Estreias | “Duna 2” e indicados ao Oscar são principais novidades de cinema

Além do blockbuster de ficção científica, as telas recebem três indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional: "Eu, Capitão", "A Sala dos Professores" e "Dias Perfeitos"

Divulgação/Warner Bros

“Duna: Parte 2” é a principal estreia de cinema nesta quinta (29/2), renovando a programação da maioria das salas. Mas as novidades também incluem três indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional. Os representantes da Itália, Japão e Alemanha no Oscar 2024 chegam em circuito limitado 10 dias antes da premiação. A lista de lançamentos ainda inclui dois thrillers, duas produções infantis, um drama religioso e um documentário. Confira os detalhes.

 

DUNA: PARTE 2

 

A continuação da saga épica iniciada em 2021, que adapta a obra clássica de ficção científica de Frank Herbert, chega aos cinemas com uma ambição e maestria técnica que desafiam comparação neste ano. Após os eventos traumáticos que culminaram com o assassinato do duque Leto Atreides, interpretado por Oscar Isaac, seu filho Paul (Timothée Chalamet) e sua mãe (Rebecca Ferguson) encontram refúgio e propósito entre o povo do deserto, os Fremen. Enquanto Jessica almeja que Paul seja reconhecido como o salvador profetizado pela ordem religiosa Bene Gesserit, Paul reluta diante da responsabilidade e as consequências que tal destino impõe, temendo que sua jornada rumo à vingança desencadeie guerra e fome.

O roteiro, coescrito por Villeneuve e Jon Spaihts (“Prometheus”), avança a trama com um ritmo envolvente, imergindo os espectadores nos complexos dilemas políticos e espirituais do planeta Arrakis. O enredo se desdobra com riqueza de detalhes, explorando as intricadas relações de poder, traição e busca por redenção. A capacidade de manter o ímpeto do filme, apesar de sua duração de quase três horas, é notável, especialmente quando contrastada com a necessidade da primeira parte de estabelecer seu vasto universo e personagens. Com o público já familiarizado com esses elementos, a sequência mergulhe diretamente na ação e nas complexidades emocionais e políticas que definem esta fase da história.

Visualmente, o filme expande o escopo da narrativa, introduzindo novos locais e aumentando a escala dos confrontos. A cinematografia capta tanto a grandiosidade quanto os momentos íntimos com igual destreza, enquanto a trilha sonora amplifica a tensão e o drama dos confrontos. Performances marcantes, especialmente de Chalamet, Ferguson e Austin Butler como o vilão Feyd-Rautha, ajudam a aprofundar os personagens, tornando-os memoráveis. “Duna: Parte Dois” não apenas avança a história iniciada pelo primeiro filme, mas também aprofunda a exploração de temas como liderança, sacrifício e o custo do poder, configurando-se como uma obra de referência no gênero de ficção científica e estabelecendo um patamar elevadíssimo para futuras adaptações.

 

EU, CAPITÃO

 

A nova obra aclamada de Matteo Garrone (diretor do épico drama gangster napolitano “Gomorrah”) venceu os prêmios de Melhor Direção e Atuação no Festival de Veneza do ano passado, e ainda disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional deste ano. A trama de imigração segue dois adolescentes senegaleses que vivem em Dakar e anseiam por um futuro mais brilhante na Europa. No entanto, entre seus sonhos e a realidade, há uma jornada traiçoeira através de um labirinto de postos de controle, o deserto escaldante do Saara, uma prisão fedorenta no norte da África e as vastas águas do Mediterrâneo, onde milhares morrem apertados dentro de embarcações mal adequadas para a travessia.

Seydou (interpretado por Seydou Sarr, premiado em Veneza) e Moussa (Moustapha Fall) são primos que sonham em viver na Europa, onde Seydou sonha em encontrar a fama como músico. Eles trabalham em canteiros de obras carregando cargas pesadas para economizar para a viagem. A jornada deles é dividida em seções distintas que levam os adolescentes ao fundo do Saara, envolvem um interlúdio bárbaro na Líbia e eventualmente os levam à beira do Mediterrâneo. É uma viagem muitas vezes punitiva e definida pela violência.

Com vistas deslumbrantes de um Saara carregado de cadáveres e um vasto Mar Mediterrâneo vazio de embarcações para ajudar navios de imigrantes sobrecarregados com africanos desesperados e doentes, Garrone transforma a aventura dos jovens num pesadelo. Seydou é torturado e vendido como escravo e Moussa é preso por bandidos sírios. Mas o diretor tenta aliviar o peso impossível de tudo isso com momentos de realismo mágico.

Para conceber o filme, Garrone baseou-se em relatos de migrantes que fizeram jornadas análogas. Por sinal, levou três terríveis anos para um dos consultores do filme, um homem marfinense chamado Mamadou Kouassi, chegar à Europa.

 

A SALA DOS PROFESSORES

 

O candidato alemão na disputa do Oscar de Melhor Filme Internacional é um drama passado em uma sala de aula do sexto ano, que serve como um microcosmo do mundo exterior e se transforma em um cenário de suspense quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer. A trama explora as dinâmicas de poder e justiça dentro da escola, centrando-se em Carla Nowak, interpretada por Leonie Benesch (“Enxame”), uma professora que tenta governar sua classe com empatia e justiça, ao invés de autoritarismo.

Carla, que sempre prioriza o bem-estar de seus alunos, se vê no centro de uma série de acusações e demandas de colegas, administradores, pais e até mesmo do jornal estudantil da escola quando um furto de dinheiro a leva a realizar uma investigação. Enquanto muitos apontam Ali, um estudante muçulmano, injustamente acusado de roubo, a evidência visual obtida pela professora incrimina Friederike Kuhn, membro da equipe administrativa e mãe de um dos melhores alunos da classe, Oskar. A situação se complica ainda mais quando Oskar começa a fomentar uma rebelião aberta, incitando a equipe do jornal da escola a publicar um perfil difamatório de Carla, e os outros professores começam a isolar a colega.

A obra é o quarto longa-metragem do diretor Ilker Çatak (“Räuberhände”) e conquistou cinco troféus na premiação da Academia Alemã de Cinema (o “Oscar alemão”), incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz para Leonie Benesch.

 

DIAS PERFEITOS

 

O primeiro filme de um cineasta estrangeiro a concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional pelo Japão mergulha na vida de Hirayama (interpretado por Kōji Yakusho, de “13 Assassinos”), um limpador de banheiros em Tóquio que encontra satisfação em sua rotina diária meticulosamente organizada. Ambientado no vibrante distrito de Shibuya, o filme explora a alegria encontrada na repetição e na simplicidade. Hirayama vive sozinho e seu cotidiano inclui acordar ao amanhecer, cuidar de suas plantas e dirigir para o trabalho ouvindo fitas cassetes antigas. Ele executa seu trabalho com cuidado e atenção, tratando as instalações que limpa como se fossem obras de arte.

A vida tranquila do protagonista é pontuada por interações sutis com os colegas e a comunidade ao redor, destacando a beleza na rotina e na conexão humana. A atuação de Yakusho, premiada no Festival de Cannes, acrescenta uma profundidade emocional ao personagem, que, apesar de falar pouco, comunica muito através de gestos e expressões. Dirigida com atenção aos detalhes pelo alemão Wim Wenders (“Asas do Desejo”) e coescrita com o poeta Takuma Takasaki, a narrativa é tão meditativa quanto seu personagem principal, e busca enfatizar a importância de viver o momento, por mais humilde que seja. Zen.

 

ZONA DE RISCO

 

Este filme de guerra se destaca por sua abordagem contemporânea do combate, focando na realidade da guerra moderna e na operação de drones. Dirigido por William Eubank, conhecido por filmes de terror como “Atividade Paranormal: Ente Próximo” (2021) e “Ameaça Profunda” (2020), “Zona de Risco” apresenta uma narrativa intensa que se desenrola tanto em território remoto nas Filipinas, quanto em uma base militar em Las Vegas.

A trama segue o jovem soldado Kinney, interpretado por Liam Hemsworth (“Jogos Vorazes”), que é recrutado de última hora para uma missão Delta Force nas Filipinas. A missão rapidamente sai do controle, deixando Kinney sozinho em território hostil. No entanto, ele não está completamente só, graças à presença de “Reaper”, interpretado por Russell Crowe (“Thor: Amor e Trovão”), que opera drones letais a partir de Las Vegas. A interação entre os dois personagens, com Reaper assegurando a Kinney que ele é seus “olhos no céu e o portador da ruína”, intensifica a atmosfera de tensão na história.

O elenco também inclui Milo Ventimiglia (“This Is Us”), Luke Hemsworth (“Westworld”) e Ricky Whittle (“American Gods”) como soldados, e Chika Ikogwe (“Heartbreak High: Onde Tudo Acontece”) como uma associada de Reaper.

“Zona de Risco” tem semelhanças com outros filmes de guerra, como “Good Kill – Máxima Precisão” (2014), onde o personagem principal também é um operador de drones militares. Ambos os filmes exploram as complexidades e os dilemas morais enfrentados por esses operadores em situações de combate. Apesar disso, a produção consegue se destacar graças à presença de dois irmãos Hemsworth e Russell Crowe, cuja atuação rouba a cena, apesar de seu personagem passar a maior parte do tempo sentado em uma cadeira olhando para uma tela.

 

PLANO DE APOSENTADORIA

 

A comédia de ação foi uma das seis produções estreladas por Nicolas Cage (“O Peso do Talento”) em 2023. Absolutamente descartável, sua trama gira em torno de Matt (Cage), um ex-assassino que agora vive uma vida tranquila nas Ilhas Cayman. Sua tranquilidade é interrompida quando a filha Ashley (Ashley Greene, de “Crepúsculo”), que não tem conhecimento do passado violento do pai, envia sua filha de 11 anos para ficar com ele devido a problemas com uma gangue de criminosos. A chegada da neta desencadeia uma série de eventos que forçam Matt a voltar à ação.

A trama se desenvolve à medida que Matt, Ashley e sua neta Sarah (Thalia Campbell) se veem enredados em uma situação cada vez mais perigosa. Eles são perseguidos pelo chefe do crime Donnie (Jackie Earle Haley, de “Watchmen”) e seu braço direito Bobo (Ron Perlman, de “Sons of Anarchy”). Apesar da ameaça representada por esses criminosos musculosos, Matt prova ser mais astuto, enfrentando-os com uma série de armas diferentes.

A premissa do filme escrito e dirigido por Tim Brown (“A Criatura Sombria”) promete uma aventura cheia de ação, mas a execução mistura tonalidades, incluindo momentos de humor. Um tanto previsível e com diálogos questionáveis, o filme só consegue entreter devido à atuação carismática de Cage em mais um papel peculiar.

 

A SERVA

 

A obra biográfica espanhola narra a história de Vicenta María López Vicuña, fundadora das Religiosas de María Inmaculada. A trama é contada por Lera, uma empregada doméstica ucraniana que é acusada de um crime e detida pela Guarda Civil. Na prisão, ela compartilha a história de Vicenta María com duas prostitutas, Mihaela e Julia. Através de flashbacks, a vida de Vicenta María é revelada, desde sua infância até a fundação da ordem religiosa, que tem se dedicado há mais de 150 anos ao auxílio de mulheres que saem de suas cidades natais para buscar um futuro melhor no serviço doméstico na capital e enfrentam situação de vulnerabilidade.

A produção é dirigida por Pablo Moreno, conhecido por seus filmes de conteúdo religioso, como “Luz de Soledad” (2016), “O Santo de Todos – Claret” (2020) e “Petra de San José” (2022). A trama se desenrola em dois tempos, mostrando tanto a vida de Vicenta María no século XIX quanto a situação de Lera no presente. A história destaca a luta de Vicenta María para ajudar as mulheres mais pobres e sua dedicação à educação delas. A ambientação e o figurino são bem executados, contribuindo para a atmosfera da época retratada.

No elenco, Cristina González del Valle (de “Luz de Soledad”) interpreta Vicenta María e Eva Jakubovska (“Sky Rojo”) vive Lera, enquanto Assumpta Serna (“Petra de San José”) e Elena Furiase (“Venus”) também têm papéis de destaque. Embora a trama pudesse explorar mais a realidade dessas mulheres e a fraternidade feminina que resultou na congregação, “A Serva” serve como um filme educativo, permitindo ao público conhecer gradualmente a história de uma beata protofeminista.

 

O REINO GELADO – A MAGIA CONTINUA

 

A franquia “Reino Gelado” (Snow Queen) chega a seu quinto filme. Produzidos pelo estúdio de animação russo Wizart, os desenhos são baseados no mesmo conto clássico de Hans Christian Anderson que virou a fábula da Disney “Frozen”. O primeiro filme, lançado em 2012, seguia a protagonista Gerda em uma missão para resgatar seu amigo Kai, sequestrado pela Rainha da Neve, e fez dinheiro graças a seu orçamento modesto de US$ 7 milhões. Com o sucesso, vieram as continuações,

Cada nova aventura introduz elementos inovadores e desafios crescentes, desde a busca por uma família perdida até a luta contra forças malignas em mundos mágicos. Desta vez, no entanto, há uma reviravolta. Embora a Rainha da Neve esteja oficialmente de volta, a produção se concentrará em uma nova personagem, sua filha Ila, uma pequena feiticeira que acidentalmente liberta os perigosos Espíritos Gelados de seu aprisionamento de séculos.

Livres, os Espíritos Gelados entram na cidade pacífica e tranquila de Gerda e Kai, com a intenção de congelar todos os seus habitantes. Tendo percebido seu erro, Ila se aventura no mundo exterior para pedir ajuda à dupla. Assim, os heróis se juntam em torno do objetivo mais ambicioso de toda a franquia: salvar o mundo. Nesta jornada, a pequena feiticeira aprenderá a dominar sua magia e superar seus caprichos infantis, egoísmo e medos.

 

EMPIRION

 

A comédia infantil brasileira gira em torno de Félix, interpretado por Davi Campolongo (“Poliana Moça”), um jovem estudioso que enfrenta desafios na escola e busca vencer um concurso de ciências para manter sua bolsa de estudos. A trama se desenrola quando os planos de Félix são roubados e ele precisa da ajuda de ninguém menos que Albert Einstein (Norival Rizzo, de “Rota 66: A Polícia que Mata”) para recuperá-los. A figura histórica, conhecida como o pai da Teoria da Relatividade, é ressuscitada por uma empresa para fins de marketing. Essa iniciativa leva Einstein ao Brasil, ajudando Félix a provar sua genialidade.

A produção dirigida por Michael Ruman (“No Mundo da Luna”) apresenta uma estética e narrativa semelhantes às das séries infantis atuais, com cenários multicoloridos e uma ênfase na aventura. O elenco também inclui Kevin Vechiatto (“Turma da Mônica: Lições”), Lívia Silva (“Um Ano Inesquecível: Primavera”), Pietra Quintela (também de “Poliana Moça”) e André Abujamra (“O Rei da TV”).

 

AMANHÃ

 

Em 2002, o diretor Marcos Pimentel filmou duas crianças negras em Belo Horizonte, na Barragem Santa Lúcia, que separa um conjunto de favelas de um bairro de classe média alta na capital mineira. Decidiu convidar para o filme um garoto branco do bairro privilegiado logo em frente, para se divertir com o menino e a menina da comunidade. Os três passaram o fim de semana brincando, entre pipa e bola. Vinte anos depois, ainda no período da pandemia, o cineasta resolveu reencontrar os jovens que, mesmo morando tão perto, sempre foram muito distantes. “Amanhã” reflete o que aconteceu com cada uma das três crianças, agora com mais de 30 anos de idade. Mas com um deles preso e outro com discurso direitista sobre “polarização”, o reencontro não se deu como o cineasta gostaria, o que, porém, não impediu um retrato contundente das mudanças do Brasil deste século.