A Frente Fria que a Chuva Traz mostra como Neville de Almeida continua relevante
Há algo de bem maldito na obra de Neville de Almeida, por mais que ele tenha no currículo sucessos gigantes de bilheteria, como “A Dama do Lotação” (1978) e “Os Sete Gatinhos” (1980). Acontece que esses filmes foram feitos em uma época em que ser transgressor estava na moda e rendia nas bilheterias. Aos poucos, porém, o aspecto desbocado dos seus diálogos e o cenário sujo foram sendo rejeitados pelo grande público, principalmente com a mudança de comportamento do chamado Cinema da Retomada, em meados da década de 1990. Por isso, “Navalha na Carne” (1997), até então seu último filme, não foi bem-recebido. Depois de um hiato de quase 20 anos, eis que o saudoso Neville retorna ao cinema, em boa forma, com “A Frente Fria que a Chuva Traz”, novamente em uma adaptação de peça teatral, escrita por Mario Bortolotto (“Nossa Vida Não Cabe Num Opala”). O aspecto teatral é bem visível e o cineasta não parece se importar muito com isso. A trama se passa quase toda em um único lugar, com exceção de duas sequências e nas tomadas que mostram o grupo de moças e rapazes ricos saindo de suas casas, em direção ao morro carioca, a fim de diversão. O grupo formado por três garotas e mais dois rapazes alugam uma laje na favela e promovem festas regadas a sexo, álcool e drogas. Curiosamente, por mais que o filme seja bem desbocado, o sexo e a nudez, que se faziam presentes de forma mais gráfica e generosa em obras anteriores do cineasta, aqui aparecem bem tímidos, como que num sinal dos tempos, ou necessidade de se adaptar de alguma forma aos novos rumos de nossa cinematografia, que, com raras exceções, se mantém muito mais comportada do que nas décadas em que Neville estava no auge. Quem se destaca no elenco é Bruna Linzmeyer (novela “A Regra do Jogo”), que interpreta uma jovem marginal que é aceita pelo grupo de playboys e patricinhas, mesmo não tendo dinheiro e às vezes chegando até a fazer programa para conseguir drogas. Não fica claro qual é o drama de vida de Amsterdã, nome de sua personagem, mas é fácil aceitá-la como alguém mais digna do que qualquer outro que está ali naquele lugar. Até porque o cineasta carrega nas tintas no terço final, quando exagera na composição maniqueísta dos demais, em comparação com a nobreza decadente de Amsterdã. É como se ela fosse seu alter-ego, alguém maldito que tenta jogar o jogo sujo de quem tem dinheiro. A verdade é que, por mais que a fotografia pareça mais bonita e mais limpa do que estamos acostumados a ver nas obras de Neville (é linda a imagem do Rio de Janeiro, vista do alto), as concessões ficam só na aparência mesmo. Basta colocar o DVD e ligar a TV bem alto (sim, o filme mal ficou em cartaz e não ganhou versão em Blu-ray, como de resto todos os bons filmes nacionais) para perceber o quanto os diálogos são capazes de incomodar ou horrorizar os familiares ou a vizinhança. E se Neville continua incomodando, é sinal de que ele continua relevante, fazendo o que sempre fez de melhor.
Warner registra o título de Harry Potter e a Criança Amaldiçoada para futuro filme
A Warner Bros. registrou a marca “Harry Potter and the Cursed Child” no Reino Unido, visando a produção de um filme. A informação foi divulgada por Brian Conroy, que mantém um site sobre marcas registradas. A licença retirada pela Warner inclui direitos sobre “filmes cinematográficos que caracterizem comédia, drama, ação, aventura e/ ou animações e filmes para a TV que caracterizem comédia, drama, ação, aventura e/ou animações”. Isto dá ao estúdio o direito de realizar uma adaptação da obra, o que deve ter sido previamente negociado com a escritora J.K. Rowling. É importante ressaltar que o estúdio não tem nenhuma relação com a montagem teatral de “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”, que está em temporada de pré-estreias, e que o registro aconteceu poucos dias após Emma Watson, intérprete da Hermione nos filmes do bruxinho, ter ido prestigiar a peça. Até o momento, a única produção confirmada, relacionada à obra, é o lançamento de um livro da história, escrito por J.k. Rowling, autora de toda a coleção literária de “Harry Potter”, que chega às livrarias em 31 de julho, um dia após a estreia oficial da trama no teatro. A trama de “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada” é uma continuação direta da história dos livros de Rowling e dos filmes produzidos pela Warner, acompanhando os filhos de Harry Potter.
Bill Hader vai estrelar série de comédia da HBO
Depois de oito temporadas como roteirista e ator do programa humorístico “Saturday Night Live”, Bill Hader vai protagonizar a sua primeira série de comédia. Em “Barry”, do canal pago HBO, ele viverá um ex-militar que trabalha como assassino de aluguel no Meio-Oeste americano, até que vai a Los Angeles fazer um “serviço” e, entediado, acaba entrando para a comunidade de teatro amador da cidade. Desde que saiu de “Saturday Night Live”, há dois anos, Hader trabalhou em alguns filmes de sucesso, como a comédia “Descompensada” e a animação “Divertida Mente” (ele faz a voz original do Medo). Ele voltará a trabalhar como dublador numa produção da Pixar em breve, dublando um peixe em “Procurando Dory”. As gravações de “Barry” só vão começar em 2017, em Los Angeles.
Will: Veja o primeiro trailer da série sobre o jovem Shakespeare, do roteirista de O Grande Gatsby
O canal pago TNT divulgou o primeiro trailer de “Will”, nova série aprovada para a próxima temporada, que contará a chegada do jovem William Shakespeare ao cenário teatral londrino do século 16. Repleta de cores e vivacidade, a prévia revela uma abordagem estilizada, com influência de videoclipes e mais violência que se espera de um drama de época. De fato, a produção lembra mais um filme dirigido por Baz Luhrmann. E não é coincidência. Ela foi criada por Craig Pearce, roteirista de quatro dos cinco longas do diretor de “O Grande Gatsby” (2013). A direção ficou a cargo do cineasta indiano Shekhar Kapur (“Elizabeth”), que também divide a produção com Pearce. Já o elenco destaca o estreante britânico Laurie Davidson como o personagem-título, Jamie Campbell Bower (“Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos”), como Christopher Marlowe, escritor rival de Shakespeare, Ewen Bremner (“Trainspotting”), como Richard Topcliffe, um representante da lei, Colm Meaney (série “Hell on Wheels”) como James Burbage, carpinteiro, produtor e empreendedor que tem o sonho de construir o primeiro teatro de Londres com 3 mil assentos, Mattias Inwood (série “The Shannara Chronicles”) como seu filho e a australiana Olivia DeJonge (“A Visita”) como sua filha rebelde, que testa os limites de sua sociedade ao buscar uma carreira artística no teatro do pai. A previsão de estreia é apenas para 2017.
Leandra Leal assume teatro particular mais antigo do Rio
O mais antigo teatro particular do Rio de Janeiro, o Rival, na Cinelândia, é agora comandado por Leandra Leal (“O Lobo Atrás da Porta”). A atriz é a terceira integrante da família a comandar a casa de espetáculos, que passou pelas mãos de seu avô Américo e sua mãe Ângela Leal. “Desde criança eu ouço minha mãe falar que era o meu teatro. Ela sempre falava, ‘eu vou lá no seu teatro’, brincando. E hoje realmente ele é meu. Estou muito feliz em continuar o legado da minha família e a tradição do Rival. Ter de herança um teatro não é uma herança qualquer, é uma missão”, disse a atriz durante o evento que oficializou a transmissão da herança, visivelmente emocionada. Inaugurado em 1934, o Rival, que antes tinha sido convento, foi um dos principais palcos do Teatro de Revista e do chamado Teatro do Rebolado. Além de grandes nomes do humor brasileiro, como Grande Otelo, Oscarito e Dercy Gonçalves, a casa de espetáculos também foi pioneira ao abrir seu palco para shows de travestis, um escândalo na época do avô de Leandra, que acabaram popularizando a famosa Rogéria. Grande referência da cultura carioca, a casa ainda lançou cantores como Mart’nália, Zeca Pagodinho e Zélia Duncan.
Tereza Rachel (1935 – 2016)
Morreu a atriz Tereza Rachel, que marcou o teatro brasileiro, criou vilãs inesquecíveis de novelas e fez obras importantes do cinema nacional. Ela faleceu no sábado (2/4), aos 82 anos, após um quadro agudo de obstrução intestinal que a deixou quatro meses internada na CTI (Centro de Tratamento Intensivo) do Hospital São Lucas. Batizada Teresinha Malka Brandwain Taiba de La Sierra, ela nasceu em 19 de agosto de 1935 na cidade de Nilópolis, na Baixada Fluminense, e começou a atuar na década de 1950, já com trabalhos na TV, no cinema e no teatro. A primeira peça foi “Os Elegantes”, de Aurimar Rocha, em 1955. A estreia no cinema aconteceu no ano seguinte, na comédia “Genival É de Morte” (1956), de Aloísio T. de Carvalho, e logo em seguida veio a carreira televisiva, a partir da série “O Jovem Dr. Ricardo” na TV Tupi em 1958. A primeira metade dos anos 1960 viu multiplicar sua presença no cinema. Foram cinco filmes no período de dois anos, entre 1963 e 1965, com destaque para o clássico “Ganga Zumba” (1963), primeiro longa-metragem de Cacá Diegues, sobre escravos fugitivos e a fundação do Quilombo de Palmares, na qual viveu a senhora de uma fazenda. Participou também do drama “Sol sobre a Lama” (1963), do cineasta e crítico de cinema Alex Viany, “Procura-se uma Rosa” (1964), estreia na direção do ator Jesse Valadão, e “Canalha em Crise” (1965), do cinemanovista Miguel Borges, além de “Manaus, Glória de Uma Época” (1963), produção alemã passada na “selva brasileira”. Mas foi no teatro, na segunda metade da década, que obteve maior projeção, ao participar de peças históricas, como a montagem de “Liberdade, Liberdade”, de Flávio Rangel e Millôr Fernandes, com o Grupo Opinião em 1965, um marco do teatro de protesto. Dois anos depois, interpretou Jocasta em “Édipo Rei”, com Paulo Autran, novamente sob direção de Flavio Rangel. Em 1969, integrou o elenco da histórica encenação brasileira de “O Balcão” (1969), de Jean Genet, dirigida pelo argentino Victor Garcia. Sua relação com o teatro foi além do papel desempenhado nos palcos. Determinada a encenar cada vez mais peças de qualidade, assumiu a condição de produtora, trazendo vários textos de vanguarda para serem montados no Brasil pela primeira vez, como “A Mãe” (1971), do polonês Stanislaw Witkiewicz, que ela descobriu ao assistir a uma montagem em Paris. Empolgada, convenceu o diretor francês Claude Régy a vir ao Brasil supervisionar a montagem nacional, e o resultado lhe rendeu o prêmio Molière de melhor atriz. A vontade de manter peças ousadas por mais tempo em cartaz a levou a fundar seu próprio teatro. Aberto provisoriamente em 1971 e inaugurado em 1972, o Teatro Tereza Rachel acabou se tornando um importante polo cultural durante a década. E não apenas para montagens teatrais. Em seu palco, Gal Costa fez o cultuado show “Gal Fatal” (1971), e os cantores Luiz Gonzaga, Clementina de Jesus e Dalva de Oliveira realizaram suas últimas apresentações. O reconhecimento por seus trabalhos também se estenderam ao cinema, rendendo-lhe o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado pelo papel-título de “Amante muito Louca” (1973), comédia sexual que marcou a estreia na direção de Denoy de Oliveira. Ela também estrelou o marcante “Feminino Plural” (1976), de Vera de Figueiredo, obra pioneira do feminismo brasileiro, além de “Revólver de Brinquedo” (1977), de Antônio Calmon, e “A Volta do Filho Pródigo” (1978), do marido Ipojuca Pontes. Entretanto, apesar de sua relevância cultural, o grande público só passou a acompanhar melhor sua carreira quando ela começou a aparecer nas novelas da rede Globo. Sua estreia no canal aconteceu na versão original de “O Rebu” (1974), um marco da teledramaturgia nacional, exibido no “horário adulto” da emissora, às 22 horas. Enquanto as novelas populares da emissora exploravam conflitos geracionais, a trama de “O Rebu” se passava inteiramente ao longo de dois dias, em torno de suspeitos de um assassinato cometido durante uma festa. Ela também participou de “O Grito”, outra novela ousada das 22 horas, que girava em torno dos moradores de um prédio desvalorizado pela construção do Minhocão em São Paulo. Mas foram os papeis mais populares que a consagraram na telinha. Especialmente Clô Hayalla, sua primeira grande vilã, que se materializou na novela das 20 horas “O Astro” (1977). Um dos maiores sucessos da escritora Janete Clair, “O Astro” quebrou recordes de audiência e entronizou Tereza Rachel no imaginário popular como uma perua fútil e vingativa. Ela se tornou uma das mulheres mais odiadas do Brasil ao colocar a mocinha da história, Lili Paranhos (Elizabeth Savalas), na cadeia. Além disso, era infiel (característica de mulheres malvadas da televisão), e seu amante acabou se revelando o culpado pela pergunta que mobilizou o país durante quase um ano: “Quem matou Salomão Hayalla?”, seu marido na trama. Tereza apareceu em outras novelas com menor impacto, como “Marrom-Glacê” (1978), “Baila Comigo” (1981) e “Paraíso” (1982), antes de retornar a fazer maldades em “Louco Amor” (1983), como a ricaça preconceituosa Renata Dumont, que tenta impedir o romance entre sua filha e o filho da cozinheira – e, de lambuja, entre o cunhado e uma manicure. Ainda teve seus dias de mocinha, como a Princesa Isabel na minissérie de época “Abolição” (1988), sobre o fim da escravatura no Brasil, papel que repetiu na continuação, “República” (1989), exibida no ano seguinte. Por ironia, ela não foi nada nobre quando se tornou rainha, roubando, com suas malvadezas, as cenas de “Que Rei Sou Eu?” (1988), uma das mais divertidas novelas já realizadas pela Globo. O texto de Cassiano Gabus Mendes partia dos clichês dos folhetins franceses, com direito à aventura de capa e espada e intrigas da corte de um reino imaginário, para parodiar a situação política do país. Na pele da Rainha Valentine, ela se mostrava uma governante histérica, no estilo da Rainha de Copas de “Alice no País das Maravilhas”. Mas seu despotismo era facilmente manipulado por seus conselheiros reais, que eram quem realmente mandavam no reino de Avillan, a ponto de colocarem um mendigo no trono (Tato Gabus Mendes, o filho do autor), mentindo ser um filho bastardo do falecido rei. Em contraste com essa fase de popularidade, a parceria com o marido Ipojuca Pontes lhe rendeu algumas polêmicas. No segundo filme que estrelou para o cineasta, “Pedro Mico” (1985), ela tinha uma cena de sexo com Pelé. A repercussão negativa da produção – Pelé teve muitas dificuldades nas filmagens e, no final, precisou ser dublado pelo ator Milton Gonçalves – marcou o fim de sua carreira cinematográfica. E não ajudou o fato de, logo depois, Ipojuca virar secretário nacional da Cultura do governo Collor, durante uma fase desastrosa para o cinema brasileiro, com a implosão da Embrafilme, que gerou confronto com a classe artística. O período político tumultuado levou Tereza a se afastar das telas. Ela nunca mais voltou ao cinema e só retomou as novelas em 1995, como Francesca Ferreto, uma das primeiras vítimas de “A Próxima Vítima”. Teve ainda um pequeno papel em “Era Uma Vez…” (1998), mas suas aparições seguintes aconteceram apenas como artista convidada, em capítulos de “Caras e bocas” (2009), “Tititi” (2010) e a recente “Babilônia” (2015), além da série “Alice” (2008), do canal pago HBO, com direção dos cineastas Karim Aïnouz (“Praia do Futuro”) e Sérgio Machado (“Tudo o que Aprendemos Juntos”). Entre 2001 e 2008, o Teatro Tereza Rachel foi alugado para a Igreja Universal do Reino de Deus e deixou de receber produções culturais. Felizmente, o desfecho dessa história teve uma reviravolta. O local acabou tombado pelo município e reabriu como casa de espetáculos em 2012, ainda que sem o nome da atriz – virou Net Rio, mas com uma Sala Tereza Rachel. O nome de Tereza Rachel, porém, não precisa de placa para ser lembrado pela História.
O Beijo no Asfalto: Estreia indie de Murilo Benício como diretor ganha primeiras fotos
O ator Murilo Benício (“O Homem do Ano”) vai estrear na direção de cinema com “O Beijo no Asfalto”, adaptação da peça homônima de Nelson Rodrigues, que ele filmou em 11 dias, em preto e branco e com um orçamento de R$ 1 milhão de seu próprio bolso. Totalmente indie, a produção divulgou suas primeiras fotos, que permitem vislumbrar as opções criativas do agora cineasta. Diferente do filme de 1981, dirigido por Bruno Barreto, que transpôs a trama para o cinema, Murilo seguiu a rota de Al Pacino em “Ricardo III – Um Ensaio” (1996) e “Wilde Salomé” (2011), misturando encenação da peça, com Lázaro Ramos (“O Vendedor de Passados”) no papel do bancário recém-casado que beija um moribundo desconhecido, e documentário – cenas dos bastidores, imagens de camarim e até uma leitura do texto conduzida por Fernanda Montenegro. As filmagens aconteceram em um teatro no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro e incluem só três externas. O elenco também inclui a esposa de Benício, Débora Falabella (série “Dupla Identidade”), além de Otávio Muller (“O Gorila”), Luiza Tiso (série “Marcas da Vida”), Marcelo Flores (“E Aí… Comeu?”) e Stênio Garcia (“Ó Paí, Ó”), como o homem que, em seus últimos suspiros, pede um beijo. O filme ainda não tem previsão de estreia, mas a experiência já animou Benício a planejar seu próximo trabalho como diretor. Será mais uma adaptação teatral, “Pérola”, de Mauro Ras.
Denzel Washington vai produzir 10 telefilmes para a HBO
O ator Denzel Washington (“O Protetor”) vai produzir uma série de dez telefilmes para o canal pago americano HBO. O projeto levará às telas adaptações de todas peças do dramaturgo August Wilson, com a meta de lançar um filme por ano. A informação foi compartilhada pelo site Deadline, após o ator anunciar a novidade num encontro aberto com o público, realizado num teatro em Los Angeles. August Wilson (1945-2005) ficou conhecido por retratar, em suas peças teatrais, as dificuldades enfrentadas pelas comunidades negras nos EUA. Cada uma de suas peças se passa numa década diferente e tem o objetivo de narrar a experiência de vida dos negros ao longo do tempo – tanto que a coleção de suas obras é conhecida como o Ciclo do Século. Denzel se declarou orgulhoso de ter recebido carta branca dos herdeiros do dramaturgo para levar suas peças para a televisão e adiantou que também pretende dirigir e estrelar a primeira adaptação. Trata-se de “Fences”, passada nos anos 1950, que ele coestrelará com Viola Davis (série “How to Get Away with Murder”). Os dois atuaram juntos na montagem teatral de 2010 e venceram os prêmios Tony de Melhor Ator e Atriz por seus desempenhos.
Olmo e a Gaivota documenta o imprevisto da vida
Quando surgiu a ideia de fazer um documentário com a atriz italiana Olivia Corsini (“Les Naufragés du Fol Espoir”), o projeto previa falar sobre um dia na vida de uma mulher, suas reflexões, suas realizações e sua percepção da própria vida. Porém, um imprevisto mudou a proposta original. A atriz descobriu que estava grávida e o documentário virou uma espécie de diário dessa jornada, sem deixar para trás algumas das ideias originais. Outra mudança no direcionamento do longa acontecem quando descobre-se que a gravidez é de risco e um repouso forçado tira Olívia de sua rotina, e da turnê que seu grupo de teatro faria para apresentar a peça “A Gaivota”, de Anton Tchekhov, em Nova York e Montreal. Visualmente belo, o longa-metragem dirigido em parceria pela brasileira Petra Costa (“Helena”) e pela dinamarquesa Lea Glob acompanha os nove meses da gestação, da descoberta com um exame de farmácia até os últimos dias da gravidez. Com formato de diário, com espaço para divagações sobre a vida, envelhecimento, frustrações, inseguranças e memórias, “Olmo e a Gaivota” mistura cenas do cotidiano da atriz e seu marido Serge, também ator teatral, com várias imagens de arquivo, de maneira funcional e pouco invasiva, dando ao produto final uma homogeneidade interessante. Por ser um documentário, a interação de Petra com o cotidiano do casal altera o convívio diário. Mas essa intromissão é escancarada e chama a atenção por seguir uma trilha bastante diversa do gênero. O fato de o casal ser formado por dois atores, com a possibilidade de estarem sempre encenando, também. A confusão entre a determinação do alcance do que é documento e o que é encenação é curiosa. É como se uma caixa ficcional fosse preenchida apenas com conteúdo real, como se todos aqueles pensamentos e divagações de Olívia surgissem aleatoriamente, mas seguissem um caminho determinado. Uma bela experiência, premiada nos festivais internacionais de Locarno e CPH:DOX.








