Uma escola britânica decidiu rebatizar um de seus prédios para tirar o nome da escritora J.K. Rowling, criadora de “Harry Potter”, devido às polêmicas declarações da autora sobre questões de transexualidade, que lhe valeram acusações de transfobia.
A Boswells School, em Chelmsford, no leste da Inglaterra, que atende alunos de 11 a 18 anos, explicou que mudou o nome do prédio para homenagear a medalhista de ouro olímpico Kelly Holmes.
“Na Boswells School, promovemos uma comunidade escolar inclusiva e democrática, onde estimulamos os alunos a se desenvolverem como cidadãos autoconfiantes e independentes”, disse o diretor da instituição, Stephen Mansell.
Os seis edifícios da instituição foram nomeados em homenagem a “destacados cidadãos britânicos”. “No entanto, após os vários pedidos de alunos e funcionários, estamos revisando o nome da nossa casa vermelha ‘Rowling’, à luz dos comentários e opiniões de J.K. Rowling sobre pessoas trans”, explicou.
Rowling também não apareceu no recente reencontro com o elenco dos filmes de “Harry Potter”, disponibilizado pela HBO Max, após ser criticada pelos principais intérpretes da saga e rejeitada até por comunidades de fãs de “Harry Potter”. Oficialmente, ela teria dito que as imagens de arquivo seriam suficientes.
Mas sua postura transfóbica, disfarçada de feminismo, criou atrito com Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint, que renegaram os argumentos da criadora de “Harry Potter”, colocando-se ao lado das pessoas transexuais.
A cruzada de Rowling veio à tona há pouco mais de um ano, quando usou o Twitter para criticar uma reportagem que citava “pessoas que menstruam” para designar indivíduos do sexo feminino. “Tenho certeza que costumava existir uma palavra para essas pessoas”, escreveu ela, insinuando que a matéria deveria dizer apenas “mulheres”. Ela fez questão de esquecer que homens trans podem menstruar.
Logo em seguida, a escritora acirrou sua campanha, explorando a descrição mais sensacionalista possível, ao considerar transexuais como estupradores em potencial.
“Eu me recuso a me curvar a um movimento que eu acredito estar causando um dano demonstrável ao tentar erodir a ‘mulher’ como uma classe política e biológica e oferecer cobertura a predadores como poucos antes dele”, ela escreveu. “Quando você abre as portas dos banheiros e dos vestiários para qualquer homem que acredite ser ou se sinta mulher – e, como já disse, os certificados de confirmação de gênero agora podem ser concedidos sem a necessidade de cirurgia ou hormônios -, você abre a porta a todo e qualquer homem que deseje entrar. Essa é a verdade simples”, disse a autora.
A declaração foi confrontada por ninguém menos que Nicole Maines, estrela de “Supergirl” que viveu a primeira super-heroína transexual da TV. Ela se tornou conhecida aos 15 anos de idade por enfrentar o mesmo preconceito defendido por Rowling, sendo constantemente humilhada e impedida de frequentar o banheiro feminino de sua escola. Como também não podia ir ao banheiro masculino, onde sofria bullying, sua família entrou com uma ação na Justiça contra discriminação. Em junho de 2014, a Suprema Corte dos Estados Unidos concluiu que o distrito escolar havia violado seus direitos humanos. A família Maines recebeu uma indenização de US$ 75 mil todas as escolas americanas foram proibidas de impedir alunos transgêneros de entrar no banheiro com qual se identificassem.
Inconformada, Rowling foi adiante, escrevendo um livro sobre um assassino travesti, “Sangue Revolto” (Troubled Blood), lançado no ano passado dentro da coleção de mistérios do detetive Cormoran Strike.
Rowling também defendeu uma pesquisadora demitida após protestar contra mudanças de leis britânicas que passaram a reconhecer os direitos de pessoas transexuais, escrevendo no Twitter que “homens não podem se transformar em mulheres”.
Embora não tenha comentado as críticas que recebeu dos intérpretes dos filmes de “Harry Potter”, ela apagou um elogio a Stephen King nas redes sociais após escritor defender mulheres trans. Foi além: devolveu um prêmio humanitário que recebeu da fundação de Direitos Humanos batizada com o nome do falecido senador Robert F. Kennedy após Kerry Kennedy, filha do célebre político americano, manifestar sua “profunda decepção” com os comentário transfóbicos.
Daniel Radcliffe chegou a tuitar um pedido de desculpas em seu nome para a comunidade trans.