Globoplay vai batizar salas de cinema de São Paulo
A plataforma de streaming da Rede Globo vai dar nome a duas salas do novo Cine Marquise, espaço que sucede o antigo Cinearte num dos endereços de cinema mais tradicionais da cidade de São Paulo. Localizado no Conjunto Nacional, no encontro entre a Avenida Paulista e a Rua Augusta, o novo cinema batizou suas salas de Globoplay 1 e Globoplay 2, que serão inauguradas com telas importadas, poltronas semi-vips e um sistema de som Dolby de última geração. “A parceria com esse projeto que traz de volta salas importantes de cinema de São Paulo reforça o nosso compromisso com a produção audiovisual. Nada mais adequado ao Globoplay, uma plataforma que apoia, valoriza e incentiva a cultura nacional”, diz afirma Tiago Lessa, Head de Marketing, Aquisição e Engajamento Produtos e Serviços Digitais Globo. A reforma completa do espaço também contou com patrocínio da Sabesp e da EMAE – Empresa Metropolitana de Águas e Energia. Como curiosidade, a bombonière do cinema também oferecerá aos frequentadores a cerveja artesanal paulistana da marca Tarantino, nome bastante apreciado pelos cinéfilos. Fechado há quase dois anos, antes mesmo da pandemia de covid-19, o Cinearte vai dar lugar oficialmente ao Cine Marquise na segunda quinzena deste mês, a tempo do espaço manter sua tradição de exibir os filmes da Mostra de São Paulo.
Congresso derruba veto de Bolsonaro e restabelece Lei de Incentivo ao Audiovisual
Em sessão remota do Congresso Nacional, deputados e senadores derrubaram nesta quarta-feira (12/8) o veto do presidente Jair Bolsonaro ao projeto de lei que prorroga os benefícios fiscais previstos na Lei do Audiovisual e a vigência do Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica (Recine). Bolsonaro tinha vetado integralmente o projeto em dezembro, após aprovação na Câmera e no Senado. A Lei do Audiovisual é uma forma de apoio indireta a projetos do setor, que dá descontos fiscais a patrocinadores. A norma entrou em vigor em 1993 e permite a dedução, no Imposto de Renda, das quantias investidas. Ela tinha perdido sua validade em 2019 e Bolsonaro se recusou a renová-la, vetando o projeto integralmente. Já o Recine é um regime tributário especial, que permite estimular a ampliação de investimentos privados em salas de cinema. A lei, agora promulgada, destina incentivos fiscais aos proprietários de salas de cinema pelo país e também à produção cinematográfica e televisiva brasileira. Pelo programa, é possível a suspensão da cobrança do PIS, Cofins, Imposto de Importação e IPI na importação de equipamentos usados na construção e modernização de cinemas. Por conta do veto original de Bolsonaro à renovação das duas leis, a Ancine, que não libera o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) desde 2018, tinha tomado a iniciativa de propor empréstimos a juros para exibidores pagarem dívidas geradas pelo fechamento das salas durante a pandemia. A promulgação da PL 5.815/2019, projeto de autoria do deputado Marcelo Callero (ex-Ministro da Cultura do governo Temer), agora garantirá verbas incentivadas ao circuito cinematográfico. Será um grande alívio em meio ao sufoco causado pela guerra cultural travada pelo desgoverno, que além de tentar impedir o setor de receber os incentivos da lei, proibiu apoio da Petrobras aos festivais do país, eliminou verbas de apoio da chancelaria à divulgação do cinema nacional no exterior, desmontou várias vezes a estrutura das secretarias da Cultura e do Audiovisual e criou dificuldades burocráticas para a liberação do FSA, verba de fomento da produção audiovisual, arrecadada via taxação do setor, cujo destino desde a posse de Bolsonaro é uma incógnita.
Cinearte, tradicional cinema de São Paulo, fecha as portas após 56 anos
O Cinearte, um dos cinemas mais tradicionais da cidade de São Paulo, localizado no Conjunto Nacional, no coração da Avenida Paulista, fechou as portas na noite de quarta-feira (19/2) devido à política cultural do governo Bolsonaro. O cinema foi inaugurado em 1963 com o nome de Cine Rio. Também já foi chamado de Cine Bombril, Cine Livraria Cultura e, até março de 2019, Cinearte Petrobras. Segundo orientação de Bolsonaro, a Petrobras não renovou o contrato de patrocínio com o cinema no começo de 2019. O corte foi geral e também atingiu festivais, como o Anima Mundi e o Festival de Rio, além de outros eventos culturais. A atriz Angela Leal revelou que chegou a enfartar quando seu teatro, o Rival, perdeu o apoio da Petrobrás no ano passado. O cinema não conseguiu novo patrocinador para ficar aberto, ao contrário do Cine Belas Artes, que enfrentou o mesmo problema em relação à Caixa Econômica Federal. Mas enquanto o Belas Artes, a poucos metros de distância, tornou sua situação – e causa – pública, o desfecho do Cinearte foi melancólico, sem aviso prévio ou alarde. A maioria do público chegou desavisado ao cinema na noite de quarta, sem saber que se tratava da última sessão. “Foram 22 anos de várias parcerias que tornaram possível a apresentação de inúmeros filmes independentes, debates, mostras, pré-estreias. Agradecemos a todos que, ao longo desta jornada, estiveram conosco nesta empreitada. Fechamos duas salas, mas não apagamos a crença na diversidade possível no cinema e que nosso lema Democracia na Tela esteja também no nosso cotidiano sempre”, disse Adhemar Oliveira, diretor do Circuito Cinearte, em comunicado. O último filme exibido foi “Parasita”, vencedor do Oscar 2020. Além de proibir que estatais possam ajudar a manter cinemas abertos, Bolsonaro vetou integralmente em dezembro a prorrogação do Recine (Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica) e dos incentivos fiscais da Lei do Audiovisual, que, entre outros objetivos, visavam fomentar a abertura de novos cinemas no Brasil. Não por acaso, durante o primeiro ano do governo Bolsonaro, o parque exibidor nacional registrou sua maior retração desde os anos 1990, perdendo 155 cinemas em relação ao relatório da administração anterior sobre a quantidade de salas de exibição existentes no país. A principal ironia desses dados é que a Ancine comemorou o resultado “robusto”. Quem quiser comparar e reparar na briga com a realidade, pode verificar um exemplo prático do orweliano Ministério da Verdade no próprio site oficial da Ancine, onde o relatório oficial de 2018 (aqui) exalta o recorde de 3.356 cinemas, enquanto o texto mais recente (aqui) afirma que o número era 3.194 e houve um crescimento “robusto” para 3.201 salas em 2019, “ressaltando o fortalecimento do número de cinemas no país”. O mesmo texto traz um link para powerpoints que não cobrem o ano passado, mas citam 3.352 salas em 2018. Noves fora, continuam aproximadamente 150 cinemas a menos.
Anima Mundi atinge meta de financiamento coletivo e terá 27ª edição
O Festival Anima Mundi conseguiu viabilizar sua 27ª edição com financiamento coletivo. O evento atingiu a meta de sua campanha no site Benfeitoria, superando os R$ 400 mil que necessitava para continuar, informaram os organizadores pelas redes sociais. Um dos eventos de animação mais prestigiados do planeta, o Anima Mundi qualifica seus vencedores a disputar o Oscar da categoria. Mas, como vários outros eventos culturais importantes, perdeu o apoio da Petrobras após a eleição de Bolsonaro. O presidente acredita que “o Estado tem maiores prioridades”. O patrocínio da Petrobras, retirado de todos os eventos culturais por decisão presidencial, respondia por 30% do orçamento total do Anima Mundi. Para tentar salvar o festival, os organizadores apelaram para o financiamento coletivo. E o público correspondeu. Ainda assim, a 27ª edição será uma das mais enxutas do evento. Antes de Bolsonaro, o orçamento médio do Anima Mundi era de R$ 3 milhões – por sinal, acima do teto de US$ 1 milhão estabelecido pelo governo para a nova Lei de Incentivo Cultural. Mas os organizadores redimensionaram o projeto para transformá-lo numa mostra de filmes, acompanhada por debates e encontros entre profissionais e público, orçada em R$ 800 mil. Mesmo assim, a expectativa real era de captar metade desse valor com o financiamento coletivo, para viabilizar ao menos as mostras. Foi o que aconteceu. Com todos os perrengues, o festival pretende exibir 303 filmes, com produções de mais de 40 países, entre os dias 17 e 21 de julho no Rio de Janeiro, e de 24 a 28 de julho em São Paulo. Ver essa foto no Instagram #VaiTerAnimaMundi #AnimaMundi2019 Uma publicação compartilhada por Anima Mundi (@animamundioficial) em 28 de Jun, 2019 às 8:31 PDT Ver essa foto no Instagram #VaiTerAnimaMundi Uma publicação compartilhada por Anima Mundi (@animamundioficial) em 28 de Jun, 2019 às 10:49 PDT
Anima Mundi pode ser primeira vítima da “política cultural” de Bolsonaro
O Festival Anima Mundi, que tem sua 27ª edição prevista para julho no Rio e em São Paulo, pode se tornar o primeiro evento cinematográfico do ano cancelado pela “política cultural” do governo Bolsonaro. Um dos eventos de animação mais prestigiados do planeta, o Anima Mundi qualifica seus vencedores a disputar o Oscar da categoria. Mas Bolsonaro diz que “o Estado tem maiores prioridades”. O patrocínio da Petrobras, retirado de todos os eventos culturais por decisão presidencial, respondia por 30% do orçamento total do evento. Para tentar salvar o festival, os organizadores decidiram apelar para o financiamento coletivo. Antes de Bolsonaro, o orçamento médio do Anima Mundi era de R$ 3 milhões – por sinal, acima do teto de US$ 1 milhão estabelecido pelo governo para a nova Lei de Incentivo Cultural. Mas seria possível realizar uma versão enxuta, que mantivesse, além da mostra de filmes, alguns encontros dos profissionais com o público e debates, com R$ 800 mil de investimento, segundo Fernanda Cintra, produtora executiva do Anima Mundi. Entretanto, a expectativa é captar metade desse valor com o financiamento coletivo, para viabilizar ao menos as mostras. A campanha de financiamento coletivo do festival será lançada no dia 13 no site Benfeitoria.
Vídeo da Indústria Audiovisual do Brasil chama atenção para o setor
O Dia do Trabalhador foi escolhido para o lançamento de um vídeo da Indústria Audiovisual do Brasil, que celebra o trabalho por trás da produção de um filme. Trata-se de um manifesto, criado por iniciativa de produtores de todo o Brasil, para chamar atenção para o setor. Embora não se assuma como tal, é uma resposta ao desmonte do cinema nacional levado adiante pelo governo Bolsonaro. O vídeo lembra que a indústria audiovisual emprega mais e gera mais impostos que o turismo no Brasil, e cita dados, acompanhando imagens de 28 filmes nacionais de grande sucesso. Entre as informações, consta que a indústria audiovisual brasileira é composta por mais de 13 mil empresas de diversos tamanhos, que geram mais de 300 mil empregos. O setor também era o que mais crescia no país até a posse de Bolsonaro, com taxa média de 8,8% ao ano, agregando na economia nacional o valor de R$ 25 bilhões por ano. Além disso, filmes também representam aquilo “que alguns chamam de Cultura”, contribuindo para preservar a memória da história brasileira e a construção da identidade do Brasil, além de divulgar a imagem do país em todo o mundo. Os dados são apresentados em caracteres gigantes, para que ninguém possa fingir que não viu. Em especial os gênios que resolveram cortar o patrocínio de empresas estatais ao cinema, baixar o teto da lei de incentivo comprometendo a organização de festivais, acabar com o Ministério da Cultura e cortar a verba federal para divulgação e comercialização internacional de filmes, enquanto o TCU mantém o investimento da Ancine em novos filmes e séries paralisados em todo o país e o mercado é entregue à distribuição predatória dos estúdios americanos. “Muito prazer, nós somos a indústria audiovisual do Brasil”, conclui a narração do final do vídeo. Aproveite para conhecê-la, enquanto ainda existe.
Revista americana Variety destaca crise do cinema brasileiro sob Bolsonaro
A imagem internacional da cultura brasileira já é de crise nos Estados Unidos. A revista Variety, uma das mais tradicionais publicações americanas sobre o mercado de entretenimento, publicou uma reportagem sobre a paralisação da indústria de cinema e TV do Brasil, sob o governo de Jair Bolsonaro. A revista vê a cultura brasileira ameaçada por cortes de incentivos do governo, e lamenta a estagnação do prestigioso cinema brasileiro “A agência brasileira Ancine, a principal fonte de financiamento público do cinema do país, congelou todos os seus programas de incentivo potencialmente paralisando novas produções da maior indústria de cinema e TV da América Latina”, publicou a Variety. Segundo a publicação, a decisão “dramática” deixou a indústria cinematográfica do país em choque e muito preocupada com o futuro. Também houve o corte de patrocínio estatal, o fim do Ministério da Cultura e o enterro da lei Rouanet, rebatizada de Lei de Incentivo a Cultura e com diversas restrições. Mas a Variety apontou outros dados do desmantelamento da rede de apoio estatal à produção cultural brasileira, que nem a imprensa nacional chegou a noticiar com o devido destaque. A revista revelou que a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) está descontinuando seu apoio financeiro para o programa Cinema do Brasil, voltado à exportação de filmes brasileiros. Até a eleição de Bolsonaro, o Departamento Cultural do Itamaraty, no Ministério das Relações Exteriores, trabalhava junto a entidades públicas e privadas do setor audiovisual para fortalecer a presença de filmes e programas televisivos brasileiros no mundo, com o objetivo de divulgar a cultura nacional e facilitar contatos com vistas à comercialização dos bens audiovisuais. Isto acabou. A Variety também destacou o fim do apoio da Petrobras aos principais eventos de cinema do Brasil, lembrando que “a Petrobras figurou por duas décadas como o maior patrocinador corporativo do setor”. “O congelamento de incentivos apareceu em um contexto de animosidade não disfarçada entre a indústria de cinema e TV e grandes parcelas do governo Bolsonaro, que vê a indústria de entretenimento brasileira como um ralo de orçamento federal”, diz a reportagem. “A grande questão para a indústria é se o congelamento de incentivos é uma moratória temporária ou parte de um desmantelamento contínuo do apoio crucial do governo à indústria brasileira de TV e cinema. A atual falta de visibilidade de qualquer resposta a essa pergunta é, em si mesma, um fator incapacitante para novas produções”, acrescenta o texto. A revista conclui que a tensão entre o governo e os produtores de cinema e TV deve gerar protestos ao longo das próximas semanas, com possíveis manifestações durante apresentações brasileiras em grandes eventos internacionais, como o Festival de Cannes.
Mudanças na ex-Lei Rouanet confirmam teto de R$ 1 milhão por projeto
O governo anunciou as mudanças na lei que garante grande parte da produção cultural do Brasil. Em vídeo publicado na página de Facebook do Ministério da Cidadania, o ministro Osmar Terra explicou algumas das diretrizes da nova Lei de Incentivo à Cultura, nome que será adotado pelo governo em substituição à denominação Lei Rouanet. Conforme anunciado há duas semanas pelo presidente Jair Bolsonaro, o limite para captação de recursos pela lei vai baixar de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão por projeto. Mas uma mesma empresa poderá apresentar várias propostas diferentes, respeitando um teto de R$ 10 milhões por ano. Embora Bolsonaro tenha dito que não haveria exceções, elas existirão. Feiras de livros e festas populares, como o Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas, e o Natal Luz, em Gramado (RS), poderão captar até R$ 6 milhões. Restauração de patrimônio tombado, construção de teatros e cinemas em cidades pequenas, e planos anuais de entidades sem fins lucrativos, como museus e orquestras, também ficarão fora do limite de R$ 1 milhão, mas não foram fornecidos maiores detalhes para esses casos. As mudanças serão feitas por meio de uma instrução normativa a ser publicada na quarta-feira (24/4) no Diário Oficial da União. Assim que isso ocorrer, elas terão validade imediata e não precisarão ser referendadas pelo Congresso. “Com isso, vamos enfrentar a concentração de recursos nas mãos de poucos. Com o mesmo dinheiro, mas melhor distribuído, vamos ter muito mais atividades culturais e artistas apoiados, dando oportunidade para os novos talentos” disse Terra, a quem a Secretaria de Cultura (o finado MinC) é subordinada. Outras mudanças vão ocorrer na cota de ingressos gratuitos, que hoje é de 10%e deverá ficar entre 20% e 40% nos projetos aprovados. Além disso, o valor dos ingressos populares terá que baixar de R$ 75 para R$ 50. Também haverá editais focados no incentivo à cultura regional, em parceria com as empresas estatais, e estímulo para que estados que não sejam São Paulo e Rio de Janeiro tenham mais recursos. O objetivo é desconcentrar os projetos patrocinados, que em sua maioria estão nesses dois estados. Além disso, os beneficiados pelos repasses terão que fazer ação educativa em escolas ou na comunidade, em parceria com as prefeituras. “Os brasileiros, que estão cansados de ouvir falar dos abusos no uso dos recursos da Lei Rouanet, podem ter certeza que isso está acabando. Vamos enfrentar a concentração de recursos públicos beneficiando poucos. Nossa nova lei de incentivo vai aumentar o acesso da população brasileira à cultura, especialmente para as pessoas mais pobres. Nossas ações também terão foco no estímulo ao surgimento de novos talentos, no fortalecimento de ações de inclusão social, formando profissionais na área artística e promovendo a cultura popular”, disse Terra no vídeo. O ministro, porém, não quis responder perguntas sobre o assunto, recusando entrevistas. O estabelecimento de um teto de US$ 1 milhão atingirá com mais força os musicais, como “O Fantasma da Ópera”, autorizado a captar R$ 28,6 milhões, mas também grandes mostras de arte, como a Bienal de São Paulo, com orçamento sempre acima dos R$ 20 milhões, além de todos os festivais de cinema importantes do país: Festival do Rio, Mostra de São Paulo, Festival de Brasília, Festival de Gramado, Anima Mundi, É Tudo Verdade, etc. As mudanças da Lei Rouanet, transformada em Lei de Incentivo à Cultura, se juntam ao fim do Ministério da Cultura, ao corte do patrocínio de estatais a eventos culturais e à paralisação do investimento da Ancine em novos filmes e séries, como saldo dos primeiros 100 dias de Bolsonaro. Enquanto vários eleitores do presidente comemoram o “fim da mamata” de artistas da Globo e de petistas e compartilham apoio ao “mito”, projetos já começam a ser cancelados. Não vai demorar para se ter noção do saldo da tempestade perfeita que se abate sobre a indústria cultural brasileira, sob aplausos de uma turba barulhenta que brande foices e forcados, enquanto queima “bruxas” e celebra o incêndio que se alastra ao seu próprio redor. A Lei de Incentivo à Cultura mudou para melhor! A Lei de Incentivo à Cultura mudou para melhor! Agora, cada projeto poderá captar no máximo R$ 1 milhão, distribuindo melhor os recursos. Com as mudanças, vamos aumentar o acesso da população brasileira à cultura, principalmente das pessoas mais pobres, priorizar o estímulo de novos talentos, fortalecer as ações de inclusão social e promover a cultura popular. No vídeo, o ministro Osmar Terra explica direitinho como vai funcionar a nova Lei de Incentivo à Cultura. Confira! Publicado por Ministério da Cidadania em Segunda-feira, 22 de abril de 2019
Bolsonaro usa técnica de lavagem cerebral de Laranja Mecânica em vídeo contra Cultura
Para justificar sua política de cerco ao “setor que alguns dizem ser de cultura”, a partir da ordem de corte de patrocínios culturais da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro publicou um vídeo no mínimo questionável em seu Twitter e YouTube oficiais. O material, sem fonte clara – como tem sido praxe na comunicação do governo – , é uma versão editada de um noticiário da Globo News, submetida à tática de choque “golden shower” do presidente. Ele incorpora flashes aleatórios, alguns escatológicos, outros “apenas” preconceituosos, para forçar generalização contra o conceito de incentivo cultural. Entre os exemplos subliminares está um pôster do filme “Lula, o Filho do Brasil”, que apesar de ser um vexame, não foi feito com dinheiro da Petrobras – ao menos, não diretamente – nem usou qualquer lei de incentivo fiscal federal, estadual ou municipal. Outro exemplo é um flash de cartaz do Encontro Nacional de Arte e Cultura LGBT de 2014, com destaque para o fato de que ele ocorreu no Centro Petrobras de Cinema. A imagem entrou no momento em que a cineasta Lais Bodanzky (“Como Nossos Pais”), presidente da Spcine, falava sobre a importância do Festival do Rio, que é dos eventos ameaçados após os cortes da Petrobras. Tendo em vista que todas as imagens aleatórias tem o objetivo de “negativar” as falas apresentadas, o uso do cartaz trata a cultura LGBT como se fosse uma perversão. O vídeo editado segue incorporando fake news, preconceito e generalizações de modo subliminar, para formar opiniões a partir de presunções completamente equivocadas. É uma técnica de lavagem cerebral, popularizada durante a Guerra Fria, para fomentar ódio contra aquilo que é mostrado. Uma das cenas mais icônicas do clássico filme “Laranja Mecânica” (1971), de Stanley Kubrick, lança mão de projeções de filmes para fazer lavagem cerebral no protagonista. O objetivo é recondicionar Alex (Malcolm McDowell) a reagir com repulsa à determinadas situações exemplificadas nas imagens. O condicionamento pela repulsa se alia a outra tática de lavagem cerebral. Você conhece o ditado que diz que “uma mentira contada mil vezes se transforma em uma verdade”? Pois o cérebro humano funciona mais ou menos dessa maneira e, quando não está preparado, cai nas armadilhas da repetição e do reforço de falsidades, passando a acreditar numa visão de mundo completamente mentirosa. Contrariando a visão de mundo do presidente, a Petrobras foi responsável por salvar o cinema brasileiro, junto da Lei Rouanet, do caos criado por Fernando Collor de Mello ao extinguir a Embrafilme – isto e a popularização da música sertaneja foram os maiores legados culturais de Collor, ao passo que a destruição da Cultura nacional parece ser o projeto de Bolsonoro. Em release divulgado em dezembro passado, dias antes de Bolsonaro assumir o poder, a Petrobras ainda se dizia orgulhosa de sua atuação como incentivadora do cinema nacional. “São 22 anos e mais de 500 títulos entre longas e curtas metragens que fizeram da Petrobras a principal parceira da Retomada do Cinema Brasileiro, atuando em todos os elos da cadeia produtiva do setor audiovisual”, diz o texto, que ainda acrescenta: “Acreditamos em especial na importância do apoio aos festivais de cinema por promoverem o lançamento e circulação de novos filmes, estimularem a formação de plateia e constituírem espaços privilegiados de debate e reflexão sobre o audiovisual”. “Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil” e “O Quatrilho”, indicado ao Oscar, foram as primeiras produções cinematográficas que contaram com patrocínio da Petrobras. Com seu sucesso e repercussão internacional, os dois filmes de 1995 mudaram os rumos do cinema brasileiro, que foi quebrado por Collor, impichado por corrupção. Um dos slogans da Petrobras até o ano passado celebrava: “Para nós, Cultura é uma energia poderosa que movimenta a sociedade”. Entretanto, com Bolsonaro, a Petrobras passou a pensar ou pelo menos fazer o oposto, anunciando que não renovará o patrocínio de 13 eventos neste ano, o que inclui a Mostra de Cinema de São Paulo, o Festival do Rio, o Festival de Brasília e o Anima Mundi, entre outros projetos. Em fevereiro, Bolsonaro já tinha anunciado seu espanto com o investimento da Petrobras em Cultura, ao expor números não fundamentados no Twitter. “A soma dos patrocínios dos últimos anos passa de R$ 3 BILHÕES”, tuitou o presidente, aproveitando para afirmar que o Estado “tem maiores prioridades”. Vale lembrar que, com um único telefonema no começo de abril, em que mandou reverter aumento no preço do diesel, Bolsonaro deu prejuízo de R$ 32 BILHÕES (para usar a mesma grafia inflamada do presidente) para a Petrobras. O suficiente para décadas de investimento de Cultura, segundo cálculos dele mesmo. Bolsonaro também extinguiu o Ministério da Cultura e congelou a aprovação de novos projetos na Lei Rouanet desde que assumiu a Presidência em janeiro. Nenhum projeto foi aprovado para receber incentivo em quase cinco meses de governo. E não há prazo para o descongelamento, que só deve acontecer quando forem aprovadas mudanças na Lei. O presidente pretende estabelecer o teto de R$ 1 milhão por projeto, o que também acerta os festivais de cinema do Brasil. Paralelamente, o TCU paralisou a Ancine, proibindo-a de investir em novos projetos de cinema e séries nacionais. É uma tempestade perfeita, que tende a culminar na maior catástrofe sofrida pela indústria cultural do país, com resultados já vistos sob o governo Collor: estagnação da produção cultural, aumento no índice de desempregados, quebradeira de empresas, impacto no consumo e na economia (recessão) e queda na arrecadação dos impostos que o governo deixará de receber do setor. Caso o pior aconteça, a equipe que prepara os vídeos de lavagem cerebral de Bolsonaro precisará trabalhar dobrado. Uma dica é acrescentar as técnicas do filme “Sob o Domínio do Mal” (1962). Respeitando a aplicabilidade do dinheiro público, determinamos a revisão dos contratos vigentes e possibilidades futuras da Petrobras ligados ao setor que alguns dizem ser de cultura. A ordem é saber o que fazem com bilhões da população brasileira. https://t.co/qc56MPKV7e — Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 21, 2019
Bolsonaro confirma ordem de cortar financiamento ao “setor que alguns dizem ser de cultura”
O presidente Jair Bolsonaro usou sua conta pessoal no Twitter para confirmar que determinou a revisão de contratos vigentes e “possibilidades futuras” da Petrobras ligados “ao setor que alguns dizem ser de cultura”. Segundo Bolsonaro, “a ordem é saber o que fazer com bilhões da população brasileira”. “Respeitando a aplicabilidade do dinheiro público, determinamos a revisão dos contratos vigentes e possibilidades futuras da Petrobras ligados ao setor que alguns dizem ser de cultura. A ordem é saber o que fazem com bilhões da população brasileira”, escreveu. Obedecendo à determinação do presidente, a Petrobras revelou na semana passada que não renovará o patrocínio de 13 eventos neste ano, o que inclui a Mostra de Cinema de São Paulo, o Festival do Rio, o Festival de Brasília e o Anima Mundi, entre outros projetos. Em fevereiro, Bolsonaro já tinha anunciado seu espanto com o investimento da Petrobras em Cultura, ao expor números não fundamentados no Twitter. “A soma dos patrocínios dos últimos anos passa de R$ 3 BILHÕES”, tuitou o presidente, aproveitando para afirmar que o Estado “tem maiores prioridades”. Vale lembrar que, com um único telefonema no começo do mês, mandando reverter aumento no preço do diesel, Bolsonaro deu prejuízo de R$ 32 BILHÕES (para usar a mesma grafia inflamada do presidente) para a Petrobras. O suficiente para décadas de investimento de Cultura, segundo cálculos dele mesmo. Bolsonaro também extinguiu o Ministério da Cultura e congelou a aprovação de novos projetos na Lei Rouanet desde que assumiu a Presidência em janeiro. Nenhum projeto foi aprovado para receber incentivo em quase cinco meses de governo. E não há prazo para o descongelamento, que só deve acontecer quando forem aprovadas mudanças na Lei. O presidente pretende estabelecer o teto de R$ 1 milhão por projeto, o que também acerta os festivais de cinema do Brasil. Paralelamente, o TCU paralisou a Ancine, proibindo-a de investir em novos projetos de cinema e séries nacionais. É uma tempestade perfeita, que tende a culminar na maior catástrofe sofrida pela indústria cultural do país, com resultados já vistos sob o governo Collor: estagnação da produção cultural, aumento no índice de desempregados, quebradeira de empresas, impacto no consumo e na economia (recessão) e queda na arrecadação dos impostos que o governo deixará de receber do setor. Para justificar seus cortes, Bolsonaro publicou um vídeo junto do texto. O material, sem fonte clara – como tem sido praxe na comunicação do governo – , é uma versão editada de um noticiário da Globo News, submetida à tática de choque “golden shower” do presidente. Ele incorpora flashes aleatórios, alguns escatológicos, outros “apenas” preconceituosos, para forçar generalização sobre “o setor que alguns dizem ser de cultura”. Entre os exemplos subliminares está um pôster do filme “Lula, o Filho do Brasil”, que apesar de ser um vexame, não foi feito com dinheiro da Petrobras – ao menos, não diretamente – nem usou qualquer lei de incentivo fiscal federal, estadual ou municipal. Outro exemplo foi o flash de cartaz de um Encontro Nacional de Arte e Cultura LGBT de 2014, com destaque para o fato de que ele ocorreu no Centro Petrobras de Cinema. A imagem entrou no momento em que a cineasta Lais Bodanzky (“Como Nossos Pais”), presidente da Spcine, falava sobre a importância do Festival do Rio, que é dos eventos ameaçados após os cortes da Petrobras. Tendo em vista que todas as imagens aleatórias tem o objetivo de “negativar” as falas apresentadas, o uso do cartaz trata a cultura LGBT como se fosse uma perversão. O vídeo editado segue incorporando fake news, preconceito e generalizações de forma subliminar, para formar opiniões a partir de presunções completamente equivocadas. É uma técnica de lavagem cerebral, popularizada durante a Guerra Fria, para fomentar ódio contra aquilo que é mostrado. Uma das cenas mais icônicas do clássico filme “Laranja Mecânica” (1971), de Stanley Kubrick, lança mão de projeções de filmes para fazer lavagem cerebral no protagonista. O objetivo é recondicionar Alex (Malcolm McDowell) a reagir com repulsa a determinadas situações exemplificadas nas imagens. O condicionamento pela repulsa se alia à outra tática de lavagem cerebral. Você conhece o ditado que diz que “uma mentira contada mil vezes se transforma em uma verdade”? Pois o cérebro humano funciona mais ou menos dessa maneira e, quando não está preparado, cai nas armadilhas da repetição e do reforço de falsidades, passando a acreditar numa visão de mundo completamente mentirosa. Contrariando a visão de mundo do presidente, a Petrobras foi responsável por salvar o cinema brasileiro, junto da Lei Rouanet, do caos criado por Fernando Collor de Mello ao extinguir a Embrafilme – isto e a popularização da música sertaneja foram os maiores legados culturais de Collor, ao passo que a destruição da Cultura nacional será o legado de Bolsonoro. Em release divulgado em dezembro passado, dias antes de Bolsonaro assumir o poder, a Petrobras ainda se dizia orgulhosa de sua atuação como incentivadora do cinema nacional. “São 22 anos e mais de 500 títulos entre longas e curtas metragens que fizeram da Petrobras a principal parceira da Retomada do Cinema Brasileiro, atuando em todos os elos da cadeia produtiva do setor audiovisual”, diz o texto, que ainda acrescenta: “Acreditamos em especial na importância do apoio aos festivais de cinema por promoverem o lançamento e circulação de novos filmes, estimularem a formação de plateia e constituírem espaços privilegiados de debate e reflexão sobre o audiovisual”. “Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil” e “O Quatrilho”, indicado ao Oscar, foram as primeiras produções cinematográficas que contaram com patrocínio da Petrobras. Com seu sucesso e repercussão internacional, os dois filmes de 1995 mudaram os rumos do cinema brasileiro, que foi quebrado por Collor, impichado por corrupção. Um dos slogans da Petrobras até o ano passado celebrava: “Para nós, Cultura é uma energia poderosa que movimenta a sociedade”. Respeitando a aplicabilidade do dinheiro público, determinamos a revisão dos contratos vigentes e possibilidades futuras da Petrobras ligados ao setor que alguns dizem ser de cultura. A ordem é saber o que fazem com bilhões da população brasileira. https://t.co/qc56MPKV7e — Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 21, 2019
Petrobras confirma fim de patrocínio para festivais de cinema e eventos culturais
Confirmando os temores sobre o “projeto cultural” do governo Bolsonaro, a Petrobras revelou que não renovará o patrocínio de 13 eventos neste ano, o que inclui a Mostra de Cinema de São Paulo, o Festival do Rio, o Festival de Brasília e o Anima Mundi, entre outros projetos. A estatal divulgou a lista dos projetos cortados após receber um requerimento de informação feito pelos deputados federais Áurea Carolina (PSOL-PA) e Ivan Valente (PSOL-SP). No mesmo documento, a petroleira informa que seus programas de patrocínio estão em revisão e que, a partir de agora, deve focar em projetos de ciência, tecnologia e educação. A empresa não vai mais patrocinar cultura no Brasil. Além dos eventos de cinema, também foram atingidos o Festival de Teatro de Curitiba, o Prêmio da Música Brasileira e o Teatro Poeira, no Rio de Janeiro. A medida foi anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro no Twitter em fevereiro. “O Estado tem maiores prioridades”, escreveu o presidente, que também extinguiu o Ministério da Cultura e planeja mexer na Lei Rouanet de incentivo cultural. Paralelamente, o TCU paralisou a Ancine, proibindo-a a investir no cinema nacional. Já está claro: o cinema brasileiro vai entrar em uma de suas piores crises financeiras. Mas vale lembrar que, em release divulgado em dezembro passado, dias antes de Bolsonaro assumir o poder, a Petrobras se dizia orgulhosa de sua atuação como incentivadora do cinema nacional. “São 22 anos e mais de 500 títulos entre longas e curtas metragens que fizeram da Petrobras a principal parceira da Retomada do Cinema Brasileiro, atuando em todos os elos da cadeia produtiva do setor audiovisual”, disse o texto, que ainda acrescentou: “Acreditamos em especial na importância do apoio aos festivais de cinema por promoverem o lançamento e circulação de novos filmes, estimularem a formação de plateia e constituírem espaços privilegiados de debate e reflexão sobre o audiovisual”. “Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil” e “O Quatrilho”, indicado ao Oscar, foram as primeiras produções cinematográficas que contaram com patrocínio da Petrobras. Com seu sucesso e repercussão internacional, os dois filmes de 1995 mudaram os rumos do cinema brasileiro, que estava quebrado devido ao desmantelamento de políticas culturais de um antigo presidente que também achava que o Brasil devia ter outras prioridades, Fernando Collor de Mello, impichado por corrupção. Antes de Bolsonaro, um dos slogans da Petrobras era: “Para nós, Cultura é uma energia poderosa que movimenta a sociedade”. A Petrobras, claro, não é a única estatal que cortou seus programas culturais. Na semana passada, em audiência pública na Câmara dos Deputados, o BNDES confirmou o corte de 40% da sua verba para patrocínio cultural. E a Caixa Econômica Federal também anunciou que não irá mais ajudar a manter o tradicional Cine Belas Artes aberto em São Paulo. “Quando ouço alguém falar em cultura, saco o meu revólver”, dizia o texto de uma peça antinazista de Hanns Jost, encenada em 1933, ano em que Hitler assumiu o poder. Recontextualizada para o Brasil atual, a frase lembra um presidente que adora fazer revólveres com os dedos e reage com acusações de marxismo para menções de Cultura. Mas Cultura não é inimiga de país nenhum. Ao contrário, é – cada vez mais no século 21 – aliada importante da Economia, já que a produção cultural é responsável por dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos e por injetar dezenas de bilhões de reais nas finanças do país. Tradicionalmente, o setor rende e emprega mais que outras indústrias, que costumam receber maiores incentivos e atenção de todos os governos. Um relatório da Ancine demonstrou que só o setor audiovisual brasileiro foi responsável por injetar R$ 24,5 bilhões na Economia do país em 2014 – metade dos valores de toda a indústria automotiva (incluindo peças) no mesmo período. E em 2017 arrecadou para o governo R$ 2,13 bilhões somente com impostos diretos, segundo levantamento do Fundo Setorial Audiovisual (FSA). Tudo isso vai acabar com o “projeto cultural” de Bolsonaro. Recordar é viver: na época de Collor, o fim da Embrafilme, empresa estatal que concentrava o financiamento ao cinema brasileiro, foi acompanhado em 1990 de um dos piores períodos de recessão econômica da história do país. Atualmente, a taxa de desemprego no Brasil é recorde, com 13,1 milhões de desempregados e 65,7 milhões de pessoas fora da força de trabalho, de acordo com dados oficiais do IBGE. Além disso, uma pesquisa da CUT-Vox Populi, realizada entre os dias 1º e 3 de abril, revelou que 62% dos que estão empregados têm medo de ficar desempregados.
Bolsonaro pretende cortar patrocínio da Petrobras ao cinema e cultura em geral
O presidente Jair Bolsonaro decidiu rever os patrocínios culturais da Petrobras. Usando o Twitter, o político fez elogios genéricos à necessidade de se incentivar a Cultura brasileira, no mesmo fôlego em que prometeu fazer o oposto disso. Para Bolsonaro, “o Estado tem maiores prioridades” do que incentivar a industria cultural. “Reconheço o valor da cultura e a necessidade de incentivá-la, mas isso não deve estar a cargo de uma petrolífera estatal”, escreveu Bolsonaro. “A soma dos patrocínios dos últimos anos passa de R$ 3 bilhões. Determinei a reavaliação dos contratos. O Estado tem maiores prioridades.” Para o governante, os incentivos devem ser “direcionados de forma justa, enxuta, transparente e responsável, mas jamais em detrimento das principais demandas de nossa sociedade.” Os valores de Bolsonaro, claro, estão superdimensionados. A Petrobras não gastou bilhões de reais com Cultura nos últimos dez anos. O aporte em patrocínios culturais foi de R$ 184 milhões em 2012, de R$ 121 milhões em 2013, e de R$ 125,8 milhões em 2014. E vem caindo, chegando a R$ 38 milhões no ano passado – período em que os gastos com publicidade chegaram a R$ 160 milhões, segundo dados da própria estatal, disponíveis em seu site oficial. Em release divulgado em dezembro passado, dias antes de Bolsonaro assumir o poder, a Petrobras se disse orgulhosa de sua atuação como incentivadora do cinema nacional. “São 22 anos e mais de 500 títulos entre longas e curtas metragens que fizeram da Petrobras a principal parceira da Retomada do Cinema Brasileiro, atuando em todos os elos da cadeia produtiva do setor audiovisual”, diz o texto, que ainda acrescenta: “Acreditamos em especial na importância do apoio aos festivais de cinema por promoverem o lançamento e circulação de novos filmes, estimularem a formação de plateia e constituírem espaços privilegiados de debate e reflexão sobre o audiovisual”. “Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil” e “O Quatrilho”, indicado ao Oscar, foram as primeiras produções cinematográficas que contaram com patrocínio da Petrobras. Com seu sucesso e repercussão internacional, os dois filmes de 1995 mudaram os rumos do cinema brasileiro, que estava quebrado devido ao desmantelamento de políticas culturais de um antigo presidente que também achava que o Brasil devia ter outras prioridades, Fernando Collor de Mello, impichado por corrupção. Alguns dos principais festivais de cinema do Brasil são patrocinados pela Petrobras, como o Festival do Rio, Mostra de São Paulo, Festival de Brasília e Anima Mundi, além da Sessão Vitrine, que abre espaço no circuito cinematográfico para filmes brasileiros de qualidade comprovada. Um dos slogans atuais da Petrobras diz: “Para nós, Cultura é uma energia poderosa que movimenta a sociedade”. Cultura, claro, também é – cada vez mais no século 21 – Economia, já que a produção cultural é responsável por dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos e por injetar dezenas de bilhões de reais nas finanças do país. Tradicionalmente, o setor rende e emprega mais que muitas indústrias que recebem incentivo maior do governo. Um relatório da Ancine demonstrou que só o setor audiovisual brasileiro foi responsável por injetar R$ 24,5 bilhões na Economia do país em 2014. E em 2017 arrecadou para o governo R$ 2,13 bilhões, somente com impostos diretos, segundo levantamento do Fundo Setorial Audiovisual (FSA).








