Morre Udo Kier, ator cult de “Bacurau” e “O Agente Secreto”
Ator alemão de 81 ano trabalhou com Andy Warhol, Dario Argento, Rainer Werner Fassbinder, Lars von Trier, Quentin Tarantino e Kleber Mendonça Filho
Estreias no cinema incluem novo filme de Leonardo DiCaprio e maior bilheteria da animação
"Uma Batalha Após a Outra" e "Ne Zha 2" chegam ao Brasil após conquistarem feitos entre a crítica e o público no exterior
Sebastião Salgado, maior fotógrafo do Brasil, morre aos 81 anos
Brasileiro que inspirou documentário de Wim Wenders faleceu após complicações de malária contraída em 2010, deixando acervo de obras marcantes e trajetória reconhecida globalmente
Vida do Papa Francisco inspirou o cinema. Conheça os filmes que o retrataram
Produções dramatizaram a juventude, os dilemas e o pensamento do pontífice argentino em diferentes formatos e estilos
“Emilia Pérez” vence e faz história no European Film Awards com primeira atriz trans premiada
Filme de Jacques Audiard vence as principais categorias do European Film Awards, incluindo Melhor Filme, Direção e Atriz
Longa francês vence Palma de Ouro em 3ª vitória feminina da História do Festival de Cannes
O longa francês “Anatomy of a Fall” (“Anatomie d’une Chute”, no original) foi o vencedor do Palma de Ouro deste ano, o principal prêmio do Festival de Cannes. O filme é um drama jurídico que busca investigar a culpa ou inocência de uma romancista popular (Sandra Hüller), que é acusada de assassinar o marido. No entanto, o foco acaba sendo o próprio casamento do casal, trazendo detalhes íntimos de suas vidas pessoais para serem dissecados pelo tribunal, imprensa e público como se estivessem sendo examinados microscopicamente. Com a vitória, a diretora do longa, Justine Triet (“Sibyl”), tornou-se a terceira mulher a receber a Palma de Ouro, seguindo os passos de Jane Campion por “O Piano” (1993) e Julia Ducournau, diretora de “Titane” (2021), que fez parte do júri deste ano. O prêmio foi entregue pela atriz veterana Jane Fonda (“Grace and Frankie”), que exaltou o progresso do festival em termos de representação feminina. Este ano, o evento francês bateu seu recorde de mulheres concorrendo ao Palma de Ouro, com seis diretoras – ainda muito abaixo da quantidade dos 15 homens. Em seu discurso de agradecimento, Triet fez questão de reconhecer os protestos contra a reforma da previdência francesa, que teve manifestações barradas no festival. “Anatomy of a Fall” ainda não tem previsão de estreia no Brasil, mas será lançado na França em agosto. No ano passado, o grande prêmio foi concedido a “Triângulo da Tristeza”, do diretor Ruben Östlund (“O Quadrado”), que presidiu o júri deste ano. Além do cineasta, os atores Paul Dano (“O Batman”) e Brie Larson (“Velozes e Furiosos 10”) estavam entre os jurados que elegeram o filme de Triet como o melhor do festival e distribuíram os demais troféus da mostra competitiva. O Grande Prêmio do Juri, considerado a Palma de Prata, foi concedido ao longa “The Zone of Interest” (“A Zona do Interesse”, em tradução livre). O longa foi dirigido pelo inglês Jonathan Glazer (“Sob a Pele”) e é uma adaptação da obra de Martin Amis, escritor que faleceu logo após o filme estrear no festival. A trama é situada durante a 2ª Guerra Mundial e retrata a vida privada de um comandante alemão (Christian Friedel), responsável pela execução de inúmeros judeus em Auschwitz, além de seu relacionamento com a esposa (Sandra Hüller). O prêmio de Melhor Direção foi concedido a Tran Anh Hung (“Amor Eterno”) por “The Pot au Feu”. O filme se passa na França do século 19 e apresenta uma paixão compartilhada entre um renomado gourmet (Benoît Magimel) e sua cozinheira (Juliette Binoche), que se estende da cozinha para suas vidas pessoais. Ao aceitar o prêmio, o diretor agradeceu à sua esposa “e cozinheira”. O prêmio de Melhor Ator foi concedido a Kōji Yakusho (“Sob o Céu Aberto”), que interpreta um homem da classe trabalhadora de Tóquio em “Perfect Days”, de Wim Wenders (“O Sal da Terra”). O filme do cineasta alemão também venceu a Palma Queer, de Melhor Filme de temática LGBTQIAP+ Enquanto isso, o prêmio de Melhor Atriz ficou com a atriz turca Merve Dizdar (“Masumlar Apartmanı”), por seu papel como uma professora de uma escola rural que desafia o protagonista masculino egocêntrico em “About Dry Grasses”, dirigido por Nuri Bilge Ceylan (“A Árvore dos Frutos Selvagens”). O roteirista Sakamoto Yūji (“We Made a Beautiful Bouquet”) ainda foi premiado por seu roteiro no filme “Monster”, enquanto o diretor finlandês Aki Kaurismaki (“O Outro Lado da Esperança”) levou o Prêmio do Júri (3º lugar) por “Fallen Leaves”. Para completar, a categoria do Palma de Ouro de Melhor Curta-metragem consagrou “27”, da diretora Flóra Anna Buda (“Court-circuit”), e o Prêmio Camera D’Or da Quinzena dos Cineastas foi entregue a “Bên Trong Vo Ken Vang”, de Thien An Pham (“Stay Awake, Be Ready”). O prêmio de Melhor Documentário do festival não foi anunciado e será revelado mais tarde. Confira abaixo a lista completa dos filmes premiados. Palma de Ouro “Anatomy of a Fall”, Justine Triet Grande Prêmio do Júri “The Zone of Interest”, Jonathan Glazer Prêmio do Júri “Fallen Leaves”, Aki Kaurismaki Melhor Direção Tran Anh Hung, “The Pot au Feu” Melhor Ator Kōji Yakusho, “Perfect Days” Melhor Atriz Merve Dizdar, “About Dry Grasses” Melhor Roteiro Sakamoto Yûji, “Monster” Câmera de Ouro (melhor filme de estreia) “Inside the Yellow Cocoon Shell,” Thien An Pham Palma Queer (melhor filme LGBTQIA+) “Monster” Palma de Ouro de Curta “27”, Flóra Anna Buda Menção Especial de Curta “Fár”, Gunnur Martinsdóttir Schlüter
Festival de Cannes começa com polêmica, volta de brasileiros e recorde de cineastas femininas
O 76º Festival de Cannes inicia nesta terça-feira (16/5), em meio a críticas e mudanças. Após uma versão simbólica em 2020 e uma mais enxuta em 2021, o festival reconquista neste ano o seu posto como a maior e mais glamourosa plataforma da indústria no planeta. Saudado por sua importância na revelação de grandes obras, que pautarão o olhar cinematográfico pelo resto do ano, o evento francês também costuma enfrentar críticas por elencar personalidades envolvidas em escândalos. Neste ano, o evento abrirá com a exibição do drama histórico “Jeanne du Barry” (fora de competição), estrelado por Johnny Depp (“Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald”), que está recuperando sua imagem após ser acusado de agredir e violentar sua ex-esposa, Amber Heard. Em relação às críticas, o diretor do evento, Thierry Fremaux, afirmou não se importar com o julgamento do ator. “Não conheço a imagem de Johnny Depp nos Estados Unidos. Não sei o que é, Johnny Depp só me interessa como ator. Sou a pessoa menos indicada para falar de tudo isso, porque se há alguém que não se interessou por este mesmo julgamento midiático, sou eu”, declarou Frémaux. Esta não é a primeira vez que o evento é criticado por ignorar pautas femininas. O festival, que estendeu tapete vermelho para Woody Allen exibir “Meia-Noite em Paris” e “Café Society” (durante o auge do #MeToo), também “perdoou” o cineasta Lars von Trier (“Melancolia”), acusado pela cantora Björk de assédio sexual. Neste ano, porém, há uma pequena mudança: dentre os 19 filmes competindo pela Palma de Ouro (premiação máxima), seis deles são dirigidos por mulheres – um recorde para o festival. São eles: “Club Zero” de Jessica Hausner; “Les Filles D’Olfa” de Kaouther Ben Hania; “Anatomie D’une Chute” de Justine Triet; “La Chimera” de Alice Rohrwacher; “L’Ete Dernier” de Catherine Breillat e “Banel Et Adama” de Ramata-Toulaye Sy. O Festival de 2023 também bateu recorde de mulheres selecionadas fora da competição principal – ou seja, incluindo mostras alternativas como a Un Certain Regard e exibições especiais. São 14 títulos dirigidos por mulheres entre os 51 anunciados. Depois da ausência no ano passado, o cinema brasileiro também retorna em grande estilo em 2023. O país está sendo representado por quatro longas-metragens na programação: “A Flor do Buriti” , dirigido por João Salaviza (“Russa”) e Renée Nader Messora (“Chuva e Cantoria na Aldeia dos Mortos”), na mostra Um Certo Olhar; “Levante”, de Lillah Halla (“Menarca”), na Semana da Crítica; “Nelson Pereira dos Santos — Uma Vida de Cinema”, dirigido por Aída Marques (“Estação Aurora”) e Ivelise Ferreira (“A Música Segundo Tom Jobim”), na Cannes Classics; e “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho (“Bacurau”), nas Sessões Especiais. Para completar, o cineasta cearense Karim Aïnouz (“A Vida Invisível”) dirige a produção britânica “Firebrand”, que está competindo pela Palma de Ouro. Aïnouz comentou sobre a importância da exibição de longas brasileiros no festival. “É lindo ter essa presença brasileira em Cannes este ano. É importante estarmos de volta à arena cinematográfica internacional”, disse ao jornal O Globo. “Confesso que ficaria mais feliz ainda se ‘Firebrand’ fosse inteiramente brasileiro. Mas tudo bem, a alma dele é brasileira, tem muito calor, independentemente de falar sobre a família real inglesa do século XVI”, completou. O programa apresenta ainda uma seleção de destaque do cinema internacional, incluindo renomados diretores como Wim Wenders (“Papa Francisco: Um Homem de Palavra”), Wes Anderson (“A Crônica Francesa”), Ken Loach (“Eu, Daniel Blake”), Nuri Bilge Ceylan (“A Árvore dos Frutos Selvagens”), Todd Haynes (“Carol”), Nanni Moretti (“Habemus Papam”), Pedro Almodóvar (“Mães Paralelas”), Steve McQueen (“12 Anos de Escravidão”) e Marco Bellocchio (“O Traidor”), juntamente com jovens cineastas de diferentes origens. Além disso, duas aguardadas superproduções de Hollywood estão programadas para terem sua estreia na pequena cidade da Riviera Francesa: “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”, o quinto e último capítulo da famosa franquia estrelada por Harrison Ford (“Falando a Real”), e “Assassinos da Lua das Flores”, dirigido por Martin Scorsese (“As Últimas Estrelas do Cinema”) e estrelado por Leonardo DiCaprio (“Não Olhe para Cima”). A recém-empossada presidente do festival Iris Knobloch comentou sobre o evento ao anunciar o programa. “Poderíamos falar de uma volta às origens, mas eu prefiro dizer que Cannes está de volta para o futuro. Cannes oferece uma fotografia do presente cinematográfico, e a seleção dá uma ideia do que agita o cinema neste momento. É um programa estética e geograficamente abrangente. Os filmes e o público estão de volta aos cinemas”, destacou. Confira abaixo a lista atualizada dos títulos em competição nas principais mostras do evento. Concorrentes à Palma de Ouro Club Zero – Jessica Hausner The Zone of Interest – Jonathan Glazer Fallen Leaves – Aki Kaurismaki Les Filles D’Olfa – Kaouther Ben Hania Asteroid City – Wes Anderson Anatomie d’Une Chute – Justine Triet Monster – Kore-Eda Hirokazu Il Sol dell’Avvenire – Nanni Moretti L’Été Dernier – Catherine Breillat Kuru Otlar Ustune – Nuri Bilge La Chimera – Alice Rohrwacher La Passion de Dodin Bouffant – Tran Anh Hun Rapito – Marco Bellocchio May December – Todd Haynes Jeunesse – Wang Bing The Old Oak – Ken Loach Banel e Adama – Ramata-Toulaye Sy Perfect Days – Wim Wenders Firebrand – Karim Aïnouz Filmes indicados ao prêmio Un Certain Regard Le Règne Animal – Thomas Cailley Los Delincuentes – Rodrigo Moreno How to Have Sex – Molly Manning Walker Goodbye Julia – Mohamed Kordofani Kadib Abyad – Asmae El Moudir Simple Comme Sylvain – Monia Chokri A Flor do Buriti – João Salaviza e Renée Nader Messora Los Colonos – Felipe Gálvez Augure – Baloji Tshiani The Breaking Ice – Anthony Chen Rosalie – Stéphanie Di Giusto The New Boy – Warwick Thornton If Only I Could Hibernate – Zoljargal Purevdash Hopeless – Kim Chang-hoon Terrestrial Verses – Ali Asgari e Alireza Khatami Rien à Perdre – Delphine Deloget Les Meutes – Kamal Lazraq Filmes que serão exibidos no Festival de Cannes 2023 Jeanne Du Barry – Maïwenn (abertura do festival) Indiana Jones e o Chamado do Destino – James Mangold (fora de competição) Cobweb – Kim Jee-woon (fora de competição) The Idol – Sam Levinson (fora de competição) Killers of the Flower Moon – Martin Scorsese (fora de competição) Kennedy – Anurag Kashyap (sessão da meia-noite) Omar la Fraise – Elias Belkeddar (sessão da meia-noite) Acide – Just Philippot (sessão da meia-noite) Kubi – Takeshi Kitano (Cannes Première) Bonnard, Pierre et Marthe – Martin Provost (Cannes Première) Cerrar Los Ojos – Victor Erice (Cannes Première) Le Temps d’Aimer – Katell Quillévéré (Cannes Première) Man in Black – Wang Bing (sessões especiais) Occupied City – Steve McQueen (sessões especiais) Anselm (Das Rauschen der Zeit) – Wim Wenders (sessões especiais) Retratos Fantasmas – Kleber Mendonça Filho (sessões especiais)
Zelensky pede apoio da Cultura à Ucrânia: “Tomem uma posição”
O ator e presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, abriu o Festival Internacional de Cinema de Berlim fazendo um apelo para que artistas e instituições culturais “tomem uma posição” na guerra da Ucrânia e apoiem seu país e seu povo em sua “luta contra a agressão russa”. “A Cultura escolhe um lado quando decide falar contra o mal e toma um lado quando se cala e, de fato, ajuda o mal”, disse o presidente ucraniano na live especialmente transmitida para a cerimônia de abertura do evento alemão. Em uma demonstração de solidariedade com o povo ucraniano e uma crítica direta ao governo da Rússia, o Festival de Cinema de Berlim tomou uma posição política ao convidar o presidente da Ucrânia para abrir a Berlinale. A platéia se levantou quando Zelensky foi apresentado e aplaudiu o seu discurso o tempo inteiro. Discursando para um público de cinéfilos, Zelensky escolheu uma metáfora cinematográfica para incrementar seu discurso. Ele citou uma obra famosa do diretor alemão Wim Wenders, “Asas do Desejo” (1987), para afirmar que “Wenders aboliu o Muro de Berlim antes mesmo dele cair”. E hoje, segundo ele, a Rússia “quer construir um muro entre a Ucrânia e a Europa, entre a liberdade e a escravidão, entre a civilização e o terror”. O cinema, frisou Zelensky, “não pode mudar o mundo”, mas pode “inspirar pessoas que podem”. A participação do presidente ucraniano coincide com a programação do novo documentário de Sean Penn (“Na Natureza Selvagem”), “Superpower”, filmado em Kiev. Penn viajou para a Ucrânia há um ano para documentar a ameaça de invasão pela Rússia e se deparou com o início da guerra, em 24 de fevereiro, obtendo muitas imagens exclusivas e fortes para seu filme. O longa será exibido na sexta-feira (17/2). Por sinal, a realização do festival coincide com o aniversário de um ano da guerra decorrente da invasão russa à Ucrânia. Por isso, incluiu vários filmes ucranianos no evento. Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro do ano passado, Zelensky tem usado incansavelmente os eventos da mídia para atrair a atenção para a causa de seu país e angariar apoio político e militar. Além de falar no Congresso dos EUA, a Câmara do Parlamento do Reino Unido e o Bundestag da Alemanha, ele fez inúmeras aparições nos principais festivais de cinema, incluindo Cannes e Veneza no ano passado, e até enviou uma mensagem em vídeo para o Grammy. “É uma honra especial para nós poder receber digitalmente o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na abertura do nosso festival na noite de quinta-feira. A Berlinale, com todos os seus cineastas e participantes, expressa solidariedade com o povo da Ucrânia na luta pela independência e condena veementemente a agressão russa”, disseram os diretores da Berlinale, Mariëtte Rissenbeek e Carlo Chatrian. Quase metade do gabinete alemão estava presente à abertura. Entre eles, o vice-chanceler alemão Robert Habeck, o ministro da Alimentação e Agricultura Cem Özdemir, a ministra da Família Lisa Paus e a ministra da Cultura Claudia Roth, bem como a prefeita de Berlim, Franziska Giffey. Oleksiy Makeev, embaixador da Ucrânia na Alemanha, também estava lá e ergueu o punho em sinal de resistência. Eles se misturaram com o elenco e a equipe do filme “She Came to Me”, incluindo Anne Hathaway (“As Trapaceiras”), Marisa Tomei (“Homem-Aranha: Sem Volta pra Casa”) e Peter Dinklage (“Game Of Thrones”), durante a exibição do longa, que deu a largada na maratona cinematográfica alemã. O Festival de Berlim acontece na capital alemã até o dia 26 de fevereiro.
David Gulpilil (1953–2021)
David Gulpilil, ator australiano de longa carreira e filmografia repleta de clássicos, reencontrou seus ancestrais durante o fim de semana. Ele tinha 68 anos e sofria de câncer de pulmão desde 2017. Integrante do clã Mandhalpingu do povo YolNGu, ele foi criado da maneira tradicional na terra de Arnhem e, graças a uma carreira de mais de 50 anos em filmes e séries, tornou-se o aborígene mais conhecido do mundo. Gulpilil apareceu pela primeira vez nas telas em 1971 no clássico absoluto “A Longa Caminhada”, de Nicolas Roeg, como um jovem aborígene que ajuda dois irmãos, uma adolescente e um menino brancos criados na cidade grande, a sobreviverem na região desértica do outback. Exibido em festivais do mundo inteiro, inclusive em Cannes, foi o cartão de visitas de uma carreira que teria muitos outros filmes marcantes. Um destes marcos foi “A Última Onda” (1977), de Peter Weir. Mistura de fantasia apocalíptica e drama jurídico, o longa girava em torno de um advogado (Richard Chamberlain) que passava a ter sonhos místicos e premonitórios após ser designado para defender um grupo de aborígenes acusado de assassinato, entre eles Gulpilil. O filme foi premiado nos festivais de Avoriaz e Sitges, os principais eventos mundiais do cinema fantástico, e fez deslanchar a carreira do ator – assim como a do diretor. Ele fez sua estreia em Hollywood numa sequência mística do filme “Os Eleitos” (1983), história do programa espacial americano, que venceu quatro Oscars. E em seguida teve um dos papéis principais de “Crocodilo Dundee” (1986), um dos filmes australianos mais populares de todos os tempos. Sua filmografia ainda destaca “Até o Fim do Mundo” (1991), do alemão Wim Wenders, e o impactante drama “Geração Roubada” (2002), de Phillip Noyce, como o rastreador de garotas aborígenes em fuga de serviços forçados (escravidão mesmo) nos anos 1930, além da carta de amor do cineasta Baz Luhrmann a seu país natal, “Austrália” (2008), com Nicole Kidman e Hugh Jackman. Mas seu principal trabalho como ator só veio em 2013, quando estrelou (e roteirizou) seu primeiro papel de protagonista em “O País de Charlie”, de Rolf de Heer, como um velho aborígene que, descontente com as leis dos brancos, parte para o interior australiano para viver segundo seus costumes, iniciando uma série de desventuras e eventos. Pelo desempenho, foi premiado como Melhor Ator na mostra Um Certo Olhar (Un Certain Regard) do Festival de Cannes e Melhor Ator nos AACTA Awards (o Oscar australiano), além de ser coberto de honrarias na Austrália. Entre seus últimos papéis, estão uma participação importante na última temporada da série “The Leftlovers”, em 2017, como o sábio Christopher Sunday, o filme de zumbis “Cargo” (2017), com Martin Freeman, e o drama “Amigos Para Sempre” (2019), onde atuou ao lado de Geoffrey Rush e Jai Courtney. Com a saúde deteriorando, ele ainda gravou depoimentos para um documentário dedicado à sua vida e carreira, “My Name is Gulpilil”, lançado em maio deste ano. Veja o trailer emocionante abaixo.
É Tudo Verdade: Festival de documentários recomeça com filme premiado em Cannes
A 25ª edição do É Tudo Verdade, maior festival de documentário da América Latina, abre a segunda fase de sua programação nesta quarta (23/9) com a exibição de “A Cordilheira dos Sonhos”, do chileno Patrício Guzmán, filme premiado no Festival de Cannes passado. Ele será exibido em sessão para convidados no Drive-in Belas Artes, em São Paulo, e disponibilizado em streaming a partir das 20h30 como parte da mostra online, que vai até o dia 4 de outubro, e apresentará um total de 61 títulos, entre longas e curtas-metragens, espalhados por mostras competitivas e informativas. Em sua fase inicial, realizada entre 25 de março e 15 de abril passado, o festival já apresentou 30 títulos, entre filmes e séries. Um dos principais títulos do evento, o filme de Guzmán fecha uma trilogia formada ainda por “Nostalgia da Luz” (2012) e “O Botão de Pérola” (2015) num ensaio entre o memorialístico e o político sobre os avanços sociais do governo Allende (1970-1973), a repressão brutal da ditadura Pinochet (1973-1990) e a dura herança atual da política econômica desenvolvida no período autoritário do Chile. Outros filmes estrangeiros bem cotados da programação incluem “Forman vs. Forman”, um tributo a Milos Forman, cineasta tcheco responsável por filmes como “Um Estranho no Ninho” (1975) e “Amadeus” (1984), “Golpe 53”, de Taghi Amirani, que analisa o golpe anglo-americano no Irã, e “1982”, de Lucas Gallo, que usa trechos do programa de TV “60 Minutos” para refletir sobre a “guerra das Malvinas”, declarada pela ditadura argentina contra o Reino Unido pelo controle das Ilhas Falkland. Na lista de filmes nacionais, destacam-se ainda “Libelu — Abaixo a Ditadura”, de Diógenes Muniz, sobre a história do grupo de jovens trotskistas que enfrentaram a ditadura no Brasil, “Jair Rodrigues — Deixa que Digam”, de Rubens Rewald, que retrata o artista e o país, “Os Quatro Paralamas”, de Roberto Berliner e Paschoal Samora, sobre a relação de amizade entre os Os Paralamas do Sucesso e o empresário do grupo, e “Utopia Distopia”, em que Jorge Bodanzky revive o período em que cursou a Universidade de Brasília para apresentar um painel da juventude nos anos 1960. O festival se encerra em outubro com a exibição de “Wim Wenders, Desperado”, documentário sobre o diretor alemão de “Paris, Texas” (1984) e “Asas do Desejo” (1987), dirigido pela dupla Eric Friedler e Andreas Frege. Toda a programação estará disponível em plataformas de streaming, de forma gratuita, mas com horários específicos como se fossem sessões de cinema convencional. Maiores informações e acessos aos filmes podem ser encontrados no site oficial: etudoverdade.com.br.
Allen Garfield (1939 – 2020)
O ator Allen Garfield, que trabalhou em vários filmes de Brian De Palma, Francis Ford Coppola e Wim Wenders, morreu na terça (7/4) devido a complicações causadas por covid-19. Ele tinha 80 anos. Nascido Allen Goorwitz em 22 de novembro de 1939, em Newark, Nova Jersey, ele foi boxeador amador, estudou com Lee Strasberg e Elia Kazan no Actors Studio, em Nova York, e começou a carreira no teatro, antes de aparecer pela primeira vez no cinema em 1968, na comédia erótica “Orgy Girls ’69”. Ele fez carreira no cinema underground, com papéis nos primeiros filmes de Brian De Palma, “Quem Anda Cantando Nossas Mulheres” (1968), “Olá, Mamãe!” (1970) e “O Homem de Duas Vidas” (1972). Também participou do cult “Putney Swope” (1969), produção contracultural de Robert Downey, o pai do ator de “Homem de Ferro”, e em comédias sobre o amor-livre, como “O Corujão e a Gatinha” (1970), de Herbert Ross, e “Procura Insaciável” (1971), de Milos Forman. A lista de participações em obras que refletiram e marcaram sua época inclui “Bananas” (1971), de Woody Allen, “A Organização” (1971), de Don Medford, o impactante “O Candidato” (1972), de Michael Ritchie, em que Robert Redford disputava uma eleição para o Senado dos EUA, o clássico “Nashville” (1975), de Robert Altman, e o suspense “A Conversação” (1974), que inaugurou sua parceria com Francis Ford Coppola – continuada nos musicais “O Fundo do Coração” (1981) e “Cotton Club” (1984). Além de trabalhar com alguns dos principais nomes da então chamada “Nova Hollywood”, Garfield ainda atuou na comédia “Primeira Página” (1974), de um dos maiores mestres da velha Hollywood, Billy Wilder. Sua filmografia se manteve impressionante até o fim, seguindo com o cultuado “O Substituto” (1980), de Richard Rush, e duas produções do alemão Win Wenders, o clássico “O Estado das Coisas” (1982) e “Até o Fim do Mundo” (1991), sem esquecer sua fase de blockbusters com “Um Tira da Pesada II” (1987), de Tony Scott – viveu o chefe de polícia Harold Lutz – , e “Dick Tracy” (1990), de Warren Beaty. Vieram muitos outros filmes, de maior ou menor destaque, até que Garfield sofreu um derrame enquanto filmava o terror “O Último Portal” (1999), de Roman Polanski. Mesmo assim, ele retornou em “Cine Majestic” (2001), de Frank Darabont. Mas em 2004 teve um segundo ataque, que o deixou incapacitado. Desde então, o ator vivia no asilo Motion Picture Country House and Hospital, dedicado a cuidar de atores aposentados.
Roteirista de Asas do Desejo vence o prêmio Nobel de Literatura
O austríaco Peter Handke foi o grande vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2019. Escritor de renome mundial, considerado “herdeiro de Goethe” pelos acadêmicos suecos responsáveis pela premiação, Handke foi saudado por uma obra “repleta de ingenuidade linguística que explora a periferia e a singularidade da experiência humana”, segundo o comunicado da premiação. O escritor, que vive perto de Paris, disse ter ficado “surpreso” com a premiação, uma decisão que ele considerou “muito corajosa”, “após todas as polêmicas” provocadas por sua obra. Críticos de sua premiação foram mais agudos na Bósnia e no Kosovo, onde ele é visto como um admirador do ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic e um “negacionista” dos crimes praticados durante as guerras na antiga Iugoslávia. Com 76 anos de idade, Handke publicou mais de 80 livros desde “As Vespas”, em 1966, e é um dos autores de língua alemã mais lidos e traduzidos do mundo. O mais interessante para o leitor da Pipoca Moderna é que ele também tem uma extensa carreira cinematográfica, tendo feito diversos trabalhos para o cinema e TV. Entre suas obras cinematográficas mais famosas, estão diversas parcerias com o cineasta alemão Wim Wenders, que ele inaugurou com uma adaptação de um de seus livros mais conhecidos, “O Medo do Goleiro Diante do Pênalti”. Publicado em 1970, o livro virou filme em 1972, com participação do próprio Handke na criação de diálogos para o cinema. O sucesso da produção estendeu a colaboração com Wenders, desta vez com roteiros originais escritos para as telas. Ele assinou os clássicos de Wenders “Movimento em Falso” (1975), adaptação de Goethe, e o cultuadíssimo “Asas do Desejo” (1987), que foi premiado no Festival de Cannes. Mais recentemente, teve uma peça de sua autoria adaptada por Wenders em “Os Belos Dias de Aranjuez” (2016). Também dirigiu longas que ele próprio escreveu. Sua estreia como diretor de cinema, “Die linkshändige Frau” (1978), chegou a ser exibida no Festival de Cannes e venceu diversos prêmios do cinema alemão. O último filme que ele dirigiu, “The Absence” (1992), passou no Festival de Veneza. Entre estes, ainda comandou a adaptação de “A Doença da Morte” (em 1985), da escritora Marguerite Duras. Este ano, o Nobel de Literatura consagrou também o vencedor de 2018, depois que a Academia Sueca adiou o anúncio no ano passado após um escândalo de agressão sexual. Assim, o anúncio do prêmio destacou dois escritores. A vencedora de 2018 foi Olga Tokarczuk, autora de dezenas de livros, mas com apenas um publicado no Brasil, “Os Vagantes”. Aos 57 anos, ela é considerada na Polônia a escritora mais talentosa de sua geração.










