Brasileiro “A Flor do Buriti” é premiado na mostra Um Certo Olhar em Cannes
O filme luso-brasileiro “A Flor do Buriti” recebeu o prêmio de melhor equipe (prix d’ensemble) da mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, nesta sexta-feira (26/5). O prêmio é raro. Em toda a história da mostra, o Prix d’ensemble foi concedido em apenas outras duas edições: em 2014, para “Party Girl”, e em 2021, para “A Boa Mãe”, ambas produções francesas. “A Flor do Buriti” é dirigido pelo casal Renée Nader Messora e João Salaviza, que venceram o Prêmio Especial do Júri da mesma mostra em 2018, com o filme “A Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” (2018). Os dois filmes foram desenvolvidos em parceria com os krahôs, povo indígena de Tocantins que emprestou seus integrantes e idioma para a obra. A narrativa mostra como eles veem o mundo e revela os últimos 80 anos de sua história. São expostos desde um massacre que foram vítimas em 1940 até os acontecimentos do governo Bolsonaro. Além de chamar atenção nas telas, “A Flor do Buriti” também marcou presença com um protesto contra o marco temporal no tapete vermelho do festival. Junto dos diretores, estavam presentes Francisco Hyjnõ e Ilda Patpro, atores indígenas do filme, que levantaram uma faixa com a frase “O futuro das terras indígenas no Brasil está sob ameaça, não ao marco temporal”. O júri da “Um Certo Olhar” deste ano foi presidido pelo ator americano John C. Reilly (“Guardiões da Galáxia”) e teve como membros a diretora francesa Alice Winocour (“A Jornada”), a atriz alemã Paula Beer (“Undine”), a diretora francesa-cambojana Davy Chou (“Retour à Séoul”) e a atriz belga Émilie Dequenne (“Não é meu Tipo”). Karim Aïnouz (“O Marinheiro das Montanhas”) é o único brasileiro que já venceu o prêmio principal da mostra Um Certo Olhar. A conquista ocorreu em 2019, com “A Vida Invisível”. Este ano, a vencedora foi Molly Manning Walker (“The Forgotten C”), com “”How To Have Sex”. O filme fala sobre três adolescentes curtindo as férias. Uma delas quer perder a virgindade, mas as coisas não acontecem como ela esperava. A premiação principal do Festival de Cannes, que inclui a entrega da Palma de Ouro ao vencedor da mostra competitiva, será neste sábado (27/5).
Druk – Mais uma Rodada vence prêmio de Melhor Filme Europeu do ano
A Academia Europeia de Cinema (EFA, na sigla em inglês) consagrou “Druk – Mais uma Rodada” (Another Round), novo longa do diretor Thomas Vinterberg, como Melhor Filme Europeu do ano. Grande vencedor da cerimônia de premiação, que aconteceu de forma virtual na tarde deste sábado (12/12), “Druk – Mais uma Rodada” conquistou todos os quatro troféus a que concorria, incluindo ainda Melhor Direção, Roteiro (também de Vinterberg) e Ator (Mads Mikkelsen). O cineasta dinamarquês é um velho frequentador da premiação. Ele já tinha sido consagrado com o Prêmio Descoberta (da Crítica) em 1998 por um de seus primeiros longas, “Festa de Família”, e vencido o troféu de Roteiro por “A Caça”, em 2012. Mas é a primeira vez que leva o troféu principal dos European Awards, bem como o reconhecimento por ter feito a Melhor Direção do ano. Já Mads Mikkelsen venceu seu prêmio após bater na trave três vezes anteriormente. Ele chegou a ser considerado favorito por “A Caça”, após ser premiado no Festival de Cannes pelo papel, mas precisou fazer nova parceria com Vinterberg para ter seu talento reconhecido pela Academia. Um dos filmes mais elogiados de 2020, “Druk – Mais uma Rodada” também já tinha sido premiado no Festival de Londres, San Sebastian e Ghent. A trama gira em torno de Martin, interpretado por Mikkelsen, um tutor, marido e pai que já foi brilhante, mas se tornou apenas uma sombra de si mesmo após embarcar numa jornada alcoólica para testar uma teoria. A 33ª edição da premiação europeia também destacou a alemã Paula Beer como Melhor Atriz por seu trabalho em “Undine”, três anos após sua primeira indicação (por “Frantz”). Comandado pelo apresentador de TV alemão Steven Gätjen, que apresentou os prêmios em Berlim, com participação remota dos indicados, o evento ainda definiu a produção francesa “Un Triomphe”, de Emmanuel Courcol, como Melhor Comédia do ano, “Collective”, de Alexander Nanau, como Melhor Documentário, e “Josep”, de Aurel, como a Melhor Animação. A maioria dos premiados pela EFA ainda é inédita no Brasil, mas os assinantes da Netflix conhecem bem pelo menos um dos títulos: o terror espanhol “O Poço”, vencedor da categoria de Efeitos Visuais e que deu muito o que falar quando foi lançado em streaming no começo do ano. Veja abaixo a lista completa dos vencedores. Melhor Filme Europeu “Druk – Mais uma Rodada” Melhor Diretor Europeu Thomas Vinterberg, “Druk – Mais uma Rodada” Melhor Ator Europeu Mads Mikkelsen, “Druk – Mais uma Rodada” Melhor Atriz Europeia Paula Beer, “Undine” Melhor Roteirista Europeu Thomas Vinterberg & Tobias Lindholm, “Druk – Mais uma Rodada” Melhor Comédia Europeia “Un Triomphe”, de Emmanuel Courcol Melhor Animação Europeia “Josep”, de Aurel Melhor Documentário Europeu “Collective”, de Alexander Nanau Melhor Curta Europeu “All Cats Are Grey In The Dark”, de Lasse Linder Melhor Fotografia Europeia Matteo Cocco, de “A Vida Solitária de Antonio Ligabue” Melhor Edição Europeia Maria Fantastica Valmori, “Il Varco – Once More Unto the Breach” Melhor Desenho de Produção Europeu Cristina Casali, “The Personal History Of David Copperfield” Melhor Figurino Europeu Ursula Patzak, “A Vida Solitária de Antonio Ligabue” Melhor Cabelo e Maquiagem Europeus Yolanda Pina, Felix Terrero, Nacho Diaz, “La Trinchera Infinita” Melhor Trilha Sonora Europeia Dascha Dauenhauer, “Berlin Alexanderplatz” Melhor Som Europeu Yolande Decarsin, “Pequena Garota” Melhores Efeitos Visuais Europeus Inaki Madariaga, “O Poço” Prêmio EFA para Narrativa Inovadora Mark Cousins, “Women Make Film: A New Road Movie Through Cinema” Descoberta Europeia – Prêmio da Crítica Carlo Sironi, “Sole” Prêmio de Coprodução Eurimages Luis Urbano
Drama iraniano filmado em segredo por preso político vence Festival de Berlim
O filme “There Is No Evil”, do iraniano Mohammad Rasoulof, venceu o Urso de Ouro do 70º Festival de Berlim, em uma edição de forte caráter político. O júri presidido pelo ator britânico Jeremy Irons concedeu o prêmio máximo à obra de Rasoulof, que alinha histórias protagonizadas por militares encarregados de executar condenados pelo estado. O longa foi filmado em segredo, porque o diretor é considerado preso político e está supostamente proibido de filmar. Rasoulof, inclusive, cumpre prisão domiciliar devido a seu longa anterior, “Lerd”, que denunciou a corrupção no Irã e foi premiado em Cannes em 2017. O governo iraniano considerou o filme um “perigo para a segurança nacional” e peça de “propaganda contra o regime islâmico”. Para piorar seu caso, ele é reincidente, pois também foi condenado por “Manuscritos não Queimam”, igualmente premiado em Cannes em 2013. Foi nesta ocasião que foi proibido de filmar por 20 anos. “There Is No Evil” já é seu segundo filme desde esta proibição. “Gostaria que ele estivesse aqui. Muito obrigado a toda esta equipe incrível que arriscou sua vida para estar no filme”, disse o produtor Farzad Pak ao receber o troféu, junto da filha do diretor, Baran Rasoulof, que também atuou no longa. Favorito da crítica presente no festival, “Never Rarely Sometimes Always”, da americana Eliza Hittman, que causou comoção ao defender o direito ao aborto, levou o Grande Prêmio do Júri, considerado o 2º lugar da premiação. O drama de duas adolescentes do interior da Pensilvânia que viajam a Nova York para terminar uma gravidez indesejada já havia sido premiado em Sundance, em janeiro, e ainda deve dar muito o que falar ao longo do ano. A onda sul-coreana que impulsionou “O Parasita” durante sua trajetória vitoriosa de Cannes ao Oscar continuou em Berlim na premiação de Hong Sang-soo como Melhor Diretor por “The Woman Who Ran”, sobre encontros de uma jovem casada com amigas do passado. O Urso de Prata de Melhor Atriz foi conquistado pela alemã Paula Beer, por “Undine”, de Christian Petzold, que vive uma guia de turismo de Berlim numa história de amor relacionada ao mito das sereias, enquanto a estatueta prateada de Melhor Ator ficou com o italiano Elio Germano por “Hidden Away” (Volevo Nascordermi), de Giorgio Diritti, no qual interpreta um pintor com problemas físicos e psicológicos. A Itália também levou o troféu de Melhor Roteiro, vencido pelos irmãos Damiano e Fabio D’Innocenzo por “Favolacce”, que eles também dirigiram. “Irradieted”, do cambojano Rithy Panhm, foi eleito o Melhor Documentário da seleção oficial. O único candidato brasileiro na mostra competitiva, “Todos os Mortos”, não recebeu nenhuma menção. O trabalho dos diretores Marco Dutra e Caetano Gotardo foi recebido com frieza pela crítica internacional. Confira abaixo a lista completa dos vencedores. Urso de Ouro – Melhor Filme “There Is No Evil”, de Mohammad Rasoulof – Irã Grande Prêmio do Júri “Never Rarely Sometimes Always”, de Eliza Hittman – EUA Melhor Direção Hong Sang-soo, por “The Woman Who Ran” – Coreia do Sul Melhor Atriz Paula Beer, por “Undine” – Alemanha Melhor Ator Elio Germano, por “Hidden Away” (Volevo Nascordermi) – Itália Melhor Roteiro “Favolacce”, de Damiano D’Innocenzo e Fabio D’Innocenzo – Itália Melhor Contribuição Artística Fotografia de “DAU. Natasha”, de Ilya Khrzhanovskiy e Jekaterina Oertel – Rússia Prêmio Especial da 70º Berlinale “Effacer l’Historique”, de Benoìt Delépine e Gustave Kervern – França Melhor Documentário “Irradiated”, de Rithy Panh – Camboja
Em Trânsito transforma Europa numa distopia de extrema direita
Alguns dos grandes autores do cinema já trazem em sua primeira obra a semente da grandeza. É o que acontece, por exemplo, com o alemão Christian Petzold, que desde “Pilotinnen” (1995), feito para a televisão, já antecipava temas de suas obras mais consagradas, como a trilogia do amor em tempos de opressão, composta por “Barbara” (2012), “Phoenix” (2014) e o novo “Em Trânsito” (2018). O novo filme, inclusive, retoma a encenação de personagens tristes e largados em cafés como ponto de partida – também presente no segundo filme do diretor, “Cuba Libre” (1996). E busca o mesmo aspecto mais ensolarado, no modo como destaca as principais cenas à luz do dia, para servir de contraste à tramas influenciadas pelo cinema noir, inclusive com o uso de voice-overs, dando um ar de fábula às narrativas. O mais curioso na trama de “Em Trânsito” é que sua sinopse sugere um drama de época. Mais especificamente dos tempos da ocupação alemã na França, durante a 2ª Guerra Mundial. Afinal, a história é baseada no romance homônimo de Anna Seghers, escrito em 1944. Mas Petzold fez um filme contemporâneo, em clima de distopia, passada num presente possível ou futuro muito próximo da França, repleto de detalhes modernos, como carros e tecnologia do século 21. A escolha busca refletir o período de ascensão da extrema direita e do neonazismo em todo o planeta, além da falta de sensibilidade de muitos governos sobre a situação dos refugiados, vistos como ameaças. É fácil estabelecer uma conexão entre o mundo ensolarado em que uns vivem e a realidade sombria dos demais, endurecida por abusos diários. Há uma cena no filme em que alemães buscam uma mulher refugiada num apartamento e a arrastam pelo corredor enquanto várias pessoas apenas testemunham, de certa forma aliviadas por aquilo não estar acontecendo com elas. Ninguém protesta. A violência estatal se tornou a norma. A trama acompanha Georg (Franz Rogowski, ator que lembra fisicamente Joaquin Phoenix), um homem que vive uma vida despida de muito sentido. Quando ele entra em um apartamento e se apossa dos manuscritos e dos documentos de um escritor que cometeu suicídio, consegue a chance de mudar de identidade e finalmente escapar para outro lugar do mundo – o México ou os Estados Unidos. Até que Georg conhece e se apaixona por uma mulher (Paula Beer, de “Frantz”), que embora viva com outro homem, busca encontrar o marido desaparecido – justamente a identidade roubada pelo protagonista. O triângulo amoroso confere à obra um tom mais universal, embora se distancie bastante das histórias de amor mais usuais. Petzold prefere apostar na melancolia dos personagens à deriva no velho novo mundo, pouco admirável, desse início de milênio.
Transit: Nova obra-prima do diretor de Fênix e Barbara ganha trailer americano
A Music Box divulgou o pôster e o trailer americanos de “Transit”, descrito no cartaz como “a nova obra-prima de Christian Petzold”. Trata-se realmente de um dos melhores diretores alemães de sua geração, que em “Transit” dá sequência aos temas de “Fênix” (2014) e “Barbara” (2012) – como identidades trocadas, falência da nação e desejo de fuga. A história é baseada no romance homônimo de Anna Seghers, escrito em 1944 e lançado no Brasil com o título de “Em Trânsito”. A obra original acompanha um alemão em fuga de seu país durante a 2ª Guerra Mundial, que se esconde na França, onde adota a identidade de um escritor morto, apenas para ser descoberto pela mulher do homem por quem se passa, também desesperada em escapar da Europa. Os protagonistas são vividos por Franz Rogowski (de “Victoria”) e Paula Beer (de “Frantz”). O detalhe é que Petzold transportou a trama para os dias atuais, dando à sua adaptação uma aura de sci-fi distópica, já que o fascismo que persegue os protagonistas deixa de ser referências históricas. Com 93% de aprovação no Rotten Tomatoes e elogios rasgados da crítica, o suspense dramático estreia em 1 de março nos Estados Unidos e ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.
Frantz prova que, com um grande diretor, até remakes podem surpreender
A impressão de que um remake pode não trazer surpresas é desafiada por “Frantz”, do prolífico François Ozon, que refaz o clássico “Não Matarás” (1932), de Ernst Lubitsch. Na nova versão, filmada em preto e branco como o original, as surpresas não param de saltar em inúmeros plot twists, ora feitos para nossa diversão, ora feito para machucar ainda mais os personagens e também a nós, espectadores. No filme de Lubitsch e na peça que o inspira, de Maurice Rostand, sabemos desde o início quem é o francês que está naquela cidadezinha alemã enlutada após o fim da 1ª Guerra Mundial. Sabemos que ele está ali para conhecer e pedir perdão à família de Frantz, o rapaz que ele matou no front, durante a guerra. No drama de Ozon, porém, as motivações do jovem francês se constituem um mistério durante boa parte da narrativa. Ozon, muito habilmente, manipula as expectativas do espectador, ao mesmo tempo que também brinca com subtextos homoeróticos, levando a crer que Adrien (Pierre Niney, de “Yves Saint Laurent”) tinha algo mais do que uma amizade com Frantz. Isto é subentendido a partir de imagens em cores, embaladas como possíveis flashbacks, que mostram bons momentos vividos pelos supostos amigos de países inimigos. O jogo de cores, aliás, é muito bonito, e geralmente elas surgem quando há algum momento de paz na trama. E se não temos um patriarca tão amoroso quanto Lionel Barrymore em “Não Matarás”, é porque o cineasta francês opta por enfatizar ainda mais a relação dos jovens: o atormentado Adrien e a moça que casaria com Frantz, Anna (a alemã Paula Beer, de “O Vale Sombrio”). Há uma cena que traz uma carga gay que torna mais complexa a relação entre Adrien e Anna. Ele tem a ideia de tirar a roupa para nadar em um lago ali perto, durante uma caminhada com a jovem. Sendo Ozon um cineasta que costuma integrar elementos queer em seus filmes com certa frequência, não seria difícil imaginar Adrien como um rapaz apaixonado não por Anna, mas pelo falecido Frantz. Acostumado a transitar por diversos gêneros e lidar com sentimentos e personagens mais profundos em longas como “O Amor em 5 Tempos” (2004), “O Tempo que Resta” (2005) e “O Refúgio” (2009), mais uma vez Ozon coloca o espectador no lugar de uma personagem atraente. Mas este não é Adrien e sim Anna. Afinal, é pelos olhos dela, principalmente, que vemos o filme. E é pelos olhos dela apenas que o ato final se transforma num dos mais brilhantes e mais tocantes da carreira do cineasta francês. O caminho que a heroína percorre na meia hora final diferencia o trabalho de Ozon completamente do filme de Lubitsch, que até se torna muito mais alegre e simples em comparação. No mais, vale deixar registrado: ouvir “A Marselhesa” cantada por franceses com sangue nos olhos é de arrepiar. Assim como o destino final dos atormentados personagens. Grande filme.
Frantz: Indicado a 11 Césars, novo filme de François Ozon ganha trailer legendado
A California Filmes divulgou o trailer legendado de “Frantz”, novo filme do cineasta François Ozon. Filmado em preto e branco e passado no começo do século 20, o vídeo evoca os antigos melodramas da era de ouro do cinema, ao mostrar como a jovem Anna, interpretada por Paula Beer (“O Vale Sombrio”), conhece o tenente francês Adrien (Pierre Niney, de “Yves Saint Laurent”), quando este deixa flores no túmulo de seu noivo, Frantz, falecido na guerra. Ao descobrir que os dois eram antigos amigos, Anna leva o francês para conhecer os pais de Frantz, que se encantam com o recém-chegado, forçando sua permanência da vida de todos, mesmo a contragosto da comunidade alemã. “Frantz” recebeu 11 indicações ao César 2017, o Oscar francês, e apesar da estilização mantém as características da filmografia de Ozon, como sua obsessão por contar histórias repletas de detalhes obscuros, esconder segredos e visitar a dor, num jogo de aparências derivado do suspense, que leva a ponderar o que é realmente verdade e que rumos terá sua trama. A história original, baseada numa peça do francês Maurice Rostand, já havia sido levada ao cinema, no clássico “Não Matarás” (1932), do mestre alemão Ernst Lubitsch. Mas a versão de Ozon inclui detalhes que não poderiam ser exibidos nos anos 1930. A premiére mundial aconteceu no Festival de Veneza, quando rendeu um prêmio para Paula Beer. A estreia no Brasil está marcada para 2 de março.
Veneza: Filme filipino vence festival marcado por destaques hollywoodianos
O drama filipino “The Woman Who Left”, do cinemaratonista Lav Diaz, foi o vencedor do Leão de Ouro da 73ª edição do Festival de Veneza, marcado por forte presença hollywoodiana e candidatos potenciais ao Oscar 2017. Como sempre na carreira de Lav Diaz, seu novo filme é para poucos, apenas para os mais resistentes, dispostos a encarar o desafio de suas 3h46 de projeção. Isto não impede Diaz de ser um dos mais cineastas asiáticos mais premiados da atualidade, embora também seja o menos visto de todos, devido à dificuldade de encaixar seus literalmente longa-metragens na programação convencional dos cinemas. “The Woman Who Left” rendeu o primeiro Leão de Ouro da carreira do diretor, mas já é seu terceiro filme premiado em Veneza. Anteriormente, ele tinha se destacado na mostra paralela Horizontes, com um Prêmio do Juri pela maratona “Death in the Land of Encantos” (2007), de apenas 9 horas de duração, e o troféu de Melhor Filme por “Melancholia” (2008), filme menorzinho, com 7h30 de metragem. Baseado num conto do escritor russo Leon Tolstoi, “The Woman Who Left” se passa em 1997, quando Hong Kong foi devolvida à China pelos britânicos, e conta a história de Horacia (Charo Santos-Concio), mulher que busca vingar os 30 anos que passou injustamente na prisão. Mas ao se ver livre, Horacia se surpreende ao encontrar uma sociedade com divisões profundas entre pobres e ricos. Em contraste ao único filme asiático premiado, o festival distribuiu a maior quantidade de troféus para o cinema de Hollywood, reconhecendo a boa qualidade da safra. O Grande Prêmio do Júri (espécie de 2º lugar) foi para “Nocturnal Animals”, de Tom Ford, o Prêmio Especial do Júri (3º lugar) para “The Bad Batch”, de Ana Lily Amirpour, e a Copa Volpi de Melhor Atriz para Emma Stone, por “La La Land”. Esperava-se que o filme de Tom Ford e o musical de Damien Chazelle, bastante elogiados, disputassem o prêmio principal. Para completar, outro filme americano, “Jackie”, dirigido pelo chileno Pablo Larraín, rendeu o troféu de Melhor Roteiro para Noah Oppenheim. O cinema latino ficou com a Copa Volpi de Melhor Ator, conquistada pelo argentino Oscar Martinez (por “El Ciudadano Ilustre”), e um dos prêmios de Melhor Direção, que foi dividido entre dois cineastas, o mexicano Amat Escalante (por “La Región Salvaje”) e o russo Andrei Konchalovsky (por “Paradise”). Além de Konchalovsky, houve apenas outro prêmio para desempenho europeu, o de Revelação para a atriz alemã Paula Beer, estrela de “Frantz”, do diretor francês François Ozon. O júri do festival de Veneza foi presidido pelo diretor britânico Sam Mendes, responsável pelos dois últimos filmes da franquia “007”. Confira abaixo a lista completa dos premiados. Vencedores do Festival de Veneza 2016 Melhor Filme “The Woman Who Left”, de Lav Diaz Grande Prêmio do Júri “Nocturnal Animals”, de Tom Ford Prêmio Especial do Júri “The Bad Batch”, de Ana Lily Amirpour Melhor Direção Amat Escalante, por “La Región Salvaje”, e Andrei Konchalovsky, por “Paradise” Melhor Ator Oscar Martinez, por “El Ciudadano Ilustre” Melhor Atriz Emma Stone, por “La La Land” Melhor Roteiro Noah Oppenheim, por “Jackie” Prêmio Marcello Mastroianni de Ator/Atriz Revelação Paula Beer, por “Frantz”, de François Ozon.
Veneza: François Ozon visita o cinema europeu clássico com provocação à Hollywood
Rodado em preto e branco e passado nos anos 1930, “Frantz”, do diretor francês François Ozon (“Dentro da Casa”), evoca uma produção clássica europeia. E, de fato, a história já foi filmada antes, pelo mestre alemão Ernst Lubitsch em “Não Matarás”, de 1932. Mas “Frantz” também é uma provocação a Hollywood. Por isso, o diretor não gosta que o chamem de remake. Na entrevista coletiva do Festival de Veneza, Ozon garantiu que “Frantz” não é uma refilmagem, pois, ao decidir rodar a história original, baseada numa peça do francês Maurice Rostand, não conhecia a obra de Lubitsch. Além disso, ele promoveu mudanças significativas na estrutura narrativa, mudando o foco para a personagem feminina e a situação da Alemanha do pós-guerra. Ele também explicou que a escolha do preto e branco não se deu apenas como homenagem ao cinema da época em que se passa a trama. “Nossas memórias da guerra estão vinculadas a essas duas cores, preto e branco, os arquivos, filmes e filmagens… esse é um período de mágoa e perda então eu pensei que o preto e branco fossem as melhores cores para a história”, disse para a imprensa. “Cores são muito mais emotivas e fornecem uma ideia sobre o sentimento de alguém”, completou. E, curiosamente, algumas cenas coloridas pontuam a narrativa, para enfatizar quando os personagens finalmente voltam à vida. O cineasta lembrou ainda que há poucos filmes sobre a 1ª Guerra Mundial, porque o nazismo que levou à 2ª Guerra Mundial capturou a imaginação mundial de tal forma que tudo o que o precedeu parece pouco importante. Um dos poucos foi um clássico do próprio cinema francês, “A Grande Ilusão” (1937), de Jean Renoir. “Frantz” tem uma cena de batalha, mas não é exatamente um filme de guerra e sim sobre suas consequências. A começar por seu título, nome de um soldado alemão morto em batalha. O filme acompanha sua jovem viúva Anna, interpretada por Paula Beer (“O Vale Sombrio”), que, numa visita ao cemitério, conhece o tenente francês Adrien (Pierre Niney, de “Yves Saint Laurent”), quando este deixa flores no túmulo de Frantz. O filme se constrói em torno de sentimentos de culpa e da paixão latente entre Anna e Adrien, estabelecendo-se quase como um melodrama, mas com as marcas do cinema de Ozon, em sua obsessão por contar histórias, esconder segredos e visitar a dor. Além disso, Ozon continua a provocar o público com armadilhas narrativas, num jogo de aparências derivado do suspense, que leva a ponderar o que é realmente verdade e que rumos terá sua trama. Pela primeira vez filmando em alemão, o cineasta defendeu em Veneza a decisão de escalar atores que falassem os idiomas originais de seus personagens, em vez de usar intérpretes falando a mesma língua com diferentes sotaques, como é comum nos filmes americanos. E aí provocou. “Em Hollywood, há essa convenção de que todo mundo fala inglês, mas o público não quer mais isso, porque eles querem ver a verdade”, disse Ozon. “Foi muito importante usar as línguas nativas porque elas são parte da cultura de ambos os países”, continuou, acrescentando que isso fez com que Niney precisasse aprender alemão durante as filmagens, para se comunicar com Beer.








