Fábio Barreto (1957 – 2019)
Morreu na noite de quarta-feira (20/11), no Rio, o cineasta Fábio Barreto, diretor dos filmes “O Quatrilho” e “Lula, o Filho do Brasil”. Ele tinha 62 anos e estava em coma desde dezembro de 2009, após capotar o carro no Rio. Filho dos produtores Luiz Carlos e Lucy Barreto e irmão do cineasta Bruno Barreto, Fábio começou a trabalhar como diretor de cinema em 1977, fazendo curtas-metragens — a estreia aconteceu com “A História de José e Maria”, quando ele tinha 20 anos. Foi assistente de direção do irmão mais velho em “Amor Bandido” (1978), e de Cacá Diegues em “Bye Bye Brasil” (1979), antes de dirigir seu primeiro longa em 1982, “Índia, a Filha do Sol”, com Gloria Pires. Sua estreia foi lançada no Festival de Cannes. Fábio Barreto também atuou em alguns filmes, como “Memórias do Cárcere” (1984) e “For All – O Trampolim da Vitória” (1997). Mas seu principal foco foi a direção. Ao longa da carreira, dirigiu 10 longas dos mais variados gêneros, como o thriller de vingança “Luzia Homem” (1988), o caça-níquel musical “Lambada” (1989), ironicamente pouco visto, e o drama religioso “Nossa Senhora de Caravaggio” (2006). Seu longa-metragem de maior relevância foi “O Quatrilho” (1995), baseado no livro homônimo de José Clemente Pozenato. Estrelada por Gloria Pires e Patrícia Pillar, a produção foi indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. “O Quatrilho” foi apenas o segundo longa brasileiro a disputar o Oscar, 33 anos após “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, lançado em 1962. O filme também rendeu o prêmio de Melhor Atriz para Glória Pires no Festival de Havana. Mas a qualidade vista naquele filme não se manteve nas obras seguintes, que incluem o romance tropical “Bela Donna” (1998) e o drama de época “A Paixão de Jacobina” (2002). O último trabalho do diretor se tornou seu longa mais controvertido. “Lula, o Filho do Brasil” era uma hagiografia de Luiz Inácio Lula da Silva, filmada quando o retratado nas telas ainda era presidente do Brasil. A obra conta a trajetória de Lula antes de ingressar na política, desde que sua família saiu do interior do Nordeste com destino a São Paulo até o momento em que ele se estabeleceu como líder sindical no ABC paulista. O destaque positivo da produção foi a participação de Gloria Pires como mãe de Lula, repetindo parceria com o cineasta que a lançou no cinema em “Índia, a Filha do Sol” e também a escalou no premiado “O Quatrilho”. Seu pai, Luiz Carlos Barreto, produziu o filme acreditando que quebraria recordes de bilheteria, tamanha a popularidade de Lula no período – capaz de eleger a inexperiente Dilma Rousseff como sua sucessora na presidência do país. Mas o fenômeno não aconteceu. Durante a Operação Lava Jato, a produção acabou investigada por conta de sua ligação com as grandes empreiteiras condenadas por corrupção. Ostentando o fato de ter sido filmado sem apoio federal ou incentivo fiscal, “Lula, o Filho do Brasil” foi totalmente bancado pelas empresas Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht, cujos dirigentes foram posteriormente presos em meio às investigações de desvios bilionários na Petrobrás. O filme teve première no Festival de Brasilía, em 17 de novembro de 2009. Dois dias depois, Fábio Barreto capotou com sua Pajero Mitsubishi dourada na Rua Real Grandeza, próximo ao acesso do Túnel Velho, quando voltava do Aeroporto Internacional Tom Jobim. Segundo uma testemunha, o cineasta, que estava sozinho no carro, teve o veículo fechado por um automóvel e despencou de uma altura de de quatro metros, para a outra pista. No acidente, Fábio sofreu politraumatismos, com predominância de traumatismo cranioencefálico. Ele entrou em coma e nunca mais acordou.
Trailer da continuação de Trolls mostra roqueiros como vilões
A DreamWorks Animation divulgou os novos pôster e trailer de “Trolls: World Tour”, sequência da animação “Trolls” (2016), que vai abordar uma guerra entre diferentes estilos musicais. No novo longa, a rainha Poppy e Branch fazem uma descoberta surpreendente: existem outros mundos de Troll além do deles, cada um definido por um gênero diferente de música. E o rock – denominação do som que no trailer é representado como heavy metal dos anos 1980 – é o vilão dessa história. Os roqueiros querem dominar o mundo Troll e acabar com os outros gêneros musicais. A ironia dessa premissa é que ela representa o oposto do que sempre aconteceu no mundo real, onde o pop foi criado no final dos anos 1950 para acabar com o rock. E basicamente conseguiu seu objetivo no século 21, após se mesclar com o R&B e fazer sumir qualquer vestígio de rock nas paradas de sucesso comercial. “Trolls: World Tour” é apenas o mais novo capítulo dessa história antiga de ataque do pop contra o rock, que pretende ensinar às crianças como roqueiros representam o mal. Basicamente, o que o pastor Jimmy Lee Swaggart já fazia há meio século, ao conclamar seguidores a queimar os discos de rock – música do diabo. A continuação bizarra traz Justin Timberlake e Anna Kendrick de volta aos papéis de Branch e Poppy, respectivamente. E entre as novidades no elenco estão Sam Rockwell (“Três Anúncios de um Crime”), Chance the Rapper (“Slice”), Anthony Ramos (“Nasce uma Estrela”), Karan Soni (“Deadpool”), Jamie Dornan (“Cinquenta Tons de Cinza”), Mary J. Blige (“The Umbrella Academy”) e até Ozzy Osbourne (“Um Diabo Diferente”). Os roteiristas são os mesmos do primeiro filme, Jonathan Aibel e Glenn Berger, e a direção está a cargo da dupla Walt Dohrn e David P. Smith, que estreiam em longa-metragem após comandarem episódios de séries animadas. A animação tem estreia marcada para 16 de abril no Brasil, um dia antes do lançamento nos Estados Unidos.
Manifestantes impedem première do novo filme de Polanski na França
Um grupo de cerca de 40 manifestantes bloqueou a entrada de um cinema que receberia a première de “An Officer and a Spy” (J’Accuse), novo filme de Roman Polanski, na noite de terça-feira (12/11) em Paris, resultando no cancelamento da exibição. Vestindo preto e equipado com sinalizadores vermelhos e cartazes com os nomes das mulheres que acusaram o diretor de estupro, o grupo se manifestou por cerca de uma hora em frente ao cinema Le Champo, até a sessão ser cancelada. Mas essa não foi a première principal do longa. A sessão de gala aconteceu na mesma hora no cinema UGC Normandie, nos Champs-Elysées, com a presença de Polanski, sem encontrar protestos semelhantes. Polanski foi recentemente acusado por um fotógrafa francesa, Valentine Monnier, de estuprá-la em seu chalé suíço em 1975. Ele negou as acusações por meio de seu advogado. Mas ela é a sexta mulher a acusar o diretor de violência sexual cometida nos anos 1970. O vencedor do Oscar vive na França desde que fugiu dos EUA em 1978, no meio de um julgamento em que se declarou culpado de fazer sexo com uma garota de 13 anos. Monnier disse que resolveu revelar o estupro justamente devido à estreia de “An Officer and a Spy” (J’accuse), em que Polanski filma um famoso erro judicial francês, o caso Dreyfus, em que um inocente é injustamente condenado por um crime que não cometeu. O diretor já teceu comentários comparando-se a Dreyfus. O longa foi lançado no Festival de Cinema de Veneza, onde venceu o Prêmio do Grande Júri. Na semana passada, o filme foi indicado a quatro European Film Awards pela Academia Europeia. Mas quanto mais prestígio conquista a obra, mais intensos se tornam os protestos. No início desta semana, o ator Jean Dujardin, indicado a Melhor Ator Europeu por “An Officer and a Spy”, cancelou uma entrevista com a principal emissora francesa, TF1, alegando que não queria responder perguntas sobre novas acusações contra Polanski. Também na terça-feira, embora sem mencionar Polanski pelo nome, a Associação Francesa de Cineastas, ARP, divulgou um comunicado dizendo que “apoia fortemente todas as vítimas de violência moral e sexual” e que “deve levar em conta que nossas profissões, pelo poder que exercem, podem abrir a porta a excessos repreensíveis ”. A declaração ainda avisa que a ARP “proporá ao próximo conselho de administração que, a partir de agora, qualquer membro considerado culpado de uma ofensa sexual seja excluído e que qualquer membro denunciado pelo mesmo motivo seja suspenso”. Polanski é membro da organização. “An Officer and a Spy” estreia comercialmente nesta quarta (13/11) na França, sob campanha de boicote de vários grupos de pressão. Não há previsão para seu lançamento no Brasil. Vale lembrar que manifestantes também impediram a première de outro filme europeu na semana passada, por motivos bem diferentes e num espectro político oposto na escala do radicalismo cultural. Manifestantes de extrema direita atacaram o público da estreia do premiado “And Then We Danced”, de Levan Akin, em Tbilisi, capital da Geórgia, por prestigiarem uma história de amor LGBTQIA+, entre dois jovens dançarinos georgianos de balé. Eles também querem impedir o filme vencedor de prêmios internacionais de ser exibido nos cinemas do país.
Roman Polanki é alvo de nova denúncia de estupro cometido nos anos 1970
A fotógrafa francesa Valentine Monnier acusou publicamente o cineasta Roman Polanski de tê-la estuprado em 1975 na Suíça, quando ela tinha 18 anos. A denúncia foi publicada pelo jornal Le Parisien nesta sexta (8/11), a poucos dias da estreia do novo filme do diretor de 86 anos. Este, por sinal, teria sido o motivo dela decidir se manifestar. Monnier disse que resolveu revelar o estupro devido à estreia do filme “An Officer and a Spy” (J’accuse), em que Polanski filma um famoso erro judicial francês, o caso Dreyfus, em que um inocente é injustamente condenado por um crime que não cometeu. Polanski já teceu comentários comparando o seu caso com o de Dreyfus. “Não tinha qualquer relação com ele, pessoal ou profissional, só o conhecia”, relatou Monnier, que foi modelo em Nova York e participou de alguns filmes nos anos 1980, como “Três Homens e um Bebê”. “Foi de uma violência extrema, após esquiar, em seu chalé em Gstaad (Suíça), me agrediu até que me entreguei. Então me violentou me fazendo sofrer”. O advogado do cineasta, Hervé Temime, afirmou ao jornal Parisien que Polanski “nega firmemente qualquer acusação de estupro”, e destaca que fatos que teriam ocorrido há 45 anos “jamais foram levados ao conhecimento das autoridades”. A denunciante confirmou que jamais informou o crime – agora prescrito – à polícia. Ela foi a sexta mulher a acusar Polanski de estupro. O cineasta é considerado foragido pela justiça dos Estados Unidos, após se exilar na França em meio ao julgamento de 1977 em que se declarou culpado de ter mantido relações sexuais com Samantha Geimer, então com 13 anos. Ela foi compensada financeiramente por Polanski e ainda escreveu um livro sobre sua história, e nos últimos anos vem defendendo o diretor por considerar que ele cumpriu sua pena – ficou preso alguns dias nos anos 1970 e novamente em 2009, além de ficar impedido de trabalhar em Hollywood mulheres surgiram com denúncias de abuso sexual de décadas atrás. As denúncias anteriores também relataram casos acontecidos nos anos 1970. A atriz alemã Renate Langer, vista em “Amor de Menina” (1983) e “A Armadilha de Vênus” (1988), relatou ter sido estuprada duas vezes em 1972, quando ela tinha 15 anos e Polanski 39, também na casa do cineasta em Gstaad, na Suíça. Logo após o primeiro ataque, Polanski teria convidado Langer para figurar em seu filme “Que?”, como pedido de desculpas. O segundo abuso teria acontecido durante as filmagens, em Roma. A atriz revelou que, para se defender, chegou a jogar uma garrafa de vinho e outra de perfume no diretor. Outras acusações partiram da atriz britânica Charlotte Lewis (“O Rapto do Menino Dourado”), que denunciou ter sido estuprada em 1983, quando ela tinha 16 anos, de uma mulher identificada apenas como Robin, que acusa o diretor de tê-la estuprado nos anos 1970, também quando tinha 16 anos, e de Marianne Barnard, atacada em 1975 aos 10 anos de idade, durante uma sessão de fotos em que Polanski lhe pediu que posasse usando apenas um casaco de pele em uma praia de Los Angeles. A maioria das denúncias só veio à tona recentemente, durante o auge do movimento #MeToo, que Polanski chamou de “histeria coletiva” e “hipocrisia”. Por conta das novas denúncias, o cineasta foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, que lhe premiou com o Oscar de Melhor Direção por “O Pianista”, em 2003. O novo filme do diretor, “An Officer and a Spy” (J’accuse), também foi premiado. Venceu o Grande Prêmio do Júri (Leão de Prata) do Festival de Veneza deste ano. A estreia está marcada para quinta-feira (13/11) na França, mas ainda não há previsão para o lançamento no Brasil.
Academia desqualifica filme nigeriano do Oscar 2020 e é criticada por Ava DuVernay
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos desqualificou “Lionheart”, o representante da Nigéria na disputa por uma vaga no Oscar, na categoria de Melhor Filme Internacional, e a decisão desagradou causou polêmica nas redes sociais. Primeiro filme da Nigéria selecionado para participar do Oscar, “Lionheart” foi desqualificado porque, apesar de utilizar idiomas locais como igbo, hausa e ibo, boa parte dos diálogos são em inglês, que é a língua falada pela maioria da população do país devido à colonização britânica. Embora as regras da Academia estabeleçam que a inscrição nesta categoria deve ser de filmes de idioma estrangeiro, a aplicação dessa diretriz acaba excluindo a possibilidade de participação de todos os países de língua inglesa. O caso da Nigéria é exemplar, por ter uma das indústrias cinematográficas mais prolíficas do mundo, chamada de Nollywood, e mesmo assim nunca ter participado de uma premiação da Academia. “Lionheart” era sua primeira tentativa. Por conta disso, a decisão foi questionada pela cineasta americana Ava DuVernay (“Selma”, “Olhos que Condenam”). “Vocês estão barrando esse país de competir no Oscar em seu idioma oficial?”, DuVernay questionou frontalmente no Twitter, recebendo agradecimentos da diretora e estrela do longa, Genevieve Nnaji, por chamar atenção da Academia para essa questão. “O inglês é a língua que serve de ponte entre as mais de 500 línguas faladas no nosso país e que nos torna uma Nigéria única”, ainda reforçou Nnaji. A cerimônia do Oscar 2020 marcará uma mudança na denominação da categoria que embala essa polêmica. Pela primeira vez, ela será chamada de Filme Internacional, após passar décadas sendo referida como Filme de Língua Estrangeira. Aparentemente, a mudança no nome não alterou em nada o sentido do prêmio. O evento de gala da Academia vai acontecer em 9 de fevereiro, em Los Angeles (EUA), com transmissão ao vivo no Brasil pelos canais Globo e TNT. To @TheAcademy, You disqualified Nigeria’s first-ever submission for Best International Feature because its in English. But English is the official language of Nigeria. Are you barring this country from ever competing for an Oscar in its official language? https://t.co/X3EGb01tPF — Ava DuVernay (@ava) November 4, 2019 1/1 1/2 Thank you so much @ava❤️. I am the director of Lionheart. This movie represents the way we speak as Nigerians. This includes English which acts as a bridge between the 500+ languages spoken in our country; thereby making us #OneNigeria. @TheAcademy https://t.co/LMfWDDNV3e — Genevieve Nnaji MFR (@GenevieveNnaji1) November 4, 2019
Academia celebra inclusão e diversidade na entrega dos Oscars honorários de 2019
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos entregou os Oscars honorários deste ano, numa cerimônia realizada no domingo (27/10) em Los Angeles. Chamado de Governors Awards (‘governors’ são os diretores da organização, não governadores de estados), o evento celebrou as carreiras dos cineastas David Lynch e Lina Wertmüller e do ator Wes Studi, além de homenagear a atriz Geena Davis com o Prêmio Humanitário Jean Hersholt. Os temas da diversidade e inclusão, tanto sexual quanto racial, marcaram os discursos. Davis, uma das protagonistas de “Thelma e Louise” (1991), afirmou que o “road movie” clássico e feminista a incentivou a lutar pelo equilíbrio de gênero no cinema. “‘Me fez perceber de uma maneira muito poderosa as poucas oportunidades que damos às mulheres de sair de um filme sentindo-se empolgadas e empoderadas por personagens femininas”, disse a atriz sobre o filme de 1991. Desde então, ela tem se engajado na luta por mais espaço às mulheres no cinema e, em 2004, fundou um instituto que compila dados sobre preconceitos de gênero. Ao receber o prêmio da Academia por este trabalho, ela pediu aos cineastas que revisem os projetos atuais e “risquem muitos nomes de personagens do elenco e os transformem em mulheres”. Responsável por entregar o troféu, a diretora e atriz Olivia Wilde afirmou que Geena Davis “estava 20 anos à frente do movimento #TimesUp”. Aos 91 anos, a cineasta italiana Lina Wertmuller foi celebrada em Hollywood após mais de quatro décadas de sua façanha histórica, como a primeira mulher indicada ao Oscar de Direção (por “Pasqualino Sete Belezas”). A questão racial, por sua vez, veio à tona com o reconhecimento da carreira de Wes Studi. O astro de “Dança com Lobos” (1990) e “O Último dos Moicanos” (1992) se tornou o primeiro ator nativo americano a receber um Oscar. “Eu gostaria apenas de dizer: já estava na hora”, declarou Studi, muito aplaudido. “Tem sido uma viagem selvagem e maravilhosa”, completou. O prêmio de Studi aconteceu quase meio século depois de Marlon Brando rejeitar o Oscar de Melhor Ator por “O Poderoso Chefão” em protesto pelo tratamento dado aos nativos americanos pela indústria do cinema. Em 1973, ele enviou uma atriz indígena para discursar em seu nome. “Poucas oportunidades no cinema, nos dois lados da câmera, foram concedidas a artistas nativos ou indígenas. Estamos em uma sala cheia de pessoas que podem mudar isso”, disse Christian Bale, que entregou o prêmio, após ter protagonizado com Studi o filme “Hostis”, de 2017. A lista de homenageados se completou com o cineasta David Lynch, indicado três vezes ao prêmio de Melhor Diretor, mas que nunca venceu a estatueta. Considerado um dos principais cineastas americanos de sua geração, Lynch é o diretor de filmes cultuadíssimos como “O Homem Elefante” (1980), “Veludo Azul” (1986), “Coração Selvagem” (1990) e “Cidade dos Sonhos” (1999), além de criador da série “Twin Peaks”. Ele foi apresentado por Laura Dern e Kyle MacLachlan, que atuaram em vários de seus filmes, e descreveram Lynch como um “homem renascentista moderno”. Os Oscars honorários são entregues todos os anos para homenagear as carreiras de grandes figuras do cinema. A cerimônia passou a acontecer em um evento separado da premiação da Academia em 2009 para render homenagens mais longas que as permitidas pelo tempo apertado da exibição televisiva. Os homenageados também são apresentados durante a transmissão do Oscar, cuja próxima edição vai acontecer em 9 de fevereiro.
Novo filme de Pedro Almodóvar vai representar a Espanha no Oscar
O novo filme do cineasta Pedro Almodóvar, “Dor e Glória”, foi selecionado pela Academia Espanhola de Cinema para representar o país na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional (antiga Melhor Filme em Língua Estrangeira) do Oscar 2020. Com isso, o diretor soma sete indicações para representar seu país no prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. Seu primeiro filme indicado foi “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, que conseguiu virar finalista em 1989, aparecendo entre os cinco títulos selecionados ao prêmio. Almodóvar acabou vencendo a categoria em 1999, com “Tudo Sobre Minha Mãe”. Quatro anos depois, ele voltou a ser premiado com “Fale com Ela”, mas na categoria de Melhor Roteiro Original. “Estamos muito emocionados por representar a Espanha”, declarou a produtora Esther García, como representante do diretor espanhol, que no momento viaja para a América do Norte para apresentar o longa-metragem nos Estados Unidos e no Canadá. Segundo a produtora, o lançamento nos cinemas norte-americanos permitirá que o filme “concorra em outras categorias” do Oscar. Protagonizado por Antonio Banderas, que recebeu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes deste ano, “Dor e Glória” segue um famoso cineasta em crise, com o coração partido e saudade de sua querida mãe. O papel representou a oitava parceria entre o ator e Almodóvar, começada em 1982, quando filmaram “Labirinto das Paixões” (1982). A lista com todos os candidatos ainda passará pela triagem de um comitê da Academia, que divulgará uma relação dos melhores, geralmente nove pré-selecionados, no final do ano. Dentro desses, cinco serão escolhidos para disputar o Oscar. O candidato do Brasil na disputa por uma vaga é “A Vida Invisível”, do diretor Karim Aïnouz. Os finalistas à premiação do Oscar 2020 serão divulgados no dia 13 de janeiro e a cerimônia de entrega dos prêmios acontecerá no dia 9 de fevereiro, em Los Angeles.
D.A. Pennebaker (1925 – 2019)
O cineasta D.A. Pennebaker, único documentarista premiado com um Oscar honorário pelas realizações da carreira, morreu na noite de quinta (1/8) de causas naturais, aos 94 anos. Maior mestre dos documentários musicais, ele ficou famoso ao registrar a turnê britânica de Bob Dylan de 1965, que registrou a difícil transformação do cantor folk em roqueiro, e foi indicado ao Oscar por sua cobertura da campanha presidencial de Bill Clinton em 1992. Donn Alan Pennebaker nasceu em 15 de julho de 1925 no subúrbio de Evanston, Illinois. “Penny” formou-se em engenharia mecânica na universidade de Yale, mas nunca seguiu a profissão. Em vez disso, tornou-se documentarista em 1953, ao filmar seu primeiro curta, “Daybreak Express”, que mostrava os trens sujos e abarrotados de Nova York como um retrato encantador, ao som da música de Duke Ellington que lhe servia de título. Foi o primeiro de seus muitos trabalhos em que a música tomou o primeiro plano. “A natureza do filme é musical”, ele disse uma vez, explicando sua preferência. Em 1959, Pennebaker juntou-se a Robert Leacock, Albert Maysles, Terry Filgate e Robert Drew na Drew Associates, produtora que lançou a célebre série documental “Living Camera”. Um dos trabalhos do diretor na série, “Mooney vs. Fowle”, sobre um jogo do campeonato colegial do futebol americano, venceu o prêmio principal no Festival de Cinema de Londres de 1962. Pennebaker e Robert Leacock também foram responsáveis, no início da década de 1960, por desenvolver os primeiros sistemas de câmera capazes de captar de forma sincronizada gravação de imagem e som, no formato de 16mm. A partir dessa inovação, que diminuiu o tamanho das equipes necessárias para registrar filmes documentais, os dois decidiram se juntar numa empresa própria, Leacock Pennebaker Inc. Um curta da companhia, sobre o vocalista de jazz David Lambert, chamou atenção internacional e levou o empresário de Dylan, Albert Grossman, a se aproximar de Pennebaker para filmar a turnê do músico na Inglaterra no ano seguinte. O resultado da filmagem foi o célebre “Don’t Look Back” (1965), um dos melhores documentários musicais de todos os tempos. “Penny” captou a essência de Dylan em sua turnê mais mítica, enfrentando as vaias dos fãs ao tentar se redefinir como cantor de rock, acompanhado por banda e tocando guitarra elétrica. Uma blasfêmia para quem surgiu na cena folk. Uma epifania para a história do rock. Sobre a reação de Dylan ao documentário, Pennebaker disse à revista Time em 2007: “Ele viu o filme pela primeira vez num projetor muito ruim e me disse: ‘Quando tivermos uma projeção melhor eu vou escrever todas as coisas que vamos ter que mudar’. Claro, isso me deixou um pouco triste. Na noite seguinte, nos reunimos novamente e ele se sentou na frente da tela com um caderno amarelo. No final do filme, ele me entregou o bloco em branco. ‘É isso aí que temos mudar’.” A abertura do filme, que mostrava Bob Dylan segurando diversos cartazes com a letra de “Subterranean Homesick Blues”, alternando os textos de forma sincronizada com a música, acabou “viralizando” antes dessa expressão significar o que representa hoje. Exibida de forma separada na TV, virou o primeiro Lyric Video de todos os tempos. Com o impacto desse filme na cena cultural da época, Pennebaker foi registrar outro marco da história do rock, o Festival de Monterey, de 1967. Lançado no ano seguinte como “Monterey Pop” (1968), o filme contou com performances que catapultaram para o estrelato ninguém menos que Janis Joplin e Jimi Hendrix. Mas, por incrível que pareça, nenhuma distribuidora se interessou em adquirir “Monterey Pop” para lançá-lo nos cinemas. Pennebaker acabou fechando com um cine pornô de Manhattan para a estreia. E o filme ficou um ano inteiro em cartaz naquele cinema, com as sessões sempre lotadas. O diretor especializou-se em documentários de rock, filmando shows de John Lennon, Little Richards, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry e David Bowie, entre outros. Seu documentário sobre a turnê de “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1973) é um dos melhores registros da fase glam da carreira de Bowie. Outro de seus trabalhos marcantes foi “Original Cast Album: Company” (1970), que documentou a exaustiva sessão de 18 horas e meia de gravação da trilha sonora do musical da Broadway que estabeleceu o recorde de 14 prêmios Tony, composta por Stephen Sondheim. A exibição causou tumulto no Festival de Nova York, com filas que precisaram ser organizadas pela polícia e agendamento apressado de segunda sessão, tamanha a procura. Infelizmente, devido a questões legais, o filme não encontrou distribuição até 1992, quando a RCA Victor o lançou em vídeo. Em meados dos anos 1970, Pennebaker firmou outra parceria importante com a colega cineasta Chris Hegedus, com quem trabalhou por mais de três décadas. E com quem se casou em 1982. Os dois realizaram um dos documentários musicais mais famosos dos anos 1980, “Depeche Mode: 101” (1989), sobre o show que encerrou a fase mais criativa da banda inglesa – anunciado na época como despedida do Depeche Mode. Mas mudaram totalmente de tema em seu filme mais celebrado da década seguinte. Para “The War Room” (1993), indicado ao Oscar de Melhor Documentário, Pennebaker e Hegedus focaram a campanha presidencial de Bill Clinton em 1992. Como os cineastas não tinham acesso ao próprio Clinton, as filmagens se concentraram nas estratégias políticas orquestradas pelo gerente de campanha James Carville e pelo diretor de comunicações George Stephanopoulos. O sucesso do filme transformou os dois em estrelas. Carville teve aparições em vários filmes e programas de TV e foi o conselheiro político de Hillary Clinton durante sua campanha presidencial de 2008, e Stephanopoulos virou comentarista de política na TV americana. A popularidade desse documentário gerou uma continuação, “The Return of the War Room” (2008), que reuniu os participantes originais para refletir sobre a paisagem da política americana e campanhas políticas da época. Pennebaker recebeu seu Oscar honorário em 2012, na primeira e até hoje única vez que a Academia reconheceu a carreira de um documentarista. E dedicou-o à sua esposa e parceira. Depois disso, ainda fez mais um filme ao lado dela, “Unlocking the Cage” (2016), sobre direitos animais. Do primeiro curta ao último longa, todos os seus filmes mantiveram a mesma característica, uma marca de Pennebaker que influenciou a carreira de muitos documentaristas: a ausência completa de narração e entrevistador. Ele dizia que seus filmes não eram didáticos e preferia ser comparado ao dramaturgo Henrik Ibsen do que a um repórter. “Este é o meu segredo: minha vontade de virar Ibsen. Existem coisas acontecendo o tempo todo com as pessoas. Você não precisa dramatizar nada ou roteirizá-las [para filmar um documentário]”.
Lady Gaga e Adele são convidadas a votar no Oscar 2020
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos revelou os nomes das 842 pessoas que convidou para votar na próxima edição do Oscar. E a relação inclui o nome de duas cantoras famosas, Lady Gaga, que venceu o Oscar de Melhor Canção em 2019, e Adele, vencedora da mesma categoria em 2013. A relação também destaca os atores Sterling K. Brown e Letitia Wright (ambos de “Pantera Negra”), Claire Foy (“Primeiro Homem”), Tom Holland (“Homem-Aranha: De Volta para Casa”) e Elisabeth Moss (“Nós”), além de muitos artistas estrangeiros. Há pelo menos seis brasileiros, como o veterano produtor Luiz Carlos Barreto (“O Que é Isso, Companheiro?”) e a cineasta Laís Bodanzky (“Como Nossos Pais”), atualmente presidente da Spcine. Conheça os demais aqui. Ao divulgar os convidados nesta segunda-feira (1/7), a organização confirmou esforços para alcançar maior diversidade entre seus quadros. Para tanto, metade dos novos convidados são mulheres e 29% não são brancos. Se todos os convidados aceitarem, o total de membros ultrapassará 9 mil – 32% deles mulheres (até 2015, elas eram apenas 15%) e 16% não brancos (contra 8% em 2015). Em 2016, a Academia iniciou uma campanha para aumentar a diversidade entre seus membros, refletindo críticas sobre sua composição, formada por uma grande maioria de profissionais brancos, homens e idosos. Este perfil foi apontado como um impedimento para igualdade racial e de gênero entre os indicados e vencedores do Oscar, após dois anos seguidos em que nenhum ator negro foi selecionado para concorrer a prêmios – o que aconteceu em 2015 e 2016. Os membros da Academia são responsáveis por escolher os indicados e vencedores do Oscar. A premiação de 2020 está marcada para 9 de fevereiro, em Los Angeles, com exibição no Brasil pela rede Globo e pelo canal pago TNT.
Laís Bodanzky e Luiz Carlos Barreto são convidados para votar no Oscar 2020
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos divulgou nesta segunda-feira (1/7) uma lista com 842 convidados para integrar a entidade responsável pelo Oscar. Entre eles, estão ao menos seis brasileiros, como o veterano produtor Luiz Carlos Barreto (“O Que é Isso, Companheiro?”) e a cineasta Laís Bodanzky (“Como Nossos Pais”), atualmente presidente da Spcine. Também foram convidados a produtora Lucy Barreto, esposa de Luiz Carlos, a montadora Jordana Berg (“Democracia em Vertigem”), a diretora de arte Vera Hamburger (“Carandiru”) e o guitarrista e compositor Heitor Teixeira Pereira (“Meu Malvado Favorito”). Metade dos convites foi enviada a mulheres, num esforço da Academia para diversificar seus integrantes. Nos últimos anos, o Oscar foi criticado por indicar apenas atores brancos, como nas edições de 2015 e 2016, e por priorizar homens nas categorias que não são explicitamente femininas – como Melhor Atriz. Graças à campanha de diversificação, a quantidade de membros da Academia disparou. Estima-se que ela tenha, hoje, cerca de 9.200 membros, sendo 31% mulheres (até 2015, elas eram apenas 15%) e 16% pessoas não brancas (contra 8% em 2015). No ano passado, a Academia convidou nove brasileiros: a atriz Alice Braga (“Elysium”), as documentaristas Petra Costa (“Elena”), Maria Augusta Ramos (“O Processo”) e Helena Solberg (“A Alma da Gente”), o curta-metragista Mauricio Osaki (“Lembrança”), os montadores Felipe Lacerda (“Chatô: O Rei do Brasil”) e Karen Harley (“Zama”), o músico Carlinhos Brown (da trilha de “Rio”) e a produtora Vania Catani (de “Zama” e “O Filme da Minha Vida”). Os membros da Academia são responsáveis por escolher os indicados e vencedores do Oscar. A premiação de 2020 está marcada para 9 de fevereiro, em Los Angeles, com exibição no Brasil pela rede Globo e pelo canal pago TNT.
Trailer da continuação de Trolls é ataque contra o rock
A DreamWorks Animation divulgou o trailer de “Trolls: World Tour”, sequência da animação “Trolls” (2016). E há tantas coisas erradas no vídeo musical que era preferível o silêncio. Não “o som do silêncio”, já que este é um dos problemas – o clássico depressivo “The Sound of Silence”, de Simon & Garfunkel, virou exemplo de música fofa na prévia, que ainda não foi legendada ou dublada para o lançamento nacional. No novo longa, a rainha Poppy e Branch fazem uma descoberta surpreendente: existem outros mundos de Troll além do deles, cada um definido por um gênero diferente de música. E o rock – denominação do som que no trailer é representado como heavy metal dos anos 1980 – é o vilão dessa história. Os roqueiros querem dominar o mundo Troll e acabar com os outros gêneros musicais. A ironia dessa premissa é que ela representa o oposto do que sempre aconteceu no mundo real, onde o pop foi criado no final dos anos 1950 para acabar com o rock. E basicamente conseguiu seu objetivo no século 21, após se mesclar com o R&B e fazer sumir qualquer vestígio de rock nas listas de sucessos comerciais. “Trolls: World Tour” é apenas o mais novo capítulo dessa história antiga de ataque do pop contra o rock, que pretende ensinar às crianças como roqueiros representam o mal. Basicamente, o que o pastor Jimmy Lee Swaggart já fazia há meio século, ao conclamar seguidores a queimar os discos de rock – música do diabo. A continuação bizarra traz Justin Timberlake e Anna Kendrick de volta aos papéis de Branch e Poppy, respectivamente. E entre as novidades no elenco estão Sam Rockwell (“Três Anúncios de um Crime”), Chance the Rapper (“Slice”), Anthony Ramos (“Nasce uma Estrela”), Karan Soni (“Deadpool”), Jamie Dornan (“Cinquenta Tons de Cinza”), Mary J. Blige (“The Umbrella Academy”) e Ozzy Osbourne (“Um Diabo Diferente”). Os roteiristas são os mesmos do primeiro filme, Jonathan Aibel e Glenn Berger, e a direção está a cargo da dupla Walt Dohrn e David P. Smith, que estreiam em longa-metragem após comandarem episódios de séries animadas. A animação tem estreia marcada para 16 de abril no Brasil, um dia antes do lançamento nos Estados Unidos.
Rubens Ewald Filho (1945 – 2019)
O jornalista e crítico de cinema Rubens Ewald Filho morreu na tarde desta quarta-feira (19/6), Dia do Cinema Brasileiro, aos 74 anos. Ele estava internado em estado grave desde o dia 23 de maio, no Hospital Samaritano, em São Paulo, após sofrer um desmaio seguido de queda em uma escadaria rolante. Marta Giovanelli, assistente do jornalista, afirmou que a queda foi causada por uma arritmia cardíaca. Nascido em Santos, Rubens Ewald Filho era considerado um dos maiores nomes da crítica cinematográfica do país. Ainda criança, criou o hábito de anotar todos os filmes que via em um caderno, incluindo o nome do diretor, elenco, roteirista e outras informações. Este hábito deu origem ao lançamento dos primeiros guias de cinema do país. Estima-se que ele tenha assistido a mais de 37 mil filmes desde que começou a carreira no jornal A Tribuna, de Santos, em 1967. Em mais de 50 anos de atividade jornalística, passou por alguns dos maiores veículos de comunicação e emissoras de TV no país, tornando-se o grande responsável por popularizar o papel de crítico de cinema para os espectadores brasileiros, ao falar de maneira mais técnica – e ainda assim acessível – sobre filmes em vários canais da TV. Trabalhou na Globo, SBT, Record, Cultura e, nos últimos anos, no canal pago TNT. Seus comentários marcaram as transmissões do Oscar no país, especialmente em suas passagens pela rede Globo e TNT. Mas seu estilo ácido também alimentou polêmicas, tanto que, pela primeira vez em décadas, ele não foi o comentarista oficial da cerimônia em 2019. A TNT o deslocou para a internet, um ano após virar alvo de críticas – por comentar que a vencedora do Oscar Frances McDormand “não é bonita e deu um show de bebedeira no Globo de Ouro” e que a atriz trans Daniela Vega, estrela de “Uma Mulher Fantástica”, “na verdade é um rapaz”. Mas Rubens Ewald não foi apenas crítico. Ele se destacou como curador de diversos festivais brasileiros, de Gramado a Paulínia, ajudando a selecionar e lançar filmes com grande repercussão em alguns dos principais palcos do cinema nacional. Ele também foi autor. Escreveu as pornochanchadas “A Árvore dos Sexos” e “Elas São do Baralho”, dirigidas por Silvio de Abreu em 1977. E os dois assinaram juntos a novela “Éramos Seis”, adaptação do romance homônimo de Maria José Dupré, exibida na TV Tupi no mesmo ano. Do mesmo escritor, Rubens ainda adaptou “Gina” em 1978 para a Globo. Outras novelas de seu currículo incluem “Drácula, Uma História de Amor” (1980), uma das últimas produções da Tupi, que acabou concluída como “Um Homem Muito Especial” (1980) na Band, “O Pátio das Donzelas” (1982) e “Iaiá Garcia” (1982), ambas na TV Cultura. Ainda participou como ator de filmes clássicos da era da Embrafilme, como “A Herança” (1970), “Independência ou Morte” (1972), “A Casa das Tentações” (1975) e “Amor Estranho Amor” (1982), entre outros. Mais: foi diretor teatral das peças “O Amante de Lady Chatterley”, “Querido Mundo” e “Doce Veneno”… E, em sua atividade como crítico, lançou diversos livros, como “Dicionário de Cineastas”, “Cinema com Rubens Ewald Filho”, “Os 100 Maiores Cineastas”, “O Oscar e Eu” e “Os 100 Melhores Filmes do Século 20”. “Ele é o maior e mais respeitado crítico de cinema que o Brasil já teve, nos acompanhou nas 15 transmissões do Oscar na TNT. Sentiremos muito a sua falta”, registrou Silvia Fu Elias, Diretora Sênior de Conteúdo da Turner, em comunicado.
Franco Zeffirelli (1923 – 2019)
O cineasta Franco Zeffirelli, conhecido por filmes como “Romeu e Julieta” (1968) e “Amor sem Fim” (1981), morreu neste sábado (15/6) em sua casa em Roma, aos 96 anos, em decorrência “de uma longa doença que se agravou nos últimos meses”, informou a imprensa italiana. “Nunca quis que esse dia chegasse. Franco partiu nesta manhã. Um dos maiores homens do mundo da cultura. Nós partilhamos da dor de seus amados. Adeus, grande mestre, Florença nunca te esquecerá”, disse o prefeito de Florença, Dario Nardella. Em uma carreira que se estendeu por cerca de 70 anos, ele se tornou um dos diretores mais populares da Itália, tanto por seus filmes, quanto por peças de teatro e óperas. Nascido como filho ilegítimo de uma designer de moda e de um comerciante de tecidos, Zeffirelli ficou órfão de mãe aos seis anos e foi criado por uma tia. Na juventude, afirma que foi abusado por um padre. Mas também estudou arte e arquitetura em Florença e integrou um grupo de teatro. Iniciou a carreira cinematográfica depois da 2ª Guerra Mundial, trabalhando como diretor assistente de Luchino Visconti em clássicos como “A Terra Treme” (1948), “Belíssima” (1951) e “Sedução da Carne” (1954). A partir dos anos 1950 voltou-se para os palcos, como diretor de teatro e ópera, e fez sua estreia como cineasta, com a comédia “Weekend de Amor” (1958). Mas não demorou a juntar cinema e ópera, num documentário sobre a maior diva dos tempos modernos, Maria Callas, em 1964. As paixões divididas explicam porque seu cinema sempre foi um pouco teatral e muito operístico. Tentando conciliar filme e teatro, lançou-se em adaptações de William Shakespeare. Fez “A Megera Domada” (1967) com Richard Burton e Elizabeth Taylor, chamando atenção de Hollywood. Mas foi “Romeu e Julieta” (1968), no ano seguinte, que o colocou na Academia. A obra foi indicada a quatro Oscars, inclusive Melhor Filme e Direção, e se diferenciou das versões anteriores por finalmente filmar dois adolescentes reais (Olivia Hussey e Leonard Whiting) nos papéis dos amantes trágicos. O longa venceu os Oscars de Melhor Fotografia e Melhor Figurino, além do David di Donatello (o “Oscar” italiano) de Melhor Diretor. O sucesso o influenciou a seguir filmando em inglês, mas seus trabalhos seguintes, “Irmão Sol, Irmã Lua” (1972), sobre as juventudes de São Francisco e Santa Clara, e a minissérie “Jesus de Nazaré” (1977), refletiram sua criação católica apostólica romana. Belíssimo, o longa de 1972 lhe rendeu seu segundo David di Donatello de Melhor Diretor, enquanto a obra televisiva trouxe como curiosidade a escalação da sua Julieta (Olivia Hussey) como a Virgem Maria. Depois de rodar o drama esportivo “O Campeão” (1979), com John Voight (o pai de Angelina Jolie), e o romance adolescente “Amor sem Fim” (1981), com Brooke Shields, Zefirelli voltou-se novamente às óperas. Mas desta vez em tela grande. Filmou “La Traviata” (1982), pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Direção de Arte e Figurino, e “Otello” (1986), duas óperas de Verdi que foram protagonizadas por Plácido Domingo. Entretanto, para encarnar Otello, o cantor foi submetido à maquiagem especial para escurecer sua pele, num processo chamado de “black face”, que atualmente é considerado um ato de racismo. Já na época não caiu muito bem. Entre um e outro longa, Zefirelli ainda filmou duas óperas televisivas, “Cavalleria Rusticana” (1982) e “Pagliacci” (1982), novamente com Plácido Domingo. E venceu um Emmy pela segunda. Ele seguiu alternando seus temas favoritos com “O Jovem Toscanini” (1988), cinebiografia do grande maestro Toscanini, fez sua versão de “Hamlet” (1990), com Mel Gibson e Glenn Close, e realizou a tele-ópera “Don Carlo” (1992), com Luciano Pavarotti. Dirigiu ainda adaptações de romances clássicos como “Sonho Proibido” (1993), baseado na obra de Giovanni Verga, e “Jane Eyre – Encontro com o Amor”, inspirado no romance gótico de Charlotte Brontë, com William Hurt e as então jovens Charlotte Gainsbourg e Anna Paquin, antes de adaptar sua própria autobiografia, “Chá com Mussolini” (1999). Ainda voltou uma última vez ao passado em seu longa final, o documentário “Callas Forever” (2002), sobre a diva da ópera que tinha filmado pela primeira vez nos anos 1960. Nos últimos anos, Zefirelli se tornou mais conhecido por seu envolvimento com a política. Conservador a ponto de ter lançado uma campanha contra “A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorsese, quando o filme fez sua première no Festival de Veneza em 1988, ele era contra projetos de reconhecimento dos casais homossexuais e foi um dos poucos artistas italianos a apoiar Silvio Berlusconi quando o bilionário entrou para a política no início dos anos 1990. Acabou eleito senador no partido do magnata, de 1994 a 2001.








