A Odisseia dos Tontos envolve com humor politizado de revanche popular
Na América Latina, os planos econômicos que visam a salvar a economia acabam sempre estourando do lado dos mais fracos e que já estariam acostumados a serem ludibriados, como tontos. Aqui no Brasil, o plano Collor foi um exemplo dramático de situações terríveis, provocadas pelo confisco do dinheiro poupado pelo cidadão. Na Argentina, em 2001, houve o corralito, que segurou os dólares, limitando drasticamente o seu uso e transformando-os em pesos, que perdiam valor. Como também aconteceu – e acontece – por aqui, informações privilegiadas de pessoas poderosas e dos bancos favoreceram uns e acabaram com a vida de outros. É nesse contexto de crise econômica que desempregados e subempregados do filme “A Odisseia dos Tontos”, em busca de sobrevivência, conseguem juntar dólares para reformar e reavivar uma cooperativa agrícola, até que o corralito, associado a uma manobra bancária escusa, acabou com a economia deles de vez. Só que eles dizem “Chega!” e prometem fazer de tudo para encontrar o dinheiro que lhes foi roubado, arquitetando uma revanche dos perdedores, os tontos. Se o filme começa bem político, acaba se transformando em uma aventura em forma de comédia. Mas que mantém o espírito crítico e a ironia, associados a uma forte raiva de se sentir, mais uma vez, passado para trás. Tudo acontece numa pequena vila da província de Buenos Aires, onde afinal todo mundo acaba se conhecendo e sabendo de tudo que se passa. Desse modo, as estratégias possíveis são ampliadas e viabilizadas, embora as consequências também o sejam. A trama é muito bem construída, revelando, uma vez mais, que a Argentina tem escritores e roteiristas muito bons para relatar histórias e relacioná-las ao ambiente social, econômico e político do país. O diretor Sebastián Borensztein já tinha realizado o delicioso “Um Conto Chinês”, em 2011, e dirigiu também um episódio de “Relatos Selvagens”, de 2014, enquanto o roteirista Eduardo Sacheri, em cujo livro o filme é baseado, também escreveu “O Segredo dos Seus Olhos”, vencedor do Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira de 2010. Sucessos de público no Brasil. Aqui, eles trabalham com um elenco magnífico, liderado por Ricardo Darín (que estrelou os três filmes citados), com participação de seu filho, Chico Darín, e que tem Luis Brandoni, Andrés Parra, Verónica Llinás e muitos outros bons atores e atrizes. Isso resulta num filme bem equilibrado, convincente nas atuações e com um bom ritmo, capaz de envolver o espectador na história. “A Odisseia dos Tontos” teve sua première nacional na Mostra de São Paulo e foi escolhido pela Argentina para representar o país na disputa pelo Oscar de filme internacional. A Argentina costuma indicar produtos fortes nessa disputa, desta vez, porém, por melhor que seja o longa, é difícil que obtenha êxito, porque há grandes filmes na competição, inclusive o brasileiro “A Vida Invisível”, de Karim Ainöuz.
Trailers tensos marcam suspense com Penélope Cruz que abriu o Festival de Cannes
A Focus divulgou o pôster americano e dois novos trailers de “Todos Já Sabem” (Todos lo Saben). E o clima é de suspense intenso, envolvendo segredos do passado dos personagens, como é característica da filmografia do diretor Asghar Farhadi. A principal novidade da obra em relação aos trabalhos anteriores do cineasta iraniano, vencedor de dois Oscars por “A Separação” (2011) e “O Apartamento” (2016), é a escolha de uma cultura e uma língua estrangeiras para contar a história, que ele próprio escreveu. Mesmo quando visitou a França em “O Passado” (2013), Farhadi manteve-se nos limites da cultura islâmica, mas, desta vez, abandona totalmente a conexão com suas raízes, filmando personagens latinos. A trama é estrelada pelo casal espanhol Penélope Cruz (“Assassinato no Expresso do Oriente”) e Javier Bardem (“Mãe!”), além do argentino Ricardo Darín (“Truman”), e gira em torno da personagem de Cruz, que retorna a sua cidadezinha natal durante um período festivo, apenas para testemunhar como uma série de eventos inesperados trazem vários segredos à tona. Filme de abertura do Festival de Cannes deste anos, “Todos Já Sabem” estreia no Brasil em 14 de fevereiro.
Ricardo Darin refuta fama de “Harvey Weinstein argentino” após acusações de duas atrizes
O ator argentino Ricardo Darín, acusado de maus-tratos pelas atrizes Valeria Bertuccelli e Érica Rivas, rompeu o silêncio para se defender. Apesar de confirmar os desentendimentos, ele afirmou que isso não devia ser atrelado às denúncias de assédio e violência sexual, que se espalham pela cobertura da indústria do entretenimento atual. “Estou chocado e devastado. Estou atônito. E tentando entender como as coisas aconteceram e por que elas foram se transformando em outras”, disse o astro de “Relatos Selvagens” a uma jornalista do programa de TV “Los Ángeles de la Mañana”, que o abordou no aeroporto de Buenos Ayres na segunda-feira (18/6), quando o ator desembarcou de Mendonza, onde apresentou a peça “Escenas de la Vida Conyugal”. Na semana passada, Valeria Bertuccelli revelou, em outro programa de TV argentino, que abandou o elenco original da mesma peça em 2014, por causa de Darín. “Ele me tratou de uma maneira que não se trata uma colega de trabalho”, desabafou a atriz. “Fiquei muito mal, cheguei a desmaiar. Muitas vezes coisas do gênero acontecem, e sempre busco resolvê-las da melhor maneira: conversando. Mas o que aconteceu foi gravíssimo”, completou, sem entrar em detalhes. Valeria disse que resolveu deixar a peça, fechando um acordo com equipe, elenco e assessoria de imprensa de que o motivo divulgado seria uma proposta de um filme a ser feito por ela. Mas não foi isso que foi publicado na imprensa na época. “Inventaram que eu havia me apaixonado por Ricardo, e que o que eu sentia era tão forte que só havia contado a meu marido, que teria me tirado imediatamente da obra. Foi cruel.” Esta denúncia foi suficiente para resgatar boatos de desentendimentos com Érica Rivas, com quem Darín filmou “La Cordillera” (2017) no ano passado. Houve até quem dissesse que Rivas teria ido à polícia denunciar o ator, que desmentiu. Darín reconheceu que ele e Rivas tiveram “uma grande discussão”, mas acreditava que isso tinha sido superado. “É um momento de hipersensibilidade social, e aproveitar-se desta conjuntura para colocar esses episódios como uma questão de violência de gênero é muito perverso e não me parece casual. É algo muito infantil. Não sei o que comentar. Com Érica (Rivas), tivemos uma grande discussão em determinado momento. Encaminhei um pedido de desculpas a ela, que não foi aceito. Gostaria de falar com ela”, disse o ator. “É doloroso porque é muito difícil se defender quando tudo vai ser mal interpretado”, continuou Darín. “Me colocaram no grupo dos indesejáveis. Dos que maltratam, são agressivos, violadores em série. Houve uma publicação americana que falou em ‘Harvey Weinstein argentino'”. Com voz embargada, ele comentou que estava “sujo no mundo inteiro”. “Nunca vou conseguir limpar meu nome e uma reputação construída durante toda uma vida”, lamentou, dizendo que sentia “chocado e ferido”. Mas não quis dar sua versão para os acontecimentos. “Adoraria pode falar, mas não posso fazê-lo agora. Preciso ser inteligente. Tenho que cuidar da minha família. Isso não envolve somente a mim, mas também minha mulher, que é uma grande defensora dos direitos das mulheres, minha filha, minhas amigas”, concluiu. Para completar, Florencia Bas, mulher de Darín, compartilhou em seu perfil numa rede social a carta de outra atriz, Vanesa Weinberg, que se queixou de como foi difícil trabalhar com Bertucelli. Weinberg chamou Bertuccelli de “rainha do desrespeito” e disse que se ela quiser “paz interior” terá de se desculpar com muita gente.
Festival de Cannes começa sob pressão do streaming e do empoderamento feminino
O Festival de Cannes 2018, que inicia nesta terça-feira (8/5), busca um equilíbrio impossível em meio a abalos tectônicos de velhos paradigmas, num período agitado de mudanças para o cinema mundial. Saudado por sua importância na revelação de grandes obras, que pautarão o olhar cinematográfico pelo resto do ano, o evento francês também enfrenta críticas por seu conservadorismo, ignorando demandas femininas e o avanço do streaming. Mas sua aposta para manter-se relevante é a mesma de sempre: a politização do evento. Os carros-chefes do festival desde ano não são obras de diretores hollywoodianos, mas de cineastas considerados prisioneiros políticos, o iraniano Jafar Panahi e o russo Kirill Serebrennikov, que estão em prisão domiciliar em seus países. Ambos vão disputar a Palma de Ouro. O caso de Panahi é um fenômeno. Desde que foi preso e proibido de filmar, já rodou quatro longas, contando o atual “Three Faces”. Do mesmo modo, o evento se apresenta como aliado de um cineasta que enfrenta dificuldades legais para exibir seu filme, programando “The Man Who Killed Don Quixote” (O Homem que Matou Dom Quixote, em tradução literal), de Terry Gilliam, apesar da disputa jurídica que impede sua projeção – um conflito entre o diretor e o produtor, Paulo Branco, que exige o cancelamento da exibição. O mérito da questão está atualmente em análise pelos tribunais franceses. Em comunicado, o presidente do festival Pierre Lescure e o delegado geral Thierry Frémaux afirmaram que Cannes “respeitará a decisão” que será tomada pela Justiça “seja ela qual for”. Mas ressaltaram no texto seu compromisso com o cinema. Após citar que os advogados de Branco prometeram uma “derrota desonrosa” ao festival, afirmaram que a única derrota “seria ceder à ameaça”, reiterando que “os artistas necessitam mais que nunca que sejam defendidos, não atacados”. Para completar esse quadro, digamos, quixotesco, Cannes também decidiu suspender o veto ao cineasta dinamarquês Lars von Trier, que tinha sido considerado “persona non grata” no evento em 2011, após uma entrevista coletiva desastrosa, em que afirmou sentir simpatias por Hitler – num caso de dificuldade de expressão numa língua estrangeira, o inglês. A mensagem do evento é bastante clara. Mas sua defesa da luta de homens contra a opressão e a censura segue ignorando a luta das mulheres. Como já é praxe e nem inúmeros protestos e manifestos parecem modificar, filmes dirigidos por mulheres continuam a ser minoria absoluta no evento francês. Apenas três diretoras estão na disputa pelo principal prêmio: a francesa Eva Husson, a libanesa Nadine Labaki e a italiana Alice Rohrwacher. Diante desse quadro, os organizadores buscaram uma solução curiosa, aumentando a presença feminina no juri do evento – com a inclusão da diretora americana Ava DuVernay (“Uma Dobra no Tempo”), a cantora e compositora Khadja Nin, do Burundi, e as atrizes Kristen Stewart (“Personal Shopper”) e a francesa Léa Seydoux (“Azul É a Cor Mais Quente”), D sob a presidência da australiana Cate Blanchett (“Thor: Ragnarok”). Assim, mulheres poderão votar nos melhores candidatos homens, mais ou menos como acontece na política eleitoral. Obviamente, não se trata de solução alguma. E para adicionar injúria à falta de igualdade, o “perdão” a Lars Von Trier representa um tapa na cara do movimento #MeToo. Seu retorno acontece em meio a escândalos sexuais cometidos em seu estúdio e graves acusações de abusos, reveladas numa reportagem da revista The New Yorker e por uma denúncia da cantora Bjork, que contou detalhes das filmagens de “Dançando no Escuro”, musical que rendeu justamente a Palma de Ouro ao diretor no festival de 2000. Bjork relatou nas redes sociais algumas das propostas indecentes que ouviu e as explosões de raiva do “dinarmaquês” (que ela não nomeia) por se recusar a ceder, enquanto a reportagem da New Yorker descortinou o “lado negro” da companhia de produção Zentropa, criada pelo diretor. Segundo a denúncia, Von Trier obrigava todos os empregados da Zentropa a se despirem na sua frente e nadar nus com ele e seu sócio, Peter Aalbaek Jensen, na piscina do estúdio. Em novembro, a polícia da Dinamarca iniciou uma investigação sobre denúncias de assédio na Zentropa. Entrevistadas pelo jornal dinamarquês Politiken, nove ex-funcionárias revelaram que pediram demissão por não aguentarem se submeter ao assédio sexual e bullying diários. Considerando que o próprio festival francês estabeleceu um “disque denúncia sexual” este ano, como reação tardia à denúncias de abusos cometidos durante eventos passados em Cannes, a decisão de “perdoar” Lars Von Trier sofre, no mínimo, de mau timing. Também há um componente de inadequação na disputa do festival com a Netflix. Afinal, não é a definição de “cinema” que está em jogo – filme é filme, independente de onde seja visto, a menos que se considere que a exibição do vencedor de uma Palma de Ouro na TV o transforme magicamente em algo diferente, como um telefilme. Trata-se, no fundo, na velha discussão da regulamentação/intervencionismo estatal. O parque exibidor francês conta com o apoio das leis mais protecionistas do mundo, que estabelecem que um filme só pode ser exibido em vídeo ou streaming na França três anos após passar nas salas de cinema do país – a chamada janela de exibição. Trata-se do modelo mais extremo da reserva de mercado – como comparação, a janela é de três meses nos Estados Unidos – , e ele entrou em choque com o outro extremo representado pela Netflix, que defende a janela zero, na qual um filme não precisa esperar nenhum dia de diferença entre a exibição no cinema e a disponibilização em streaming. No ano passado, Cannes ousou incluir dois filmes produzidos pela Netflix na disputa da Palma de Ouro, “Okja”, de Bong Joon-ho, e “Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe”, de Noah Baumbach. E sofreu enorme pressão dos exibidores, a ponto de ceder aos protestos, de forma oposta à valentia que demonstra para defender cineastas com problemas em outros países. Em entrevista coletiva do evento deste ano, Thierry Fremaux afirmou que a participação dos filmes da Netflix “causou enorme controvérsia ao redor do mundo”. Um grande exagero, já que a polêmica foi toda local. “No ano passado, quando selecionamos dois de seus filmes, achei que poderia convencer a Netflix a lançá-los nos cinemas. Eu fui presunçoso: eles se recusaram”, disse Fremaux. “As pessoas da Netflix adoraram o tapete vermelho e gostariam de nos mostrar mais filmes. Mas eles entenderam que sua intransigência em relação ao modelo (de negócios) colide com a nossa”. A Netflix poderia, no entanto, exibir filmes em sessões especiais do festival, fora da competição oficial, disse Fremaux. Ao que Ted Sarandos, diretor de conteúdo da Netflix, retrucou: “Há um risco se seguirmos por esse caminho, de nossos cineastas serem tratados desrespeitosamente no festival. Eles definiram o tom. Não acho que será bom para nós participarmos”. Em jogo de cena, os organizadores de Cannes lamentaram a decisão da plataforma de streaming. E, ao fazer isso, assumiram considerar que os filmes da Netflix não são apenas filmes, mas filmes que poderiam fazer falta na programação do próprio festival. Ao mesmo tempo, a Netflix pretende adquirir as obras que se destacarem no evento. Já fez isso no passado, quando comprou “Divines”, vencedor da Câmera de Ouro, como melhor filme de diretor estreante no Festival de Cannes de 2016. E estaria atualmente negociando os direitos, simplesmente, do longa programado para abrir o evento deste ano, “Todos lo Saben”, novo drama do iraniano Asghar Farhadi, vencedor de dois Oscars de Melhor Filme em Língua Estrangeira, que é estrelado pelo casal espanhol Penélope Cruz e Javier Bardem, além do argentino Ricardo Darín. O resultado dessa disputa deixa claro que um festival internacional está sujeito a descobrir que o mundo ao seu redor é vastamente maior que interesses nacionais possam fazer supor. Mas não é necessariamente um bom resultado. Afinal, a política de aquisições da Netflix já corrói de forma irreversível o Festival de Sundance, com repercussões no próprio Oscar. Considere que o filme vencedor de Sundance no ano passado simplesmente sumiu na programação da Netflix, sem maiores consequências. E a concorrência com a plataforma fez a HBO tirar do Oscar 2019 o filme mais falado de Sundance neste ano, programando-o para a televisão. Assim, a recusa “pro forma” de Cannes apenas demonstra seu descompasso com o mundo atual. Não é fechando a porta à Netflix que o streaming vai deixar de avançar. O cinema está numa encruzilhada. Enquanto se discute a defesa da arte e o pacto com o diabo, um trem avança contra os que estão parados. Fingir-se de morto não é mais tática aceitável. Olhar para trás é importante, como nos pôsteres do festival, que celebram a nostalgia, assim como olhar para os lados e, principalmente, para a frente. Este barulho ensurdecedor são os freios do trem. É bom que todos abram os olhos, se quiserem sobreviver.
Filme com Penélope Cruz que vai abrir o Festival de Cannes ganha primeiro trailer
Recém-anunciado como filme de abertura do Festival de Cannes 2018, “Todos lo Saben” ganhou seu primeiro trailer. E o clima é de suspense intenso, novamente envolvendo segredos do passado dos personagens, uma característica da filmografia de Asghar Farhadi. A principal novidade da obra em relação aos trabalhos anteriores do cineasta iraniano, vencedor de dois Oscars, é a escolha de uma cultura e uma língua estrangeiras para contar a história, que ele próprio escreveu. Mesmo quando visitou a França em “O Passado”, Farhadi manteve-se nos limites da cultura islâmica, mas, desta vez, abandona totalmente a conexão com suas raízes, filmando personagens latinos. A trama é estrelada pelo casal espanhol Penélope Cruz (“Assassinato no Expresso do Oriente”) e Javier Bardem (“Mãe!”), além do argentino Ricardo Darín (“Truman”), e gira em torno da personagem de Cruz, que retorna a sua cidadezinha natal durante um período festivo, apenas para testemunhar uma série de eventos inesperados trazer vários segredos a público. “Todos lo Saben” abre o Festival de Cannes em 8 de maio e no dia seguinte chega aos cinemas franceses. Mas ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.
Novo filme do diretor de A Separação vai abrir o Festival de Cannes 2018
O novo filme do cineasta iraniano Asghar Farhadi, vencedor de dois Oscars de Melhor Filme em Língua Estrangeira, foi selecionado para abrir o Festival de Cannes 2018. Falado em espanhol, o filme é um thriller psicológico intitulado “Todos lo Saben” (“Todos sabem”, em tradução literal) e estrelado pelo casal espanhol Penélope Cruz e Javier Bardem, além do argentino Ricardo Darín. “Todos lo Saben” será apenas o segundo filme de língua espanhola a abrir o tradicional festival francês, após “Má Educação” de Pedro Almodóvar, em 2004. O longa também marca o desembarque do terceiro filme consecutivo de Farhadi em Cannes, após as premières de “O Passado” (2013) e “O Apartamento” (2016). Este último acabou vencendo o Oscar 2017. O diretor também conquistou o Leão de Ouro no Festival de Berlim com “A Separação”, seu filme mais conhecido, que também foi premiado no Oscar 2012. Escrito por Farhadi, “Todos lo Saben” conta a história de Laura (Penelope Cruz) em uma viagem com a família de Buenos Aires para sua cidade natal na Espanha. A reunião familiar, no entanto, é interrompida por eventos que mudam o curso das vidas dos personagens. O filme será lançado em 9 de maio na França — um dia depois da premiére em Cannes – , mas ainda não tem previsão de estreia no Brasil.
Neve Negra prende a atenção com mistérios e descobertas surpreendentes
Narrativas que envolvem muitos personagens e diversas subtramas são um convite à dispersão. Elementos centrais podem perder a força e o tempo consumir a atenção e o interesse do espectador. Às vezes, é como aquelas pessoas que se perdem em longas explicações, perorações intermináveis, que a gente acaba por não ouvir ou entender mais nada. Muito diferente é o papo direto e reto. O jeito econômico de contar uma história ou desenvolver uma ideia. O thriller argentino “Neve Negra” é um bom exemplar de trama econômica, focada no que interessa, sem dispersões. Usa o recurso do flashback progressivo, que vai mostrando em doses homeopáticas o passado dos poucos personagens envolvidos na história, de modo a ir elucidando tudo até o final. Não é um vai-e-vem no tempo interminável e confuso, como, por exemplo, o que se pode ver em outro filme em cartaz nos cinemas, “Faces de Uma Mulher”, produção francesa, dirigida por Arnaud des Pallières. E há tantos outros exemplos, atualmente. Não, o filme de Martín Hodara (“O Sinal”) é cheio de mistérios e descobertas surpreendentes, mas tudo faz muito sentido e termina bem amarrado. Sem deixar fios soltos pelo caminho. Toca, também, na questão de que a verdade é aquilo em que a gente acredita ou admite que seja, aquilo que ficou estabelecido como tal. Um segredo bem guardado estabelece o que virá depois. Ou, quem sabe, segredos em série darão o rumo das coisas. Como de costume no cinema argentino contemporâneo, vê-se um roteiro bem construído, uma história bem concebida e que vai ao ponto. Além disso, “Neve Negra” conta com alguns dos maiores atores do momento, como Ricardo Darín (“Truman”) e Leonardo Sbaraglia (“O Silêncio do Céu”), e o veterano e grande ator Federico Luppi (“No Fim do Túnel”). A jovem atriz espanhola Laia Costa (“Victoria”) tem uma interpretação segura e emocionante, ao lado desses cobras. Mostra desenvoltura. A trama remexe uma dinâmica familiar apodrecida por tudo o que ficou encoberto, negado e virou tabu na relação entre os irmãos e deles com os pais. É bem assustador o que se estabelece a partir daí. O filme mostra como isso está hoje, quando um dos irmãos, Salvador (Ricardo Darín), vive isolado, caçando na região montanhosa e gelada da Patagônia, e se tornou bem agressivo no contato. Marcos (Leonardo Sbaraglia), o irmão mais novo, e sua esposa, Laura (Laia Costa), vão ao encontro dele, tentando convencê-lo a vender a propriedade onde ele está há décadas, longe das coisas. Tarefa quase impossível. Enquanto isso, a outra irmã, Sabrina (Dolores Fonzi, de “Paulina”), vive internada, tendo crises de descontrole emocional. Para entender o porquê de tudo isso, “Neve Negra” mergulha no passado desses irmãos e nas relações que se estabeleceram entre eles, na juventude. A neve da Patagônia, os espaços amplos, vazios, as árvores que ressaltam no branco da paisagem, as tempestades, nevascas castigando o ambiente, são a expressão visual do desarranjo familiar de contornos dramáticos, trágicos, na verdade. E acabam por determinar o destino daqueles sofridos personagens. O filme tem grande fluência e a narrativa prende de tal modo, que seus já econômicos 90 minutos passam tão rápido que mal dá para perceber. Quando a projeção termina, a sensação é de que “Neve Negra” tem uma duração muito curta. Mas seu tempo é o padrão, o mais utilizado pela sétima arte desde sempre. Grande mérito para o trabalho do diretor Martín Hodara e seu elenco admirável e de grande eficiência nos desempenhos. Não surpreende o sucesso que o filme vem fazendo na Argentina, onde foi a produção mais vista nos cinemas em 2017, até aqui.
Asghar Farhadi filmará suspense com Ricardo Darin, Javier Bardem e Penélope Cruz
O próximo filme do cineasta iraniano Asghar Farhadi, vencedor de dois Oscars de Melhor Filme Estrangeiro, será em espanhol e estrelado pelo argentino Ricardo Darin (“Truman”) e pelo casal espanhol Javier Bardem (“Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar”) e Penélope Cruz (“Zoolander 2”). Ainda sem título oficial, a produção será uma drama puxado para o suspense psicológico. A trama vai girar em torno do sequestro de uma jovem garota, cujo desaparecimento acaba revelando os segredos da família. Darin viverá o marido de Cruz. O filme terá ainda trilha de Alberto Iglesias e direção de fotografia de Jose Luis Alcaine, ambos parceiros habituais de Pedro Almodóvar. O cineasta espanhol, inclusive, esteve envolvido com a produção, mas acabou desistindo de produzir o projeto. As filmagens estão previstas para agosto e os direitos de distribuição internacional estão sendo negociados no Festival de Cannes.
Kóblic traz Ricardo Darín em clima de western argentino
Sebastian Borensztein, o diretor do muito competente e divertido “Um Conto Chinês” (2011), agora nos leva ao terreno dramático da política, do suspense, da violência, dos westerns. Uma vez mais, nos traz o grande ator do cinema argentino da atualidade, Ricardo Darín. O filme é “Kóblic”, o sobrenome de um capitão das Forças Armadas em plena ditadura argentina, em 1977. Tomas Kóblic (Ricardo Darín) é escalado para pilotar um dos terríveis voos da morte, que arremessavam ao mar os chamados “subversivos” ou inimigos do regime. Lembram-se da Operação Condor, também no Brasil? A tarefa, muito difícil, e que abala a consciência de qualquer ser humano digno, não sai como devia e Kóblic é exortado a se esconder, numa espécie de exílio no próprio país, em uma localidade perdida no mapa, que não interessa a ninguém. Esse lugar esquecido, porém, tem seus próprios esquemas de poder, ainda que longe de tudo e de todos. O que alcançará o piloto militar e fará com que ele não possa ter sossego. Por um lado, um policial que se considera dono do lugar, uma terra sem lei. Por outro, um perigoso envolvimento romântico. E o suspense se instala, em clima de western. Outra forma de violência não tardará a se apresentar. Não há espaço tranquilo para os que buscam esquecer um passado que teima em não se desfazer. O contexto político realista dá lugar à dimensão mítica da violência que grassa perdida por este mundo de Deus. A partir daí, predominam as referências ao próprio cinema e sua história. O filme flui muito bem, envolve, emociona. É um bom produto do gênero cinematográfico escolhido. Só que terra sem lei leva, inevitavelmente, à justiça por conta própria, à vingança. Esse é um elemento essencial e um complicador para a trama. Afinal, o que é mesmo que a violência produz senão mais violência? A dimensão política mais séria se perde, embora o entretenimento triunfe.
Colombiano O Abraço da Serpente é o grande vencedor do Prêmio Platino 2016
O filme colombiano “O Abraço da Serpente” foi o grande vencedor da terceira edição dos Prêmios Platino de Cinema Ibero-Americano. O terceiro longa de Ciro Guerra (“As Viagens do Vento”) levou sete prêmios, incluindo Melhor Filme e Direção, no evento que busca se firmar como um Oscar do cinema falado em espanhol e português. “Compartilho este prêmio com as comunidades amazônicas que nos abriram seu mundo”, disse Ciro Guerra em seu agradecimento. Filmado em preto e branco, o filme se baseia em relatos de dois cientistas e exploradores da região amazônica e acompanha a história de um índio em dois tempos: na juventude em que desconfiava dos brancos e numa idade mais avançada, quando se tornou um xamã desiludido (leia a crítica completa). Das oito categorias em que estava indicado, “O Abraço da Serpente” não levou apenas o prêmio de Melhor Roteiro, vencido pelo chileno “O Clube”, escrito por Pablo Larraín, Guillermo Calderón e Daniel Villalobos. As demais vitórias aconteceram nas chamadas categorias técnicas – Melhor Fotografia, Edição, Direção de Arte, Som e Música Original. O cinema argentino também foi comemorado nas categorias de atuação, com os prêmios para Dolores Fonzi por seu papel em “Paulina” e para Guillermo Francella em “O Clã”. Além disso, Ricardo Darín foi ovacionado pelos cerca de 2 mil espectadores presentes na festa quando subiu ao palco para receber o troféu especial Platino de Honra por sua carreira. Nenhum filme brasileiro concorria à premiação, que aconteceu no domingo (24/7) no Centro de Convenções de Punta del Este, no Uruguai. Mesmo assim, “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert levou um prêmio fora de competição. Entregue pela vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1992, a guatemalteca Rigoberta Menchú, o drama nacional recebeu o Prêmio Platino de Cinema e Educação em Valore. Vencedores do Prêmio Platino 2016 Melhor filme “O abraço da serpente” (Colômbina, Venezuela e Argentina) Melhor diretor Ciro Guerra (“O abraço da serpente”) Melhor ator Guillermo Francella (“O clã”) Melhor atriz Dolores Fonzi (“Paulina”) Melhor roteiro Pablo Larraín, Guillermo Calderón e Daniel Villalobos (“O clube”) Melhor animação “No Mundo da Lua” (Espanha) Melhor documentário “O Botão de Pérola” (Chile e Espanha) Melhor edição Etienne Boussac e Cristina Gallego (“O abraço da serpente”) Melhor direção de arte Angélica Perea (“O abraço da serpente”) Melhor direção de fotografia Carlos García e Marco Salavarria (“O abraço da serpente”) Melhor música original Nascuy Linares (“O abraço da serpente”) Melhor direção de som Carlos García e Marco Salaverría (“O abraço da serpente”) Melhor filme de diretor estreante “Ixcanul” (Guatemala)
Ricardo Darín será homenageado pelo “Oscar Ibero-Americano”
O ator argentino Ricardo Darín será homenageado com o Prêmio Platino de Honra do Cinema Ibero-Americano em 2016. Em comunicado, os organizadores do prêmio “reconhecem o carisma e o talento com os quais o ator seduziu milhões de espectadores na região ibero-americana e no mundo”. Além de homenageado, Darín também é candidato, pela segunda vez, ao prêmio de Melhor Interpretação Masculina, pelo papel no filme espanhol “Truman”, de Cesc Gay. Antes do ator argentino, a brasileira Sonia Braga e o espanhol Antonio Banderas também foram homenageados pelo evento, que, apesar de recente, tenta se posicionar como uma espécie de Oscar para o cinema ibero-americano (basicamente, falado em espanhol e português). Em sua terceira edição, o Prêmio Platino não selecionou nenhum filme brasileiro entre seus concorrentes. Dois longas lideram as nomeações, citados em oito categorias: “O Abraço da Serpente”, do colombiano Ciro Guerra, e “Ixcanul”, do guatemalteco Jayro Bustamante. Além deles, também aparecem com destaque “O Clube”, do chileno Pablo Larraín, e “O Clã”, do argentino Pablo Trapero, com seis indicações. O prêmio principal, o de Melhor Filme Ibero-Americano, será disputado pelos quatro mencionados e “Truman”, do espanhol Cesc Gay. A cerimônia de premiação está marcada para 26 de julho no Centro de Convenções de Punta del Este, no Uruguai. Confira a lista completa dos indicados aqui.
Filme espanhol mais premiado do ano, Truman mescla humor e drama com o talento de Ricardo Darín
Dois amigos de infância, separados geograficamente e pelo tempo decorrido, reencontram-se por alguns dias, quando um deles aparece para uma visita surpresa. Tomás (Javier Cámara) vive no Canadá, com sua família, e vem encontrar-se com Julian (Ricardo Darín), que vive na Espanha, separado da mulher, com um filho em outra cidade, em um momento decisivo da vida. O encontro será marcado por muito afeto, estranhezas, cobranças, disputas e também muita solidariedade. É um filme que celebra a diversidade de pessoas e situações, buscando entender, não julgar. E como isso pode ser difícil nos relacionamentos humanos! O foco da narrativa está numa questão basilar: podemos manejar e controlar a nossa própria vida, mantendo as rédeas até seu último instante e garantindo até mesmo situações posteriores a ela mesma? Que domínio podemos ter sobre a própria morte? Qual a melhor maneira de se despedir da vida? E como nossas decisões podem afetar os outros? Que direito temos de levá-los a compartilhar de nossos desejos fúnebres? Quais são esses limites? Essa pode ser uma discussão de caráter filosófico, mas comporta também coisas bem prosaicas. Uma delas: com quem ficaria meu cachorro, velho e grande amigo, que vai sentir muito a minha falta? Isso exige uma cuidadosa seleção de a quem caberiam esses cuidados na minha ausência, na falta de um sucessor, digamos, natural. Não escolhi esse exemplo à toa. “Truman”, o título do filme, é o nome do cachorro em questão, o que mostra sua importância para a trama. O papel cabe ao cão Troilo, que tem o privilégio de ter como parceiros de desempenho dois atores magníficos. Ricardo Darín (“O Segredo dos Seus Olhos”, “Um Conto Chinês”) é um dos mais talentosos atores de cinema na atualidade. Não só do cinema argentino, mas do mundial. O espanhol Javier Cámara (“Fale com Ela”, “Viver é Fácil Com os Olhos Fechados”) tem uma expressividade e um senso de humor que lhe permitem construir personagens cheios de humanidade e sutileza. O convívio de ambos na telona é impactante. O diretor Cesc Gay tem especial interesse em mostrar questões humanas num nível mais complexo, inesperado, surpreendente, algumas vezes constrangedor. E o faz mesclando drama e humor de forma muito eficiente. Em 2012, ele dirigiu “O Que os Homens Falam”, ótimo filme, concebido como antologia de várias histórias, que também contou com a participação de Ricardo Darín e Javier Cámara no elenco. Mas eles não contracenavam no mesmo episódio. Também naquele filme, o roteiro original coube ao diretor e seu parceiro Tomás Aragay. Parcerias bem sucedidas que voltam a se repetir. “Truman” foi o grande vencedor do prêmio Goya 2016 (O Oscar espanhol). Levou nada menos que os prêmios de Melhor Filme, Direção, Roteiro Original e para os Atores, protagonista e coadjuvante. Além de prêmios em outros festivais, como o de San Sebastian, pela atuação de Ricardo Darín. Tudo merecido.











