Festival de Cannes começa com polêmica, volta de brasileiros e recorde de cineastas femininas

O 76º Festival de Cannes inicia nesta terça-feira (16/5), em meio a críticas e mudanças. Após uma versão simbólica em 2020 e uma mais enxuta em 2021, o festival reconquista neste ano […]

Instagram/Festival de Cannes

O 76º Festival de Cannes inicia nesta terça-feira (16/5), em meio a críticas e mudanças. Após uma versão simbólica em 2020 e uma mais enxuta em 2021, o festival reconquista neste ano o seu posto como a maior e mais glamourosa plataforma da indústria no planeta. Saudado por sua importância na revelação de grandes obras, que pautarão o olhar cinematográfico pelo resto do ano, o evento francês também costuma enfrentar críticas por elencar personalidades envolvidas em escândalos.

Neste ano, o evento abrirá com a exibição do drama histórico “Jeanne du Barry” (fora de competição), estrelado por Johnny Depp (“Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald”), que está recuperando sua imagem após ser acusado de agredir e violentar sua ex-esposa, Amber Heard. Em relação às críticas, o diretor do evento, Thierry Fremaux, afirmou não se importar com o julgamento do ator. “Não conheço a imagem de Johnny Depp nos Estados Unidos. Não sei o que é, Johnny Depp só me interessa como ator. Sou a pessoa menos indicada para falar de tudo isso, porque se há alguém que não se interessou por este mesmo julgamento midiático, sou eu”, declarou Frémaux.

Esta não é a primeira vez que o evento é criticado por ignorar pautas femininas. O festival, que estendeu tapete vermelho para Woody Allen exibir “Meia-Noite em Paris” e “Café Society” (durante o auge do #MeToo), também “perdoou” o cineasta Lars von Trier (“Melancolia”), acusado pela cantora Björk de assédio sexual.

Neste ano, porém, há uma pequena mudança: dentre os 19 filmes competindo pela Palma de Ouro (premiação máxima), seis deles são dirigidos por mulheres – um recorde para o festival. São eles: “Club Zero” de Jessica Hausner; “Les Filles D’Olfa” de Kaouther Ben Hania; “Anatomie D’une Chute” de Justine Triet; “La Chimera” de Alice Rohrwacher; “L’Ete Dernier” de Catherine Breillat e “Banel Et Adama” de Ramata-Toulaye Sy.

O Festival de 2023 também bateu recorde de mulheres selecionadas fora da competição principal – ou seja, incluindo mostras alternativas como a Un Certain Regard e exibições especiais. São 14 títulos dirigidos por mulheres entre os 51 anunciados.

Depois da ausência no ano passado, o cinema brasileiro também retorna em grande estilo em 2023. O país está sendo representado por quatro longas-metragens na programação: “A Flor do Buriti” , dirigido por João Salaviza (“Russa”) e Renée Nader Messora (“Chuva e Cantoria na Aldeia dos Mortos”), na mostra Um Certo Olhar; “Levante”, de Lillah Halla (“Menarca”), na Semana da Crítica; “Nelson Pereira dos Santos — Uma Vida de Cinema”, dirigido por Aída Marques (“Estação Aurora”) e Ivelise Ferreira (“A Música Segundo Tom Jobim”), na Cannes Classics; e “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho (“Bacurau”), nas Sessões Especiais. Para completar, o cineasta cearense Karim Aïnouz (“A Vida Invisível”) dirige a produção britânica “Firebrand”, que está competindo pela Palma de Ouro.

Aïnouz comentou sobre a importância da exibição de longas brasileiros no festival. “É lindo ter essa presença brasileira em Cannes este ano. É importante estarmos de volta à arena cinematográfica internacional”, disse ao jornal O Globo. “Confesso que ficaria mais feliz ainda se ‘Firebrand’ fosse inteiramente brasileiro. Mas tudo bem, a alma dele é brasileira, tem muito calor, independentemente de falar sobre a família real inglesa do século XVI”, completou.

O programa apresenta ainda uma seleção de destaque do cinema internacional, incluindo renomados diretores como Wim Wenders (“Papa Francisco: Um Homem de Palavra”), Wes Anderson (“A Crônica Francesa”), Ken Loach (“Eu, Daniel Blake”), Nuri Bilge Ceylan (“A Árvore dos Frutos Selvagens”), Todd Haynes (“Carol”), Nanni Moretti (“Habemus Papam”), Pedro Almodóvar (“Mães Paralelas”), Steve McQueen (“12 Anos de Escravidão”) e Marco Bellocchio (“O Traidor”), juntamente com jovens cineastas de diferentes origens.

Além disso, duas aguardadas superproduções de Hollywood estão programadas para terem sua estreia na pequena cidade da Riviera Francesa: “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”, o quinto e último capítulo da famosa franquia estrelada por Harrison Ford (“Falando a Real”), e “Assassinos da Lua das Flores”, dirigido por Martin Scorsese (“As Últimas Estrelas do Cinema”) e estrelado por Leonardo DiCaprio (“Não Olhe para Cima”).

A recém-empossada presidente do festival Iris Knobloch comentou sobre o evento ao anunciar o programa. “Poderíamos falar de uma volta às origens, mas eu prefiro dizer que Cannes está de volta para o futuro. Cannes oferece uma fotografia do presente cinematográfico, e a seleção dá uma ideia do que agita o cinema neste momento. É um programa estética e geograficamente abrangente. Os filmes e o público estão de volta aos cinemas”, destacou.

Confira abaixo a lista atualizada dos títulos em competição nas principais mostras do evento.

Concorrentes à Palma de Ouro

Club Zero – Jessica Hausner
The Zone of Interest – Jonathan Glazer
Fallen Leaves – Aki Kaurismaki
Les Filles D’Olfa – Kaouther Ben Hania
Asteroid City – Wes Anderson
Anatomie d’Une Chute – Justine Triet
Monster – Kore-Eda Hirokazu
Il Sol dell’Avvenire – Nanni Moretti
L’Été Dernier – Catherine Breillat
Kuru Otlar Ustune – Nuri Bilge
La Chimera – Alice Rohrwacher
La Passion de Dodin Bouffant – Tran Anh Hun
Rapito – Marco Bellocchio
May December – Todd Haynes
Jeunesse – Wang Bing
The Old Oak – Ken Loach
Banel e Adama – Ramata-Toulaye Sy
Perfect Days – Wim Wenders
Firebrand – Karim Aïnouz

Filmes indicados ao prêmio Un Certain Regard

Le Règne Animal – Thomas Cailley
Los Delincuentes – Rodrigo Moreno
How to Have Sex – Molly Manning Walker
Goodbye Julia – Mohamed Kordofani
Kadib Abyad – Asmae El Moudir
Simple Comme Sylvain – Monia Chokri
A Flor do Buriti – João Salaviza e Renée Nader Messora
Los Colonos – Felipe Gálvez
Augure – Baloji Tshiani
The Breaking Ice – Anthony Chen
Rosalie – Stéphanie Di Giusto
The New Boy – Warwick Thornton
If Only I Could Hibernate – Zoljargal Purevdash
Hopeless – Kim Chang-hoon
Terrestrial Verses – Ali Asgari e Alireza Khatami
Rien à Perdre – Delphine Deloget
Les Meutes – Kamal Lazraq

Filmes que serão exibidos no Festival de Cannes 2023

Jeanne Du Barry – Maïwenn (abertura do festival)
Indiana Jones e o Chamado do Destino – James Mangold (fora de competição)
Cobweb – Kim Jee-woon (fora de competição)
The Idol – Sam Levinson (fora de competição)
Killers of the Flower Moon – Martin Scorsese (fora de competição)
Kennedy – Anurag Kashyap (sessão da meia-noite)
Omar la Fraise – Elias Belkeddar (sessão da meia-noite)
Acide – Just Philippot (sessão da meia-noite)
Kubi – Takeshi Kitano (Cannes Première)
Bonnard, Pierre et Marthe – Martin Provost (Cannes Première)
Cerrar Los Ojos – Victor Erice (Cannes Première)
Le Temps d’Aimer – Katell Quillévéré (Cannes Première)
Man in Black – Wang Bing (sessões especiais)
Occupied City – Steve McQueen (sessões especiais)
Anselm (Das Rauschen der Zeit) – Wim Wenders (sessões especiais)
Retratos Fantasmas – Kleber Mendonça Filho (sessões especiais)