Estreias | Terror “Imaginário” tem maior destaque nos cinemas
Maioria dos lançamentos da semana chega em circuito limitado, com destaque para o filme turco "Ervas Secas", premiado no último Festival de Cannes
Estreias | “Farofeiros 2” chega em mil cinemas
Programação também inclui dois documentários internacionais indicados ao Oscar, que vai premiar os vencedores no domingo
Estreias | “Duna 2” e indicados ao Oscar são principais novidades de cinema
Além do blockbuster de ficção científica, as telas recebem três indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional: "Eu, Capitão", "A Sala dos Professores" e "Dias Perfeitos"
Estreias | Nova temporada de “Halo” e “As Marvels” chegam ao streaming
Série da Paramount+ e filme da Disney+ são destaques entre as 10 novidades que merecem atenção na semana
Documentário sobre “Clube da Esquina” ganha trailer
A Lira Filmes divulgou o trailer de “Nada Será como Antes”, documentário sobre a criação do “Clube da Esquina”, considerado o melhor disco brasileiro de todos os tempos. A produção explica o contexto da criação do álbum com imagens inéditas de arquivo, apresenta shows da época e conversa com os músicos envolvidos na gravação, com destaque para Milton Nascimento e Lô Borges, acrescentando histórias e curiosidades da concepção do disco que revolucionou a MPB da época. O melhor disco brasileiro O álbum duplo lançado em 1972, fruto da colaboração entre Milton Nascimento, Lô Borges e uma coletânea de músicos talentosos de Minas Gerais, acabou se tornando um dos discos mais influentes da música brasileira, mesclando elementos do folk, rock, jazz e música latina com a rica tradição da MPB (Música Popular Brasileira). A gênese da produção foram encontros musicais informais que aconteciam no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, onde artistas como Beto Guedes, Toninho Horta e os irmãos Márcio e Lô Borges se reuniam para compartilhar ideias e criar músicas. Esses encontros deram origem ao “Clube da Esquina”, nome que posteriormente foi adotado para o álbum, uma viagem poética e sonora que refletia sobre amizade, amor, saudade e questões sociais. Faixas como “Tudo Que Você Podia Ser”, “O Trem Azul”, “Cravo e Canela” e “Nuvem Cigana” são apenas alguns exemplos da diversidade musical e da riqueza lírica encontradas no disco, eleito em 2022 como o melhor álbum brasileiro pelo podcast Discoteca Básica, que ouviu a opinião de 162 especialistas — jornalistas, youtubers, podcasters, músicos, lojistas e produtores. O documentário escrito e dirigido por Ana Rieper (“Vou Rifar meu Coração”) já foi exibido no Festival do Rio e da Mostra de São Paulo, e tem estreia comercial marcada para o dia 29 de fevereiro nos cinemas.
Estreias | Cinemas recebem dois filmes do Oscar 2024
A programação de cinema desta quinta (25/1) recebe dois lançamentos que disputam o Oscar de Melhor Filme, “Anatomia de uma Queda” e “Vidas Passadas”, mas o circuito amplo privilegia a comédia romântica “Todos Menos Você” e a fantasia infantil brasileira “Príncipe Lu e a Lenda do Dragão”. Outros filmes incluem a continuação do blockbuster nacional “Nosso Lar”, thrillers espanhóis intensos e animações inovadoras. Confira abaixo a relação completa das estreias. ANATOMIA DE UMA QUEDA Filme europeu mais premiado do ano, vencedor do Festival de Cannes e do European Film Awards (o Oscar europeu), o drama de tribunal e suspense da francesa Justine Triet (“Sibyl”) acompanha o julgamento de uma mulher suspeita de matar o marido. O homem foi encontrado ensanguentado no gelo, após uma queda de um andar elevado da casa da família e a única testemunha do que aconteceu é o filho cego do casal, que vive mudando sua versão dos acontecimentos. A trama se desdobra em um mistério: foi acidente, suicídio ou assassinato? A verdade transita entre a vida doméstica do casal e o tribunal, e para expô-la, Triet explora temáticas como sexo, ambição, papéis de gênero, casamento e os julgamentos sociais impostos às mulheres. A narrativa é enriquecida por flashbacks do marido e pelo envolvimento do filho do casal, vivido por Milo Machado Graner, cuja visão prejudicada é tanto um ponto do enredo quanto uma metáfora na história. Este é o tipo de filme que mantém o espectador questionando a verdadeira natureza dos eventos e a culpabilidade dos personagens até o final, provocando reflexões sobre percepção, verdade e justiça. O papel principal é interpretado pela alemã Sandra Hüller (conhecida por “Toni Erdmann”), que também venceu o European Awards na categoria de Melhor Atriz do ano e concorre ao Oscar de Melhor Atriz, que será entregue em março. Ao todo, “Anatomia de uma Queda” disputa a cinco Oscars, incluindo Melhor Direção e Filme do Ano – mas, por motivos muito franceses, não foi selecionado pela França para tentar vaga no Oscar de Filme Internacional. VIDAS PASSADAS O primeiro longa-metragem da cineasta coreano-canadense Celine Song apresenta uma narrativa envolvente que se desenrola ao longo de 24 anos, explorando as relações e o conceito de in-yun, uma conexão pessoal que transcende vidas. A trama segue a jornada de Hae Sung, interpretado por Teo Yoo, e Nora, vivida por Greta Lee, dois amigos de infância de Seul que se separam quando Nora emigra para Toronto com sua família. A história avança 12 anos, quando os dois se reconectam virtualmente, compartilhando conversas pelo Facebook e Skype. Nora, agora uma dramaturga, e Hae Sung, um estudante de engenharia, discutem sobre suas vidas, transformações e memórias, enquanto Nora se adapta a uma nova identidade em uma cultura diferente. Essa reconexão virtual revela sentimentos não resolvidos entre eles, embora Nora esteja casada com Arthur, um escritor interpretado por John Magaro. A presença de Arthur adiciona tensão à história, pois ele representa um novo capítulo na vida da protagonista e um obstáculo potencial ao reencontro com Hae Sung. Mesmo assim, Hae Sung decide visitar Nora em Nova York, desencadeando uma série de emoções e reflexões sobre as escolhas feitas e os caminhos não percorridos. “Vidas Passadas” destaca a complexidade das relações humanas e o impacto da distância e do tempo em amizades e amores passados. A cinematografia e a trilha sonora intensificam a atmosfera de nostalgia e introspecção, enquanto a direção de Song conduz habilmente uma jornada emocional que questiona o destino, a identidade, existências paralelas e o significado das conexões humanas ao longo do tempo, fazendo com o espectador se veja refletido na tela, questionando sua própria trajetória. Inspirada em sua própria experiência pessoal, a estreia de Celine Song foi considerada tão impressionante que concorre a dois Oscars: Melhor Roteiro Original e Filme do ano. TODOS MENOS VOCÊ Sucesso nas bilheterias dos EUA, o filme é apontado como responsável por resgatar o gênero das comédias românticas no cinema. Com uma abordagem jovem e contemporânea, a produção revitaliza o gênero sem inovar na fórmula, que segue uma estrutura clássica – da peça “Muito Barulho por Nada”, de William Shakespeare. Na história, os personagens de Sydney Sweeney (conhecida por “Euphoria”) e Glen Powell (de “Top Gun: Maverick”) são antigos colegas de faculdade que reatam a convivência ao serem convidados para o casamento de um amigo em comum. A situação se complica quando descobrem que seus ex-namorados também estão na lista de convidados, levando-os a combinar um relacionamento falso para criar um clima. Só que tem um detalhe: os dois na verdade nunca se suportaram. A premissa é das mais conhecidas do gênero, envolvendo um casal que se repudia até se apaixonar. Tudo acontece durante um casamento na Austrália, onde a combinação de paisagens deslumbrantes, atuações carismáticas e um roteiro bem elaborado resultam numa diversão leve e descomplicada. A direção é de Will Gluck (de “A Mentira” e “Pedro Coelho”), que também assina o roteiro em parceria com Ilana Wolpert (de “High School Musical: A Série: O Musical”), e o elenco ainda inclui Alexandra Shipp (“X-Men: Apocalipse”), Hadley Robinson (“O Pálido Olho Azul”), Michelle Hurd (“Star Trek: Picard”), Dermot Mulroney (“Invasão Secreta”), Darren Barnet (“Gran Turismo”), Rachel Griffiths (“A Sete Palmos”) e Bryan Brown (“Deuses do Egito”). AS BESTAS O suspense de Rodrigo Sorogoyen (“Madre”), um dos diretores mais aclamados do cinema contemporâneo espanhol, é baseado num caso criminal real na Espanha. Construído como uma tragédia, o enredo acompanha o casal francês Antoine (Denis Ménochet) e Olga (Marina Foïs), que se mudam para a região da Galícia, na Espanha, com o objetivo de adotar práticas agrícolas sustentáveis. Eles se encontram em oposição a dois irmãos locais, Xan (Luis Zahera) e Lorenzo (Diego Anido), cuja hostilidade contra os “estrangeiros” vai além do mero desagrado. O filme explora as tensões entre os personagens principais, enfatizando um conflito cultural e ideológico no ambiente rural. O roteiro, coescrito por Sorogoyen e Isabel Peña, desenvolve uma narrativa onde os confrontos são intensificados pela recusa de Antoine em vender suas terras para projetos de energia eólica, algo desejado por muitos na comunidade. Esse impasse gera uma série de eventos hostis, incluindo sabotagem e intimidação, à medida que a tensão entre o casal e os irmãos aumenta. Além de atuações intensas, a obra é notável pelo seu aspecto visual e técnico. Apesar de alguma controvérsia relacionada à representação dos personagens locais, “As Bestas” recebeu nove prêmios Goya em 2022, incluindo Melhor Filme e Direção. O REFÉM – ATENTADO EM MADRI O thriller espanhol acompanha as consequências de um atentado terrorista e apresenta uma parceria já estabelecida entre o diretor Daniel Calparsoro e o talentoso ator Luis Tosar, que previamente colaboraram em “Até o Céu” (2020) – e na série homônima da Netflix – , recebendo elogios da crítica. A história se concentra em Santi, interpretado por Luis Tosar, um taxista que, de forma inesperada, se torna refém do único terrorista sobrevivente do atentado fracassado. A reviravolta acontece quando Santi é forçado a se tornar uma bomba humana, caminhando pela Gran Vía de Madrid com um colete explosivo. Esse cenário tenso estabelece o tom para a ação frenética e uma complexa interação entre os serviços de inteligência, as forças de emergência e os meios de comunicação espanhóis. A atuação de Tosar como Santi é um ponto alto da produção, destacando-se na representação de um homem comum enfrentando uma tragédia extraordinária. Graças a seu desempenho, o longa supera o formato padrão de thriller, tornando-se uma reflexão sobre a condição humana diante de circunstâncias extremas. NAUEL E O LIVRO MÁGICO O filme chileno-brasileiro de animação, dirigido por Germán Acuña, narra a história de um menino, Nauel, que vive com seu pai pescador e tem um medo intenso do mar. A vida do garoto muda drasticamente quando ele descobre um livro mágico antigo e atrai a atenção de um feiticeiro malicioso que quer o livro para si. A situação se agrava quando o pai de Nauel é sequestrado pelo vilão, levando o garoto a embarcar em uma jornada perigosa para resgatá-lo e enfrentar seus temores. Repleto de elementos tradicionais, como animais falantes e uma jovem que ajuda o protagonista a encontrar coragem, a história, direcionada principalmente ao público infantil, faz de Nauel um personagem com o qual crianças podem se identificar, aprendendo a lidar com seus próprios medos. Mas ainda que siga uma fórmula tradicional, o longa se diferencia por seu estilo visual marcante. A animação mistura técnicas digitais com traços que remetem aos animes dos anos 1970, além de contar com cenários bem elaborados, que criam um ambiente cativante e atraente. O resultado evidencia a qualidade crescente da cena de animação da América Latina. BIZARROS PEIXES DAS FOSSAS ABISSAIS A animação do diretor Marão acompanha uma tartaruga urbana com transtorno obsessivo-compulsivo, dublada por Rodrigo Santoro. O filme explora a obsessão da personagem pela ordem e limpeza através de detalhes visuais, em vez de diálogos. Mas uma enchente inesperada a arrasta do conforto de sua loja ao caótico centro do Rio de Janeiro, onde ela encontra um ambiente desordenado que desafia suas compulsões. O elenco de vozes também conta com a atriz Natália Lage como a protagonista feminina, uma mulher com superpoderes excêntricos, e o dublador Guilherme Briggs, que empresta sua voz a uma nuvem com características particulares. Juntos com a tartaruga, eles formam o trio central de personagens, que embarcam numa jornada única, desde a Baixada Fluminense até as profundezas oceânicas das fossas abissais, passando por Araraquara e Sérvia, enfrentando rinocerontes espaciais pelo caminho, enquanto buscam de cacos de um jarro que formam um mapa. A trama inusitada é acompanhada por uma estética anárquica, criada por Marão e sua pequena equipe, que mistura técnicas diferentes de animação para refletir um espírito caótico: cenas em preto e branco são sucedidas por sequências coloridas e texturizadas, enquanto os personagens transitam entre momentos de introspecção e caricaturas cômicas. Misturando ação, humor e elementos de fantasia num cenário brasileiro, a animação conclui com um desvio para o drama familiar, oferecendo uma experiência de entretenimento diferenciada e marcada pela criatividade. PRÍNCIPE LU E A LENDA DO DRAGÃO O segundo longa-metragem de Luccas Neto produzido para os cinemas apresenta uma aventura ambientada em um reino medieval, onde Neto interpreta o personagem principal. A história segue a jornada de Lu, um príncipe jovem e desinteressado, que enfrenta a tarefa de amadurecer rapidamente devido a uma profecia que ameaça seu reino com a aparição de um dragão. Apesar da criatura estar no título, este elemento-chave da trama quase não aparece o filme, que segue uma estrutura narrativa convencional de contos de fadas, incluindo reis, espadas, dragões e princesas. Dirigido por Leandro Neri, o longa infantil também conta com Maurício Mattar e Flávia Monteiro, como os pais reais de Lu, e Renato Aragão, o eterno Trapalhão, que assume agora o papel de simples coadjuvante, como mentor do jovem protagonista. NOSSO LAR 2 – OS MENSAGEIROS A sequência do blockbuster espírita lançado em 2010, baseado na obra homônima psicografada pelo médium Chico Xavier, acompanha um grupo de mensageiros da cidade Nosso Lar, liderados por Aniceto (Edson Celulari), que vai à Terra com o objetivo de ajudar a salvar três de seus protegidos que estão prestes a fracassar. Com histórias que se cruzam, um é médium que não cumpriu o planejado em sua missão, outro é líder de uma casa espírita e o terceiro é um empresário responsável por uma oficina espiritual. Com direção de Wagner de Assis (do primeiro “Nosso Lar”), o filme também traz no elenco Vanessa Gerbelli (“Maldivas”), Fábio Lago (“Tropa de Elite”), Julianne Trevisol (“Os Mutantes”), Othon Bastos (“O Paciente: O Caso Tancredo Neves”) e Fernanda Rodrigues (“O Outro Lado do Paraíso”), além de Renato Prieto (“Nosso Lar”), que retoma o papel do médico André Luiz, protagonista do primeiro filme e um dos espíritos autores mais frequentes nas obras de Xavier. Bastante didático, o filme tem objetivo de conversão, buscando transmitir ensinamentos espíritas, enquanto oferece aos espectadores...
Documentário “O Território”, sobre luta de tribo da Amazônia, é premiado no Emmy
O documentário “O Território”, sobre a luta do povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau para defender sua terra na Amazônia, foi premiado com o Emmy no domingo (7/1), em cerimônia realizada no Peacock Theater, em Los Angeles. O evento fez parte do fim de semana inaugural da premiação da TV americana, conhecido como Creative Arts Emmy. A produção da National Geography venceu a categoria de Mérito Excepcional em Filmagem de Documentário. Dirigido pelo americano Alex Pritz, “O Território” acompanha a comunidade Uru-Eu-Wau-Wau na luta contra o desmatamento ilegal na Amazônia e as invasões de garimpeiros e madeireiros em sua área protegida na floresta tropical. Os protagonistas do documentário, Bitaté-Uru-Eu-Wau-Wau e Ivandeide Bandeira (também conhecida como Neidinha) receberam o prêmio na companhia dos produtores Txai Suruí e Gabriel Uchida. Influenciadora e integrante da Juventude Indígena de Rondônia, Suruí usou um manto com a frase: “A floresta grita por socorro”. “Esse é o reconhecimento da nossa luta e dos povos indígenas. Rondônia no topo, os povos indígenas também lá no topo”, comentou Bitaté, emocionado ao segurar a estatueta do Emmy, considerado o Oscar da televisão. Disponível na plataforma Disney+, “O Território” foi duplamente premiado no Festival de Sundance do ano passado, com o Prêmio do Público e um Prêmio Especial do Júri na competição internacional do evento. Além disso, o diretor Alex Pritz foi consagrado com o prêmio Cinema Eye de Melhor Estreia do ano em documentário. Emmy 2024 O Creative Arts Emmy aconteceu ao longo de dois dias, no sábado e domingo, totalizando quase 100 troféus antes da transmissão televisiva dos premiação considerada “principal”. Apenas o chamado Primetime Emmy, marcado para a próxima segunda-feira (15/1), é televisado. No Brasil, a cerimônia dos Primetime Emmys será exibida pelo canal pago TNT e pela plataforma HBO Max.
Retrospectiva | Os 15 melhores filmes brasileiros de 2023
O cinema brasileiro sofreu com a falta de regulamentação de cotas em 2023. A maioria dos lançamentos ficou só uma semana em cartaz e até as maiores bilheterias viram o número de salas desabar após a estreia. Mas se alguns dos melhores filmes foram pouco vistos, não faltaram produções de qualidade, premiadas em festivais nacionais e internacionais. O listão destaca thrillers de ação, dramas politizados, documentários e cinebiografias. PEDÁGIO Com apenas dois longas, a brasileira Carolina Markowicz já é uma diretora reconhecida no circuito internacional. Seu primeiro longa-metragem, “Carvão”, foi selecionado para festivais renomados como Toronto e San Sebastián, estabelecendo sua reputação como uma cineasta inovadora e corajosa, e “Pedágio” repetiu a dose, inclusive com direito a prêmio, o Tribute Award, no Festival de Toronto como talento emergente. A obra emerge como um poderoso drama repleto de angústia e embate familiar, centrado em Suellen, uma cobradora de pedágio na estrada de Cubatão, que busca fazer dinheiro para financiar a participação de seu filho, Tiquinho, em uma controversa terapia de “cura gay”. O elenco, liderado por Maeve Jinkings (“Os Outros”), traz uma performance notável, capturando a essência de uma mãe dilacerada pelo conflito entre o amor pelo filho e as pressões sociais. O novato Kauan Alvarenga (que trabalhou no curta “O Órfão”, da diretora), por outro lado, dá vida a Tiquinho com uma mistura de vulnerabilidade e força, representando a juventude LGBTQIAP+ que luta por aceitação e amor em uma sociedade hostil, dominada por dogmas religiosos. “Pedágio” se destaca também por sua abordagem técnica, com cenários que refletem a solidão dos personagens e uma trilha sonora que aprimora a experiência emocional do filme. O elenco ainda inclui Thomás Aquino (também de “Os Outros”), Aline Marta Maia (“Carvão”) e Isac Graça (da série portuguesa “Três Mulheres”). O SEQUESTRO DO VOO 375 O filme de ação dirigido por Marcus Baldini (“Bruna Surfistinha”) é baseado em um caso real ocorrido no Brasil durante a década de 1980, marcada por instabilidades econômicas e políticas. A trama gira em torno de Nonato (interpretado por Jorge Paz), um homem humilde do Maranhão frustrado com a falta de oportunidades e decepcionado com as promessas políticas não cumpridas. Em um ato de desespero, Nonato decide sequestrar um avião e jogá-lo contra o Palácio do Planalto, em Brasília, com o objetivo de assassinar o presidente José Sarney. O filme retrata a jornada de Nonato, sua determinação em cumprir a ameaça nos céus e o embate com o comandante Murilo (vivido por Danilo Grangheia), que se destaca na trama por suas habilidades de pilotagem e ações heroicas para salvar os passageiros. As cenas se desenrolam principalmente dentro do espaço claustrofóbico do antigo avião da VASP, mantendo a tensão durante toda a narrativa. A cinematografia e a direção habilmente capturam a emoção e o desespero dos personagens, alternando entre as expressões de Nonato, o comandante Murilo e os passageiros ansiosos. Apesar de alguns momentos em que os efeitos especiais evidenciam se tratar de uma produção brasileira (isto é, sem orçamento hollywoodiano), o filme mantém o espectador engajado com a história e a ação. A abordagem de Baldini faz mais que resgatar um dos momentos mais dramáticos da aviação brasileira, que, apesar de sua magnitude, permaneceu relativamente desconhecido do grande público. A obra também oferece uma narrativa profunda e humana por meio da interação entre os personagens principais, Nonato e Murilo, mostrando o potencial do cinema brasileiro para produzir obras dramáticas com suspense de alta qualidade. NOITES ALIENÍGENAS O grande vencedor do Festival de Gramado de 2022 traz um tema bastante atual: o impacto das facções criminosas na Amazônia, ameaçando a vida local. A trama se passa na periferia de Rio Branco, Acre, onde as vidas de três jovens amigos de infância se entrelaçam e, por fim, encontram-se em uma tragédia comum, em uma sociedade em transformação e impactada de forma violenta com a chegada do crime organizado na região. O longa de estreia de Sérgio de Carvalho (da série “O Olhar que Vem de Dentro”) venceu seis Kikitos em Gramado, incluindo Melhor Filme e três troféus de atuação, divididos entre Gabriel Knoxx (Melhor Ator), Chico Diaz (Melhor Ator Coadjuvante) e Joana Gatis (Melhor Atriz Coadjuvante), além de uma Menção Honrosa para Adanilo Reis (“Segunda Chamada”). MEDUSA O premiado filme de Anita Rocha da Silveira (“Mate-Me por Favor”) venceu o Festival de Rio e conquistou troféus em festivais internacionais importantes como San Sebastián, Sitges e Raindance. Num paralelo com a punição de Medusa pela deusa Atena, por não ser mais pura, a trama acompanha a jovem Mariana (Mari Oliveira, também de “Mate-Me por Favor”) numa cidade onde deve se esforçar ao máximo para manter a aparência de que é uma mulher perfeita. Para não cair em tentação, ela e suas amigas tentam controlar tudo e todas à sua volta. Num clima dominado pelo conservadorismo, a gangue de meninas “cristãs” assume para si a tarefa de punir as devassas, que fazem sexo fora do casamento, levando terror às ruas. O registro em tom de fábula neon do neoconservadorismo brasileiro conta com grande elenco global, incluindo Lara Tremouroux (“Rota 66: A Polícia que Mata”), Joana Medeiros (“Tropa de Elite”), Felipe Frazão (“Todxs Nós”), Bruna Linzmeyer (“O Grande Circo Místico”), Thiago Fragoso (“Travessia”) e João Oliveira (“Malhação”). TIA VIRGINIA O segundo longa de Fabio Meira (“As Duas Irenes”) venceu oito troféus no Festival de Gramado de 2023, incluindo o prêmio da Crítica e o de Melhor Atriz para Vera Holtz, que interpreta a personagem-título. A Tia Virgínia é uma senhora que, por não seguir os caminhos tradicionais de casamento e maternidade, assumiu o cuidado da mãe enferma. Sua rotina pacata é interrompida na véspera de Natal pela chegada de suas irmãs Vanda e Valquíria, interpretadas respectivamente por Arlete Salles e Louise Cardoso, além de familiares (Antônio Pitanga e outros), que se reúnem para festejar, mas desencadeiam uma série de conflitos e ressentimentos. Toda a história se desenrola num único dia, marcado pelos confrontos, tanto físicos quanto verbais, que destacam a disfuncionalidade da família e a maneira como essas relações moldaram a personagem principal. A casa, cheia de objetos e decorações que remetem a um passado que já não existe, simboliza o estado mental de Virgínia, que se recusa a aceitar o declínio de sua mãe e a realidade de sua situação. Para complicar, a casa e os pertences da matriarca são pontos de interesse para as irmãs, embora Virginia acredite que tenha mais direito por ter aberto mão da liberdade e de sonhos não realizados. A direção de arte premiada de Ana Mara Abreu confere à casa uma presença quase anímica, enriquecendo o cenário onde os dramas familiares se desenrolam. O roteiro premiado de Fabio Meira aborda de maneira sensível e crítica uma realidade comum na sociedade: o papel culturalmente imposto às mulheres como cuidadoras primárias no âmbito familiar, muitas vezes em detrimento de suas próprias vidas e aspirações. Virgínia reflete a figura de inúmeras mulheres que assumem a responsabilidade pelo cuidado de parentes enfermos ou idosos, um papel que frequentemente é esperado delas devido a normas de gênero enraizadas. Este aspecto do filme ressoa profundamente, evidenciando não só a dedicação e sacrifício da protagonista, mas também a complexidade e o peso emocional que acompanham essa escolha muitas vezes imposta, não escolhida. O filme também dá a Vera Holtz o melhor papel de sua carreira. Reconhecida por sua versatilidade e profundidade emocional em papéis anteriores, a atriz encarna a personagem-título com uma entrega que transita entre a força e a delicadeza, marcada por nuances que evidenciam não apenas o peso da responsabilidade que carrega como cuidadora, mas também suas camadas mais íntimas de frustração, amor e resiliência. NOSSO SONHO Maior bilheteria nacional do ano, o filme biográfico narra a história de Claudinho e Buchecha, interpretados pelos atores Lucas Penteado (“BBB 21”) e Juan Paiva (“Um Lugar ao Sol”). A produção conta como uma amizade de infância se tornou icônica, apresentando os desafios pessoais de Claudinho (Penteado) e Buchecha (Paiva), dos bastidores da fama às dificuldades enfrentadas rumo ao sucesso, antes do final trágico da dupla, com a morte de Claudinho num acidente de trânsito em 2001. A história é contada sob visão de Buchecha, que insistiu para que Claudinho aceitasse formar uma dupla. O destino dos artistas começa a ser traçado quando sua primeira música toca numa rádio local e eles assinam contrato nos anos 1990. A história dirigida por Eduardo Albergaria (“Happy Hour”) ainda é marcada por hits que marcaram época, como “Só Love”, “Coisa de Cinema” e a homônima “Nosso Sonho”, que embalam a trama. O elenco também conta com Tatiana Tiburcio (“Terra e Paixão”), Nando Cunha (“Os Suburbanos”), Clara Moneke (“Vai na Fé”), Antônio Pitanga (“Amor Perfeito”) e Isabela Garcia (“Anos Dourados”) entre outros. Há algumas simplificações narrativas, mas “Bohemian Rhapsody” cometeu os mesmos pecados. “Nosso Sonho” ainda compartilha os mesmos acertos do filme sobre Freddie Mercury, ao enfatizar a emoção de seus personagens, que de forma catártica também emociona o público. PROPRIEDADE Suspense em um contexto de tensão social, o filme brasileiro acompanha Teresa (interpretada por Malu Galli, de “Desalma”), cuja vida se transforma após um assalto traumático. Buscando tranquilidade, seu marido a leva para a fazenda da família em um carro blindado. Lá, eles enfrentam uma revolta dos trabalhadores, que reagem à perda iminente de seus empregos. A situação se agrava quando Teresa fica isolada dentro do veículo blindado, enquanto os trabalhadores protestam contra a decisão de transformar a fazenda em um resort. O início do filme, marcado por uma cena violenta gravada em vídeo de celular, estabelece o tom e aprofunda o trauma de Teresa. Este evento define seu caráter e suas ações subsequentes. O diretor Daniel Bandeira (“Amigos de Risco”) explora a dinâmica entre a proprietária e os trabalhadores da fazenda, destacando a crescente desesperança e a espiral de violência. Os trabalhadores, embora retratados em sua maioria como um grupo enfurecido, também têm seus momentos de dor e aspirações por um futuro melhor. A produção é eficaz como um thriller de sobrevivência, criando cenas de tensão e desconforto, especialmente em torno do carro blindado, que se torna tanto um refúgio quanto uma prisão para Teresa. Mas também é um filme de gênero que desafia o espectador a contemplar as nuances da luta de classes e suas implicações em uma sociedade fragmentada. CASA VAZIA O drama gaúcho oferece uma visão diferente dos pampas, ao acompanhar a vida de Raúl, um peão desempregado e pai de família que vive em uma casa isolada na imensidão solitária dos campos do Rio Grande do Sul. Assolado pela pobreza e a falta de trabalho, ele se junta a outros peões para roubar gado durante a escuridão. Mas uma noite, ao retornar da atividade criminosa, encontra sua casa vazia: sua mulher e filhos desapareceram. Com uma narrativa marcada por silêncios e uma sensação de isolamento, o filme oferece uma reflexão sobre a incomunicabilidade masculina e a impossibilidade de exteriorizar sentimentos e afetos – com Raúl constantemente olhando de forma melancólica para o nada. A trama também aborda a questão latifundiária, mostrando Raúl vivendo os dois lados da disputa. Estudo de personagem, a obra mostra a relação do peão com o ambiente ao seu redor, sendo engolido pelas vastas terras gaúchas. E para apresentar o universo regional de maneira muito autêntica, o ator principal, Hugo Nogueira, é um morador da região, escolhido pelo diretor Giovani Borba (“Banca Forte”) para fazer sua estreia como ator. Nogueira acabou premiado no Festival de Gramado, assim como o roteiro e a fotografia do longa. MUSSUM, O FILMIS Vencedora do Festival de Gramado de 2023, a cinebiografia retrata a vida de Antônio Carlos Bernardes Gomes (1941-1994), o eterno Mussum. A narrativa é segmentada em três fases da vida do humorista: infância, onde é vivido por Thawan Lucas (“Pixinguinha, Um Homem Carinhoso”), juventude, por Yuri Marçal (“Barba, Cabelo e Bigode”), e a fase de sucesso, por Aílton Graça (“Galeria do Futuro”). Dirigido por Sílvio...
Estreias | Percy Jackson, Rebel Moon, Maestro, Resistência e as novidades do streaming
Os 10 destaques da semana em streaming reúnem uma oferta reduzida de séries. São apenas três indicações, incluindo o esperado lançamento de “Percy Jackson e os Olimpianos” e a volta de “What If…?”. Com sete títulos, a seleção de cinema oferece mais variedade, com superproduções sci-fi, a maior bilheteria nacional do ano, o documentário recordista de Taylor Swift e filmes que devem aparecer no Oscar 2024. Confira a seleção de novidades: SÉRIES PERCY JACKSON E OS OLIMPIANOS | DISNEY+ A franquia literária de Rick Riordan vira série após dois filmes decepcionantes na década passada. Mas desta vez acerta em cheio, ao contar com a supervisão do escritor, responsável por tornar a produção bastante fiel à sua obra. A trama gira em torno do personagem-título, um garoto de 12 anos que descobre ser um semideus, filho de um deus grego e de uma mãe humana. Percy Jackson é vivido por Walker Scobbell, revelação do filme “O Projeto Adam” (2022). Ambientada em Nova York, a série inicia com o protagonista enfrentando desafios típicos da adolescência – bullying, dislexia e TDAH – até perceber que consegue ver criaturas estranhas que outros não veem. A narrativa se desenrola rapidamente após um incidente na escola, quando Percy é atacado por sua professora que se transforma em uma Fúria. Ele é resgatado por um caneta mágica dada por outro professor, Sr. Brunner (Glynn Turman), que também não é quem parece ser, e acaba descobrindo que seu amigo Grover (Aryan Simhadri) é um sátiro encarregado de protegê-lo. Levado ao Acampamento Meio-Sangue, ele conhece outros filhos de deuses, incluindo Jason Mantzoukas como Dionísio, diretor do acampamento, e Annabeth (Leah Sava Jeffries), filha de Atena, que se torna uma importante aliada. A trama é impulsionada pela busca do raio de Zeus, levando Percy e seus amigos em uma jornada épica, repleta de desafios mitológicos e criaturas perigosas. Sob a direção de James Bobin (“Alice Através do Espelho”), a narrativa se destaca por oferecer uma visão realista das crianças, equilibrando a aventura com as inseguranças típicas da idade. A produção está a cargo de Jon Steinberg (“The Old Man”) e Riordan, e o elenco também conta com Megan Mullally (“Will & Grace”), Glynn Turman (“A Voz Suprema do Blues”), Jason Mantzoukas (“The Good Place”), Virginia Kull (“NOS4A2”), Timm Sharp (“Juntos Mas Separados”), Lin-Manuel Miranda (“Em um Bairro de Nova York”), Toby Stephens (“Perdidos no Espaço”) e o falecido Lance Reddick (“John Wick”). A CRIATURA DE GYEONGSEONG | NETFLIX mbientada na primavera de 1945, na cidade de Gyeongseong, a nova série sobrenatural reúne dois dos maiores astros da Coreia do Sul, Park Seo-joon (em cartaz em “As Marvels”) e Han So-hee (“My Name”), que se unem pela primeira vez num mesmo projeto. Ele interpreta o homem mais rico de Gyeongseong e proprietário de uma casa de penhores, enquanto ela vive uma detetive famosa por sua capacidade de rastrear qualquer pessoa, até mesmo os mortos. Ambos se cruzam na investigação de casos de desaparecidos, que leva ao hospital onde estranhas experiências são criadas em laboratório. Mas uma vez no interior da instituição, os dois precisão lutar para sobreviver ao se depararem com uma criatura “nascida da ganância humana”. Escrita por Kang Eun-kyung (“Dr. Romântico”) e dirigida por Jeong Dong-yun (“Tudo Bem Não Ser Normal”), a atração combina ação, melodrama e terror, e também traz em seu elenco Wi Ha-joon (“Round 6”), Claudia Kim (“A Torre Negra”), Kim Hae-sook (“A Criada”), Jo Han-chul (“Alerta Vermelho”) e Ji Woo (“Estranhos Íntimos”). Dividida em duas partes, a série conclui com uma segunda leva de episódios em 5 de janeiro. WHAT IF…? | DISNEY+ A série animada em que o Vigia (voz de Jeffrey Wright) explora o multiverso retorna com novas versões alternativas dos heróis dos quadrinhos em sua 2ª temporada. As histórias exploram o que aconteceria se… Nebulosa se juntasse à Tropa Nova, Peter Quill atacasse os heróis mais poderosos da Terra, Hela encontrasse os Dez Anéis, os Vingadores se reunissem em 1602 e outras possibilidades, com direito até a uma trama natalina, focada em Happy Hogan. Um dos atrativos da produção criada por AC Bradley é o envolvimento dos atores do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel). Alguns dos principais personagens são dublados por seus intérpretes dos filmes live-action, como Karen Gillan (Nebulosa) Hayley Atwell (Peggy Carter), Cate Blanchett (Hela), Elizabeth Olsen (Wanda Maximoff), Kat Dennings (Darcy Lewis) e Jon Favreau (Happy Hogan). Mas alguns protagonistas tiveram suas vozes substituídas, como Viúva Negra (Lake Bell), Capitão América (Josh Keaton) e, claro, Pantera Negra (que não teve seu intérprete revelado até o momento). São ao todo 9 capítulos, disponibilizados diariamente até o dia 30 de dezembro. E em breve chegam mais, porque “What If…?” já se encontra renovada para seu terceiro ano de produção e ainda ganhará a companhia de uma série derivada, “Marvel Zombies” – ainda sem previsão de lançamento. FILMES SALTBURN | PRIME VIDEO Escrito e dirigido pela vencedora do Oscar Emerald Fennell (“Bela Vingança”), o thriller aristo-gótico mergulha nas complexidades e prazeres ocultos das classes altas da Inglaterra. Situado entre os ambientes elitistas da Universidade de Oxford e a propriedade que dá nome ao filme, a narrativa segue Oliver Quick (interpretado por Barry Keoghan, de “Eternos”), um estudante bolsista de Oxford, que se encontra em um mundo de privilégios e riqueza após ser convidado a passar o verão na mansão de campo Saltburn, propriedade da família de um colega de aula carismático e rico, Felix Catton (Jacob Elordi). Este cenário pitoresco se torna o palco para uma série de eventos que desencadeiam obsessão, ressentimento e vingança. A história de “Saltburn” é uma viagem através da consciência de classe, envolvendo o espectador em uma sátira vívida de “Brideshead Revisited”, com referências à cultura pop dos anos 2000. Oliver entra neste mundo de riqueza e influência, fascinado e ao mesmo tempo deslocado. Ele rapidamente se torna o favorito de Felix, o que gera tensão e inveja entre os outros membros da elite. A estadia em Saltburn revela segredos e verdades ocultas sobre a família Catton, enquanto ele luta para manter sua identidade e moralidade em meio a um ambiente de indulgência e extravagância. Barry Keoghan oferece uma atuação marcante, com um desempenho que equilibra inocência e astúcia. Seu relacionamento com Felix é o coração da trama, explorando temas de obsessão, desejo e manipulação. A cinematografia de Linus Sandgren e a direção de arte de Suzie Davies criam um visual deslumbrante que complementa a narrativa, enquanto performances de destaque de Rosamund Pike (“A Roda do Tempo”), Richard E. Grant (“Loki”) e outros adicionam profundidade e humor ao filme. “Saltburn” se estabelece como uma análise astuta e estilizada das dinâmicas de poder e divisões sociais, marcando mais um sucesso na carreira de Fennell. MAESTRO | NETFLIX Bradley Cooper volta ao mundo da música após o sucesso de “Nasce uma Estrela”, em seu segundo filme como diretor. Desta vez, porém, a trama é biográfica, debruçando-se sobre a figura complexa de Leonard Bernstein, um renomado compositor e maestro americano – mais conhecido pelos brasileiros como o autor da trilha do musical “Amor, Sublime Amor”. Também intérprete do protagonista (com um notável nariz postiço), Cooper opta por uma abordagem não linear, contando a história de Bernstein através de uma série de vinhetas que cobrem diferentes períodos de sua vida. Outro aspecto distintivo da estrutura narrativa é o uso criativo da cor. As cenas iniciais são apresentadas em preto e branco, evocando a estética de fotografias antigas e filmes clássicos, o que confere às imagens um ar nostálgico e histórico. À medida que a história avança, o filme introduz cores, sinalizando mudanças temporais e emocionais na vida de Bernstein. Essa transição é usada de maneira eficaz para destacar a evolução dos personagens e dos tempos. O drama começa com Bernstein em seus anos finais, refletindo sobre sua vida e carreira, o que permite que o filme mergulhe em flashbacks de momentos cruciais de sua trajetória. Essas cenas, que vão desde sua estreia surpreendente na Filarmônica de Nova York até os problemas de seu casamento com Felicia Montealegre, facilitam a exploração tanto dos triunfos quanto dos desafios enfrentados pelo maestro e compositor. Boa parte do enredo se concentra na relação de Bernstein com sua esposa (interpretada por Carey Mulligan, de “Bela Vingança”), que abrange várias décadas, revelando as nuances de um relacionamento marcado pela admiração mútua, mas também por obstáculos decorrentes da sexualidade do compositor e de sua natureza artística expansiva. Mulligan entrega uma performance notável, capturando a evolução da personagem ao longo dos anos. Além disso, o filme utiliza a música para ilustrar os momentos pessoais intensos do protagonista, integrando performances musicais ao enredo de forma orgânica para celebrar a genialidade musical de Bernstein. ACAMPAMENTO DE TEATRO | STAR+ A comédia maluca sobre teatro infantil se passa num acampamento de verão onde monitores criativos, apaixonados e um pouco desequilibrados se juntam durante as férias escolares para ensinar teatro a uma nova turma de crianças. Porém, quando a fundadora do acampamento entra em coma, seu filho desinformado e pretensioso decide entrar em ação para salvar o local da falência, mesmo sem saber nada sobre teatro. Trabalhando em conjunto com os monitores do acampamento e professores excêntricos, ele lança uma missão desafiadora: criar uma peça de teatro genial em apenas três semanas com crianças completamente inexperientes. O filme é baseado num curta de 2020 da atriz Molly Gordon (“O Urso”) e do diretor de clipes Nick Lieberman, casal que faz sua estreia como cineastas na versão ampliada da trama. Além de escrever e dirigir com o namorado, Molly Gordon também estrela “Theater Camp” junto com Jimmy Tatro (“Economia Doméstica”), Ben Platt (“Querido Evan Hansen”), Ayo Edebiri (“O Urso”), Noah Galvin (“The Good Doctor”) e Amy Sedaris (“Ghosted: Sem Resposta”). O elenco e os diretores venceram um prêmio especial (Melhor Conjunto) no Festival de Sundance, durante sua première em janeiro passado, ocasião em que o filme foi coberto de elogios pela crítica e atingiu 86% de aprovação no agregador Rotten Tomatoes. RESISTÊNCIA | STAR+ A nova sci-fi de Gareth Edwards, diretor de “Godzilla” (2014) e “Rogue One: Uma História Star Wars” (2016), é um thriller de ação passado num futuro distópico, marcado pela guerra entre a humanidade e a inteligência artificial (IA). Com efeitos visuais de ponta, o longa se passa após um atentado que fez os EUA banirem todas as IA e acompanha o agente militar Joshua, interpretado por John David Washington (“Tenet”), em uma missão de invasão na Nova Ásia, região onde as IAs ainda são legais, para caçar e matar o Criador, arquiteto elusivo de uma IA avançada com o poder de encerrar as guerras e a própria humanidade. Só que a arma que ele recebeu instruções para eliminar é, na verdade, uma IA com forma de criança. Diante da descoberta – e de alguma reflexão – , ele surpreende ao mudar de lado, enfrentando desafios arriscados para proteger a jovem androide daqueles que querem destruí-la. A obra foi muito elogiada por sua abordagem ambiciosa num gênero frequentemente dominado por sequências e remakes. A narrativa não explora apenas a guerra entre humanos e IA, mas também mergulha em questões éticas e filosóficas, o que rendeu comparações a obras icônicas de ficção científica. De fato, a trama lembra vários outros filmes, evocando desde produções sobre a Guerra do Vietnã (como “Apocalypse Now”) até sci-fis sobre IAs (“IA”) e androides (“Blade Runner”). O roteiro original foi escrito por Edwards e Chris Weitz (também de “Rogue One”) e o elenco ainda conta com Gemma Chan (“Eternos”), Ken Watanabe (“A Origem”), Sturgill Simpson (“Dog: A Aventura de Uma Vida”), Allison Janney (vencedora do Oscar por “Eu, Tonya”) e a atriz mirim estreante Madeleine Yuna Voyles. REBEL MOON – PARTE 1: A MENINA DE FOGO | NETFLIX Zack Snyder, um diretor cujo trabalho frequentemente divide opiniões, conseguiu unanimidade com seu novo longa. A crítica internacional odiou de forma unificada – a aprovação é de apenas 25% no Rotten...
Brasil fica fora do Oscar 2024, excluído em todas as categorias
O Brasil ficou mais uma vez fora da disputa do Oscar 2024. O principal candidato brasileiro era um documentário, “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho, que tentava indicações em duas categorias: Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário. Além dele, “Elis & Tom” também buscava uma nomeação dentre os documentários da competição, e “Big Bang”, de Carlos Segundo, visava lugar na disputa de Melhor Curta-metragem. Todos estão fora do páreo. A relação dos filmes pré-qualificados foi anunciada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA nesta quinta (21/12), incluindo várias categorias. O Brasil não emplaca um indicado na disputa de longa-metragem internacional há 24 anos, desde o excelente “Central do Brasil” em 1999, que também rendeu indicação a Fernanda Montenegro como Melhor Atriz. Em 2008, “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias” chegou perto, passando pela primeira peneira, mas acabou não sendo incluído na lista final da Academia. Apesar de ter sido exibido no Festival de Cannes, “Retratos Fantasmas” foi uma escolha fraca da Academia Brasileira, já que o filme de Kleber Mendonça Filho não disputou prêmio no festival nem contava com premiações em eventos cinematográficos de peso, tornando sua exclusão mais que esperada. Entre os que seguem na disputa destacam-se justamente alguns filmes premiados em Cannes, entre eles o finlandês “Folhas de Outono”, de Aki Kaurismäki, vencedor do Prêmio do Júri, e o inglês “Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer, que levou o Grande Prêmio do Júri. Mas, ironicamente, o filme premiado com a Palma de Ouro ficou de fora por opção de seu país. A França não inscreveu “Anatomia de Uma Queda”, de Justine Triet, que ainda concorre ao Globo de Ouro, Critics Choice e Spirit Awards na categoria. Em vez disso, optou por “O Sabor da Vida”, que rendeu ao vietnamita Anh Hung Tran o prêmio de Melhor Direção em Cannes. O longa também passou pela triagem da Academia e está na lista dos pré-selecionados. A produção espanhola da Netflix “Sociedade da Neve”, do diretor J.A. Bayona, é outra favorita assumida, principalmente após aparecer em outras categorias divulgadas pela Academia – também está nomeada a Melhor Maquiagem e Penteado, Efeitos Visuais e Trilha Sonora. Teoricamente, o Brasil ainda pode conseguir uma indicação em Animação com “Perlimps”, porque este ano o Oscar não divulgou listas de pré-qualificados da categoria. O problema é que o filme de Alê Abreu (que já disputou o Oscar com “O Menino e o Mundo”) não aparece em nenhuma lista da imprensa hollywoodiana como cotado e nem sequer tem críticas publicadas no Rotten Tomatoes. Nos fóruns americanos de discussão do Oscar, a impressão é que ninguém sabe que o filme existe. Os cinco indicados (finalistas) de cada categoria serão anunciados no dia 23 de janeiro. Já a premiação está marcada para 10 de março. Confira abaixo a lista dos filmes pré-selecionados na categoria de Melhor Filme Internacional. “Amerikatsi” (Armênia) “The Monk and the Gun” (Butão) “Bastarden” (Dinamarca) “Folhas de Outono” (Finlândia) “O Sabor da Vida” (França) “Das Lehrerzimmer” (Alemanha) “Terra de Deus” (Islândia) “Io Capitano” (Itália) “Dias Perfeitos” (Japão) “Totem” (México) “Kadib Abyad” (Marrocos) “A Sociedade da Neve” (Espanha) “As 4 filhas de Olfa” (Tunísia) “20 Days in Mariupol” (Ucrânia) “Zona de Interesse” (Inglaterra)
Estreias | Sem blockbusters, destaques do cinema são filmes de festivais
Os cinemas recebem nada menos que 13 estreias nesta quinta (30/11). “O Jogo da Invocação” tem a distribuição mais ampla, em 600 telas, seguido por “As Aventuras de Poliana”. Prova do estrago causado pela suspensão das cotas no mercado nacional, o filme baseado na novela de sucesso do SBT vai ocupar um circuito menor que o do terror americano feito para a internet – “O Jogo da Invocação” saiu apenas em VOD nos EUA. As melhores opções da semana estão no circuito limitado. A quantidade e qualidade dos lançamentos sugere até um mini-festival internacional com exibição comercial, destacando obras premiadas de Hirokazu Kore-eda, Aki Kaurismäki, Roberto Andò, Aitch Alberto, Gustavo Vinagre e Carolina Markowicz. Deste timão, vale destacar o drama brasileiro “Pedágio”, de Markowicz, que atingiu nada menos que 100% de aprovação no portal americano de críticas Rotten Tomatoes, e “Monster”, a nova obra-prima de Kore-eda. Confira abaixo todos os lançamentos em detalhes. O JOGO DA INVOCAÇÃO O terror ambientado na histórica cidade de Salem, Massachusetts, tenta transformar jogos infantis como esconde-esconde e pega-pega em cenários de horror mortais. O enredo gira em torno de uma faca amaldiçoada, entalhada com ossos e inscrita com a frase “I Will Play, I Won’t Quit”, que possui vítimas e as obriga a participar de versões distorcidas de jogos infantis. A trama começa como uma noite de babysitting tranquila, mas rapidamente se transforma em uma luta contra um espírito vingativo do passado sombrio da cidade. O elenco reúne Natalia Dyer (“Stranger Things”), Asa Butterfield (“Sex Education”) e Benjamin Evan Ainsworth (“Pinóquio”) como irmãos presos na maldição. Ainsworth entrega uma performance impressionante como o primeiro personagem possuído pela faca demoníaca, enquanto Butterfield se destaca como o irmão mais velho, que se torna o novo recipiente do demônio e inicia um massacre em uma pequena reunião de adolescentes. Embora apresente uma ideia intrigante, o filme dos estreantes Eren Celeboglu e Ari Costa, tem uma execução superficial e pouco entusiasmo para explorar o potencial dos jogos em cenas de horror criativas. Os jogos em si são retratados de maneira simplista, e as cenas de morte são moderadas, evitando exibir muita violência. A produção é do estúdio AGBO dos irmãos Russo (diretores de “Vingadores: Ultimato”). AS AVENTURAS DE POLIANA Continuação cinematográfica de duas novelas populares e longas do SBT, a produção apresenta um novo capítulo na vida de Poliana (Sophia Valverde) e seus amigos, após o término do ensino médio. A trama se concentra na jornada de Poliana, que almeja estudar no exterior, enfrentando a descrença de seu pai (Dalton Vigh), que questiona sua maturidade. Determinada a provar sua independência e capacidade, Poliana decide trabalhar no Maya Palace, um eco resort paradisíaco, sendo acompanhada por seu namorado João (Igor Jansen) e os amigos Kessya (Duda Pimenta) e Luigi (Enzo Krieger). Enquanto Poliana é favorecida devido à sua situação financeira, seus amigos enfrentam tarefas mais desafiadoras e perigosas. Contudo, a história se aprofunda quando os amigos descobrem que o resort, administrado por uma mulher corrupta, está envolvido em crimes ambientais que prejudicam a comunidade local. Oportunidade para o público reencontrar personagens queridos e embarcar em novas aventuras, o filme ainda apresenta temas como amizade, sonhos, questões ambientais, classes sociais e o contraste entre a corrupção e a inocência juvenil. O roteiro é de Iris Abravanel, autora da novela original, enquanto a direção é assinada por Cláudio Boeckel (“Gaby Estrella: O Filme”). PEDÁGIO Com apenas dois longas, a brasileira Carolina Markowicz já é uma diretora reconhecida no circuito internacional. Seu primeiro longa-metragem, “Carvão”, foi selecionado para festivais renomados como Toronto e San Sebastián, estabelecendo sua reputação como uma cineasta inovadora e corajosa, e “Pedágio” repetiu a dose, inclusive com direito a prêmio, o Tribute Award, no Festival de Toronto como talento emergente. A obra emerge como um poderoso drama repleto de angústia e embate familiar, centrado em Suellen, uma cobradora de pedágio na estrada de Cubatão, que busca fazer dinheiro para financiar a participação de seu filho, Tiquinho, em uma controversa terapia de “cura gay”. O elenco, liderado por Maeve Jinkings (“Os Outros”), traz uma performance notável, capturando a essência de uma mãe dilacerada pelo conflito entre o amor pelo filho e as pressões sociais. O novato Kauan Alvarenga (que trabalhou no curta “O Órfão”, da diretora), por outro lado, dá vida a Tiquinho com uma mistura de vulnerabilidade e força, representando a juventude LGBTQIAP+ que luta por aceitação e amor em uma sociedade hostil, dominada por dogmas religiosos. “Pedágio” se destaca também por sua abordagem técnica, com cenários que refletem a solidão dos personagens e uma trilha sonora que aprimora a experiência emocional do filme. O elenco ainda inclui Thomás Aquino (também de “Os Outros”), Aline Marta Maia (“Carvão”) e Isac Graça (da série portuguesa “Três Mulheres”). MONSTER Aclamado com 98% de aprovação no site Rotten Tomatoes e vencedor do troféu de Melhor Roteiro no último Festival de Cannes, o novo drama do mestre japonês Hirokazu Kore-eda (“Assuntos de Família”) se desenrola em três partes distintas, iniciando com um incêndio em um prédio que serve como um marco temporal e simbólico para a trama. A primeira seção acompanha a vida de Saori (Sakura Ando), mãe solteira, e seu filho Minato (Soya Kurokawa). Eles compartilham um lar amoroso, porém caótico, revelando uma relação delicada onde Saori ainda sofre pela morte do marido e Minato exibe comportamentos preocupantes. As ações de Minato, incluindo uma confissão sobre o professor Michitoshi (Eita Nagayama), desencadeiam uma cadeia de mal-entendidos e conflitos com a escola. À medida que a história retorna ao incêndio, a perspectiva se altera para Michitoshi, oferecendo uma visão alternativa dos eventos e questionando as noções de culpa e intenção. O filme se torna ainda mais complexo com o terceiro foco em Yori (Hinata Hiiragi), colega de Minato, cuja realidade oscila entre ser um agressor, vítima ou uma figura mais enigmática. Ao longo do filme, observa-se que Minato luta para compreender e expressar seus sentimentos, que parecem estar relacionados à sua sexualidade emergente. A maneira como Kore-eda aborda este aspecto é característica de seu estilo: com empatia e uma perspectiva humana profunda, sem recorrer a estereótipos ou dramatização excessiva – o que lhe valeu a Palma Queer no Festival de Cannes. O sentido do título é multifacetado e simbólico, refletindo os vários mal-entendidos, julgamentos precipitados e percepções distorcidas que os personagens têm uns dos outros. Cada personagem, em algum momento, pode ser visto como um “monstro” aos olhos dos outros. Entretanto, não são necessariamente figuras aterrorizantes ou malévolas, mas pessoas comuns envolvidas em situações complicadas ou mal compreendidas. A história desafia o espectador a refletir sobre como julgamentos apressados podem levar a perceber os outros de maneira distorcida, oferecendo-se como uma lição de empatia. O ritmo meticuloso, seu tom sensível e a trilha sonora de Ryuichi Sakamoto (vencedor do Oscar por “O Último Imperador”), que faleceu em março, antes da première da produção, ampliam a experiência cinematográfica, construindo um ambiente que complementa a montanha-russa emocional retratada. O resultado é uma das melhores obras de um diretor conhecido por só fazer filmes bons. FOLHAS DE OUTONO O 20º longa-metragem do premiado diretor Aki Kaurismäki (“O Porto”) venceu o Prêmio do Júri do último Festival Cannes. Sua narrativa compassiva e despojada acompanha dois indivíduos solitários da classe trabalhadora em Helsinque, Holappa (Jussi Vatanen), um frequentador assíduo de um bar de karaokê, e Ansa (Alma Pöysti), uma funcionária de supermercado que vive sozinha. O cenário outonal pinta Helsinque com tons de cinza e uma atmosfera melancólica, onde os personagens navegam por suas existências marginais. Ela é demitida por pegar um bagel vencido no trabalho e ele enfrenta uma batalha constante com o alcoolismo. Apesar de viverem vidas desencorajadoras, uma noite em um bar de karaokê muda o curso de suas trajetórias, quando eles se encontram e vislumbram a possibilidade de um amanhã melhor. Mas, ao contrário das típicas comédias românticas americanas, não há um florescer imediato de romance. Em vez disso, Kaurismäki opta por explorar a gradual descoberta de uma centelha que pode despertar suas almas. Com uma duração concisa de 81 minutos, o filme contém momentos de humor característico de Kaurismäki, como a cena em que Ansa e Holappa assistem “Os Mortos Não Morrem” de Jim Jarmusch, oferecendo uma visão singular sobre a vida cotidiana, a resiliência humana e a busca por conexão – os principais temas da filmografia do mestre finlandês. A ESTRANHA COMÉDIA DA VIDA A comédia de Roberto Andò (“O Caravaggio Roubado”) mergulha no universo criativo e mental de Luigi Pirandello, um dos maiores dramaturgos italianos, que no filme é interpretado pelo veterano Toni Servillo (“A Grande Beleza”), numa atuação magistral de artista em crise. Distanciando-se do formato de biografia convencional, a trama entrelaça realidade e ficção, retratando um momento crucial na vida do autor. A narrativa acompanha uma viagem de Pirandello à Sicília em 1920 para um funeral, quando ele contrata dois coveiros (interpretados pelos comediantes Salvatore Ficarra e Valentino Picone), que sonham em ser atores. Esse encontro inesperado se torna o ponto de partida para a criação de “Seis Personagens à Procura de um Autor”, uma das peças mais emblemáticas do dramaturgo. Andò, também conhecido por seu trabalho como novelista e diretor teatral, demonstra habilidade ao ir do realismo para a comédia abstrata, usando a representação como uma ferramenta para análise e confronto com a loucura, via a capacidade dos artistas de fazer o implausível parecer possível. Seu reconhecimento foram 14 indicações ao prêmio David di Donatello (o Oscar italiano), das quais venceu quatro, incluindo Melhor Roteiro Original e Melhor Produção do ano. OS SEGREDOS DO UNIVERSO O sensível filme de estreia da diretora queer Aitch Alberto foca na amizade e evolução do relacionamento entre dois adolescentes mexicano-americanos, Aristotle “Ari” (interpretado pelo novato Max Pelayo) e Dante (o também novato Reese Gonzales), no início dos anos 1980 em El Paso, Texas. O filme explora o despertar sexual e emocional dos personagens de maneira delicada e criativa, evitando estereótipos comuns em narrativas similares. Ari é um personagem introspectivo, lutando para entender a si mesmo e ao mundo ao seu redor. Ele se depara com as rígidas normas de masculinidade no ambiente escolar e enfrenta um ambiente familiar tenso, marcado pelo silêncio do pai, Eugenio Derbez (“Acapulco”), e a preocupação contida da mãe, interpretada por Veronica Falcón (“Perry Mason”). Sua solidão é uma parte significativa de sua identidade inicial, especialmente em relação ao irmão que está na prisão, um assunto que é tabu em sua família. Dante, por outro lado, é mais extrovertido, curioso sobre o mundo e apaixonado por arte e literatura. Filho de pais amorosos e liberais, interpretados por Kevin Alejandro (“Lucifer”) e Eva Longoria (“Desperate Housewives”), possui uma visão de mundo mais aberta e é mais confortável com sua identidade. Ele introduz Ari à natação e compartilha com ele seu amor pela arte, música e literatura, ajudando a abrir o mundo do outro de maneiras novas e significativas. A química entre Pelayo e Gonzales é um ponto forte, com ambos os atores entregando performances carismáticas e convincentes em papéis complexos. Mas o filme também tem uma fase de separação geográfica, quando Dante se muda para Chicago e a história passa a ser contada através de cartas, oferecendo uma perspectiva introspectiva sobre os personagens. Embora aborde temas sérios, como a violência contra a comunidade LGBTQIA+, a obra se destaca por sua atmosfera de compaixão e expressão de emoções genuínas, identidade pessoal e sexual, e as complexidades da experiência adolescente. TRÊS TIGRES TRISTES Aproveitando-se do contexto da pandemia de Covid-19, a obra apresenta uma realidade alternativa onde uma nova cepa do vírus afeta diretamente a memória dos infectados. O roteiro satiriza as reações da sociedade brasileira à pandemia, com momentos que exploram o humor e o absurdo, como um influenciador fazendo vídeos sobre o vírus no TikTok. No centro da trama, estão três jovens: Isabella (Isabella Pereira), Pedro (Pedro Ribeiro) e Jonata (Jonata Vieira), que compartilham uma quitinete em São Paulo. Enquanto Isabella se...
Trailer de documentário de Luísa Sonza volta a gerar ódio à cantora nas redes sociais
A Netflix divulgou o pôster e o trailer de “Se Eu Fosse Luísa Sonza”, série documental sobre a cantora, e a prévia provocou reações nas redes sociais. Numa criação irônica de metalinguagem, o vídeo que denuncia o ódio que ela sofre foi recebido com mais ódio. Os ataques variam de acusações de racismo – Luísa confundiu uma mulher negra com uma serviçal – até investimento em “limpeza de imagem”. Vale lembrar que ela se encontra supostamente longe das redes sociais devido ao massacre de ataques similares, que a acompanham desde o início de sua carreira por motivos menos nobres, como sua simples separação do humorista Whindersson Nunes. O vídeo, por sinal, revela participação de Whindersson na série. Os dois foram casados por cinco anos e, após a turbulência da separação, voltaram a ficar amigos. Além disso, em entrevista feita para o “Fantástico”, mas arquivada pela Globo, a artista disse que o episódio de racismo seria abordado pelo documentário. Com três episódios dirigidos por Isabel Nascimento Silva (“Primavera das Mulheres”), a produção mescla bastidores da vida pessoal e da carreira da artista. Mas não tem só fofocas. A atração também vai acompanhar detalhes do processo criativo do álbum “Escândalo Íntimo”, que deu o que falar e colocou todas as suas faixas no ranking do Spotify Brasil. “Se Eu Fosse Luísa Sonza” estreia no catálogo do streaming no dia 13 de dezembro de 2023. Veja abaixo o trailer, o pôster e um pouquinho da repercussão no X (antigo Twitter). seja racista, coloque a culpa na sociedade, chore ao vivo por uma traição armada e ganhe uma série na netflix KKKKKKKKK pqp vai se fuder — rasta (@rasta_ffc) November 11, 2023 Seja racista e ganhe uma série na Netflix, o Brasil realmente é uma merda — Maurício Fernandes (@maumauballo) November 10, 2023 E a série nova, aparentemente contando a história da Luisa Sonza na Netflix. Será que vai passar aquela parte q ela é racista? Minha fav pprt!! — 𝕮𝖍𝖎𝖓𝖎 (@Schinyi) November 11, 2023 É em comemoração ao mês da consciência negra, Netflix ? pic.twitter.com/87ZqHcqT6m — Madame Vastra ♍ (@maionese_verde) November 10, 2023 No mês da consciência negra é no mínimo um deboche. Se tocar no assunto certeza que vai ser claramente a Netflix patrocinado limpeza de imagem. Mau gosto de lançamento. Timming deselegante. — 🇵🇸 PALESTINA LIVRE! (@ap3n4sss) November 9, 2023 Tem muita grana investida nessa Luísa sonza né? Impressionante a estrutura de PR que movimentaram pra limpar a barra da gata e ela lançar um documentário na Netflix. Uma grana violenta gasta em pura mediocridade — chacal de mamy tchesca (@abruxaradpass) November 10, 2023











