Asghar Farhadi recebe seu segundo Oscar… no Festival de Cannes
O cineasta iraniano Asghar Farhadi recebeu um Oscar no Festival de Cannes de 2017. Não se trata de uma confusão de prêmios, mas uma reparação. Proibido de entrar nos Estados Unidos devido a uma nova lei do governo Trump, que vetou viagens de iranianos, o diretor não pôde participar da cerimônia de premiação da Academia no começo do ano. Mesmo barrado, ele acabou vencendo o Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro por “O Apartamento”. Na cerimônia, foi representado pela engenheira Anousheh Ansari, conhecida por ser a primeira mulher turista espacial, e Firouz Naderi, ex-diretor da Nasa, integrantes da comunidade iraniana dos Estados Unidos. A estatueta, porém, ficou com a Academia, que aproveitou a participação de Farhadi e do produtor francês Alexandre Mallet-Guy no Festival de Cannes 2017 para enviar um representante para entregar o prêmio em mãos. Assim que receberam o troféu da atriz Meredith Shea, Farhadi e o produtor postaram uma foto com o Oscar nas redes sociais (a imagem acima). Este foi o segundo Oscar vencido por Farhadi, que já havia conquistado a categoria de Melhor Filme Estrangeiro com “A Separação” em 2012. Ele está no Festival de Cannes para lançar o projeto de seu novo filme, ainda sem título, que será estrelado pelo argentino Ricardo Darin (“Truman”) e o casal espanhol Javier Bardem (“Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar”) e Penélope Cruz (“Zoolander 2”). Saiba mais aqui.
Novo filme de Kleber Mendonça Filho ganha primeiro cartaz
O novo filme de Kleber Mendonça Filho, diretor de “Aquarius”, ganhou seu primeiro pôster, voltado para o mercado internacional. Trata-se de “Bacurau”, codirigido por Juliano Dornelles, que está aproveitando o Festival de Cannes para fechar distribuição em vários países. Mendonça Filho está no Festival também na condição de presidente do júri da mostra paralela Semana da Crítica. Apesar do cartaz, “Bacurau” ainda não começou a ser filmado. A equipe da produção realiza testes de elenco com atores de vários estados, e o início das filmagens está programado para o segundo semestre de 2017. A trama é descrita como um thriller de ficção científica e mostrará um cineasta no interior do Nordeste, que se depara com situações misteriosas durante a filmagem de um documentário. De acordo com uma postagem do produtor do filme, o francês Saïd Ben Saïd, há influências dos longas “O Confronto Final” (1981), de Walter Hill, e “Amargo Pesadelo” (1972), de John Boorman, ambos centrados em confrontos violentos entre viajantes e caipiras no interior dos Estados Unidos.
Único longa brasileiro em Cannes, Gabriel e a Montanha é elogiado pela crítica internacional
“Gabriel e a Montanha”, único longa-metragem brasileiro selecionado para o Festival de Cannes deste ano, foi exibido neste domingo (21/5), durante a programação da Semana da Crítica, prestigiada mostra paralela do festival. O filme dirigido por Fellipe Barbosa (“Casa Grande”) emocionou o público, que aplaudiu a obra no Espace Miramar, e a crítica internacional, que aplaudiu na internet. “O filme aborda sua narrativa com um ar de autenticidade inescapavelmente emocionante”, publicou o site Screen Daily. “Um sucesso brilhante em termos de forma para um filme que não visa resolver todas as questões misteriosas em torno de uma vida e uma morte, mas extrai um perfume de encanto inebriante”, classificou o site Cineuropa. “Barbosa tem de ser elogiado por querer enfrentar o que é claramente uma produção complexa em sua segunda empreitada cinematográfica, filmando em vários países da África e em locais que nem sempre são facilmente acessíveis e ainda contando parcialmente com um elenco não-profissional. Se nada mais, as imagens… são lindas na tela grande, sugerindo pelo menos uma das razões pelas quais Gabriel embarcou em sua viagem malfadada”, exaltou o site da revista The Hollywood Reporter. A obra dramatiza os últimos dias de Gabriel Buchmann, jovem economista brasileiro que morreu em 2009, aos 28 anos, durante uma escalada no Malawi. Buchmann, que era amigo de infância do diretor, estava viajando pelo mundo antes de iniciar um programa de doutorado sobre desenvolvimento social. Ao subir o Monte Mulanje, pico mais alto do Malawi com mais de 3 mil metros de altitude, ele se perdeu e acabou morrendo de hipotermia. A projeção em Cannes contou com a presença de Fátima Buchmann. Mãe do personagem do título, ela assistiu ao longa pela primeira e, emocionada, foi a primeira a abraçar o diretor após o fim da exibição. Nina Buchmann, irmã de Gabriel, João Pedro Zappa – que interpreta o protagonista -, o ator Leonard Siampala e o produtor-executivo da TvZERO Rodrigo Letier também estiveram presentes na sessão. Gabriel Buchmann viajou para a África com o objetivo de analisar de perto a pobreza e se qualificar para um doutorado na UCLA, nos Estados Unidos. A adaptação cinematográfica foi desenvolvida a partir de anotações, e-mails de Gabriel para a mãe e a namorada e entrevistas com pessoas que cruzaram seu caminho na África. Algumas dessas pessoas trabalham no filme interpretando a si mesmas. Na viagem, Gabriel também passou por países como Quênia e Tanzânia, sempre preocupado em conhecer as particularidades das comunidades locais, como a tribo dos Massais. Ele gastava entre dois e três dólares por dia e chegou a ajudar amigos que fez nessas regiões, pagando o aluguel mensal da casa de uma família africana com somente 12 dólares. No filme, Gabriel (João Pedro Zappa) se aventura por outras subidas difíceis, como o Kilimanjaro, ponto mais alto do continente africano. Ele também recebe a visita de sua namorada, Cris (Caroline Abras), que estava na África do Sul participando de um seminário sobre políticas públicas e, juntos, viajaram pela Tanzânia e Zâmbia. “O significado de uma viagem só pode ser definido após o retorno. Gabriel não teve a oportunidade de retornar. Minha motivação para fazer esse filme foi descobrir o significado da viagem que ficou perdido e compartilhá-lo, que é exatamente o que o Gabriel teria feito”, explicou Fellipe Barbosa, em comunicado para a imprensa. Este é o segundo longa-metragem de ficção dirigido por Fellipe Barbosa, que esteve à frente do elogiado “Casa Grande”, vencedor do prêmio do público no Festival do Rio e considerado Melhor Filme Brasileiro exibido em 2015 pela Pipoca Moderna.
Elenco de Okja avisa: “A Netflix vai mudar o mundo”
O elenco de “Okja”, um dos filmes produzidos pela Netflix no Festival de Cannes, deu uma entrevista arrojada para o site Deadline. Lily Collins (“Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos”), Paul Dano (“12 Anos de Escravidão”), Giancarlo Esposito (série “Breaking Bad”) e Steven Yeun (série “The Walking Dead”) falaram com muito mais empolgação sobre o que a Netflix representa para o futuro do cinema do que na entrevista coletiva oficial. “A Netflix vai mudar o mundo”, disse candidamente Esposito. Os atores apontaram que o principal diferencial não está no lugar onde filme do sul-coreano Bong Joon Ho será visto, mas como ele foi feito e quantas pessoas o verão. “Bong Joon Ho só conseguiria realizar esse filme do jeito que fez porque teve completa liberdade. Esta é maior mensagem que se tira disso”, avaliou Yeun. “Como cineasta, você quer que seu filme seja visto pelo maior número de pessoas e no maior quantidade de lugares em que for possível. E para este filme, ser feito como uma produção de baixo orçamento para uma exibição durante um mês, não seria o suficiente. Este é um grande filme visionário e graças a Deus que alguém apareceu e cobriu os valores para ele ser realizado”, completou Esposito. No encontro com a imprensa internacional, o diretor já tinha relatado como trabalhar com o serviço de streaming tinha sido uma experiência positiva, sem mencionar o sofrimento que passou com sua produção cinematográfica anterior. Para quem não lembra, “O Expresso do Amanhã” sofreu adiamentos sucessivos e ameaças do produtor Harvey Weinstein, que queria cortar o filme para que ficasse num tamanho que pudesse render mais sessões em salas de cinema. “A Netflix me deu um orçamento excepcional e total liberdade de criação, desde o roteiro à edição. Nunca interferiram no projeto. Não senti qualquer pressão deles, mesmo trabalhando em um filme que seria desaconselhável para menores de 13 anos”, comparou Joon Ho. Esposito demonstra otimismo em relação à convivência da Netflix e o parque de exibidor. Para isso, porém, algumas concessões precisarão ser feitas, principalmente por parte do circuito cinematográfico. Janelas como as da França, que exigem intervalo de três anos entre a exibição nas salas e a disponibilização em streaming, são superprotecionistas e já atuam contra os interesses dos próprios estúdios de cinema no mundo atual. “Acredito que, no futuro, encontraremos um meio termo feliz, onde os filmes serão exibidos por um período de tempo nos cinemas franceses, e é preciso resolver isso, pois nem os cinemas nem a Neflix vão sumir. Eles nos dão a oportunidade de ver filmes onde quisermos, como quisermos, inclusive no conforto das nossas casas, e a forma como a Netflix faz isso vai mudar o mundo”. “O jeito como os filmes são vistos já mudou muito ao longo dos anos e continua a mudar. Estar aqui, no meio de uma conversa tão intensa sobre mudanças, é interessante e uma honra”, conclui Lily Collins. Veja abaixo o vídeo com a entrevista completa com os atores do filme. Além deles, a produção ainda inclui Tilda Swinton (“Doutor Estranho”), Jake Gyllenhaal (“O Abutre”), Devon Bostick (série “The 100”) e a dupla Byeon Hie-bong e Yun Je-mun, que trabalhou com o diretor em vários filmes, entre eles “O Hospedeiro” (2006), primeiro filme de monstros de Bong Joon Ho.
Adam Sandler transforma vaias em elogios no Festival de Cannes
A Netflix continua a ser o assunto dominante no Festival de Cannes. Mal a poeira de sua estreia no evento se assentou, chega seu segundo filme, “The Meyerowitz Stories”, de Noah Baumbach. E novamente a projeção foi marcada por vaias da crítica ao logotipo da plataforma de streaming. O cineasta espanhol Pedro Almodóvar, presidente do júri da competição, deu aval para as manifestações conservadoras ao declarar-se contrário à premiação, no festival, de um filme que não será exibido no cinema. Seria um “paradoxo”, na sua definição. Sem ter como evitar o tema, o diretor americano de “The Meyerowitz Stories” brincou, na entrevista coletiva: “Não fiquei sabendo dessa controvérsia”. Baumbach explicou que sua obra não foi planejada como um produto destinado ao serviço de streaming, e que o local de exibição não alterou em nada seu trabalho atrás das câmeras. Em suma, que filme é filme e não sala de cinema. E que ainda assim prefere a forma tradicional de se assistir cinema, embora seu novo longa, como todos de sua carreira, seja rodado em 16mm, uma bitola antiga, que não é recomendada para as atuais salas de projeção digital. Um paradoxo, como diria Almodóvar. “O filme foi feito com a expectativa de ser exibido em tela grande, que ainda considero uma experiência única, que não vai acabar. O fiz de forma independente, com película em Super 16mm, assim como tenho feito todos os meus trabalhos. A Netflix adquiriu os direitos sobre ele na fase de pós-produção e, deste então, ela tem nos dado todo apoio e suporte”, resumiu. O elenco eclético da produção, composto por Adam Sandler, Ben Stiller, Dustin Hoffman e Emma Thompson, resolveu encarar a polêmica com humor. “Eu tenho uma televisão bem grande”, disse Hoffman, após Baumbach mencionar que preferia assisti-lo em “tela grande”. A discussão sobre formato quase ofuscou o debate do conteúdo, que, por sinal, tende a dar muito o que falar. Quando isso se tornou possível, veio à tona que o elenco queria evitar participar do filme por motivos bem diversos da Netflix. Os quatro atores principais chegaram a recusar o convite inicial do diretor, e só aceitaram após muita insistência para lerem o roteiro. Para começar, Adam Sandler tinha medo de fazer um papel dramático tão complexo, completamente diferente dos que costumava interpretar. Já Stiller, ao contrário, achava que o personagem se parecia demais com todos que ele tem interpretado. O receio de Thompson era atuar como uma alcoólatra com sotaque americano. E, para completar, Dustin Hoffman “não queria interpretar um velho”, brincou. “The Meyerowitz Stories” gira em torno de uma família cujos membros, que não se veem há anos, são obrigados a se reunirem para um evento que celebra as obras de arte do pai (Hoffman), um escultor que já foi famoso e se encontra em decadência. Aos poucos, as feridas e rancores do passado retornam, entre refeições e reuniões familiares. “O que me interessa em meus filmes é a diferença entre o que somos realmente e o que gostaríamos de ser. Neste filme, eu queria abordar o tema do sucesso, o que o sucesso significa para diferentes pessoas”, afirmou o diretor. E, assim como aconteceu com “Okja”, após a poeira se assentar, o filme de Baumbach recebeu críticas bastante positivas. Até Adam Sandler foi elogiado, situação rara na carreira do ator, que prefere se ridicularizar em suas comédias apelativas. Sua interpretação de um músico desempregado e em processo de divórcio chamou tanta atenção que algumas publicações até especulam a possibilidade de obter premiação. O jornal britânico The Guardian declarou ter visto um “ator formidável na tela”. E o site Indiewire completou: “Como Adam Sandler pode ser bom quando não protagoniza filmes típicos de Adam Sandler”. A Netflix ainda não divulgou a data do lançamento.
Netflix estreia em Cannes sob vaias e vontade de aplaudir
A estreia de “Okja” no Festival de Cannes foi histórica. A primeira produção da Netflix foi recebida, na sessão para a imprensa, com vaias da crítica, que começaram quando o logotipo da empresa apareceu na tela. Brasileiros poderiam brincar que o filme é golpista. Mas a crítica de Cannes é que é elitista. O protesto aconteceu porque “Okja” não será exibido nos cinemas franceses, ganhando um lançamento direto em streaming. Para completar o incômodo, a projeção teve problemas técnicos e gerou ainda mais vaias, precisando ser interrompida e recomeçar. Adeptos de teorias conspiratórias já imaginaram sabotagem. Mas o diretor sul-coreano Bong Joon Ho adorou, dizendo que o acidente permitiu à imprensa ver duas vezes a abertura. Vale observar que a segunda projeção veio sem vaias. E, ao final da sessão, houve constrangimento em relação ao que fazer. Afinal, como se veria mais tarde, todos queriam aplaudir. Joon-Ho não quis entrar em polêmicas. Declarando-se fã de Pedro Almodóvar, presidente do júri da competição deste ano, que lamentou a inclusão de filmes da Netflix no festival, o sul-coreano se disse satisfeito pelo simples fato de “Okja” ser visto. “Não importa o que aconteça com o filme, que falem bem ou mau dele, para mim está ok”. “Não viemos para Cannes para ganhar prêmios, mas para mostrá-lo ao mundo, e o festival é uma tela importante. Acho que, em muitos assuntos, há espaço para todo mundo”, emendou Tilda Swinton, que vive a vilã da trama. A atriz completou seu raciocínio com um comentário fulminante sobre os protestos. “Há dezenas de filmes exibidos em Cannes que não serão exibidos em cinemas de muitos países do mundo. Na verdade, temos que agradecer o apoio que a Netflix tem dados aos realizadores”, apontou. Também presente à entrevista coletiva, o ator Jake Gyllenhaal ecoou a colega. “A plataforma de um filme, a partir de onde ele pode alcançar o público para comunicar sua mensagem, é realmente importante. É extraordinário quando um filme atinge uma pessoa, que dirá milhões de pessoas. É bom espalhar a arte da forma que for possível. Mas claro que o debate sempre é fundamental”, completou. Por fim, o diretor falou sobre sua experiência de trabalhar com o serviço de streaming, após ter sofrido com adiamentos sucessivos e ameaças do produtor Harvey Weinstein, que queria cortar seu filme anterior, “O Expresso do Amanhã”, para que ficasse num tamanho que pudesse render mais sessões nas tais salas de cinema idolatradas pela crítica cannina. “A Netflix me deu um orçamento excepcional e total liberdade de criação, desde o roteiro à edição. Nunca interferiram no projeto. Não senti qualquer pressão deles, mesmo trabalhando em um filme que seria desaconselhável para menores de 13 anos”, comparou Joon Ho. O filme é uma fábula sobre o crescimento, com inspiração no cinema de Steven Spielberg e Hayao Miyazaki, e gira em torno da amizade entre uma menina (An Seo Hyun) e seu animal de estimação, a Okja do título. O detalhe é que o bicho pertence a uma espécie nova, um “super porco” desenvolvido em laboratório, que uma grande corporação, a Mirando, liderada pela personagem de Tilda Swinton, criou para ser estrela de uma campanha promocional contra a fome mundial – e abater. E para salvar seu amigo, a menina contará com apoio de um grupo radical de proteção dos animais comandado por Paul Dano. Jake Gyllenhaal participa como um biólogo contratado para dar uma aparência de comprometimento ético à Mirando. A trama sugere uma aventura infantil, e há instantes de comédia pastelão, mas também exibe cenas de violência gráfica pouco aconselháveis para crianças. Ou, pelo menos, é assim que o cérebro ocidental o processa, num curto-circuíto de intensões. Mas, apesar dos atores conhecidos de Hollywood, a produção não é ocidental. Tanto Joon Ho como Tilda Swinton abordaram a influência dos longas animados do diretor japonês Hayo Miyazaki na trama. “Quando se faz um filme sobre vida e natureza, é difícil não pensar em Miyazaki”, admitiu o diretor. “Há algo nos filmes de Miyazaki que vão para além da questão da nossa relação emocional com o meio ambiente. Eles também aludem a outro ambiente, o da infância, que é um lugar pra onde podemos ir”, aprofundou a atriz. E assim, após vaias, “Okja” sutilmente trouxe o cinema para dentro da discussão. E os críticos se interessou em esmiuçar essas referências, em resenhas assombrosamente positivas. “Glorioso” e “um grande prazer”, definiu o jornal The Guardian. “Seriamente gratificante”, elogiou a revista “Time Out. “Uma fábula alucinada tão cheia de propósito quanto imprevisível”, apontou a New York Magazine. “Esta produção da Netflix pertence à tela grande”, concluiu a Variety. Para o bem e para o mal, a Netflix estreou em Cannes.
Filmes da Netflix fazem Pedro Almodóvar e Will Smith dividirem o júri do Festival de Cannes
A polêmica sobre a inclusão de filmes da Netflix no Festival de Cannes 2017 dividiu os responsáveis pela escolha do vencedor da Palma de Ouro. De um lado, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar (“Julieta”), que preside o juri, manifestou-se contra premiar um filme que não seja exibido no cinema. Do outro, o ator americano Will Smith (“Esquadrão Suicida”), que estrela um lançamento exclusivo da Netflix, disse estar pronto a bater o pé e discordar. A disputa da Palma de Ouro terá este ano dois filmes que não serão exibidos nos cinemas: “The Meyerowitz Stories”, de Noah Baumbach, e “Okja”, de Bong Joon-Ho. Ambos serão disponibilizados apenas via streaming na França, o que levou os exibidores franceses a protestarem contra sua inclusão do evento. Por conta da controvérsia, o festival acabou se comprometendo a não selecionar mais filmes com distribuição exclusiva em streaming. Para Almodóvar, seria um paradoxo que um filme premiado em Cannes não pudesse ser visto nos cinemas. Durante a entrevista coletiva do juri, ele partiu com ímpeto contra o streaming. “Eu pessoalmente entendo que a Palma de Ouro não deve ser entregue para um filme que não seja visto nos cinemas”, afirmou. “Tudo isso não significa que eu não esteja aberto para celebrar novas tecnologias e oportunidades, mas enquanto eu estiver vivo, vou defender a capacidade de hipnose que uma tela grande tem sobre o espectador, algo que as novas gerações não conhecem”. A imprensa internacional resolveu provocar, questionando se ele preferia vencer a Palma de Ouro ou ser assistido nos 190 países nos quais os serviços da Netflix são oferecidos. Almodóvar reagiu de forma exaltada. “Mais do que ser visto em 190 países, para mim um filme meu precisa sempre ser assistido em uma tela grande”. Em seguida, o cineasta leu um comunicado em que esclarece sobre sua opinião do assunto. “Plataformas digitais são uma nova maneira de oferecer imagens e palavras, o que, por si só é enriquecedor. Mas estas plataformas não deveriam tomar o lugar de plataformas pré-existentes, como cinemas”, afirmou. “Elas não deveriam, sob nenhuma circunstância, mudar a oferta para os espectadores. A única solução que vejo seria que as novas plataformas aceitassem e obedecessem as regras que já foram adotadas e respeitadas por meios mais antigos.” A declaração de Almodóvar levantou a suspeita de que as produções da Netflix não seriam consideradas para os prêmios do festival. Mas Will Smith promete lutar contra o preconceito cinéfilo. Ele afirmou que discorda de Almodóvar e que não se furtaria de realizar um belo “escândalo”, em suas palavras. “Eu tenho filhos de 16, 18 e 24 anos em casa”, disse o ator, usando Willow, Jaden e Trey Smith como exemplos. “Eles vão aos cinemas duas vezes por semana e assistem Netflix. Uma coisa não atrapalha a outra”, comentou o astro, que estrela a sci-fi “Bright”, com lançamento exclusivo por streaming. “Em casa, a Netflix é absolutamente benéfica — meus filmes assistem filmes que não teriam acesso de outra maneira. Ela tem expandido a compreensão global dos meus filhos sobre cinema”, afirmou o ator, observado por um Almodóvar contrariado. Também parte do júri, a diretora francesa Agnès Jaoui (“Além do Arco-Íris”) se aliou a Will Smith ao defender as produções da Netflix que concorrem à Palma de Ouro. “Não podemos fingir que a tecnologia não existe. Mas seria um absurdo penalizar esses diretores apenas por causa disso.” Os demais integrantes do júri da Palma de Ouro são a atriz americana Jessica Chastain (“A Colina Escarlate”), a atriz chinesa Fan Bingbing (“X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”), o diretor italiano Paolo Sorrentino (“Juventude”), a cineasta alemã Maren Ade (“Toni Erdmann”), o diretor sul-coreano Park Chan-woo (“A Criada”) e o compositor libanês Gabriel Yared (“É Apenas o Fim do Mundo”). Vale observar que “Okja” será lançado nos cinemas na Coreia do Sul. E os dois filmes da Netflix só não serão exibidos nas salas francesas porque as redes se valem de uma regulamentação que estabelece uma janela de 36 meses entre a distribuição em cinema e a disponibilização em streaming de uma produção. “Estamos certos de que os amantes franceses de cinema não vão querer ver esses filmes três anos depois do resto do mundo”, rebateu a Netflix em um comunicado.
Festival de Cannes completa 70 anos de relevância cinematográfica
O Festival de Cannes começa nesta quarta-feira (17/5) sua 70ª edição, repleto de estrelas e provocações, mas também em clima de medo por ataques terroristas e em meio a uma polêmica de mercado. Em seu aniversário de 70 anos, o evento promete uma disputa acirrada pela Palma de Ouro, já que privilegiou cineastas veteranos. São todos nomes de peso. Mesmo assim, entre os diretores da mostra competitiva, apenas o austríaco Michael Haneke já foi premiado. E ele venceu duas vezes: por “A Fita Branca” (2009) e “Amor” (2012). Seu novo filme é “Happy End”, sobre a crise dos refugiados na Europa, em que volta a trabalhar com Isabelle Huppert após “Amor”. A abertura do evento está a cargo de “Les Fantômes d’Ismael”, do francês Arnaud Desplechin (“Três Lembranças da Minha Juventude”), com Marion Cotillard. “Talvez eu não devesse dizer isto, mas não é fácil ser um diretor francês em Cannes”, afirmou o cineasta na entrevista coletiva de seu filme. “Há uma tensão, uma pressão com a imprensa, os espectadores… Há menos indulgência com os cineastas do país”. Apesar dessa declaração, há mais franceses que nunca no festival deste ano. A seleção reúne alguns dos cineastas mais famosos da nova geração do país. A lista inclui “L’Amant Double”, do sempre excelente François Ozon (“Dentro da Casa”), “Le Redoutable”, filme sobre Godard de Michel Hazanavicius (“O Artista”), “Rodin”, a cinebiografia do mestre da escultura com direção de Jacques Doillon (“O Casamento a Três”), e “120 Battements par Minute”, de Robin Campillo, responsável por “Eles Voltaram” (2004), que deu origem à série “Les Revenants”. Por sua vez, os americanos se destacam com “Wonderstruck”, novo filme feminino de Todd Haynes (“Carol”), estrelado por Julianne Moore e Michelle Williams, “Good Time”, dos irmãos Ben e Joshua Safdie (“Amor, Drogas e Nova York”), com Jennifer Jason Leigh e Robert Pattinson, “The Meyerowitz Stories”, do cineasta indie Noah Baumbach (“Frances Ha”), que junta Adam Sandler e Ben Stiller, e o western feminista “The Beguiled”, de Sofia Coppola (“Bling Ring”), remake de “O Estranho que Nós Amamos” (1971), com Nicole Kidman, Colin Farrell, Kirsten Dunst e Elle Fanning. Outros destaques incluem “You Were Never Really Here”, da escocesa Lynne Ramsay (“Precisamos Falar Sobre o Kevin”), em que Joaquin Phoenix luta contra o tráfico sexual, “The Killing of a Sacred Deer”, segundo filme do grego Yorgos Lanthimos estrelado por Colin Farrell, após o sucesso de “O Lagosta” (2015), e o retorno de cineastas sempre apreciados no circuito dos festivais, como Sergei Loznitsa (“Na Neblina”), Hong Sangsoo (“A Visitante Francesa”), Bong Joon-Ho (“Expresso do Amanhã”), Naomi Kawase (“Sabor da Vida”), Fatih Akin (“Soul Kitchen”), Andrey Zvyagintsev (“Leviatã”) e Kornél Mandruczó (“White Dog”). Apenas três filmes são dirigidos por mulheres (Coppola, Kawase e Ramsay), mesmo número da seleção do ano passado. Mas o que tem mais se discutido na véspera do festival é a representação da Netflix na competição. Os exibidores franceses fizeram pressão contra os organizadores por terem selecionado dois filmes que não serão exibidos nos cinemas: “The Meyerowitz Stories”, de Noah Baumbach, e “Okja”, de Bong Joon-Ho. Ambos serão disponibilizados apenas via streaming na França, pois os exibidores não abrem mão de uma janela de 36 meses de exclusividade, antes que um filme possa ser disponibilizado por via digital no país. Por conta da controvérsia, o festival acabou se comprometendo a não selecionar mais filmes com distribuição exclusiva em streaming. Mas a questão é bem mais complexa que simplesmente barrar longas produzidos pela Netflix. No ano passado, o filme vencedor da Câmera de Ouro, o francês “Divines”, foi adquirido pela Netflix após passar no festival e não respeitou a janela de 36 meses para entrar no catálogo da plataforma de streaming. O presidente do júri deste ano, o espanhol Pedro Almodóvar, já se posicionou a respeito da polêmica, afirmando que seria um paradoxo que um filme premiado em Cannes não pudesse ser visto nos cinemas. “Seria um enorme paradoxo que uma Palma de Ouro (…) ou qualquer outro filme premiado não pudesse ser visto em salas” de cinema, disse Almodóvar, convocando as plataformas de streaming a “aceitar as regras do jogo”. A discussão ainda vai longe, conforme o mercado evolui com as novas tecnologias, como a digitalização que as próprias salas de cinema atualmente usufruem. E vale lembrar que até cartaz do festival (foto acima) foi acusado de retocar digitalmente as curvas clássicas de Claudia Cardinale. Maladies du 21ème siècle. Mas o simples fato de Cannes estar no centro da polêmica comprova a relevância duradoura do evento, 70 anos após seu primeiro tapete vermelho.
Diretor de Casa Grande vai filmar seu primeiro longa internacional em inglês
O diretor Fellipe Barbosa (“Casa Grande”), que teve seu novo filme “Gabriel e a Montanha” selecionado para a Semana da Crítica no Festival de Cannes, vai filmar sua primeira produção internacional, falada em inglês. Segundo o site da revista Variety, ele vai dirigir “City of Alex”, uma produção de Lars Knudsen, o produtor responsável por “Toda a Forma de Amor” (2010), “A Bruxa” (2015) e “Docinho da América” (2016). Passado em Berlim, “City of Alex” acompanha um triângulo amoroso a partir do ponto de vista da personagem-título, uma pianista dividida entre o marido Eric e Sasha, uma paixão antiga. “O filme lida com um conflito entre amor e paixão, disciplina e liberdade, música clássica e jazz”, afirmou Barbosa à publicação americana. As filmagens estão previstas para o segundo semestre deste ano. Além deste filme, Fellipe Barbosa prepara um drama com toques políticos para o mercado brasileiro. “Domingo” vai acompanhar uma família conservadora, que celebra o Ano Novo assistindo à posse do populista (descrição da Variety) Luís Inácio Lula da Silva à Presidência da República. “O longa lida com o medo e preconceitos de uma decadente aristocracia do sul do Brasil, enquanto o Partido dos Trabalhadores chega ao governo”, descreveu o diretor.
CEO da Netflix responde às redes de cinema e ao Festival de Cannes: “Vejam na Netflix”
A decisão do Festival de Cannes de barrar filmes da Netflix a partir de 2018 ganhou uma resposta de Reed Hastings, fundador e CEO do serviço de streaming. Ele fez um breve comentário, em tom desafiador, na sua página no Facebook: “O establishment fechando o cerco contra nós. Vejam ‘Okja’ na Netflix em 28 de junho, filme incrível que as redes de cinema querem impedir que participe da competição do Festival de de Cannes”, disse. O festival deste ano, que começa na semana que vem, terá dois filmes da Netflix em sua mostra competitiva pela primeira vez, mas esta inclusão causou revolta entre os exibidores de cinema da França, já que esses filmes só estarão disponíveis em streaming para assinantes. Ao anunciar a mostra competitiva deste ano, o diretor do festival, Thierry Fremaux, chegou a sugerir que a Netflix providenciaria algum tipo de lançamento cinematográfico dos dois filmes na competição, “Okja”, de Bong Joon-Ho, e “The Meyerowitz Stories”, de Noah Baumbach. Mas nesta quarta (10/5) os organizadores do festival disseram que tal acordo não foi feito e que, embora os dois filmes tenham recebido permissão de continuar na competição deste ano, no futuro nenhum filme será aceito sem uma garantia de distribuição nos cinemas franceses. “O Festival de Cannes está ciente da ansiedade despertada pela ausência de lançamento desses filmes nos cinemas franceses”, justificaram os responsáveis pelo evento, em comunicado, no qual tentam afirmar que a situação era “invisível” até virar polêmica. “O festival tem o prazer de acolher um novo operador que decidiu investir no cinema, mas quer reiterar seu apoio ao modo tradicional de exibição na França e no mundo. Consequentemente, após consultar os membros do seu conselho, o Festival de Cannes decidiu adaptar suas regras a esta situação, invisível até agora: qualquer filme que pretenda competir em Cannes terá que se comprometer a ser distribuído nos cinemas franceses. Esta nova medida será aplicada a partir da edição de 2018”, conclui o texto. A decisão de Cannes está sendo comemorada pelo setor de distribuição de filmes tradicional. Na França, um filme só pode ser exibido em um serviço de streaming 36 meses após sua saída dos cinemas. “Estamos certos de que os amantes franceses de cinema não vão querer ver esses filmes três anos depois do resto do mundo”, chegou a dizer a Netflix em um comunicado, quando tentava negociar a exibição dos filmes nos cinemas franceses. Mas não houve acordo com os exibidores. Aliás, nem agora nem nunca. A Netflix chegou a tentar exibir seus filmes no cinema, quando entrou nesse mercado. O plano original da empresa para “Beasts of No Nation” em 2015 era exibir a produção em alguns cinemas selecionados dos Estados Unidos, mas as redes de exibidores boicotaram a distribuição, proibindo que seu circuito fosse utilizado e o filme só entrou em 31 salas independentes. Por conta disso, o serviço de streaming passou a lançar seus filmes diretamente na plataforma. A questão tem desdobramentos interessantes, desde a discussão do que é cinema – as salas ou o filme – e até mesmo o que é filme – afinal, o processo de filmagem tradicional há muito foi abandonado pela gravação digital, e hoje os “filmes” chegam em todas as telas em arquivos de mídia.
Festival de Cannes cede às pressões e vai barrar a Netflix a partir do ano que vem
O Festival de Cannes cedeu às pressões dos exibidores franceses e anunciou mudanças para a edição de 2018. O alvo da polêmica foi a inclusão de duas produções da Netflix, que não serão exibidas nos cinemas, em sua seleção competitiva. Embora tenha decidido manter os filmes de Noah Baumbach (“The Meyerowitz Stories”) e Bong Joon Ho (“Okja”) na disputa da Palma de Ouro deste ano – até porque barrá-los, a esta altura, criaria ainda mais controvérsia – , a Netflix não poderá mais concorrer ao prêmio se continuar fazendo filmes apenas para streaming. Ou seja, se continuar a ser a Netflix. “O Festival de Cannes está ciente da ansiedade despertada pela ausência de lançamento desses filmes nos cinemas franceses”, justificaram os responsáveis pelo evento, em comunicado, afirmando que a organização tentou negociar com a Netflix para que os filmes fossem exibidos de forma tradicional. “Pedimos em vão que a Netflix aceitasse que esses dois filmes pudessem alcançar outro público nos cinemas franceses e não apenas seus assinantes. Por isso, o festival lamenta que não tenhamos chegado a nenhum acordo”. Eximindo-se da inclusão dos filmes na competição, os organizadores declararam no mesmo comunicado que a situação era “invisível” até o momento da polêmica. “O festival tem o prazer de acolher um novo operador que decidiu investir no cinema, mas quer reiterar seu apoio ao modo tradicional de exibição na França e no mundo. Consequentemente, após consultar os membros do seu conselho, o Festival de Cannes decidiu adaptar suas regras a esta situação, invisível até agora: qualquer filme que pretenda competir em Cannes terá que se comprometer a ser distribuído nos cinemas franceses. Esta nova medida será aplicada a partir da edição de 2018”, conclui o texto. Na prática, isto significa que, para o Festival de Cannes, cinema é um lugar, no caso salas de exibição, e não uma arte. A discussão deve ser retomada durante a exibição dos filmes da Netflix no festival deste ano, que acontece entre 17 e 28 de maio na Riviera Francesa.
Louis Garrel vive Jean-Luc Godard em novo teaser de cinebiografia
O filme francês “Le Redoutable”, em que o ator Louis Garrel (“Dois Amigos”) vive o cineasta Jean-Luc Godard, ganhou cinco fotos e um novo teaser. Com legendas em inglês, a prévia registra Godard em meio a uma passeata, possivelmente durante a primavera de Paris. O diálogo desdenha do Festival de Cannes, que em 1968, pela única vez em sua história, foi interrompido em função dos protestos sociais que agitaram a França no período. Além de Garrel, que está irreconhecível com as entradas de calvice de Godard, o elenco também destaca Stacy Martin, revelação de “Ninfomaníaca” (2013), como a atriz alemã Anne Wiazemsky. O filme vai contar o romance entre Godard e Wiazemsky, iniciado nos bastidores de “A Chinesa”, em 1967. Ela tinha apenas 19 anos na época, mas os dois se casaram e ficaram juntos por mais de uma década. A trama é baseada no livro autobiográfico “Un An Après”, de Wiazemsky, e tem direção de Michel Hazanavicius, que retorna ao tema dos bastidores cinematográficos de “O Artista”, seu filme mais conhecido – e que lhe rendeu do Oscar de Melhor Direção em 2012. “Le Redoutable” terá sua première no Festival de Cannes 2017 e fará sua estreia comercial em setembro na França. Ainda não há previsão para seu lançamento no Brasil.











