Drama iraniano filmado em segredo por preso político vence Festival de Berlim

O filme “There Is No Evil”, do iraniano Mohammad Rasoulof, venceu o Urso de Ouro do 70º Festival de Berlim, em uma edição de forte caráter político. O júri presidido pelo ator […]

O filme “There Is No Evil”, do iraniano Mohammad Rasoulof, venceu o Urso de Ouro do 70º Festival de Berlim, em uma edição de forte caráter político.

O júri presidido pelo ator britânico Jeremy Irons concedeu o prêmio máximo à obra de Rasoulof, que alinha histórias protagonizadas por militares encarregados de executar condenados pelo estado. O longa foi filmado em segredo, porque o diretor é considerado preso político e está supostamente proibido de filmar.

Rasoulof, inclusive, cumpre prisão domiciliar devido a seu longa anterior, “Lerd”, que denunciou a corrupção no Irã e foi premiado em Cannes em 2017. O governo iraniano considerou o filme um “perigo para a segurança nacional” e peça de “propaganda contra o regime islâmico”. Para piorar seu caso, ele é reincidente, pois também foi condenado por “Manuscritos não Queimam”, igualmente premiado em Cannes em 2013. Foi nesta ocasião que foi proibido de filmar por 20 anos. “There Is No Evil” já é seu segundo filme desde esta proibição.

“Gostaria que ele estivesse aqui. Muito obrigado a toda esta equipe incrível que arriscou sua vida para estar no filme”, disse o produtor Farzad Pak ao receber o troféu, junto da filha do diretor, Baran Rasoulof, que também atuou no longa.

Favorito da crítica presente no festival, “Never Rarely Sometimes Always”, da americana Eliza Hittman, que causou comoção ao defender o direito ao aborto, levou o Grande Prêmio do Júri, considerado o 2º lugar da premiação. O drama de duas adolescentes do interior da Pensilvânia que viajam a Nova York para terminar uma gravidez indesejada já havia sido premiado em Sundance, em janeiro, e ainda deve dar muito o que falar ao longo do ano.

A onda sul-coreana que impulsionou “O Parasita” durante sua trajetória vitoriosa de Cannes ao Oscar continuou em Berlim na premiação de Hong Sang-soo como Melhor Diretor por “The Woman Who Ran”, sobre encontros de uma jovem casada com amigas do passado.

O Urso de Prata de Melhor Atriz foi conquistado pela alemã Paula Beer, por “Undine”, de Christian Petzold, que vive uma guia de turismo de Berlim numa história de amor relacionada ao mito das sereias, enquanto a estatueta prateada de Melhor Ator ficou com o italiano Elio Germano por “Hidden Away” (Volevo Nascordermi), de Giorgio Diritti, no qual interpreta um pintor com problemas físicos e psicológicos.

A Itália também levou o troféu de Melhor Roteiro, vencido pelos irmãos Damiano e Fabio D’Innocenzo por “Favolacce”, que eles também dirigiram.

“Irradieted”, do cambojano Rithy Panhm, foi eleito o Melhor Documentário da seleção oficial.

O único candidato brasileiro na mostra competitiva, “Todos os Mortos”, não recebeu nenhuma menção. O trabalho dos diretores Marco Dutra e Caetano Gotardo foi recebido com frieza pela crítica internacional.

Confira abaixo a lista completa dos vencedores.

Urso de Ouro – Melhor Filme
“There Is No Evil”, de Mohammad Rasoulof – Irã

Grande Prêmio do Júri
“Never Rarely Sometimes Always”, de Eliza Hittman – EUA

Melhor Direção
Hong Sang-soo, por “The Woman Who Ran” – Coreia do Sul

Melhor Atriz
Paula Beer, por “Undine” – Alemanha

Melhor Ator
Elio Germano, por “Hidden Away” (Volevo Nascordermi) – Itália

Melhor Roteiro
“Favolacce”, de Damiano D’Innocenzo e Fabio D’Innocenzo – Itália

Melhor Contribuição Artística
Fotografia de “DAU. Natasha”, de Ilya Khrzhanovskiy e Jekaterina Oertel – Rússia

Prêmio Especial da 70º Berlinale
“Effacer l’Historique”, de Benoìt Delépine e Gustave Kervern – França

Melhor Documentário
“Irradiated”, de Rithy Panh – Camboja