Diretoria da Academia francesa renuncia após indicações de Roman Polanski ao César 2020

A diretoria da Academia das Artes e Técnicas Cinematográficas da França, responsável pelo César, premiação francesa equivalente ao Oscar, anunciou sua renúncia nesta quinta (13/2), em resposta às polêmicas indicações recebidas pelo […]

Instagram/César

A diretoria da Academia das Artes e Técnicas Cinematográficas da França, responsável pelo César, premiação francesa equivalente ao Oscar, anunciou sua renúncia nesta quinta (13/2), em resposta às polêmicas indicações recebidas pelo novo filme de Roman Polanski a seu prêmio anual. O drama de época “Um Oficial e um Espião” (J’Accuse) é o filme que disputa mais categorias na cerimônia de 2020.

O longa de Polanski tem 12 indicações, superando “Os Miseráveis”, que disputou o Oscar de Melhor Filme Internacional, e outro favorito, “La Belle Époque”, ambos com 11 nomeações cada.

Grupos feministas haviam repudiado as indicações, depois de terem convocado um boicote ineficaz contra o filme. Mas seus protestos ganharam reforço de dezenas de personalidades da indústria cinematográfica – incluindo o ator de “Os Intocáveis” Omar Sy e a atriz Berenice Bejo, do filme “O Artista” – , que denunciaram a “opacidade” da Academia em uma carta aberta, criando um clima tenso para a realização da cerimônia de premiação.

“Para honrar os que fizeram filmes em 2019, para reconquistar serenidade e tornar o evento de cinema uma celebração, o conselho de diretores tomou uma decisão unânime de renunciar”, anunciou a Academia francesa em nota oficial.

A demissão coletiva aconteceu a apenas duas semanas da data de entrega dos prêmios, marcada para 28 de fevereiro, em Paris.

A exibição de “O Oficial e o Espião” nos cinemas enfrentou protestos feministas na França, após o surgimento de mais uma acusação de estupro contra o diretor, que, como as demais, teria acontecido há várias décadas.

Polanski chegou a ser expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA em 2018, quando o movimento #MeToo relembrou seu caso histórica e incentivou o surgimento de novas acusações sobre o passado do diretor. Na ocasião, o diretor chamou a atitude de hipocrisia, já que sua condenação por abuso de menor era pública desde os anos 1970, e isso não impediu a Academia americana de lhe consagrar com um Oscar, por “O Pianista” (2002).

Contrariando a nova posição dos organizadores do Oscar, o presidente da Academia Francesa, Alain Terzian, chegou a dizer que o César “não deve adotar posições morais”, ao anunciar os indicados. “Se eu não estiver equivocado, 1,5 milhão de franceses assistiram ao filme”, completou.

De fato, a estreia de “O Oficial e o Espião” foi a mais bem-sucedida da carreira de Polanski, batendo o recorde de público de sua trajetória como cineasta, apesar da tentativa de boicote feminista, alimentada pela declaração da fotógrafa Valentine Monnier, dias antes, de que tinha sido violentada por Polanski em 1975, quando ela tinha 18 anos. O diretor negou a acusação por meio de seu advogado.

Polanski é considerado foragido da Justiça dos Estados Unidos, onde em 1977 foi condenado de estuprar uma menina de 13 anos.

Além das indicações ao César, “O Oficial e o Espião” também concorreu ao prêmio da Academia Europeia, mas perdeu. Em compensação, venceu o Grande Prêmio do Júri do Festival de Veneza no ano passado.

O filme será exibido no Brasil a partir de 13 de março.