Filho diz que Woody Allen é vítima do verdadeiro monstro da família, sua mãe Mia Farrow

Nem todos os filhos de Woody Allen pintam o pai como um monstro pedófilo. Para Moses Farrow, por exemplo, Woody Allen é uma vítima do verdadeiro monstro da família, sua mãe Mia […]

Nem todos os filhos de Woody Allen pintam o pai como um monstro pedófilo. Para Moses Farrow, por exemplo, Woody Allen é uma vítima do verdadeiro monstro da família, sua mãe Mia Farrow.

Não é a primeira vez que ele diz isso, em frontal desacordo com o relato da irmã Dylan, que acusa o pai de abuso sexual, e do irmão Ronan, um dos repórteres mais importantes na denúncia que derrubou o magnata Harvey Weinstein e deu início a uma grande limpeza em Hollywood, marcando o fim da tolerância com predadores.

Mas esta é a primeira vez que ele defende o pai adotivo sem ninguém lhe perguntar.

Moses, que foi adotado ainda bebê na Coréia do Sul por Mia Farrow e depois co-adotado por Allen em 1991, virou terapeuta especializado no atendimento de famílias. E lida com relatos muito parecidos com o que diz ter experimentado em sua vida pessoal. Isto o inspirou a desabafar na quarta-feira (23/5) em seu blogue.

No longo texto, intitulado “Um Filho Fala”, Moses afirma ter visto Mia Farrow maltratar fisicamente seus irmãos até deixá-los “fisicamente incapacitados, arrastando-os por um lance de escadas para serem jogados em um quarto ou em um armário, então tendo a porta trancada do lado de fora”.

Ele alega que sua irmã adotiva, Soon-Yi Previn, “era bode expiatório mais frequente”. Em 1992, Allen teve um caso com Soon-Yi, com quem se casou mais tarde, terminando seu relacionamento com Mia Farrow e iniciando a batalha pela custódia de seus filhos, tanto biológicos quanto adotivos, que culminou na denúncia de Dylan, então com sete anos de idade.

“Quando Soon-Yi era jovem, Mia certa vez jogou uma grande peça de porcelana na cabeça dela. Felizmente ela errou, mas as peças quebradas atingiram suas pernas”, afirma Moses. “Anos depois, Mia bateu nela com um telefone.”

Estas lembranças já tinham sido trazidos à público anteriormente, durante conversas com o escritor Eric Lax para uma biografia de Woody Allen. Na ocasião, Moses também comentou sobre as alegações de sua irmã Dylan, de que Allen a molestou quando criança, alegando que o cineasta nunca fez nada parecido.

Em seu post no blog, Moses reforçou sua posição de que Allen — que nunca foi condenado e que negou as alegações de Dylan por décadas — é inocente.

Para ele, sua irmã mais nova jamais foi molestada por Woody Allen, mas isso não a impede de ter sido uma vítima de assédio. Vítima de uma campanha de manipulação da mãe, Mia Farrow.

Na época em que Dylan Farrow disse ter sido alvo de abusos por parte de Allen, Mia já travava uma luta diária contra o diretor. Fazia sete meses desde que atriz descobrira a relação entre a sua filha adotiva Soon-Yi e o então parceiro Woody Allen – o casal está junto até hoje. Segundo Moses, tudo o que se ouvia em sua casa naquele período era que Woody era “maldoso, um monstro, o diabo”, e que Soon-Yi “estava morta” para eles.

“A minha mãe era a nossa única fonte de informação sobre Woody – e ela era extremamente convincente”, ele descreve. “Também tínhamos aprendido repetidamente que ir contra a sua vontade trazia repercussões horríveis.”

Moses vai direto ao ponto, ao descrever o dia em que o suposto abuso teria acontecido. Quando Woody Allen foi passar o dia com as crianças na casa de Connecticut – enquanto Mia foi às compras – , todos estavam em estado de alerta, graças à campanha de sua mãe, de que o diretor era o mal encarnado.

Ele afirma que havia cinco crianças e três adultos na casa na ocasião – duas babás e uma professora de francês, e “que todos tinham sido instruídos durante meses que Woody era um monstro. Portanto, nenhum de nós teria permitido que Dylan se afastasse com Woody, mesmo que ele tentasse”, garante, afirmando que seu pai nunca ficou sozinho com a irmã no dia em que supostamente a teria abusado.

O rapaz afirma que as pessoas se basearam na relação entre Woody e Soon-Yi (que nunca foi sua filha adoptiva) para se convencerem de que as alegações de Dylan eram verdadeiras. “Sim, [a relação] era pouco ortodoxa, desconfortável, perturbadora para a nossa família e magoou terrivelmente a minha mãe. Mas a relação, por si só, não foi tão arrasadora para a nossa família como a insistência da minha mãe em fazer da sua traição o centro das nossas vidas desde então”.

O terapeuta aponta ainda algumas incongruências na versão dos acontecimentos descrita por sua irmã mais nova, como o trenzinho de brinquedo que Dylan associa ao momento do abuso. Segundo sua acusação, Woody a teria distraído com o brinquedo enquanto a tocava. Mas o trenzinho não estava no lugar em que a jovem afirma ter sido abusada.

Para Moses, na idade de Dylan seria normal que o reforço da acusação e da repetição da história substituísse a realidade. E ele lembra que a mãe ensaiou o que ele devia dizer no julgamento de custódia.

Na sua opinião, tanto de testemunha dos fatos e como expert em terapia familiar, a falta de nexo da acusação deveria ser suficientes para que as pessoas tivessem menos vontade de jogar pedras num homem que, para ele, sempre foi inocente.

Ao final, Moses dirige-se às pessoas que vieram à público, após a pressão do movimento #MeToo, se dizer arrependidas por terem trabalhado com o seu pai no passado: “Precipitaram-se ao se juntar a um coro de condenação com base numa acusação desacreditada [por múltiplas investigações], por medo de não estarem no lado ‘certo’ deste grande movimento social”.

Ele deixou ainda uma mensagem para a irmã: “Desejo paz e sabedoria para que você possa compreender que dedicar sua vida a ajudar a nossa mãe a destruir a reputação do nosso pai não lhe trará, provavelmente, nenhum consolo.”