titular da pasta, que costumava ser um Ministério antes da gestão Bolsonaro iniciar o desmonte do setor cultural no Brasil.
Minha Mãe É um Peça 3 supera Os Dez Mandamentos e vira 2º filme brasileiro mais visto de todos os tempos
“Minha Mãe É uma Peça 3” continua lotando os cinemas e no fim de semana passado atingiu 11,4 milhões de espectadores, superando os 11,3 milhões de ingressos vendidos de “Os Dez Mandamentos” (2016) para se tornar o segundo filme brasileiro mais visto de todos os tempos. A comédia de Paulo Gustavo só vendeu menos ingressos que “Nada a Perder” (2018), cinebiografia do bispo Edir Macedo, que comercializou 12,1 milhões de tickets, mas tem seu público questionado, por conta da estratégia da Igreja Universal de comprar as sessões sem preencher todos os assentos dos cinemas com espectadores. Lançado em 26 de dezembro, o terceiro filme da Dona Hermínia já tem um faturamento de R$ 180 milhões, que representa a maior bilheteria do cinema brasileiro em todos os tempos – recorde superado em janeiro passado, cerca de 45 milhões atrás. O valor se tornou, inclusive, maior que a soma da arrecadação conjunta dos dois primeiros filmes da franquia. A franquia “Minha Mãe É Uma Peça” é baseada na peça homônima, criada e estrelada por Paulo Gustavo como Dona Hermínia. Os dois primeiros filmes, lançados em 2013 e 2016, atingiram juntos o público de 13 milhões de espectadores e uma arrecadação total de R$ 173,7 milhões. O imenso sucesso e alcance de “Minha Mãe É Uma Peça 3” também coloca em cheque a definição do presidente Jair Bolsonaro sobre filmes que só agradam “uma minoria”, já que se trata de uma produção assumidamente LGBTQIA+. Sua trama é estrelada por um homem vestido de mulher (que na vida real é casado com outro homem), tem como tema um casamento homossexual e gira em torno de uma família que lida com a sexualidade de forma natural e bem-humorada.
Regina Duarte encerra contrato de mais de 50 anos com a Globo
A atriz Regina Duarte encerrou sua relação contratual de mais de 50 anos com a rede Globo. A informação foi divulgada hoje pelo departamento de comunicação da emissora. A rescisão foi decorrente da decisão de Regina, que assumirá a Secretaria Especial de Cultura a convite do presidente Jair Bolsonaro. “Deixar a TV Globo é como deixar a casa paterna. Aqui recebi carinho, ensinamentos e tive a oportunidade de interpretar personagens extraordinárias, reveladoras do DNA da mulher brasileira. Por mais de 50 anos sinto que pude viver, com a grande maioria do povo brasileiro, um caso de amor que, agora sei, é para sempre. E não existem palavras para expressar o tamanho da minha gratidão”, anunciou a atriz, em comunicado. “Que Deus me ilumine para que eu possa agora, na Secretaria Especial de Cultura do Governo Bolsonaro, honrar meus aprendizados em benefício das artes e das expressões culturais da população do meu país”, acrescentou. Regina Duarte estreou na Globo em 1969 com a novela “Véu de Noiva”. De lá para cá, atuou em obras que marcaram época, como “Selva de Pedra” (1972), “Roque Santeiro” (1985), “Vale Tudo” (1988), “História de Amor” (1995), “Por Amor” (1997) e “Páginas da Vida” (2006), entrou outras. Sua posse na pasta da Cultura deve acontecer em 4 de março. Ela assumirá a vaga aberta desde 17 de janeiro, após a exoneração de Roberto Alvim, devido a um discurso ideológico inspirado em frases de Joseph Goebbels, ministro da Informação e Propaganda da Alemanha nazista.










