Estreias | Terror “Imaginário” tem maior destaque nos cinemas

Maioria dos lançamentos da semana chega em circuito limitado, com destaque para o filme turco "Ervas Secas", premiado no último Festival de Cannes

Divulgação/Lionsgate

A programação de cinema tem apenas um lançamento amplo nesta quinta (14/3). O terror “Imaginário – Brinquedo Diabólico” chega em 800 telas, enquanto os demais títulos disputam espaço no circuito limitado. As estreias nas salas especializadas destacam o drama turco “Ervas Secas”, premiado no último Festival de Cannes. Confira todos os lançamentos.

 

IMAGINÁRIO – BRINQUEDO DIABÓLICO

 

O novo terror de Jeff Wadlow (“Verdade ou Desafio”) gira em torno de Jessica, uma autora de livros infantis que se muda com sua família para a casa de sua infância. Lá, a filha de Jessica, Alice, encontra um urso de pelúcia chamado Chauncey no porão e rapidamente forma um vínculo com ele. À medida que Alice se torna cada vez mais obcecada por Chauncey, Jessica começa a suspeitar que o urso de pelúcia pode não ser tão inofensivo quanto parece.

Lançado na semana passada nos Estados Unidos, “Imaginário” foi destruído por críticas negativas, atingindo apenas 29% de aprovação no site Rotten Tomatoes. Essa variação de pelúcia da história do brinquedo assassino não traz muitas novidades para o subgênero, apoiando-se em clichês e situações previsíveis. No entanto, sua premissa deixa em aberto a questão da imaginação da criança, se Chauncey realmente interage com ela, como um produto da imaginação de Alice, ou se há algo mais aterrorizante por trás dele. Isso cria uma atmosfera de suspense e incerteza ao longo do filme, pois o público é convidado a questionar o que é real e o que é imaginário – até, claro, a vizinha explicar.

A profusão de lugares comuns evita os sustos: além da vizinha que sabe tudo de bichos-papões latinos, tem a criança assustadora, a casa velha, isolada e sinistra, o porão sombrio com luzes piscantes, além de muito “trauma”, aquilo que aparentemente não pode faltar num horror moderno. O elenco destaca DeWanda Wise (“Jurassic World: Domínio”) como a mãe e Pyper Braun (“Erin & Aaron”) como a filha.

 

ERVAS SECAS

 

O drama turco acompanha Samet, um professor que costumava viver em Istambul, mas foi designado para um posto em uma vila remota no leste da Anatólia. Ao retornar das férias para o semestre de inverno, ele e seu colega de trabalho e quarto Kenan são acusados de comportamento inadequado por duas alunas. Para o desespero de Samet, uma delas é Sevim, que até então era sua protegida. Após um incidente em que uma carta de amor endereçada a Samet é encontrada no caderno de exercícios de Sevim, o professor e seu colega são colocados sob suspeita. Embora o filme não mostre os professores cometendo assédio, o diretor dá pistas suficientes para que a possibilidade cruze a mente do espectador.

Nuri Bilge Ceylan é um dos cineastas turcos mais premiados da atualidade, que já recebeu vários prêmios importantes. Ele ganhou o Grande Prêmio do Festival de Cannes duas vezes: em 2003, por “Distante, e em 2011, por “Era uma Vez na Anatólia”. Ceylan também recebeu o prêmio de Melhor Diretor em Cannes em 2008 pelo filme “Os Três Macacos” e finalmente venceu a Palma de Ouro com “Sono de Inverno” em 2014.

“Ervas Secas” também foi lançado no festival francês, na edição do ano passado, onde sua jovem estrela feminina, Merve Dizdar, ganhou o prêmio de Melhor Atriz. O filme ainda foi selecionado como o candidato da Turquia ao Oscar, mas não se classificou para disputar a categoria de Melhor Filme Internacional.

Como boa parte das obras do diretor, a produção aborda temas complexos por meio de personagens ricos, em histórias passadas em cenários visualmente impressionantes, que refletem não só a cultura turca, mas boa parte da humanidade. No entanto, “Ervas Secas” também marca uma nova fase para Ceylan. O filme é mais focado na narrativa do que alguns de seus trabalhos anteriores, com um enredo mais linear e uma estrutura mais tradicional e acessível ao grande público.

 

UMA VIDA – A HISTÓRIA DE NICHOLAS WINTON

 

A biografia britânica conta a história real de Sir Nicholas “Nicky” Winton, um jovem corretor de Londres que, nos meses que antecederam a 2ª Guerra Mundial, resgatou mais de 600 crianças da Tchecoslováquia ocupada pelos nazistas. Durante uma visita à Praga em dezembro de 1938, ele encontrou famílias que haviam fugido do avanço dos nazistas na Alemanha e na Áustria, vivendo em condições desesperadoras, sem abrigo e com pouca comida, e sob a ameaça de invasão nazista. Ele percebeu imediatamente que era uma corrida contra o tempo, tentando resgatar o maior número possível de crianças antes que as fronteiras fechassem.

Apesar dessa premissa de ação cinematográfica, o roteiro opta por um salto no tempo para dar tom edificante à sua trama. Cinquenta anos depois, em 1988, Nicky vive assombrado pelo destino das crianças que não conseguiu levar para a segurança na Inglaterra, sempre se culpando por não ter feito mais. Isto é, pelo menos até que um programa de televisão da rede BBC, “That’s Life”, surpreendê-lo ao reunir algumas das crianças sobreviventes – agora adultos – para redimensionar a importância do que ele fez.

O primeiro longa feito para o cinema do diretor James Hawes, especialista em telefilmes, destaca Johnny Flynn (“A Escavação”) como o jovem Nicky e Anthony Hopkins (“Meu Pai”) como sua versão mais velha.

 

VIVER MAL

 

O drama do português João Canijo (“Sangue do Meu Sangue”) forma um díptico com “Mal Viver”, ambos ambientados em um hotel familiar localizado no litoral norte de Portugal. Enquanto a obra anterior, lançada em janeiro no Brasil, concentrava-se nos funcionários, principalmente nas relações femininas em deterioração, a continuação se foca nos hóspedes. A trama retrata a história de três famílias que se hospedam no local durante um fim de semana. Cada família está enfrentando um ponto de crise ou mudança em suas dinâmicas, no ponto de ter que confrontar e resolver essas questões. E curiosamente, todos os dilemas envolvem figuras maternas e seus filhos adultos.

A primeira família é composta por um homem que está dividido entre sua esposa e sua mãe, buscando equilibrar suas responsabilidades e afetos entre as duas mulheres mais importantes de sua vida. A segunda é centrada em uma mãe que está apaixonada pelo pretendente de sua filha, e encoraja o casamento com o objetivo de possibilitar seu próprio caso de amor com seu genro. E a terceira família envolve outra mãe que almeja viver sua vida através da filha, tomando decisões por ela.

Tanto “Mal Viver” quanto “Viver Mal” tiveram première no Festival de Berlim de 2023, mas apenas o primeiro filme consagrou-se no evento, vencendo o Prêmio do Júri.

 

O LIVRO DA DISCÓRDIA

 

A comédia francesa conta a história de Youssef Salem, um homem de 45 anos, descendente de uma família de imigrantes argelinos, que vive em Paris e se dedica à escrita. Após uma série de contratempos, Youssef decide escrever um romance parcialmente autobiográfico, inspirado em sua juventude e nos tabus que rodeiam a sexualidade no ambiente onde cresceu. O livro acaba gerando fazendo sucesso, mas também causa tensão familiar, ao trazer à tona experiências e temas desconfortáveis. Enquanto alguns membros da família apoiam Youssef e seu trabalho, outros se mostram contrariados com a exposição de suas vidas privadas, levando Youssef a fazer de tudo para manter sua família unida.

O filme de Baya Kasmi (“A Sua Completa Disposição”) traz Ramzy Bedia (“Homens à Beira de um Ataque de Nervos”) no papel principal e foi apresentado ao público brasileiro no Festival Varilux de 2023.

 

LILITH

 

Exibido no Festival do Rio de 2022, o drama mitológico de Bruno Safadi (“Meu Nome É Dindi”) conta a história de Lilith, a primeira mulher na Terra, que veio antes de Eva. Ela é criada por Deus para ser a mulher de Adão. No entanto, Lilith não aceita uma posição de inferioridade em relação ao homem, se rebela e abandona Adão. No filme, Lilith reaparece como um duplo de Eva, come o fruto proibido, vinga-se de Adão, de Deus e torna-se a primeira mulher a se levantar contra o sistema patriarcal.

A abordagem contemporânea de questões de gênero por meio de arquétipos é levada às telas com tom de cinema experimental dos anos 1970, com interpretação teatral, trama de abstração livre e edição com mistura de imagens, poemas, composições artísticas, pinturas, representações e cantigas, além de um elenco central mínimo, formado por Isabél Zuaa (“A Viagem de Pedro”), Renato Góes (“Mar do Sertão”) e Nash Laila (“Me Chama de Bruna”).

 

LUPICÍNIO RODRIGUES – CONFISSÕES DE UM SOFREDOR

 

O documentário de Alfredo Manevy faz uma pesquisa ampla com materiais de arquivos de Lupicínio, combinadas com depoimentos de artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Elza Soares. A produção também aborda um episódio importante da história de Lupicínio envolvendo a faixa Se acaso você chegasse. A música fez parte da trilha sonora de um musical de Hollywood, “Dançarina Loura” e foi indicada ao Oscar de 1945. Mas, além de não ter sido consultado sobre o uso da canção, Lupicínio só foi receber direitos autorais anos após o sucesso. Até hoje seus créditos na indicação ao Oscar não foram reconhecidos.