A atriz Scarlett Johansson rompeu o piquete virtual do movimento #MeToo para defender o cineasta Woody Allen em entrevista de capa da revista The Hollywood Reporter. Estrela de três filmes do cineasta nos anos 2000, ela disse acreditar na inocência do diretor em relação à denúncia da filha, Dylan Farrow, de que ele a teria molestado quando tinha um relacionamento com sua mãe, a atriz Mia Farrow.
Johansson trabalhou com Allen em “Match Point” (2005), “Scoop – O Grande Furo” (2006) e “Vicky Cristina Barcelona” (2008), numa fase criativa que representou o renascimento da carreira do diretor em contato com paisagens europeias. “Eu amo Woody. Eu acredito nele e trabalharia com ele a qualquer momento”, declarou a estrela.
“Eu vejo Woody sempre que posso, e tive conversas com ele sobre isso. Eu fui muito direta com ele, e ele foi muito direto comigo. Ele mantem a sua inocência, e eu acredito nele”, completou.
Johansson reconhece que esta não é uma opinião capaz de vencer concurso de popularidade em Hollywood neste momento. Vários astros de filmes de Allen, como Marion Cotillard, Mia Sorvino, Greta Gerwig, Colin Firth e até Rebeca Hall, com quem Scarlett contracenou em “Vicky Cristina Barcelona”, expressaram arrependimento por trabalhar com o diretor, e ele entrou em litígio com a Amazon, que se recusou a lançar seu filme mais recente, “Um Dia de Chuva em Nova York” (2019), e optou por descumprir contrato firmado de distribuição de novos projetos.
“É difícil, porque as pessoas estão muito envolvidas [em ativismo] no momento, e isso é compreensível. As coisas precisavam mudar, e então as pessoas estão muito apaixonadas, têm muitos sentimentos e estão com raiva, o que faz sentido. É um momento muito intenso”, definiu.
As acusações, porém, não são novas, apesar de ganharem mais força após Dylan Farrow aproveitar o movimento #MeToo para desenterrar suas denúncias, reafirmando ter sido molestada quando criança por Allen, há cerca de três décadas.
Allen sempre negou tudo, creditando a acusação à lavagem cerebral promovida pela mãe da jovem, Mia Farrow. Outro de seus filhos, Moses Farrow, confirma a versão de Allen, que não foi condenado quando o caso foi levado a tribunal em 1990, durante a disputa da guarda das crianças. A denúncia, porém, fez com que perdesse a guarda dos filhos, objetivo de Mia Farrow.
O mais importante a destacar é que ele nunca foi acusado de abuso ou assédio por nenhuma outra mulher, tendo levado várias atrizes a vencerem o Oscar por desempenhos em seus filmes. Mesmo as que juram jamais voltar a trabalhar com ele não tem nada negativo a relatar, além do extremo distanciamento do diretor. São meio século de carreira sem uma queixa sequer.
Sem outras histórias que reforcem a acusação, o caso se resume à recordação de Dylan, aos sete anos de idade, durante o período tenso de separação entre Mia Farrow e Woody Allen, que trocou a ex pela filha adotiva dela, Soon-Yi (que não era adotada por Allen, como Dylan). Foi realmente um período polêmico e escandaloso, mas Allen e Soon-Yi se casaram, estão juntos desde então e também adotaram duas filhas que parecem adorar os pais.
O fato é que os amigos de Woody Allen diminuíram muito após o ressurgimento das denúncias, mas alguns mais antigos, como Diane Keaton, e outros que reconhecem a contribuição de Allen para suas carreiras, como Penelope Cruz, ficaram do lado do diretor. Cruz, que venceu o Oscar por “Vicky Cristina Barcelona”, voltará inclusive a trabalhar com o diretor em seu próximo filme, atualmente em produção na Espanha.
O último filme rodado por Allen, “Um Dia de Chuva em Nova York”, chega ao Brasil em 26 de dezembro.