Festival Sesc Melhores Filmes disponibiliza sucessos da crítica de graça
Principal endereço do cinema de arte de São Paulo, o Cinesesc começou a 46ª edição de seu Festival Sesc Melhores Filmes, que este ano acontece online e de graça, na plataforma Em Casa com Sesc. A seleção reúne 13 dos melhores principais títulos lançados nos cinemas brasileiros em 2019, como o polonês “Guerra Fria”, Melhor Direção em Cannes e indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro, o dinamarquês “Rainha de Copas”, prêmio do público em Sundance, e o sueco “Border”, igualmente premiado em Cannes. A maioria, porém, são títulos nacionais, entre eles dois longas também premiados em Cannes, “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”, de João Salaviza e Renée Nader Messora. Alguns títulos ficarão disponíveis por 30 dias na plataforma digital, mas outros, como o citado “Bacurau”, terão sessão única – neste caso, no domingo (23/8). O acesso aos filmes estão disponíveis no site oficial: https://melhoresfilmes.sescsp.org.br/. A lista de títulos pode ser conferida abaixo. “Bacurau”, de Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho. “Border”, de Ali Abbasi. “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”, de Renée Nader Messora e João Salaviza. “Cine São Paulo”, de Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli. “Divino Amor”, de Gabriel Mascaro. “Elegia de um Crime”, de Cristiano Burlan. “Greta”, de Armando Praça. “Guerra Fria”, de Pawel Pawlikowski. “Inferninho”, de Pedro Diogenes e Guto Parente. “Los Silencios”, de Beatriz Seigner. “No Coração do Mundo”, de Gabriel Martins e Maurílio Martins. “Rainha de Copas”, de May El-Toukhy. “Torre das Donzelas”, de Susanna Lira.
De Pernas pro Ar 3 é a maior estreia da semana
A comédia “De Pernas pro Ar 3” é o maior lançamento da programação de cinema desta quinta (11/4), que ainda leva aos shopping centers dois dramas americanos de nicho. O terceiro “De Pernas pro Ar” finge reforçar a tese conservadora de que filme brasileiro só fala de sexo. Entretanto, seu verdadeiro tema é a família. A comédia é uma grande Sessão da Tarde enrustida. Após transformar sua empresa de brinquedos sexuais numa multinacional, a personagem de Ingrid Guimarães só quer ficar mais tempo com o marido e os filhos, que cresceram. Felizmente, logo surge uma competidora mais jovem para injetar um pouco de conflito nesse enredo de sitcom. Em entrevistas, elenco e equipe têm forçado uma analogia entre o empreendedorismo sexual da protagonista e uma reação aos retrocessos comportamentais do Brasil atual. Mas, como nos capítulos anteriores, a nova comédia sexual é assexuada, evitando cenas picantes para agradar justamente ao público conservador. Como diriam os Trapalhões, é fria. Os dois dramas americanos assumem mais claramente seu público-alvo. “Superação – O Milagre da Fé” – ou “o filme do Bolsonaro”, como ficou conhecido após a première em Brasília – é um drama sobre o poder da reza. Considerado medíocre pela crítica internacional – 50% no Rotten Tomatoes – , prega para convertidos. E “After” é uma lição moralista sobre os perigos do sexo adolescente, tão ruim que foi escondida da imprensa nos Estados Unidos. Um dia antes da estreia, não tem nem uma crítica sequer publicada. Todas as estreias limitadas desta semana são melhores que os destaques escolhidos pelos distribuidores. Algumas, por sinal, devem até entrar na lista dos melhores filmes lançados no Brasil em 2019. Para começar, “Border” nem teve seu título traduzido por conta de sua fama, que o grande público talvez desconheça. Parte drama, parte fantasia, parte terror, essa produção sueca difícil de caracterizar foi até indicada ao Oscar 2019 numa categoria pouco convencional para filmes de fora de Hollywood: Melhor Maquiagem. Acompanha uma mulher que parece um troll, de tão feia, mas que nasceu com uma habilidade ideal para seu trabalho na alfândega: a capacidade de “sentir” a intenção das pessoas com o olhar. Um dia, ela encontra um homem tão feio quanto ela. E a ligação é forte demais para ser ignorada, trazendo à tona verdades que ela desconhecia sobre si mesma. Segundo longa de Ali Abbasi (“Shelley”), “Border” adapta um conto do escritor John Ajvide Lindqvist (autor do terror “Deixe Ela Entrar”) com cenas impactantes de sexo, muita sujeira e podridão. Venceu a mostra Um Certo Olhar em Cannes, tem 96% de aprovação no Rotten Tomatoes e já virou cult. Os cinéfilos também não podem perder “Em Trânsito”, que atingiu os mesmos 96% no Rotten Tomatoes. O drama faz jus à campanha de divulgação que o descreve como “a nova obra-prima de Christian Petzold”. Um dos melhores diretores alemães de sua geração, Petzold dá sequência no novo filme aos temas de “Fênix” (2014) e “Barbara” (2012) – como identidades trocadas, falência da nação e desejo de fuga. A história é baseada no romance homônimo de Anna Seghers, escrito em 1944, que acompanha um alemão em fuga de seu país durante a 2ª Guerra Mundial. Ele se esconde na França, onde o acaso o leva a adotar a identidade de um escritor morto, apenas para ser descoberto pela mulher do homem por quem se passa, também desesperada para escapar da Europa. O detalhe é que Petzold transportou a trama para os dias atuais, dando à sua adaptação uma aura subversiva de distopia contemporânea. Outra trama impactante ganha vida em “Ayka”, que rendeu o prêmio de Melhor Atriz para a cazaque Samal Yeslyamova no Festival de Cannes do ano passado. Ela já tinha trabalhado com o diretor Sergei Dvortsevoy dez anos antes em “Tulpan” (2008), também premiado em Cannes. Na nova obra, vive a mulher do título, desempregada e sem dinheiro, que é pressionada a dar seu bebê recém-nascido para pagar uma dívida com a máfia. É deprimente, mas poderoso, com 80% no Rotten Tomatoes. “Los Silencios”, da brasileira Beatriz Seigner (“Bollywood Dream — O Sonho Bollyoodiano”), também merece atenção. Falado em espanhol, o drama de realismo mágico se passa numa comunidade de refugiados na fronteira amazônica, entre o Peru, a Colômbia e o Brasil. Vencedor do prêmio de Melhor Direção no Festival de Brasília e um dos filmes mais elogiados do último Festival de Cannes (passou na Quinzena dos Realizadores), sua mistura de espiritualidade e crítica social impressionou os americanos com 71% no Rotten Tomatoes. A programação ainda inclui o lançamento tardio de “Suspiria”, cinco meses após a estreia nos Estados Unidos. Remake do filme homônimo de 1977 de Dario Argento, um dos maiores cults do cinema de horror italiano, a nova versão não empolgou tanto, com 66% no Rotten Tomatoes – apesar de dirigida por outro italiano celebrado, Luca Guadagnino (de “Me Chame pelo Seu Nome”). Faltou justamente terror. Mas sua fotografia (do tailandês Sayombhu Mukdeeprom), premiada no Spirit Awards, e trilha fantasmagórica (do inglês Thom Yorke, da banda Radiohead) conjuram sons e visões belíssimos. Os três títulos que completam a programação também são melhores que os três que dominam o circuito. Confira mais detalhes nos trailers e sinopses abaixo. De Pernas pro Ar 3 | Brasil | Comédia O sucesso da franquia Sex Delícia faz com que Alice (Ingrid Guimarães) rode o mundo, visitando os mais diversos países em uma correria interminável. Sem tempo para se dedicar à família, quem assume a casa é seu marido João (Bruno Garcia), que cuida dos filhos Paulinho (Eduardo Mello) e Clarinha (Duda Batista), de apenas seis anos. Cansada de tanta agitação, Alice decide se aposentar e entregar o comando dos negócios à sua mãe, Marion (Denise Weinberg). Porém, o surgimento de Leona (Samya Pascotto), uma jovem competidora, faz com que mude seus planos. Superação – O Milagre da Fé | EUA | Drama John Smith, um menino de 14 anos, passeava com a família em uma manhã de inverno no Lago St Louis, no Missouri, quando, acidentalmente, sofreu uma queda e se afogou. Chegando ao hospital, John foi considerado morto por mais de 60 minutos até que sua mãe, Joyce Smith, juntou todas as suas forças e pediu a Deus para que seu filho sobrevivesse. Sua prece poderosa foi responsável por um milagre inédito. After | EUA | Tessa Young (Josephine Langford) é uma jovem de 18 anos que acaba de ingressar na faculdade. De roupas recatadas e bastante ingênua, ela é apresentada ao mundo das festas através de sua colega de quarto, Steph (Khadijha Red Thunder), bem mais liberal. Logo conhece Hardin (Hero Fiennes Tiffin), um jovem rebelde que renega o amor, apesar de ter lido os principais romances sobre o tema. Aos poucos os dois se aproximam, iniciando uma ardente paixão. Suspíria – A Dança do Medo | EUA | Terror Susie Bannion (Dakota Johnson), uma jovem bailarina americana, vai para a prestigiada Markos Tanz Company, em Berlim. Ela chega assim que Patricia (Chloë Grace Moretz) desaparece misteriosamente. Tendo um progresso extraordinário, com a orientação de Madame Blanc (Tilda Swinton), Susie acaba fazendo amizade com outra dançarina, Sara (Mia Goth), que compartilha com ela todas suas suspeitas obscuras e ameaçadoras. Border | Suécia, Dinamarca | Fantasia Tina (Eva Melander) é uma policial que trabalha no aeroporto fiscalizando bagagens e passageiros. Depois de ser atingida por um raio na infância, ela desenvolveu uma espécie de sexto sentido, fazendo com que seja capaz de “ler as pessoas” apenas pelo o olhar. Isso sempre representou uma vantagem na sua profissão, mas tudo muda quando ela identifica um criminoso em potencial e não consegue achar provas para justificar sua intuição. Após o episódio, ela passa a questionar seu dom, ao mesmo tempo em que fica obcecada em descobrir qual o verdadeiro segredo de Vore (Eero Milonoff), seu único suspeito não legitimado. Em Trânsito | Alemanha, França | Drama Quando Georg (Franz Rogowski) tenta fugir da França após a invasão nazista, ele rouba os manuscritos de um autor falecido e assume sua identidade. Preso em Marseille, acaba conhecendo Marie (Paula Beer), que está desesperada para encontrar seu marido desaparecido – o mesmo que ele está fingindo ser. Para complicar ainda mais, ele começa a se apaixonar por ela. Ayka | Rússia, Cazaquistão | Drama Ayka (Samal Yeslyamova) é uma jovem de origem cazaque, que vive ilegalmente em Moscou. Ela dá à luz num hospital local, mas abandona o seu filho por medo de ser descoberta e deportada. Logo depois, ela enfrenta as complicações pós-parto, a fome, a solidão, a falta de emprego e a perseguição da máfia local, a quem deve dinheiro. Um dia, os mafiosos exigem que Ayka volte ao hospital, recupere o bebê e entregue a eles. Los Silencios | Colômbia, Brasil, França | Drama Amparo (Marleyda Soto) é mãe de dois filhos pequenos e está fugindo dos conflitos armados da Colômbia. Na tríplice fronteira do país com o Peru e o Brasil, ela e os meninos se abrigam em uma pequena ilha com casas de palafita no Rio Amazonas. No local, eles encontram o pai (Enrique Diaz), que supostamente estava morto. Meditation Park | Canadá | Drama Maria (Pei-Pei Cheng) e Bing (Tzi Ma) são um casal que imigraram de Hong Kong para o Canadá 40 anos atrás. Uma mãe, esposa e dona de casa dedicada sua vida toda, Maria se vê obrigada a procurar por independência quando sua realidade é balançada por encontrar roupas íntimas de outra mulher no bolso de seu marido. Primeiro Ano | França | Drama Benjamin (William Lebghil) acaba de se formar no ensino médio e está começando seu primeiro ano da faculdade de medicina. Já Antoine (Vincent Lacoste) está começando o primeiro ano pela terceira vez. Quando os dois se conhecem, uma amizade logo se forma e os dois se unem para enfrentar noites mal dormidas, um ambiente extremamente competitivo e a pressão das expectativas para seu futuro. Horácio | Brasil | Comédia Durante um único dia, diversas figuras marginalizadas se cruzam pela cidade de São Paulo: um jogador sem talento, uma prostituta sem sorte, um capanga encontrando seu amor, um chefe autoritário, a filha dele, um agiota… Entre essas pessoas, um contrabandista de 80 anos de idade (Zé Celso) entra em desespero ao descobrir que o capanga por quem está apaixonado não o ama.
Festival de Brasília 2018 consagra negros, mulheres e transexuais
O filme “Temporada”, primeira ficção em longa-metragem de André Novais Oliveira (“Ela Volta na Quinta”), foi o grande vencedor do Festival de Brasília 2018, conquistando cinco troféus no encerramento do evento, na noite de domingo (23/9). Eleito Melhor Filme pelo júri, também venceu os Troféus Candangos de Melhor Atriz (para Grace Passô), Ator Coadjuvante (Russão), Direção de Arte e Fotografia. “Temporada” traz Grace Passô como uma mulher que, ao se mudar para Contagem (MG) vinda de uma cidade do interior, tem que lidar com o novo cotidiano e dificuldades no casamento. O detalhe é que se trata de um filme de diretor negro, estrelado por uma mulher negra. E ambos foram premiados. O Melhor Ator foi outro negro: Aldri Anunciação, protagonista de “Ilha”, de Glenda Nicácio e Ary Rosa, que também receberam o Candango de Melhor Roteiro – pela história de um jovem que sequestra um cineasta com o objetivo de rodar a própria história. Ambos atores chamaram atenção para a quantidade de negros que fazem cinema no Brasil sem reconhecimento. “Esse troféu diz respeito a uma porção de militâncias que desentortam o olhar. Para que pessoas como eu possam ser vistas, olhadas e possam ensinar a sociedade”, disse Grace Passô. “Não existe atuação, existe coatuação. Eu não estou só aqui. Atrás existe uma comunidade de negros e negras. Quero dividir esse prêmio com Mário Gusmão, ator negro de 90 anos e que nunca ganhou um prêmio”, exaltou Aldri Anunciação. Por sua vez, o Candango de Melhor Direção ficou com uma mulher: Beatriz Seigner, por seu trabalho em “Los Silencios”, que teve lançamento mundial no último Festival de Cannes. O filme mostra uma ilha no meio da Amazônia, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, que é povoada por fantasmas. A boa safra de terror nacional também rendeu reconhecimentos para “A Sombra do Pai”, outro filme dirigido por uma mulher, Gabriela Amaral Almeida (“O Animal Cordial”), que levou três troféus: Melhor Montagem, Som e Atriz Coadjuvante (Luciana Paes). “Torre das Donzelas”, documentário de Susanna Lira sobre presas políticas, ficou com o Prêmio Especial do Júri. E outro documentário, “Bixa Travesty”, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman, sobre a cantora trans Linn da Quebrada, foi escolhido o Melhor Filme pelo Público e recebeu Menção Honrosa do júri, além do Candango de Melhor Trilha Sonora. Confira abaixo os principais premiados. Longa-Metragem Melhor Filme: “Temporada” Melhor Direção: Beatriz Seigner (“Los Silencios”) Melhor Ator: Aldri Anunciação (“Ilha”) Melhor Atriz: Grace Passô (“Temporada”) Melhor Ator Coadjuvante: Russão (“Temporada”) Melhor Atriz Coadjuvante: Luciana Paes (“A Sombra do Pai”) Melhor Roteiro: “Ilha”, de Ary Rosa e Glenda Nicácio Melhor Fotografia: “Temporada”, Wilsa Esser Melhor Direção de Arte: “Temporada”, Diogo Hayashi Melhor Trilha Sonora: “Bixa Travesty” Melhor Som: “A Sombra do Pai”, Gabriela Cunha Melhor Montagem: “A Sombra do Pai”, Karen Akerman Prêmio do Júri Popular: “Bixa Travesty” Prêmio Especial do Júri: “Torre das Donzelas” Menção Honrosa do Júri: “Bixa Travesty” Curta-Metragem Melhor Filme: “Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotados” Melhor Direção: Nara Normande (“Guaxuma”) Melhor Ator: Fábio Leal (“Reforma”) Melhor Atriz: Maria Leite (“Mesmo com Tanta Agonia”) Melhor Ator coadjuvante: Uirá dos Reis (“Plano Controle”) Melhor Atriz coadjuvante: Noemia Oliveira (“Eu, Minha Mãe e Wallace” ) Melhor Roteiro: “Reforma”, Fábio Leal Melhor Fotografia: “Mesmo com Tanta Agonia”, Anna Santos Melhor Direção de Arte: “Guaxuma”, Nara Normande Melhor Trilha Sonora: “Guaxuma”, Normand Roger Melhor Som: “Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotados”, Nicolau Domingues Melhor Montagem: “Plano Controle”, Gabriel Martins e Luisa Lana Menção Honrosa de Atriz Coadjuvante: “Mesmo com Tanta Agonia”, Rillary Rihanna Guedes Prêmio do Júri Popular: “Eu, Minha Mãe e Wallace” Prêmio Especial do Júri: “Liberdade”
Filmes de diretores brasileiros são aplaudidos no Festival Cannes
Eles não estão na competição pela Palma de Ouro, portanto longe dos principais holofotes do Festival Cannes 2018. Mas “Arctic”, “Los Silencios” e “O Grande Circo Místico” foram recebidos com aplausos durante suas pré-estreias mundiais no evento francês. Exibido na seleção da Meia-Noite do festival, “Arctic” foi considerado uma surpresa, já que assinado por um estreante em longas, o youtuber paulista Joe Penna, que mora nos Estados Unidos desde 1999. O filme é uma coprodução islandesa e americana, estrelada pelo dinamarquês Mads Mikkelsen (“Rogue One”), e acompanha, praticamente sem diálogos, a luta pela sobrevivência do protagonista, após um acidente aéreo no meio da neve ártica. Elogiadíssimo pela imprensa internacional e comparado positivamente a “O Náufrago” (2000), “127 Horas” (2010) e “Até o Fim” (2013), o filme atingiu uma média de 89% de aprovação no Rotten Tomatoes. Parte da programação da Quinzena dos Realizadores, “Los Silencios”, da brasileira Beatriz Seigner (“Bollywood Dream — O Sonho Bollyoodiano”), também é uma coprodução estrangeira, da Colômbia e da França. A trama se passa numa comunidade de refugiados na fronteira amazônica, entre o Peru, a Colômbia e o Brasil, e a forma com que seus habitantes convivem com seus mortos rendeu comparações da crítica internacional aos dramas espirituais do filipino Apichatpong Weerasethakul. A crítica da revista The Hollywood Reporter caprichou nos adjetivos, ao definir o trabalho como “tocante” e “artística e espiritualmente nutritivo”. Apresentado em sessão especial fora de competição, “O Grande Circo Místico” marcou a volta de Cacá Diegues à ficção cinematográfica após 12 anos – desde “O Maior Amor do Mundo” (2006). Mas até este trabalho é uma coprodução internacional, desta vez com o Brasil puxando as parcerias com Portugual e França. Além disso, foi rodado em Portugal, devido às leis que proíbem uso de animais selvagens em produções no Brasil, e destaca o ator francês Vincent Cassel (“O Filme da Minha Vida”) entre os papéis principais. “O Grande Circo Místico” era originalmente um poema do escritor Jorge de Lima (1893-1953), que inspirou um espetáculo de dança de Naum Alves de Souza nos anos 1980 e um álbum musical homônimo de Chico Buarque e Edu Lobo. Inspirado em tudo isso, o filme conta os feitos e desventuras dos membros de uma companhia circense ao longo de um século, entre 1910 e 2010. Recebeu aplausos, mas teve as críticas internacionais mais mornas do trio.
Quinzena dos Realizadores levará filmes brasileiros ao Festival de Cannes 2018
A Quinzena dos Realizadores, mostra paralela ao Festival de Cannes, anunciou sua seleção oficial. E entre os filmes anunciados há um longa e um curta brasileiros, respectivamente “Los Silencios”, de Beatriz Seigner, e “O Órfão”, de Carolina Markowicz. Além destes, “Skip Day” tem codireção do americano Patrick Bresnan e de Ivete Lucas, que nasceu no Brasil e trabalha nos Estados Unidos. Coprodução entre Brasil, França e Colômbia, “Los Silêncios” acompanha o reencontro de uma família em uma ilha desconhecida onde o pai, dado como morto em conflitos locais, está escondido. O elenco destaca o peruano radicado no Brasil Enrique Diaz (da série “O Mecanismo”). A diretora Beatriz Seigner comemorou a inclusão na mostra de seu segundo longa – após “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano” (2010) – , por meio das redes sociais. “Depois de 9 anos de trabalho, 37 editais públicos dos quais ganhamos 10 e perdemos 27, uma gravidez surpresa e filhote lindo nascido no caminho, muitas parcerias para levar pra vida toda, finalmente este filme vai chegar ao mundo, no maior festival de cinema deste planeta, tendo passado por uma seleção de 2 mil filmes dos quais apenas 20 são selecionados”. Rodado no rio Amazonas, na fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, o longa já tem distribuição garantida no Brasil pela Vitrine Filmes. Além dos filmes brasileiros, a mostra trará, entre outros títulos, “Clímax”, o novo longa erótico do polêmico argentino Gaspar Noé (“Love”), “Mandy”, terror de Panos Cosmatos (filho de George P. Cosmatos), “Le Monde Est à Toi”, segundo longa do premiado diretor francês de clipes Romain Gavras (filho do mestre Costa-Gavras), e “Pájaros de Verano”, do premiado colombiano Ciro Guerra (“O Abraço da Serpente”), em parceria com sua produtora Cristina Gallego. A Quinzena dos Realizadores foi fundada em 1969 pela Société des réalisateurs de films, o sindicato dos diretores franceses, após a greve geral e a revolta de maio de 1968, após o Festival de Cannes ter sido cancelado em solidariedade aos grevistas. A mostra não se restringe a Cannes, nem mesmo à França. Após a seção na Riviera, viaja para Marselha, Paris, Genebra, Roma, Milão, Florença e Bruxelas. Confira abaixo a seleção completa de filmes da Quinzena dos Realizadores 2018. Longas “Amin”, de Philippe Faucon “Carmen y Lola”, de Arantxa Echevarria “Climax”, de Gaspar Noé “Cómprame un Revólver”, de Julio Hernández Cordón “Les Confins du Monde”, de Guillaume Nicloux “El Motoarrebatador”, de Agustín Toscano “En Liberté!”, de Pierre Salvadori “Joueurs”, de Marie Monge “Leave no Trace”, de Debra Granik “Los Silencios”, de Beatriz Seigner “The Pluto moment”, de Ming Zhang “Mandy”, de Panos Cosmatos “Mirai”, de Mamoru Hosoda “Le Monde Est à Toi”, de Romain Gavras “Pájaros de Verano”, de Ciro Guerra & Cristina Gallego (filme de abertura) “Petra”, de Jaime Rosales “Samouni Road”, de Stefano Savona “Teret”, de Ognjen Glavonic “Troppa Grazia”, de Gianni Zanasi (filme de encerramento) “Weldi”, de Mohamed Ben Attia Curtas “Basses”, de Félix Imbert “Ce Magnifique Gâteau!”, de Emma De Swaef e Marc James Roels “L’Arbre et la Pirogue”, de Sébastien Marques “La Chanson”, de Tiphaine Raffier “La Lotta”, de Marco Bellocchio “La Nuit des Sacs Plastiques”, de Gabriel Harel “Las Cruces”, de Nicolas Boone “Le Sujet”, de Patrick Bouchard “O Órfão”, de Carolina Markowicz “Our Song to War”, de Juanita Onzaga “Skip Day”, de Patrick Bresnan e Ivete Lucas




