Festival de Veneza começa com missão de “reiniciar” o cinema
Mais antiga mostra de cinema do mundo, o Festival de Veneza chega à sua 77ª edição nesta terça (2/9) como o primeiro evento do gênero a estender seu tapete vermelho em meio à pandemia de coronavírus. Dirigindo-se à imprensa na véspera da abertura, o diretor do festival, Alberto Barbera, declarou que a cerimônia inaugural deste ano ganha um significado especial, como um “reinício” para o cinema. “Sem esquecer as muitas vítimas dos últimos meses, o primeiro festival internacional a ser realizado após a interrupção forçada imposta pela pandemia adquire o significado de um reinício, uma mensagem de otimismo para o mundo do cinema tão atingido pela crise”, ele afirmou. Esse aspecto será evidenciado pela divulgação de um manifesto coletivo de solidariedade dos diretores de outros sete grandes festivais europeus, incluindo Berlim e Cannes. O Festival de Berlim foi a última grande mostra antes da pandemia fechar os cinemas e o de Cannes encontrou a crise sanitária em seu auge e acabou cancelado. “Precisamos reabrir os cinemas, distribuir novos filmes, começar a rodar novos filmes. Espero que o festival seja um sinal de solidariedade e incentivo para todos os envolvidos com a indústria cinematográfica”, acrescentou Barbera. Apesar desse otimismo, o festival vai acontecer sob o impacto da pandemia, com medidas rígidas de distanciamento social e higiene. Com os casos de coronavírus aumentando novamente na Itália e em outros países, os organizadores estabeleceram um protocolo que inclui o uso de máscaras de proteção nas sessões e a abertura de duas arenas ao ar livre no Lido para respeitar as medidas impostas para evitar a disseminação do coronavírus. As cerimônias de abertura e encerramento, assim como as entrevistas coletivas de imprensa, os desfiles pelo tapete vermelho e outros eventos acontecerão sem público, dentro de cercados, e serão transmitidos via streaming e pelas redes sociais. Além disso, a seleção de 2020 não deve ser lembrada pela participação de grandes estrelas, muitas delas ainda impossibilitadas de cruzar fronteiras internacionais. Caetano Veloso, por exemplo, não deve ir ao evento, que exibirá em primeira mão o documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão do cantor durante a ditadura, fora da competição oficial. Ao todo, 18 filmes competirão pelo Leão de Ouro, sendo quatro italianos. Deste total, 11 são dirigidos por homens e 8 por mulheres (um deles tem dois cineastas). O título americano mais aguardado do festival é justamente de uma cineasta, “Nomadland”, dirigido pela chinesa Chloe Zhao e estrelado por Frances McDormand. O longa será exibido em Veneza e Toronto simultaneamente em 11 de setembro, em ambos os casos precedido por apresentações virtuais. Ao final do evento, em 12 de setembro, os melhores do festival serão premiados pelo júri presidido pela atriz australiana Cate Blanchett, e que também inclui os diretores Christian Petzold (Alemanha), Joanna Hogg (Reino Unido) e Veronika Franz (Áustria), a atriz Ludivine Sagnier (França), o ator Matt Dillon (EUA) e o escritor Nicola Lagioia (Itália).
Globoplay adquire documentário sobre prisão de Caetano Veloso pela ditadura
A Globoplay comprou os direitos de transmissão do documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão de Caetano Veloso em 1968, durante a ditadura militar. O longa chega à plataforma de streaming no dia 7 de setembro, mesmo dia de sua première mundial na 77ª edição do Festival de Veneza. Dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”), “Narciso em férias” será exibido fora de competição no festival italiano. O documentário traz o depoimento de Caetano Veloso sobre sua experiência na cadeia, que incluiu passar uma semana trancado numa solitária. Ele e Gilberto Gil foram retirados de suas casas em São Paulo por agentes à paisana, duas semanas após o decreto do AI-5. À época, o regime militar proibiu que jornais divulgassem a prisão dos artistas. No total, Caetano ficou 54 dias encarcerado. Durante o período, ele compôs a canção “Irene”, inspirado pela lembrança da risada de sua irmã mais nova, e ao sair da prisão foi exilado em Londres. Em entrevista à revista americana Variety, Caetano destacou a importância de lembrar esse período histórico para se contrapor à versão dos fatos propagada pelo atual governo negacionista. “O Brasil tem um governo que diz que a ditadura militar foi uma coisa boa. E eles estão tentando lançar uma luz positiva. É hora de falar sobre esse período da maneira que faço no filme”, afirmou.
Seleção do Festival de Veneza inclui documentário sobre prisão de Caetano Veloso
A organização do Festival de Veneza divulgou a lista dos filmes selecionados para sua edição 2020. E entre os títulos destaca-se o documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão de Caetano Veloso em 1968. Programado para exibição fora de competição, o novo filme da dupla Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”) traz o cantor brasileiro relembrando sua prisão, quando ele e Gilberto Gil foram levados de suas casas após o decreto do AI-5, culminando em seu exílio no auge da ditadura militar. Sem receber explicações, Caetano e Gil foram retirados à força de suas casas em São Paulo, levados ao Rio de Janeiro e jogados numa prisão. Passaram a primeira semana em solitária, antes de serem transferidos para celas, onde ficaram quase dois meses trancafiados. Na época, a ditadura impediu os jornais de mencionar as prisões. O crime cometido? Músicas. “Narciso em Férias” integra uma seleção com mais de 50 filmes de todo o mundo, incluindo obras de cineastas como Kiyoshi Kurosawa, Amos Gitai, Chloé Zhao, Nicole Garcia, Andrei Konchalovsky, Lav Diaz, Alex de la Iglesia, Alice Rohrwacher, Michel Franco, Luca Guadagnino, Abel Ferrara e até o (há muito) falecido Orson Welles. Uma das características desta seleção justamente é a inclusão de vários documentários fora de competição, entre eles um filme dedicado à ativista adolescente Greta Thunberg, a obra póstuma de Welles e os novos trabalhos de Ferrara, Guadagnino e do premiado Alex Gibney, que já venceu o Oscar da categoria com “Um Táxi para a Escuridão” (2007). Ao anunciar a programação nesta terça-feira (28/7), o diretor do festival, Alberto Barbera, declarou que o evento continua sendo “uma vitrine para a melhor produção cinematográfica do mundo”. E destacou que a seleção inclui apenas duas obras de ficção produzidas por estúdios de Hollywood, ambas dirigidas por mulheres. As produções dramáticas americanas são “The World to Come”, da diretora Mona Fastvold (“O Sonâmbulo”), um drama íntimo estrelado por Casey Affleck, Vanessa Kirby e Katherine Waterston, e “Nomadland”, um road movie de Chloé Zhao (“Domando o Destino”), com Frances McDormand e David Strathairn. Vale lembrar que Chloé Zhao está atualmente trabalhando na pós-produção de “Eternos”, da Marvel. Vanessa Kirby deve ser a grande estrela do tapete vermelho, se ele for estendido em meio à pandemia de covid-19. Ela aparece duplamente na programação, pois também está no elenco de “Pieces of a Woman”, que é uma produção canadense e marca a estreia do diretor húngaro Kornél Mundruczó (“White God”) em inglês. O Festival de Veneza será realizado de forma presencial, com reforço de medidas de segurança, entre os dias 2 e 12 de setembro. Confira abaixo a lista dos títulos selecionados. Competição Principal In Between Dying, de Hilal Baydarov Le Sorelle Macaluso, de Emma Dante The World To Come, de Mona Fastvold Nuevo Orden, de Michel Franco Lovers, de Nicole Garcia Laila in Haifa, de Amos Gitai Dear Comrades, de Andrei Konchalovsky Wife Of A Spy, de Kiyoshi Kurosawa Sun Children, de Majid Majidi Pieces Of A Woman, de Kornel Mundruczo Miss Marx, de Susanna Nicchiarelli Padrenostro, de Claudio Noce Notturno, de Gianfranco Rosi Never Gonna Snow Again, de Malgorzata Szumowska, Michal Englert The Disciple, de Chaitanya Tamhane And Tomorrow The Entire World, de Julia Von Heinz Quo Vadis, Aida?, de Jasmila Zbanic Nomadland, de Chloé Zhao Mostra Horizontes Apples, de Christos Nikou La Troisième Guerre, de Giovanni Aloi Milestone, de Ivan Ayr The Wasteland, de Ahmad Bahrami The Man Who Sold His Skin, de Kaouther Ben Hania I Predatori, de Pietro Castellitto Mainstream, de Gia Coppola Genus Pan, de Lav Diaz Zanka Contact, de Ismael El Iraki Guerra E Pace, de Martina Parenti, Massimo D’Anolfi La Nuit Des Rois, de Philippe Lacôte The Furnace, de Roderick Mackay Careless Crime, de Shahram Mokri Gaza Mon Amour, de Tarzan Nasser, Arab Nasser Selva Tragica, de Yulene Olaizola Nowhere Special, de Uberto Pasolini Listen, de Ana Rocha de Sousa The Best Is Yet To Come, de Wang Jing Yellow Cat, de Adilkhan Yerzhanov Fora de Competição – Sessões Especiais 30 Monedas, Episode 1, de Alex de la Iglesia Princesse Europe, de Camille Lotteau Omelia Contadina, de Alice Rohrwacher Jr Fora de Competição – Ficção Lacci, de Daniele Lucheti Lasciami Andare, de Stefano Mordini Mandibules, de Quentin Dupieux Love After Love, de Ann Hui Assandira, de Salvatore Mereu The Duke, de Roger Michell Night In Paradise, de Park Soon-jung Mosquito State, de Filip Jan Rymsza Fora de Competição – Documentário Sportin’ Life, de Abel Ferrara Crazy, Not Insane, de Alex Gibney Greta; de Nathan Grossman Salvatore, Shoemaker Of Dreams, de Luca Guadagnino Final Account, de Luke Holland La Verita Su La Dolce Vita, de Giuseppe Pedersoli Molecole, de Andrea Segre Narciso Em Ferias, de Renato Terra, Ricardo Calil Paulo Conte, Via Con Me, de Giorgio Verdelli Hopper/Welles: de Orson Welles
Festival de Veneza vai homenagear carreiras de Tilda Swinton e Ann Hui
A organização da 77ª edição do Festival de Cinema de Veneza anunciou que a atriz inglesa Tilda Swinton e a cineasta chinesa Ann Hui serão homenageadas com um Leão de Ouro especial pelas realizações de suas carreiras. O festival, que confirmou sua realização entre os dias 2 a 12 de setembro, não revelou se as duas artistas comparecerão pessoalmente à premiação. “Ann Hui é uma das diretoras de cinema mais apreciadas, prolíficas e versáteis do continente asiático”, escreveu o diretor do festival, o crítico de cinema italiano Alberto Barbera, que também elogiou Tilda Swinton em comunicado, por “sua versatilidade fora do comum”. A atriz britânica de 59 anos estreou no cinema em 1986 com o filme “Egomania”, e desde então participou de quase 70 longas-metragens, trabalhando com diretores como Jim Jarmusch, Wes Anderson, Terry Gilliam, Danny Boyle, Bong Joon-ho, Luca Guadagnino e Lynne Ramsay, demonstrando inclinação por obras de caráter mais artístico e ousado. Mas os mais jovens devem lembrar mais seu desempenho nos filmes da Marvel, como a Anciã, mentora do Doutor Estranho. “Tilda Swinton é unanimemente reconhecida como uma das intérpretes mais originais e intensas”, destacou Barbera ao comentar “sua personalidade exigente e excêntrica” e “sua capacidade de passar do cinema de autor mais radical para as grandes produções de Hollywood, sem renunciar a sua inesgotável necessidade de dar vida a personagens inclassificáveis e pouco comuns”, escreveu Barbera. Já a diretora de 73 anos, que iniciou sua carreira em 1979, “foi uma das primeiras artistas a misturar material documental e cinema de ficção”, e nunca abandonar “a visão do autor”, segundo o próprio Barbera. Ao longo de quase meio século, esteve particularmente interessada nos “assuntos humanos e sociais”, como a vida dos imigrantes vietnamitas após a Guerra do Vietnã e foi “pioneira, por sua linguagem e estilo visual”, lembrou o crítico. Em nota divulgada pela Biennale, Hui se disse “sem palavras” pela homenagem e desejou que “todo o mundo melhore logo, para que todos possam sentir-se felizes como me sinto agora”. O Festival de Veneza acontecerá neste ano com um programa “reduzido” devido à pandemia de coronavírus, segundo adiantaram os organizadores, que divulgarão a lista dos filmes selecionados em 28 de julho em uma entrevista coletiva para a imprensa.
Marion Hänsel (1949 – 2020)
A cineasta, produtora e atriz Marion Hänsel, que venceu o Leão de Prata no Festival de Veneza de 1985, morreu na segunda (8/6) aos 71 anos, após um ataque cardíaco. Nascida em Marselha, na França, Hansel cresceu na cidade belga de Antuérpia e os seus estudos levaram-na ao Reino Unido, a Paris, e Nova York, onde estudou na famosa Actors Studio, a escola de atores de Lee Strasberg. Depois de se apresentar no palco em Bruxelas e ganhar pequenos papéis na televisão, começou a carreira como atriz de cinema na fantasia belga “Palaver” (1969), de Emile Degelin. E seguiu atuando em filmes belgas até ser contratada por Agnès Varda para participar do clássico francês “Uma Canta, a Outra Não” (1977). Foi nesse mesmo ano que criou a produtora Man’s Films e assinou a sua primeira curta-metragem: “Equilibres” . A sua estreia na direção de longas se deu em 1982 com “Le Lit”, nomeado ao César de Melhor Filme Francófono (estrangeiro falado em frncês), e a partir aí ela assinou duas dezenas de trabalhos como realizadora e cerca de 35 obras como produtora, como “Terra de Ninguém”, de Danis Tanovic, que venceu o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 2002. O filme que lhe rendeu o Leão de Prata foi também sua primeira obra falada em inglês: “Dust” (1985), produção polêmica que deu o falar pela cena de estupro de uma mulher negra por um patrão branco (Trevor Howard) na África do Sul, em pleno apartheid, e o assassinato deste pela própria filha (Jane Birkin). Ela também foi premiada nos festivais de Cannes e Bruxelas por “Entre o Inferno e o Profundo Mar Azul” (1995), um filme cultuado sobre a amizade entre um marinheiro estrangeiro (Stephen Rhea) e uma garotinha chinesa. Seu filme mais recente, “There Was A Little Ship”, teve a sua estreia internacional no Festival de Rotterdam deste ano, que lhe dedicou uma retrospectiva especial de sua carreira.
We Are One: Primeiro festival mundial de cinema virtual começa de graça na sexta no YouTube
O festival de cinema virtual We Are One divulgou a programação de seu evento, que começa na próxima sexta-feira (29/5) e vai durar dez dias no YouTube. Definido como um festival global, We Are One conta com curadoria dos organizadores dos maiores eventos físicos do gênero em todo o mundo, como os festivais de Cannes, Berlim e Veneza, além de Tribeca, cuja equipe encabeça a iniciativa. A seleção reúne títulos de 35 países e soma mais de 100 produções. Há muitos documentários e curtas criados especialmente para o festival, e uma mistura dos dois, como o curta-documentário “The Yalta Conference Online”, do japonês Koji Fukada. O Festival de Annecy, por sinal, é responsável por uma sessão com curtas animados. E também há uma seleção de longas menos recentes, mas que ainda são inéditos online, caso do drama “Amreeka”, da cineasta palestina Cherien Dabis, que venceu o prêmio da crítica ao ser exibido em Cannes, em 2009. Além da exibição de filmes, a programação inclui palestras e bate-papos com profissionais importantes da indústria cinematográfica, como os mestres Francis Ford Coppola, Steven Spielberg, Guillermo Del Toro, Jane Campion e Bong Joon-ho. “Juntos, fomos capazes de selecionar uma lista atraente de programação que reflete as variações sutis de estilo que tornam cada festival tão especial. Vamos oferecer ao público a oportunidade de não apenas celebrar a arte do cinema, mas as qualidades únicas que tornam cada história que assistimos tão memorável”, disse Jane Rosenthal, fundadora do We Are One e do Festival de Tribeca, em comunicado. Para conferir a programação completa do “We Are One: A Global Film Festival”, clique aqui. O acesso aos filmes será gratuito em todo o mundo. O público só será incentivado a fazer doações como forma de auxiliar o combate à covid-19. Os títulos poderão ser vistos no YouTube (nesta página), a partir de sexta. Veja abaixo um vídeo que apresenta o logotipo do evento.
Festival de Veneza deverá acontecer na data prevista
A data do Festival de Veneza está mantida e o evento ocorrerá conforme o planejado, no início de setembro. A garantia foi dada pelo governador da região em que fica a cidade italiana neste domingo (24/5). Segundo Luca Zaia, que também é membro do conselho da Bienal de Veneza, a disseminação do novo coronavírus já diminui no país e até setembro a crise sanitária deverá estar resolvida. A Itália planeja suspender todas as restrições de viagens a partir de 3 de junho, e os viajantes dos países da União Europeia poderão entrar no país sem ter que cumprir quarentena. Esse otimismo não leva em conta a possibilidade de uma segunda onda de infecções, trazidas por estrangeiros, como a que preocupa outros países que já saíram do isolamento social. O Festival de Veneza é um evento internacional com participação de artistas de vários lugares do mundo. A começar pela presidente do júri de sua 77ª edição, a australiana Cate Blanchett. Mas devido à paralisação da indústria cinematográfica para limitar a propagação do vírus, a programação do evento provavelmente terá menos produções, disse Zaia. Em compensação, alguns filmes que seriam lançados no Festival de Cannes, cancelado devido à pandemia, podem ganhar première em Veneza. Ao anunciar o cancelamento do evento físico, a organização de Cannes deu a entender que faria parcerias com outros festivais, incluindo Veneza, para exibir longas de sua seleção original. Um dos países mais atingidos pela covid-19, a Itália teve mais de 229 mil casos da doença e mais de 32 mil mortes. Na atualização diária de sábado (23/5), o país registrou 531 novos casos e 50 mortes.
Festival de Cannes desiste da edição de 2020, mas irá promover os filmes selecionados
Em meio às incertezas causadas pela pandemia do coronavírus, a organização do Festival de Cannes descartou qualquer possibilidade de realizar uma edição física do evento em 2020 e anunciou que vai criar um selo para que os filmes de sua seleção recebam reconhecimento, além de buscar parceria com outros festivais internacionais para promovê-los. Em entrevista realizada neste domingo (10/5) para o site Screen Daily, Thierry Fremaux, diretor do festival, confirmou que não será possível organizar o evento, mas descartou uma edição digital. Em vez disso, revelou seus planos para promover os filmes que deveriam ser exibidos em Cannes nesta semana, entre 12 e 23 de maio. Estes filmes vão receber um selo “Cannes 2020”. “Anunciaremos a lista no início de junho”, ele afirmou. “Em nosso coração, o que queremos fazer é promover os filmes que vimos e amamos. Recebemos filmes de todo o mundo, obras magníficas e é nosso dever ajudá-los a encontrar seu público. Uma vez anunciada a lista, o objetivo é começar a organizar eventos nos cinemas” para promover as obras selecionadas. Muitos dos filmes que não puderam estrear em Cannes devem aparecer em festivais do fim do ano, como os de Toronto, Veneza e Nova York, entre outros. Fremaux acrescentou que a ideia com Veneza é ir além de incluir um selo nas obras, mas apresentar filmes em conjunto. Até o momento, o Festival de Veneza mantém sua edição para 2020, inicialmente marcada para setembro, mas o governo italiano ainda não liberou a reabertura dos cinemas. Por conta disso, sua realização ainda não está 100% definida. Tudo vai depender da evolução da pandemia. Além de Cannes, os tradicionais festivais de cinema de Karlovy Vary, na República Tcheca, de Locarno, na Suíça, o SXSW, nos EUA, e de Edimburgo, na Escócia, já foram cancelados.
Maiores festivais de cinema do mundo vão lançar mostra digital coletiva no YouTube
Os maiores festivais de cinema do mundo se juntaram para realizar uma mostra digital, que será exibida pelo Youtube no final de maio. A lista de parceiros conta com os prestigiados festivais de Cannes, Veneza e Berlim, e foram reunidos pelos organizadores do festival de Tribeca, evento nova-iorquino produzido pelo ator Robert De Niro. Intitulado “We Are One: A Global Film Festival” (Nós Somos Um: Um Festival de Cinema Global), o evento do Youtube terá dez dias de duração, de 29 de maio a 7 de junho. O anúncio do evento virtual ainda não deixou claro se os maiores festivais do mundo cederão material inédito. Cannes, que já foi adiado por duas vezes, havia antecipado que não exibiria seus principais filmes online. Já Veneza manteve a data de sua próxima edição marcada para setembro, apesar de a Itália ser um dos países mais afetados pela crise sanitária. Essa incerteza em relação à realização das mostras cinematográficas impulsionou o projeto do YouTube, após o próprio Festival de Tribeca perder sua previsão de realização em 2020. Em vez de criar uma versão online, a produtora de Robert De Niro pensou num evento mais abrangente. A iniciativa foi anunciada no mesmo dia em que o Festival SXSW começa sua versão digital. A tradicional competição de cinema independente realizada no Texas, EUA, foi a primeira cancelada pela pandemia do novo coronavírus, em março passado. Mas sua proposta de edição online recebeu pouca adesão de cineastas. Apenas sete dos 135 longas inscritos no evento aceitaram o acordo de exibição gratuita na Amazon Prime Video. Por conta disso, o SXSW não participa do evento do YouTube, que além dos festivais citados também vai reunir curadoria de outras mostras renomadas, como os festivais de Sundance, Toronto, San Sebastián, Londres, Nova York, Jerusalém, Macau, Marrakech, Mumbai, Guadalajara, Sydney, Tokyo, Locarno e Karlovy Vary. Com apenas um representante mexicano, a América Latina acabou sub-representada, assim como a África. A promessa é de que o festival virtual tenha em seu programa, além de longas de ficção, curtas e documentários, também atrações musicais, de humor, entrevistas e conferências. Todo o material será disponibilizado de graça. O público só será incentivado a fazer doações para a OMS (Organização Mundial da Saúde) como forma de auxiliar o combate à covid-19. A programação completa do We Are One será anunciada nos próximos dias.
Festival de Veneza mantém data original em setembro
O Festival de Veneza confirmou nesta segunda-feira (20/4) que vai acontecer em setembro, data original de sua sua 77ª edição, apesar da pandemia de coronavírus que forçou o cancelamento de importantes eventos culturais em todo o mundo, como o Festival de Cannes, na França. “O calendário será de 2 a 12 de setembro para o 77º Festival de Cinema, dirigido por Alberto Barbera”, anunciou a Bienal de Veneza, organizadora do festival, em comunicado. Mas nem tudo acontecerá conforme originalmente previsto antes do mundo se enclausurar. Festival de cinema mais antigo do mundo, o evento italiano, que geralmente credencia mais de 2 mil jornalistas, será reduzido devido à crise sanitária, com exibições para um público limitado de críticos e com poucos convidados estrangeiros, explicaram os organizadores. Atualmente, a Itália está em um lockdown quase completo, com todos os cinemas e empresas não essenciais fechados. O país figura entre os mais atingidos pela pandemia de coronavírus no mundo, com 179 mil infecções confirmadas e mais de 23 mil mortes atribuídas ao contágio de covid-19, segundo dados do Instituto Johns Hopkins em 20 de abril. Mas a situação começa a se estabilizar, permitindo que planos para abrir o comércio deixem de ser apenas uma esperança distante. Se o Festival Veneza acontecer como planejado em setembro, poderá se beneficiar de uma rica seleção de filmes destinados a Cannes. Isto se não enfrentar a concorrência direta de uma edição tardia do evento francês. Oficialmente, a edição deste ano de Cannes não foi cancelada, apenas adiada por tempo indeterminado.
O Oficial e o Espião coloca Roman Polanski na berlinda
Recebido por piquetes feministas e manifestações de repúdio na França, o novo filme de Roman Polanski colocou o diretor na berlinda. Mas não por conta de cenas polêmicas, que inexistem. Na verdade, ele incomoda ativistas por algo que jamais explicita, apenas sugere sutilmente em seu subtexto. “O Oficial e o Espião” aborda o tema da inocência, o fato de alguém ser julgado e condenado por um crime que não cometeu. O problema, para muitas, é que o cineasta busca comparar o caso Dreyfus com seu próprio caso. Polanski foi condenado por estupro, admitiu o crime e fugiu dos EUA para a França para escapar da prisão nos anos 1970, situação que voltou à tona no bojo do movimento #metoo e após o surgimento de novas denúncias de supostas vítimas daquele período, acusações que mancharam definitivamente sua biografia. Mas o tema também se integra perfeitamente à fase mais recente dos filmes de Polanski, alimentada por uma dramaturgia humanista desde “O Pianista” (2002) e, refletindo os lançamentos mais próximos, calcada em diálogos – elementos enfatizados em “Deus da Carnificina” (2011) e “A Pele de Vênus” (2013), ambos baseados em peças de teatro. A obra atual ainda apresenta similaridades com “O Escritor Fantasma” (2010), que, como esta, também era uma adaptação de romance de Robert Harris, roteirizada pelo próprio autor. Formalmente falando, “O Oficial e o Espião” surge como um misto desses trabalhos, já que é centrado em conversas e contém poucas cenas de ação, mas também cria uma atmosfera de suspense e apreensão, levando em consideração o quanto o protagonista, o Coronel Georges Picquart (Jean Dujardin), vê-se envolvido em um jogo de cartas marcadas por membros antissemitas do corpo de superiores do exército francês, ao descobrir e tentar reparar uma injustiça: a prisão do oficial Alfred Dreyfus (Louis Garrel), o militar judeu mais proeminente do país, acusado de alta traição. A história reproduz um escândalo bastante conhecido na França e o título original, “J’Accuse”, refere-se ao editorial de mesmo nome escrito pelo romancista Émile Zola, que denunciou a conspiração por trás do envio de Dreyfus à prisão da Ilha do Diabo. O artigo foi publicado no jornal francês L’Aurore em 13 de janeiro de 1898 – e pode ser encontrado facilmente na internet – , três dias após o verdadeiro traidor, Esterhazy (no filme vivido por Laurent Natrella), ser inocentado pela justiça. Há muitos méritos artísticos no trabalho de Polanski. E não deixa de ser uma satisfação ver mais um trabalho do diretor, que é um verdadeiro mestre, pertence ao primeiro escalão e tem uma filmografia riquíssima, mostrando aos 88 anos um vigor artístico e uma capacidade técnica que muitos cineastas jovens jamais atingirão. Muitos pensam assim, tanto que Polanski foi premiado no Festival de Veneza e no César (o Oscar francês) como Melhor Diretor, justamente no momento em que o esforço para seu cancelamento atingiu o auge. O filme também se torna muitíssimo relevante nesses tempos de fake news, de pós-verdade. A trama mostra, de forma didática, como uma mentira vira verdade por imposição de forças superiores e essencialmente más. Na história, os inimigos de Dreyfus não se contentam em maltratar e manchar sua carreira; precisam também humilhá-lo. Nisso, entra a questão do antissemitismo, que na época já era forte, mas cresceria muito mais nos anos seguintes para se converter em ideologia política – o nazismo. Mas também poderia entrar, como ressaltam as contrariedades, a própria cultura do “cancelamento” social, que Polanski enxerga como o monstro que lhe acusam de ser. Por isso, fala-se mal de “O Oficial e o Espião”. Por isso, fala-se bem dessa obra, agora disponibilizada para locação virtual. Definitivamente, fala-se muito deste filme em que o nome de Roman Polanski parece ter sido grafado com caixa mais alta que o normal.
Martin Eden traz o desempenho que ofuscou Joaquin Phoenix como Coringa
“Martin Eden”, uma fascinante história do escritor norte-americano Jack London (1876-1916) com elementos autobiográficos, deu origem a um filme italiano que discute questões atualíssimas. Essas questões dizem respeito às relações entre as classes sociais refletidas pela literatura, à relação desta com o mercado editorial, à liberdade de expressão, à natureza da criação, ao compromisso ético do escritor consigo mesmo e com suas crenças políticas e responsabilidades sociais, ao papel do indivíduo nas transformações socioculturais e políticas. O veículo para expressar os questionamentos é o personagem-título do filme, o escritor Martin Eden, mostrado na complexidade necessária para abranger as diversas dimensões de sua experiência concreta, de suas angústias, contradições, de seu ativismo inspirado na leitura de Herbert Spencer (1820-1903), de suas relações com anarquistas e comunistas, de seu desenvolvimento como escritor a partir de uma vida de baixa renda, mirando a classe alta, tentando ser como eles. Da forma como lidará com o sucesso tão buscado, mas, ao mesmo tempo, tão massacrante. O contexto histórico é o do período anterior à 1ª Guerra Mundial, de grande efervescência cultural, propício à conquista de espaços e descobertas incentivadoras, mas tenso, conflitivo. O foco do filme, porém, coerentemente com as teses de um chamado darwinismo social de Spencer, está no indivíduo, na sua batalha pessoal frente aos demais e à coletividade. As sociedades se desenvolveriam a partir da realização individual de forma positivamente evolutiva. Isso está no modo de ser do personagem, embora enfatizando mais o mistério do que o progresso inexorável. Mais a crise do que o otimismo. No papel do escritor Martin Eden está Luca Marinelli, um grande ator que surgiu há dez anos em “A Solidão dos Números Primos” (2010) e também esteve no vencedor do Oscar “A Grande Beleza” (2013). Ele mergulhou intensamente na atuação e conseguiu expressar muito bem as muitas faces, fases, sentimentos e pensamentos do personagem. Teve o reconhecimento por essa brilhante performance, conquistando o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza, no ano em que Joaquin Phoenix levou tudo pelo papel em “Coringa”. Marinelli foi o único a conseguir vencê-lo, ao menos uma vez. “Martin Eden” foi bem recebido e premiado também nos Festivais de Toronto, Sevilha e do Rio. A direção de Pietro Marcello imprime a “Martin Eden” uma dinâmica e uma força envolvidas por belas sequências que mesclam imagens ficcionais e documentais e, claro, alimentadas pelo desempenho criativo de Luca Marinelli, que está em todas as cenas, garantindo o filme com seu talento. O elenco de apoio também está muito bem dirigido, sustentando a trama. É verdade que o cinema italiano da atualidade não consegue competir com o grande cinema italiano do passado, mas isso não significa que não haja belos trabalhos a apreciar. “Martin Eden” é um deles.
Documentário de Bárbara Paz sobre Hector Babenco vence prêmio internacional na Índia
“Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou”, documentário sobre os últimos dias do diretor Hector Babenco, ganhou um novo prêmio internacional. Depois de ser premiado no Festival de Veneza, o primeiro longa-metragem dirigido pela atriz Bárbara Paz conquistou o troféu de Melhor Documentário no Festival de Mumbai, um dos mais importantes evento de cinema internacional da Índia. O documentário também foi exibido nos festivais de Mar del Plata (Argentina), do Cairo (Egito), de Havana (Cuba), do Rio, no Maranhão na Tela, Fest Aruanda, mostras de Tiradentes e de São Paulo. E traça um paralelo entre a arte e a doença de Babenco, revelando medos e ansiedades, mas também memórias, reflexões e fabulações, num confronto entre vigor intelectual e a fragilidade física que marcou o fim de sua vida. O diretor, que nasceu na Argentina e se naturalizou brasileiro, morreu em 2016, aos 70 anos, vítima de câncer. Foi casado com Bárbara Paz de 2010 até sua morte. E deixou um legado de vários clássicos, entre eles “Pixote: A Lei do Mais Fraco” (1982) e “Carandiru” (2003). O longa chega aos cinemas brasileiros em 9 de abril. Veja o trailer da produção abaixo.










