Diretora de Lindinhas diz ter recebido ameaças de morte por causa do pôster da Netflix
A diretora de “Lindinhas” (Cuties), a francesa Maïmouna Doucouré, diz que recebeu ameaças de morte depois que a Netflix divulgou um pôster americano, que sexualizou as meninas do filme. Em entrevista ao site Deadline, ela contou que só soube do pôster quando ele começou a circular nas redes sociais, acompanhado de mensagens de ódio. “Recebi inúmeros ataques de pessoas que não tinham visto o filme, que pensavam que eu estava realmente fazendo um filme que promovia a hiper-sexualização de crianças”, disse ela. “Tivemos várias discussões depois que isso aconteceu. A Netflix pediu desculpas publicamente e também pessoalmente a mim.” A Netflix realmente divulgou um comunicado em que se desculpou pelo marketing inadequado, mas Doucouré disse que também recebeu uma ligação de Ted Sarandos, o chefão de conteúdo da empresa, pedindo desculpas pessoalmente a ela. Tudo o que aconteceu acabou causando um impacto na cineasta, que não tinha como prever a situação. Quando estreou no Festival de Sundance no início deste ano, “Lindinhas” só recebeu amor e mensagens positivas da crítica, pela forma como abordava temas complexos de forma emotiva e delicada. E Maïmouna Doucouré saiu do festival americano com o troféu de Melhor Direção. “As coisas aconteceram muito rápido porque, após os atrasos, eu estava totalmente concentrada no lançamento do filme na França. Eu descobri o pôster ao mesmo tempo que o público americano”, disse Doucouré ao Deadline. “Foi uma experiência estranha. Eu não tinha visto o pôster até começar a receber todas essas reações nas redes sociais, mensagens diretas de pessoas, ataques a mim. Eu não entendia o que estava acontecendo. Foi quando fui atrás e vi como era o pôster.” No cartaz americano, as quatro garotas principais da produção apareciam em poses sugestivas, em trajes de dança reveladores. A imagem incômoda, chamada de “nojenta” na internet, também era um grande contraste com o pôster francês, que trazia as meninas brincando, enquanto correm pelas ruas. O contraste é gritante e se deve à forma como o marketing americano aderiu justamente àquilo que o filme critica. A produção francesa retrata o esforço de uma pré-adolescente para se integrar com a turma de garotas legais da sua escola para disputar um concurso de dança. O que diferencia a trama das produções similares americanas é que a protagonista é uma menina negra muçulmana de 11 anos, criada numa família de imigrantes senegaleses no bairro mais pobre de Paris, que se encanta com uma vizinha moderna da sua idade. O grupo de meninas a que ela se junta contrasta fortemente com os valores tradicionais de sua mãe, e ela logo se dá conta de sua própria sensualidade através da dança. Com isso, o filme também aborda a hiper-sexualização das garotas pré-adolescentes nos dias de hoje, mas não da forma como o pôster sugeria. Doucouré afirma que “Lindinhas” aborda as pressões das redes sociais sobre as mulheres jovens e que todos poderão perceber sua verdadeira intenção ao assisti-lo. “O amor e a autoestima são construídos por meio de curtidas e seguidores. O que acontece é que as meninas veem imagens de mulheres sendo objetificadas, e quanto mais a mulher se torna um objeto, mais seguidores e likes ela tem – elas veem isso como um modelo e tentam imitar essas mulheres, mas não têm idade suficiente para sabem o que estão fazendo”, comentou. A cineasta mencionou que, após o desastre, nem todas as manifestações em torno do filme desejavam sua morte. Ela recebeu mensagens positivas de quem já tinha visto a produção, que foi exibida também no Festival de Berlim, além de apoio do governo francês. Ela contou que “Lindinhas” impressionou o governo de seu país e será usado como uma ferramenta educacional na França. Tessa Thompson, que interpreta a heroína Valquíria nos filmes da Marvel, foi uma das estrelas que se posicionou ao lado da cineasta, dizendo-se “decepcionada ao ver como o marketing posicionou” o filme. “Eu entendo a reação de todos, mas não tem relação com o filme que vi”, escreveu a atriz nas redes sociais. “‘Lindinhas’ é um filme lindo, que me destruiu no Festival de Sundance. Ele representa uma nova voz na direção. Ela é uma mulher negra senegalesa-francesa extraindo suas próprias experiências”, completou. “Eu realmente coloquei meu coração neste filme. Na verdade, é a minha história pessoal e também a história de muitas crianças que precisam navegar entre uma cultura ocidental liberal e uma cultura conservadora em seus lares”, concordou Doucouré, que de fato é descendente de senegaleses. “Esperamos que entendam que estamos realmente do mesmo lado desta batalha. Se juntarmos forças, poderemos fazer uma grande mudança neste mundo que hiper-sexualiza as crianças”, a cineasta concluiu. O filme estreia na quarta-feira (9/9) em streaming. Compare os cartazes franceses e americanos abaixo.
Lindinhas: Netflix pede desculpas por arte inadequada e muda marketing do filme
A Netflix vai refazer a campanha de marketing de “Lindinhas” (Cuties), após as reações negativas despertadas pela arte inicial. Diversas manifestações nas redes sociais reclamaram que o material original promovia a sexualização das protagonistas, um grupo de meninas de 11 anos de idade que fazem parte de um grupo de dança. “Pedimos desculpas pela arte inadequada que usamos para o filme ‘Lindinhas’. Não estava certo, nem representava este filme francês que ganhou um prêmio no Festival de Sundance. Estamos trabalhando para atualizar as imagens e a descrição do filme”, disse a Netflix em nota oficial. A plataforma também tirou as fotos e o pôster originalmente divulgados em sua plataforma de imprensa, mantendo apenas uma imagem, que ilustra este post. Para ver a arte considerada polêmica, confira aqui. Mas antes mesmo da divulgação do cartaz, o filme já vinha sendo bombardeado com notas negativas no IMDb. No caso, devido ao tema. Vale observar que essa reação não reflete a opinião da crítica, que é bastante positiva em relação ao filme e sua abordagem de temas complexos, considerada emotiva e delicada. A produção é francesa e retrata o esforço de uma pré-adolescente para se integrar com a turma de garotas legais da sua escola para disputar um concurso de dança. Dita assim, a premissa parece uma comédia teen típica, mas há muitas diferenças em relação às produções americanas. A começar pela protagonista, uma menina negra muçulmana de 11 anos, criada numa família de imigrantes senegaleses no bairro mais pobre de Paris, que se encanta com a vizinha moderna da sua idade. O grupo de meninas a que ela se junta contrasta fortemente com os valores tradicionais de sua mãe, e ela logo se dá conta de sua própria sensualidade através da dança. Com isso, o filme também aborda a hiper sexualização das garotas pré-adolescentes nos dias de hoje. “Cuties” teve première no Festival de Sundance, no começo do ano, onde a diretora e roteirista Maïmouna Doucouré levou o troféu de Melhor Direção. A estreia vai acontecer em 9 de setembro em streaming. Aproveite e confira o trailer abaixo.
Lindinhas: Filme adolescente premiado ganha trailer e vira alvo de campanha de ódio
A Netflix divulgou o pôster, as fotos e o trailer de “Lindinhas” (Cuties), por enquanto disponível apenas com legendas em inglês. A produção é francesa e retrata o esforço de uma pré-adolescente para se integrar com a turma de garotas legais da sua escola para disputar um concurso de dança. Dita assim, a premissa parece uma comédia teen típica, mas há muitas diferenças em relação às produções americanas. A começar pela protagonista, uma menina negra muçulmana de 11 anos, criada numa família de imigrantes senegaleses no bairro mais pobre de Paris, que se encanta com a vizinha moderna da sua idade. O grupo de meninas a que ela se junta contrasta fortemente com os valores tradicionais de sua mãe, e ela logo se dá conta de sua própria sensualidade através da dança. Com isso, o filme também aborda a hiper sexualização das garotas pré-adolescentes nos dias de hoje. “Cuties” teve première no Festival de Sundance, no começo do ano, onde a diretora e roteirista Maïmouna Doucouré levou o troféu de Melhor Direção. Os críticos aplaudiram (82% de aprovação no Rotten Tomatoes), mas o tema, inspirado na infância da diretora, causou ira entre os grupos conservadores de ódio que tem bombardeado (sem ter visto) o filme com cotações negativas no IMDb. A arte do pôster tampou ajudou. A Netflix acabou suspendendo o marketing do filme após a divulgação inicial e divulgou uma nota oficial: “Pedimos desculpas pela arte inadequada que usamos para o filme ‘Lindinhas’. Não estava certo, nem representava este filme francês que ganhou um prêmio no Festival de Sundance. Estamos trabalhando para atualizar as imagens e a descrição do filme”. A estreia vai acontecer em 9 de setembro em streaming.
França vai reabrir os cinemas na segunda-feira
Os cinemas voltarão a reabrir na França na segunda-feira (22/6), após o governo francês anunciar uma aceleração do processo de flexibilização das regras de segurança sanitária, em função do progresso na luta contra a pandemia da covid-19. Além dos cinemas, resorts, cassinos e salões de jogos também serão reabertos nesta segunda-feira “em conformidade com rígidas regras sanitárias”, informou um comunicado de imprensa do governo, publicado nesta noite de sexta-feira (19/6) após uma reunião do Conselho de Defesa e Segurança Nacional (CDSN), reunido sob a autoridade do Presidente Emmanuel Macron. Os franceses também voltarão às aulas e poderão retomar práticas de esportes coletivos, mas a volta aos estádios ficou para 11 de julho. Finalmente, a partir de setembro “e sujeito a uma nova avaliação da situação epidemiológica, o início do ano letivo pode ser marcado por um maior relaxamento”. O comunicado trata também a abertura de feiras, exposições e shows e, “se em condições apropriadas”, a retomada de boates e cruzeiros marítimos internacionais. As decisões levam em conta um descarte da possibilidade de um reconfinamento total no caso de uma segunda onda. A França registrou apenas 14 mortes por covid-19 em hospitais nas últimas 24 horas. Ao todo, o país teve 29.617 mortes durante a pandemia, de acordo com um relatório divulgado na sexta-feira pela Direção Geral de Saúde (DGS). O número de pacientes da covid-19 em terapia intensiva também continua a diminuir, somando 727 pacientes, 25 a menos que na quinta-feira (18), de acordo com um comunicado de imprensa do DGS. Mas o primeiro-ministro Edouard Philippe insistiu: os franceses devem permanecer “cautelosos” para “tentar garantir a saída [do confinamento] nas melhores condições”.
Léa Seydoux será paciente de hospício em drama de época
A atriz Léa Seydoux, que está mantendo carreira dupla em Hollywood e na França, já definiu seu próximo filme francês. Após estrelar os vindouros “The French Dispatch”, de Wes Anderson, e o provável blockbuster “007: Sem Tempo Para Morrer”, ela vai protagonizar “Le Bal des Folles”, um thriller dramático de época realizado por Arnaud des Pallières (“Michael Kohlhaas: Justiça e Honra”). Com filmagens marcadas para o final de 2020, a obra se passa durante o Carnaval de Paris em 1893 e é baseado em fatos e personagens reais. Na trama, a instituição da saúde mental para mulheres, Pitié Salpétrière, é o epicentro de um baile elaborado, onde políticos, artistas e socialites se reúnem para as festividades. Seydoux dará vida a Fanni, uma das 150 pacientes do sexo feminino que foram selecionadas entre as internas para participar no baile devido ao seu bom comportamento e aparência. No entanto, à medida que a noite se desenrola, Fanni tem apenas um objetivo em mente: encontrar a mãe no meio da multidão e fugir. Recentemente, a atriz terminou mais dois longas europeus, que se encontram em pós-produção: o francês “On a Half Clear Morning” (Par un Demi-Clair Matin), de Bruno Dumont, e o húngaro “The Story of My Wife”, de Ildikó Enyedi. Um deles, senão os dois, devem ganhar première nos festivais de cinema do fim do ano.
Novo filme de François Ozon ganha trailer ao som de The Cure
A distribuidora francesa Diaphana divulgou o trailer de “Été 85″, novo filme de François Ozon (“Dentro de Casa”, “Frantz”, “O Amante Duplo”, “Graças a Deus”). A prévia não tem diálogos e apresenta cenas de adolescência passada em 1985, ao som de “In Between Days”, da banda The Cure. Parte da seleção oficial do Festival de Cannes, o filme acompanha Alexis, de 16 anos, e David, dois anos mais velho, durante um romance de verão oitocentista. Os papéis principais são vividos por Félix Lefèbvre (“O Professor Substituto”) e Benjamin Voisin (“O Príncipe Feliz”). Melvil Poupaud (“Graças a Deus”) e Valeria Bruni Tedeschi (“Loucas de Alegria”) também fazem parte do elenco. A estreia está marcada para 14 de julho na França e não há previsão para o lançamento no Brasil, onde os cinemas ainda não tem previsão de reabertura, devido à pandemia de covid-19.
Michel Piccoli (1925 – 2020)
Michel Piccoli, um dos atores mais importantes do cinema da França, morreu na semana passada (1/5), aos 94 anos de idade. A notícia só se tornou pública nesta segunda-feira (18/5), em comunicado da família à imprensa. Responsável por papéis inesquecíveis em dezenas de clássicos, Piccoli morreu de um acidente vascular cerebral, segundo declaração da família. Também produtor, diretor e roteirista, Michel Piccoli deixou uma obra com mais de 200 títulos em uma carreira que abrangeu sete décadas de cinema, além de papéis na televisão e teatro, ao longo das quais colaborou com mestres da estatura de Alfred Hitchcock, Henri-Georges Clouzot, Jacques Rivette, Costa-Gavras, Luis Buñuel, Jean Renoir, René Clément, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Agnès Varda, Jacques Demy, Marco Ferreri, Mario Bava, Manoel de Oliveira, Theodoros Angelopoulos, Nani Moretti, Marco Bellocchio e Louis Malle. O reconhecimento a seu talento foi atestado por uma profusão de prêmios, incluindo o de Melhor Ator no Festival de Cannes – pela atuação em “Salto no Escuro” (1980), de Bellocchio. Nascido em Paris em 27 de dezembro de 1925, ele era filho de músicos – a mãe era pianista e o pai um violinista suíço. Mas apesar de estrear nas telas aos 20 anos, em uma breve figuração em “Sortilégios” (1945), de Christian-Jaque, sua carreira demorou para engatar, o que só aconteceu depois de uma década, em filmes como “French Can Can” (1955), de Renoir, e “O Calvário de uma Rainha” (1956), de Jean Delannoy. Mas o que o tirou dos papéis de coadjuvantes foi sua amizade com Buñuel. “Escrevi para esse diretor famoso pedindo que ele viesse me ver em uma peça. Eu, um ator obscuro! Era a ousadia da juventude. Ele veio e nos tornamos amigos”, Piccoli contou, em uma entrevista antiga. O ator apareceu em seis filmes de Buñuel, geralmente representando uma figura autoritária. A primeira parceria se manifestou em 1956, como um padre fraco e comprometido, que viajava pelas florestas brasileiras em “A Morte no Jardim”. Em “O Diário de uma Camareira” (1964), viveu o preguiçoso e lascivo monsieur Monteil, obcecado sexualmente por Jeanne Moreau, intérprete da empregada do título. E num de seus principais desempenhos, deu vida a Louche, o cavalheiro burguês responsável pela transformação de Catherine Deneuve em “A Bela da Tarde” (1967). No filme, a atriz vivia a esposa de um médico respeitável que era convencida por Louche a passar as tardes trabalhando em um bordel de alta classe com clientes excêntricos. Piccoli reprisou o papel quase 40 anos depois, em “Sempre Bela” (2006), de Manoel de Oliveira. Para Buñuel, ainda encarnou um versão charmosa do Marquês de Sade em “Via Láctea” (1969), foi sutilmente dominador como secretário do Interior em “O Discreto Charme da Burguesia” (1972) e sinistro como chefe da polícia no penúltimo filme do diretor, “O Fantasma da Liberdade” (1974). Durante esse período, Piccoli fez parte da cena dos cafés filosóficos de Paris, que incluía os escritores Boris Vian, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, além da cantora Juliette Gréco, com quem se casou em 1966 – separaram-se em 1977. Ele também se tornou um membro ativo do partido comunista francês. Os anos 1960 foram sua década mais criativa e variada, em que se juntou à novelle vague, atuando em obras memoráveis. Seu primeiro papel de protagonista no movimento que revolucionou o cinema francês foi como o marido de Brigitte Bardot em “O Desprezo” (1963), de Godard. No filme, ele interpreta um roteirista disposto a vender a própria esposa a um produtor (Jack Palance) para que seu roteiro saísse do papel e virasse filme dirigido por Fritz Lang (interpretado pelo próprio). Entre suas performances em clássicos da nouvelle vague ainda se destacam “A Guerra Acabou” (1966), de Alain Resnais, e “As Criaturas” (1966), de Agnès Varda. Mas Piccoli se projetou mais com sucessos de público, como “O Perigoso Jogo do Amor” (1966), de Roger Vadim, na qual contracenou com a americana Jane Fonda, o filme de guerra de René Clement “Paris Está em Chamas?” (1966), e principalmente o clássico musical “Duas Garotas Românticas” (1967), de Jacques Demy. A carreira do astro francês se internacionalizou após o filme de Demy, que chegou a ser indicado ao Oscar. Em 1968, ele estrelou a cultuada adaptação de quadrinhos italianos “Perigo: Diabolik” (1968), de Mario Bava, como o policial que tenta prender o criminoso do título. E no ano seguinte começou sua parceria de sete filmes com outro mestre italiano, Marco Ferreri – iniciada por “Dillinger Morreu” – , sem esquecer sua estreia em produções de língua inglesa, no suspense “Topázio”, de ninguém menos que Alfred Hitchcock. A consagração continuou nos anos 1970, marcada pelo principal e mais escandaloso filme de Ferreri, “A Comilança” (1973), e por uma das melhores obras de Chabrol, o noir “Amantes Inseparáveis” (1973). Com a fama adquirida, ele aproveitou para começar a produzir – a partir de “Não Toque na Mulher Branca” (1974), outra parceria com Ferreri. Piccoli também integrou a produção norte-americana de Louis Malle, “Atlantic City” (1980), estrelado por Burt Lancaster e Susan Sarandon, fez “Paixão” (1982), de Godard, e trabalhou com Marco Belocchio (em “Salto no Escuro” e “Olhos na Boca”) e Jerzy Skolimowski (“O Sucesso É a Melhor Vingança”), antes de viver o vilão que ajudou a lançar um dos principais nomes da geração de cineastas dos anos 1980. Premiado no Festival de Berlim, “Sangue Ruim” (1986) deslanchou a carreira de Leos Carax (então em seu segundo longa) e popularizou mundialmente a atriz Juliette Binoche. A lista de papéis clássicos não diminuiu com o tempo, rendendo “Loucuras de uma Primavera” (1990), de Malle, e “A Bela Intrigante” (1991), de Jacques Rivette, em que pintou – e consagrou – a nudez de Emmanuelle Béart. Sua trajetória teve muitas outras realizações, novas parcerias com Rivette, filmes com Édouard Molinaro, Jean-Claude Brisseau, Raoul Ruiz, Bertrand Blier, mais Manoel de Oliveira, dezenas mais. Tanta experiência o levou a escrever e dirigir. Ele assinou três longas, um segmento de antologia e um curta, mas apenas um repercutiu entre a crítica – “Alors Voilà” (1997). Como intérprete, porém, não lhe faltou consagração, incluindo o David di Donatello (o Oscar italiano) de Melhor Ator por um de seus últimos papéis, como papa em “Temos Papa” (2011), de Nani Moretti. Outros desempenhos importantes no final de sua carreira incluem o último longa do grego Theodoros Angelopoulos, “Trilogia II: A Poeira do Tempo” (2008). E após ser homenageado pela Academia Europeia de Cinema com um troféu pela carreira, ainda emplacou três lançamentos premiados em 2012: “Vocês Ainda Não Viram Nada!”, de Resnais, “Holy Motors”, de Carax, e “Linhas de Wellington” (2012), de Valeria Sarmiento. A despedida das telas se deu logo em seguida, com “Le Goût des Myrtilles” (2014), de Thomas De Thier. Ele deixa sua terceira esposa, a roteirista Ludivine Clerc, com quem se casou em 1978, e sua única filha, Anne-Cordélia, fruto de seu primeiro casamento com Eléonore Hirt.
Em clima de revolta social, Os Miseráveis não decepciona
“Os Miseráveis” (2019) é o primeiro longa-metragem de de Ladj Ly, diretor nascido em Mali e residente na França. Tem como base um curta de mesmo nome (de 2017) e foi consagrado no Festival de Cannes com o Prêmio do Júri, dividindo a honraria com “Bacarau”, de Kleber Mendonça Filho. São, aliás, dois filmes que têm muito em comum, tratando de uma reação à violência e autoritarismo de quem se acha acima da lei. Ambos os filmes, apesar de diferentes em outros aspectos, estão entre as obras recentes que melhor refletem o seu tempo. Muitos também comparam “Os Miseráveis” a “Faça a Coisa Certa” (1989), de Spike Lee, devido ao final explosivo. E a comparação tem mesmo tudo a ver. A trama segue o ponto de vista de uma dupla de policiais. Um deles sai da província para ir trabalhar em Paris, mais especificamente na brigada anti-crime de Montfermeil. O lugar serviu de locação para o romance clássico de Victor Hugo, daí o motivo do título do filme, que serve como homenagem a “Os Miseráveis” mais famoso e também como referência a uma situação social ainda muito complicada na região. O policial que está chegando, Pento, vivido por Damien Bonnard (de “Na Vertical”), é o que mais se aproxima do espectador, já que tem uma visão mais pacífica e totalmente alheia da rotina daquela sociedade e da atuação de seus colegas policiais, de nomes Gwada (Djibril Zonga) e Chris (Alexis Maneti). Como o público, ele acha estranho o estilo de trabalho de seus novos colegas, bastante violentos e cheios de si. E há as figuras das crianças marginalizadas. Há o garotinho que brinca com um drone, que filma tanto espaços privados quanto imagens públicas e que será crucial para a trama; há um outro que rouba um filhote de leão de um circo e que sofrerá violência mais adiante; e há toda uma fauna de adultos e crianças que têm sua importância para a história. O que se deve destacar como um dos méritos do filme é o quanto o jovem cineasta é capaz de povoar sua trama com vários personagens e várias situações e conseguir dar complexidade e profundidade a todos, tanto aos policiais quanto aos que vivem à margem da sociedade. Alguns podem ficar surpresos com o fato de o diretor abrir e encerrar o filme com o ponto de vista dos policiais. De todo modo, a escolha não tira a voz das crianças. Ao contrário, é fácil se sentir incomodado com a atitude autoritária e torcer por uma revolta. Quanto a isso, o filme não decepciona.
Festival Varilux disponibiliza mostra online gratuita com 50 filmes franceses
O Festival Varilux, mostra já tradicional do cinema francês contemporâneo, não vai mais acontecer entre 4 e 17 de junho nos cinemas brasileiros. Com sua 11ª edição suspensa, os organizadores analisam a possibilidade de data no segundo semestre. Enquanto dura o impasse, o festival se desdobra num evento digital, que reúne alguns filmes das seleções passadas. Batizada de Festival Varilux em Casa, a mostra traz 50 títulos franceses, e já pode ser acessada no site festivalvariluxemcasa.com.br – é necessário apenas um cadastro simples para ter acesso. Entre os longas que devem ficar no ar por quatro meses figuram produções protagonizadas pelos principais atores do país, como “Quem Você Pensa que Sou”, com Juliette Binoche, “A Última Loucura de Claire Darling”, com Catherine Deneuve, “O Retorno do Herói”, com Jean Dujardin, “Um Instante de Amor”, com Marion Cotillard e Louis Garrel, “Rock’n Roll”, com Guillaume Canet, “A Revolução em Paris”, com Adèle Haenel, e “Branca como a Neve”, com Isabelle Hupert. A lista é ampla e inclui desde terror com zumbis até animações recentes de Asterix disponibilizadas em versões dubladas. Confira a seleção abaixo: Abril e o Mundo Extraordinário Avril et le monde truqué. França/Bélgica/Canadá, 2015. Direção: Franck Ekinci, Christian Desmares. Com: Marion Cotillard, Philippe Katerine, Jean Rochefort. 105 min. Livre. Em uma realidade diferente daquela conhecida pela história, Napoleão 5º reina na França e cientistas de todo mundo estão desaparecendo misteriosamente. Diante disso, a jovem Abril, acompanhada do gato falante Darwin, decide procurar seus pais cientistas. Amor à Segunda Vista Mon Inconnue. França/Bélgica, 2019. Direção: Hugo Gélin. Com: François Civil, Joséphine Japy e Benjamin Lavernhe. 118 min. 12 anos. Certo dia, um rapaz acorda em uma realidade na qual nunca conheceu o amor de sua vida. Ele então precisa reconquistar a antiga mulher, que se tornou uma desconhecida. Um Amor Impossível Un Amour Impossible. França/Bélgica, 2018. Direção: Catherine Corsini. Com: Virginie Efira, Niels Schneider e Jehnny Beth. 136 min. 16 anos. No fim da dÈcada de 1950, um homem de uma família rica se envolve com uma secretária. Eles se apaixonam e ela engravida, mas ele se recusa a casar devido à diferença de classe. Nos anos seguintes, a moça batalha para que ele assuma a paternidade da criança. Adaptação do livro de Christine Angot. A Aparição L’Apparition. França, 2017. Direção: Xavier Giannoli. Com: Vincent Lindon, Galatea Bellugi e Patrick d’Assumção. 137 min. 12 anos. Quando uma jovem francesa diz ter visto a Virgem Maria, milhares de peregrinos começam a segui-la. O Vaticano, então, convida um jornalista para investigar o caso. Asterix e o Domínio dos Deuses Astérix – Le Domaine des Dieux. França/Bélgica, 2014. Direção: Louis Clichy e Alexandre Astier. Com: Roger Carel, Guillaume Briat, Lor‡nt Deutsch, Laurent Lafitte. 85 min. Livre. Asterix e Obelix atrapalham os planos de Júlio César, tenta convencer o povo gaulês a se juntar voluntariamente ao império romano para então conquistá-lo. Asterix e o Segredo da Poção Mágica Astérix – Le Secret De La Potion Magique. França, 2018. Direção: Louis Clichy e Alexandre Astier. 85 min. Livre.Na animação, os guerreiros gauleses precisam encontrar um novo guardião para a fórmula da poção mágica preparada por Panoramix. Durante sua busca, eles lutam para evitar que a receita seja descoberta por inimigos. Através do Fogo Sauver ou périr. França, 2018. Direção: Frédéric Tellier. Com: Pierre Niney, Anaîs Demoustier e Chloé Stefani. 116 min. O bombeiro Franck se sacrifica para salvar seus homens em um incÍndio em Paris. Ao acordar no hospital, ele precisa aprender a viver com as cicatrizes. Branca como a Neve Blanche Comme Neige. França/Bélgica, 2019. Direção: Anne Fontaine. Com: Lou de Lage, Isabelle Huppert e Charles Berling. 112 min. Uma jovem que trabalha no hotel de seu falecido pai é odiada pela madrasta, que herda a propriedade. Um dia, o amante da viúva se apaixona pela enteada e eles fogem juntos. Na fazenda para onde se mudam, sete príncipes se apaixonam por ela. A Busca do Chef Ducasse La Quetê d’Alain Ducasse. França, 2017. Direção: Gilles de Maistre. 84 min. Um dos chefs mais celebrados da gastronomia francesa, o monegasco Alain Ducasse tem várias estrelas Michelin em diferentes restaurantes ao redor do mundo. Aqui, ele é acompanhado durante dois anos por uma equipe de filmagens, que mostra sua busca por novos horizontes. Carnívoras Carnivores. França/Bélgica, 2018. Direção: Jérémie Renier e Yannick Renier. Com: Leîla Bekhti, Zita Hanrot e Bastien Bouillon. 86 min. 14 anos. Na trama, duas irmãs sonham em ser atrizes famosas, mas só a mais nova se destaca e consegue trabalho. Sem recursos, a mais velha vai morar com a irmã torna-se sua assistente e a rivalidade entre elas se acentua. Os Cowboys Les Cowboys. França, 2015. Direção: Thomas Bidegain. Com: François Damiens, Finnegan Oldfield e Agathe Dronne. 105 min. 12 anos. Quando a filha de 16 anos de um trabalhador desaparece com o namorado muçulmano, ele vai em busca da menina no submundo da cooptação de jovens europeus por extremistas islâmicos. Foi indicado à categoria Câmera de Ouro do Festival de Cannes de 2015. Cyrano Mon Amour Edmond. França/Bélgica, 2018. Direção: Alexis Michalik. Com: Thomas Solivéres, Olivier Gourmet e Mathilde Seigner. 109 min. 12 anos. Baseado na vida do poeta e dramaturgo francÍs Edmond Rostand (1868-1918), o filme o acompanha à beira dos 30 anos, com dois filhos e em busca de trabalho. Ele então oferece uma comédia, que ainda não escreveu, para uma personalidade do teatro. A obra, “Cyrano de Bergerac”, mais tarde, seria aclamada pela crítica. Leia a crítica. De Carona para o Amor Tout le Monde Debout. França, 2018. Direção: Franck Dubosc. Com: Franck Dubosc, Alexandra Lamy e Elsa Zylberstein. 109 min. 12 anos. Na comédia romântica francesa, um homem bem-sucedido e mentiroso compulsivo tenta seduzir uma jovem fingindo ser deficiente físico. Quando ele conhece a irmã da moça, que é cadeirante, será difícil sustentar a farsa. O Doutor da Felicidade Knock. França, 2017. Direção: Lorraine Levy. Com: Omar Sy, Alex Lutz e Ana Girardot. Médico e ex-criminoso, o doutor Knock convence a população de um vilarejo de que estão doentes, criando sintomas falsos para os pacientes. A Excêntrica Família de Gaspard Gaspard Va au Mariage. França/Bélgica, 2017. Direção: Antony Cordier. Com: Félix Moati, Laetitia Dosch e Christa Théret. 103 min. 14 anos. Quando seu pai casa novamente, um jovem precisa retornar à casa da família, que abriga um pequeno zoológico. Preocupado com as críticas das irmãs, convence uma amiga a se passar por sua namorada. Filhas do Sol Les Filles du Soleil. França/Bélgica/Geórgia/Suíça, 2018. Direção: Eva Husson. Com: Golshifteh Farahani, Emmanuelle Bercot e Zibeyde Bulut. 115 min. 14 anos. As Filhas do Sol, um batalhão de mulheres curdas, atuam ativamente na guerra contra o Estado Islâmico. Em meio a isso, a comandante tenta recuperar seu filho, que foi capturado por inimigos. Exibido nos festivais de Cannes e Toronto de 2018. O Filho Uruguaio Une Vie Ailleurs. França, 2017. Direção: Olivier Peyon. Com: Isabelle CarrÈ, Ramzy Bedia e MarÌa Dupl·a. 96 min. 12 anos. Inspirado em fatos reais, o filme conta a história de uma mulher que resolve ir atrás do filho, em uma cidade no interior do Uruguai, depois que a criança é sequestrada pelo ex-marido. Finalmente Livres En Liberté. França, 2018. Direção: Pierre Salvadori. Com: Adèle Haenel, Pio Marmao e Audrey Tautou. 109 min. 14 anos. A viúva de um chefe de polícia descobre que seu marido era corrupto e que um jovem passou oito anos na prisão como bode expiatório dele. Sem contar com quem era casada, ela tenta ajudar o ex-presidiário agora que ele está em liberdade. Um Gato em Paris Une vie de chat. França, 2010. Direção: Alain Gagnol e Jean-Loup Felicioli. Com: Bruno Salomone, Dominique Blanc e Jean Benguigui. 70 min. Livre. A animação acompanha um gato, Dino, que divide a vida entre duas casas. Durante o dia, fica ao lado da filha de uma delegada de polícia e, à noite, segue um ladrão pelas ruas de Paris. Gauguin – Viagem ao Taiti Gauguin – Voyage de Tahiti. França, 2017. Direção: Edouard Deluc. Com: Vincent Cassel, Tuhei Adams e Malik Zidi. 102 min. 14 anos. O drama biogr·fico francÍs narra a vida do pintor Paul Gauguin (1848-1903), um dos mais importantes artistas do século 19, no Taiti, para onde se mudou em 1891. Graças a Deus Grâce à Dieu. França/Bélgica, 2018. Direção: François Ozon. Com: Melvil Poupaud, Denis Ménochet e Swann Arlaud. 137 min. 14 anos. Um homem que foi abusado sexualmente por um padre durante a inf‚ncia descobre por acaso que o clérigo continua trabalhando com crianças. Ele então se junta a duas outras vítimas para tentar afastá-lo de suas funções. Prêmio do júri no Festival de Berlim. O Imperador de Paris L’Empereur de Paris. França, 2018. Direção: Jean-François Richet. Com: Vincent Cassel, Freya Mavor e Denis Ménochet. 119 min. Único homem a escapar da maior prisão parisiense, François Vidocq, é acusado injustamente de assassinato. Para provar sua inocÍncia e garantir a liberdade, ele se alia à polícia. Inocência Roubada Les Chatouilles. França, 2018. 103 min. 12 anos. Quando chega à vida adulta, uma mulher passa a questionar a relação que um amigo de seus pais mantinha com ela durante a infância. Percebendo que foi abusada, ela mergulha em sua carreira como dançarina para tentar lidar com o trauma. Exibido no Festival de Cannes de 2018. Adaptação da peça da diretora e protagonista Andréa Bescond. Um Instante de Amor Mal de Pierres. França, 2016. Direção: Nicole Garcia. Com: Marion Cotillard, Louis Garrel e Alex Brendemuhl. 116 min. 14 anos. Uma jovem com fortes impulsos sexuais e vista como louca é obrigada pela família a se casar com um homem que não ama. Infeliz e com problemas de saúde, ela é internada pelo marido em uma clínica nos Alpes e acaba se apaixonando por um militar enfermo. Jornada da Vida Yao. França/Senegal, 2018. Direção: Philippe Godeau. Com: Omar Sy, Lionel Louis Basse e Fatoumata Diawara. 104 min. 10 anos. Um famoso ator francês de ascendência senegalesa viaja a Dakar para promover um livro que escreveu. Lá, encontra um garoto de 13 anos que é seu fã e que viajou do interior do país até a capital para conhecê-lo. Comovido, ele abandona seus compromissos e acompanha o jovem em seu caminho de volta para casa. Lulu Nua e Crua Lulu femme nue. França, 2013. Direção: Solveig Anspach. Com: Karin Viard, Bouli Lanners, Pascal Demolon. 87 min. Lulu decide não voltar para casa após uma entrevista de emprego mal sucedida e aproveita o tempo para se conhecer melhor. Luta de Classes La Lutte des Classes. França, 2019. Direção: Michel Leclerc. Com: Leîla Bekhti, Edouard Baer e Ramzy Bedia. 103 min. 12 anos. Um jovem francÍs de nove anos é transferido para uma escola pública após seus pais saírem do centro de Paris para morar no subúrbio. Quando seus amigos mais próximos vão estudar em uma instituição católica, ele se torna a única criança branca em meio à maioria, de ascendÍncia árabe. Marvin Marvin ou La Belle Éducation. França, 2017. Direção: Anne Fontaine. Com: Finnegan Oldfield, Grégory Gadebois e Vincent Macaigne. 114 min. 16 anos. Inspirado no livro “O Fim de Eddy”, de Édouard Louis, o filme narra a história de garoto que busca se afastar, primeiro do vilarejo onde nasceu, depois da família e da rejeição das pessoas. Até que ele descobre no teatro uma forma de se expressar. O Menino da Floresta Le Jour des Corneilles. França, 2011. Direção: Jean-Christophe Dessaint. Com: Jean Reno, Lorant Deutsch e Isabelle Carré. 95 min. Livre. Nesta animação, o pai impede o filho de sair da floresta vivem, fazendo com que o menino cresça como um selvagem, sem saber da existência de um mundo exterior. Quando é forçado a sair da floresta, ele descobre o mundo e conhece uma menina chamada Manon. Meu Bebê Mon Bébé. França/Bélgica, 2019. Direção: Lisa Azuelos. Com: Sandrine Kiberlain, Thaós Alessandrin e Victor Belmondo. 87 min. 12 anos. Mãe de três filhos, uma mulher está prestes a ver o último deles sair de casa para estudar no Canadá. Ela então percebe que...
Recluso há anos, Jean-Luc Godard faz live de quase duas horas no Instagram
Recluso há muitos anos, sem dar sequer entrevistas presenciais, Jean-Luc Godard surpreendeu o mundo por participar nesta terça (7/4) de uma live no Instagram, que durou quase duas horas – 1h40, para ser preciso. Em bate-papo com Lionel Baier, diretor da ECAL (Escola de Arte de Lausanne), Godard falou de cinema, linguagem, literatura, pintura, palavra e ciência nesses tempos de coronavírus, sem sair de sua casa em Rolle, na Suíça. Vale lembrar que, antes disso, sua última entrevista pública tinha sido por meio de Facetime, no Festival de Cannes de 2018, quando também falou com a imprensa sem sair de casa. Na ocasião, competia pela Palma de Ouro com o filme experimental “Imagem e Palavra”. Godard iniciou a conversa lamentando o cancelamento dos tradicionais torneios de tênis de Wimbledom e Roland Garros, que acompanhava pela TV. Questionado sobre o que estava vendo na TV, ele confessou que não assiste muito à programação. “Mas às vezes vejo se passa algum filme antigo que quero rever”, ressaltou. E seguiu seus comentários com um raciocínio picotado, saltando entre temas ou retomando assuntos anteriormente abordados, num fluxo muitas vezes desencontrado. Por exemplo, quando o diretor lembrou do trabalho do fotógrafo francês Pierre Bonnard (1867-1946), observou: “Pintar com o pincel não é a mesma coisa que escrever (com um lápis), é outra forma de expressão. A linha da escrita (faz mímica) diz quase nada. A sala escura (de revelação de fotos) é como a caverna do Platão, a gente fixa a realidade sobre o papel.” E quando Baier perguntou se a ideia da caligrafia e da escrita era uma coisa plástica em seu trabalho, saiu-se assim: “Sim. O primeiro livro de filosofia que me marcou foi do Brice Parain (que participou do filme ‘Viver a Vida’, do próprio Godard), escritor e filósofo francês que escreveu ‘Recherches sur la nature et le fonction du language’ (1943). Para mim, a linguagem não é o idioma. Talvez um ou outro sejam diferentes, com origens únicas, como o basco (euskera) e o finlandês. A linguagem é outra coisa, como a pintura e todos os grande escritores, como James Joyce, que buscavam ir mais além do que é a língua falada. Meu último filme é um pouco primitivo, mas a palavra é minha voz, vem da minha garganta, não da minha língua. A pintura é ação com a mão. Escrever no computador não é.” Ele ainda comparou o cinema com a ciência. “O cinema é um pouco como um antibiótico.” E relembrou do passado, admitindo sentir falta de conversar sobre cinema com colegas da nouvelle vague, como Eric Rohmer, Jacques Rivette e François Truffaut, todos já falecidos. Veja abaixo a íntegra da live, em francês.
A Terra e o Sangue: Batalha sangrenta marca trailer de filme de ação da Netflix
A Netflix divulgou 30 fotos e o trailer de “A Terra e o Sangue” (La Terre et le Sang), produção francesa dirigida por Julien Leclercq. Quase sem diálogos ou explicações, a prévia destaca cenas tensas, repletas de ação e violência, numa mostra do estilo direto e reto do diretor de “Carga Bruta” (2015) e “O Resgate” (2010). A trama se resume a um batalha campal. Depois de décadas cuidando de uma serraria onde dá emprego a ex-detentos e delinquentes juvenis, Said recebe a visita indesejada de um cartel. Um de seus empregados foi forçado a esconder uma grande quantidade de cocaína dentro da serraria, que, por conta disso, vira terreno de uma luta armada sangrenta. O papel de Said é vivido por Sami Bouajila, que costuma estrelar os filmes de Leclercq – está em “Carga Bruta” e no mais recente “The Bouncer” (2018), por exemplo – , e o elenco ainda destaca Carole Weyers (da série “Manhattan”) como a filha do protagonista, Samy Seghir (“7 Dias em Entebbe”) como o delinquente que precipita a situação e Eriq Ebouaney (“Domino”) encarnando o líder da gangue. A estreia está marcada para 17 de abril.
Tonie Marshall (1951 – 2020)
A diretora Tonie Marshall, única mulher a receber o prêmio César (o Oscar francês) na categoria de Melhor Direção – por “Instituto de Beleza Vênus” – , faleceu nesta quinta-feira (12/3), aos 68 anos, em “decorrência de uma longa doença”, informou sua agente. Filha da atriz francesa Micheline Presle e do ator e cineasta americano William Marshall, Tonie iniciou sua carreira como atriz em 1972 em “Um Homem em Estado… Interessante”, de Jacques Demy. Engajada, membro do coletivo 50/50 em favor da igualdade entre homens e mulheres no cinema, ela passou à direção em 1990 com “Pentimento”. Ao todo, assinou nove longas-metragens, incluindo o premiado “Instituto de Beleza Vênus”, estrelado por Audrey Tautou em 1999. Seus últimos filmes foram a comédia “Sexo, Amor e Terapia” (2014), com Sophie Marceau, e “A Número Um” (2017), com Emmanuelle Devos, em que examinou o machismo do mundo dos grandes negócios. “Tonie lutou e Tonie acaba de partir. Na vida, como em seus filmes, ela nos comoveu muitas vezes, nos fez sorrir lindamente, ela sempre nos seduziu. Tonie era forte e atenciosa, comprometida e delicada”, reagiu no Twitter o presidente do Festival de Cannes, Pierre Lescure. A secretária de Estado da França para a Igualdade de Gênero, Marlène Schiappa, também expressou sua “tristeza pelo anúncio da morte da talentosa e generosa Tonie Marshall”. Para a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, “Tonie Marshall nos deixa com um feminismo íntimo, cáustico e mais relevante do que nunca”.










