A escritora J.K. Rowling voltou a ser centro de polêmica na segunda-feira (1/4), ao publicar novos comentários considerados transfóbicos em sua conta no X (antigo Twitter). A criadora de “Harry Potter” criticou a recente lei contra crimes de ódio, que entrou em vigor na Escócia, porque ela também protege indivíduos transexuais. Lançando um desafiando à legislação, ela disse estar “ansiosa para ser presa” devido às suas opiniões.
Em outubro, ela já tinha dito que “aceitaria feliz” a prisão, se a lei fosse aprovada, o que acabou acontecendo neste semana. Agora, a autora britânica enumerou vários impactos que acredita serem negativos da nova lei, incluindo a eliminação de espaços segregados por sexo, o registro de crimes cometidos por homens como se fossem femininos, a participação de homens em esportes femininos, entre outros.
“Os legisladores escoceses parecem ter dado maior valor aos sentimentos dos homens que desempenham sua ideia de feminilidade, mesmo que de forma misógina ou oportunista, do que aos direitos e liberdades das mulheres e meninas reais”, escreveu ela.
Apesar da controvérsia gerada por suas declarações, a polícia escocesa informou que os comentários de Rowling não são considerados criminosos, indicando que não haverá ações adicionais contra a escritora.
Histórico de polêmicas
Não é de hoje que J.K. Rowling se declara inimiga da comunidade trans. A autora vem acumulando críticas por seus comentários discriminatórios desde 2019, quando apoiou Maya Forstater, uma pesquisadora britânica demitida, justamente, por fazer comentários transfóbicos, escrevendo no Twitter que “homens não podem se transformar em mulheres”.
Em 2020, ela criticou uma matéria que utilizava a expressão “pessoas que menstruam” ao invés de “mulheres”, alegando que tal terminologia apagava a experiência de mulheres cisgênero, desconsiderando a inclusão de homens trans que também podem menstruar.
Mais recentemente, ela manifestou apoio a um ativista anti-trans, que havia sido temporariamente banido de uma rede social por comentários ofensivos, celebrando sua reinstalação com um “bem-vindo de volta”. Rowling também publicou uma foto de um muro pixado com a inscrição “Repita conosco: mulheres trans são mulheres”, para retrucar com um simples e direto “Não”.
Preconceito por escrito
Não bastasse isso, o preconceito chegou às suas obras. No livro “Sangue Revolto” (Troubled Blood), do personagem Cormoran Strike, a escritora deu vazão a seus devaneios contra transexuais, criando um assassino em série que vestia roupas femininas para matar mulheres. Antes de lançar este livro, ela se declarou preocupada com a chance de transexuais abusarem sexualmente de mulheres cisgênero em banheiros. De acordo com a avaliação de Jake Kerridge, crítico do jornal britânico The Telegaph, o livro reforçava essa mensagem com a seguinte moral da história: “nunca confie em um homem de vestido”.
Rowling assina essa coleção de livros de crimes com o pseudônimo de Robert Galbraith, mesmo nome de um psiquiatra norte-americano famoso por experimentar, na década de 1950, a terapia de conversão sexual. Ironicamene, Galbraith não deixa de ser uma identidade trans da escritora.
Reação da comunidade de “Harry Potter”
As declarações de Rowling sobre gênero e identidade trans têm impactado a comunidade de fãs de “Harry Potter”. Figuras proeminentes da franquia cinematográfica, como o trio de protagonistas Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson, manifestaram contrariedade explícita com as posições da autora. Entretanto, a autora acredita que muitos fãs dos seus livros ficaram felizes com seus comentários. Daniel Radcliffe chegou a publicar um pedido de desculpas em seu nome para a comunidade trans.
A propósito dessa felicidade, os dois maiores fã-clubes de Harry Potter, MuggleNet e The Leaky Cauldron, divulgaram um comunicado conjunto em apoio às pessoas trans e rejeitando os comentários reiterados por Rowling. “Embora seja difícil falar contra alguém cujo trabalho há tanto tempo admiramos, seria errado não usar nossas plataformas para combater os danos que ela causou”, diz o texto.
A controvérsia em torno das declarações de Rowling acontece no momento em que a Warner Bros. tenta transformar a saga “Harry Potter” numa série.