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    Climax vai do sensual ao desagradável em busca de algo diferente

    16 de fevereiro de 2019 /

    Às vezes basta uma cena para que um filme se torne memorável. Mesmo quando esse filme seja cheio de problemas e provoque mais insatisfações do que alegrias. Em “Climax”, de Gaspar Noé, trata-se de uma sucessão de performances solo dos dançarinos e dançarinas, mostrada através de uma câmera que visualiza a ação de cima. Aquilo é tão belo e sensual e a música é tão intensa e envolvente que, por alguns minutos, até parece que estamos vendo um dos melhores filmes do ano. A cena acontece depois que o público começa a conhecer um grupo relativamente grande de dançarinos numa festa de comemoração, apresentados de maneira interessante – e ao mesmo tempo dispersiva – na abertura do filme. É dispersiva principalmente para quem gosta de livros, filmes e estantes. Do lado de uma televisão, há duas prateleiras que completam a tela scope da janela com livros e capas de VHS (o filme se passa nos anos 1990) relacionados a cinema ou a temas ao gosto do diretor: Buñuel, Argento, Fassbinder, Pasolini, Nietzsche, entre outros. E por falar em Buñuel, o fato de as pessoas não poderem sair daquele espaço em que estão lembra um pouco “O Anjo Exterminador” (1962), clássico do mais talentoso dos cineastas espanhóis. Mas esse elemento acaba sendo esquecido ao longo das conversas entre os personagens, muitas delas sobre sexo. Destaque para o papo entre dois homens sobre quais mulheres do grupo eles já transaram e quais desejam transar e como vão fazer. Uma pena que Noé tenha uma obsessão quase infantil de querer chocar a plateia e acaba transformando o que poderia ser impactante do ponto de vista formal, sensual e poético em algo que busca se tornar desagradável, como já é tradicional em sua filmografia – como a cena prolongada de estupro de “Irreversível” (2002). Assim, o terceiro ato do filme tenta emular o estado de perturbação dos personagens, depois de terem sido drogados por uma substância alucinógena, abrindo espaço para cenas de câmeras rodopiantes e algumas cenas de violência gráfica e brutal (não é nada agradável ver uma mulher grávida receber chutes na barriga). Ainda assim, a lembrança que merece ser evocada desta experiência, filmada com um fiapo de roteiro de cinco páginas, participação da atriz Sofia Boutella (“A Múmia”), da porn star Giselle Palmer (“She Likes It Rough”) e muita vontade de fazer algo diferente, é das referidas danças sensuais ao som de um áudio poderoso – a música pulsante é cortesia de Thomas Bangalter, do Daft Punk. De fato, esse filme poderia ser muito mais gostoso se não precisasse contar uma história.

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    Io é só mais uma sci-fi fraquinha da Netflix

    10 de fevereiro de 2019 /

    Graças à ganância do homem e sua exploração infinita da fauna e da flora, a vida na Terra acabou. Não dá mais para respirar e a (parte rica da) humanidade deixou o planeta em busca de um novo lugar para morar. Apenas uma pessoa é deixada para trás. E não estamos falando do robozinho Wall-E, mas de Margaret Qualley (“The Leftovers”). A premissa de “Io” é a mesma de “Wall-E” (2008), mas seu desenvolvimento parte para outro caminho, embora dê em um lugar já muito visitado. Esse nem é o maior problema, afinal é a jornada que importa, mas ela é desenvolvida através de clichês, situações previsíveis e diálogos pobres. Margaret Qualley é Sam, filha de um renomado cientista. Ambos ficaram na Terra para estudarem a possibilidade de reconstrução ou a readaptação do planeta. O resto foi para Io, nome de uma lua de Júpiter. Num belo dia, ela cruza com outro perdido que chega do nada de balão (!). Micah é interpretado por Anthony Mackie (o Falcão de “Vingadores: Guerra Infinita”), que recita Platão para ilustrar o que já estamos vendo em cena, e explica em seguida, novamente, para quem não entendeu o claro significado da reflexão. Até sua ponta em “Homem-Formiga” é mais profunda que toda sua participação em “Io”. E não adianta o diretor Jonathan Helpert encher o filme de paisagens belas ou o cabelo de Sam ao vento, quando nenhuma imagem contribui para traduzir o que ela está pensando nem propõe a dimensão de sua angústia. Em resumo, “Io” é só mais uma ficção científica fraquinha da Netflix, como “Titã”, “Mudo”, “Onde Está Segunda?”, “Spectral”, “O Paradoxo Cloverfield” e “Próxima Parada: Apocalipse”.

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    Vice traz Christian Bale irreconhecível como político que dominou os EUA

    10 de fevereiro de 2019 /

    Após os ataques terroristas sofridos pelos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, o país entrou em estado de guerra. Mas guerra contra quem? Pesquisas indicavam que grande parte da população só entendia a guerra contra algum país. Era preciso nomear o inimigo. Simples. O vice-presidente Dick Cheney teria decidido eleger o Iraque de Saddam Hussein para invadir, criando a mentira das armas de destruição químicas que lá existiriam. Uma escolha fácil de ser aprovada pelo presidente George W. Bush, ainda mais com a cobiça por tanto petróleo. Ninguém se importando com a democracia, muito menos com o respeito aos princípios de não-intervenção, nem com as vidas humanas aí envolvidas. Essa história é uma das muitas sequências de “Vice”, escrito e dirigido por Adam McKay (vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por “A Grande Aposta”). Por meio dela, pode-se sentir por onde andará o filme que pretendeu fazer uma cinebiografia de um político abominável, poderoso e controverso, como Dick Cheney. O tom é satírico, irônico, às vezes dramático, às vezes cômico. Mas, na verdade, trágico, porque o que estava envolvido na política norte-americana e mundial daquele período não era outra coisa, senão a cobiça. E não mudou nada, diga-se de passagem. Sabemos muito bem da importância que pode ter um vice-presidente na história da República. É só lembrar de João Goulart, José Sarney, Itamar Franco, Michel Temer. E Dick Cheney jamais se queixaria de ser um vice decorativo. Ele negociou sua entrada na chapa de Bush, desde o primeiro momento, garantindo amplos poderes. E, segundo o filme, dominou o governo e o presidente, deixando um legado lamentável. O filme de McKay lembra os seus dias de fracasso e alcoolismo, antes de encontrar seu caminho na política. O que foi feito de forma fortuita e pragmática, nem de leve sustentado por eventuais bandeiras ideológicas do Partido Republicano. Não lhe faltaram mestres nessa cultura do cinismo e do interesse próprio. Mas, muitas vezes, os alunos superam seus mestres. Christian Bale está muito bem, quase irreconhecível, como Dick Cheney, em diferentes épocas da vida do personagem. Já levou o Globo de Ouro como Melhor Ator (de Comédia ou Musical) e está cotado para o Oscar 2019. O filme tem, no total, 8 indicações.

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    Talento de atores faz Green Book ser levado a sério

    9 de fevereiro de 2019 /

    “Green Book – O Guia” é o primeiro filme, vamos dizer assim, sério do diretor Peter Farrelly. Sim, a outra metade dos Irmãos Farrelly (Bobby não dirigiu, mas apoiou o projeto do início ao fim), de “Debi e Lóide” (1994) e “Quem Vai Ficar com Mary?” (1998). Você pode acusar a produção de ser à moda antiga ou de entrar para a lista daqueles tradicionais filmes de Oscar, certinhos, mainstream, by the book, que Hollywood faz de montão, mas que sempre surgem com muita força nas premiações – como “Kramer vs Kramer” (1979), “Conduzindo Miss Daisy” (1989) e “Uma Mente Brilhante” (2001). Mas não pode acusar “Green Book” de má intenção. Peter Farrelly admitiu erros grotescos nos bastidores de outros filmes e o roteirista Nick Vallelonga falou merda no Twitter, mas conseguiram sentar, criar e executar um filme que, queira ou não, será lembrado por muito tempo. É o primeiro drama de Peter, embora tenha seus momentos de humor, claro. Sai a comédia, entra o drama; sai a grosseria para dar lugar à finesse. Mas é a velha história de amizade entre homens num road movie (“Debi e Lóide”, “Kingpin”) em que a jornada evolui seus protagonistas como seres humanos. E isso também estava inserido de alguma forma em “Quem Vai Ficar com Mary?”. Na trama, Tony Lip (Viggo Mortensen) é um leão de chácara bruto, grosso, descendente de italianos, falastrão e racista. Um típico personagem dos irmãos Farrelly, cultivando estereótipos. Com a grana curta, ele aceita trabalhar como motorista (e segurança) de um pianista erudito, ninguém menos que o célebre Dr. Don Shirley (Mahershala Ali), durante dois meses na estrada para cumprir a agenda de turnê do músico pelo sul dos Estados Unidos, o território mais preconceituoso, numa época em que o país estava pegando fogo. Juntos, eles seguem um guia tão absurdo quanto verídico, o tal Green Book, um livro que mostra os hotéis e locais que negros podem frequentar. Em resumo, a viagem não foi nada fácil, mas deve ter sido muito, muito mais dura na vida real. O filme é acusado de amenizar os fatos reais em que supostamente se baseia. Ou seja, Hollywood sendo Hollywood. E essa passada de pano na história para favorecer os clichês de “buddy movie” entrega que se trata de um filme convencional. Sem esquecer que também é um filme sobre racismo escrito e dirigido por brancos, que privilegia a conscientização do branco sobre o sofrimento do negro. Tony e Shirley dizem coisas terríveis um ao outro, mas Farrelly passa um verniz dramático que só contadores de histórias acostumados com comédias sabem dosar. Tudo para, no final, eles se entenderem e se complementarem. Esse enredo basicão rendeu prêmios, como a conquista do Festival de Toronto, do Globo de Ouro de Melhor Comédia e ainda tem cinco indicações ao Oscar. Claro que ajuda muito contar com atores no topo de suas capacidades artísticas. Concorde-se ou não com o cinema dos Farrelly, Viggo Mortensen e Mahershala Ali formam uma inesperada dupla perfeita. Mortensen é o raro caso de ator que não se deixou definir por um papel de sucesso – Aragorn, na trilogia de “O Senhos dos Aneis” – , acumulando escolhas ousadas, de “Senhores do Crime” (2007) a “Capitão Fantástico” (2016). Em “Green Book”, ele some no papel de Tony Lip (ou Vallelonga), com sua postura de mafioso, machão clichê, mas de coração mole. Parece conter emoções, mas sempre coloca tudo para fora. Já Mahershala Ali, que venceu um Oscar por “Moonlight” (2016), deve repetir a dose merecidamente com “Green Book”. Seu Dr. Shirley é o oposto de Tony – e o contraponto para a atuação de Viggo. Introvertido, reprimido, por motivos óbvios e compreensíveis, ele prefere falar através de sua arte. Quando finalmente se solta no piano de um bar, é a purificação de sua alma. E Mahershala entrega. Os dois estão entre os grandes de Hollywood, equivalentes do século 21 aos intérpretes lendários da era de ouro do cinema. E isso faz com que “Green Book” seja levado a sério.

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    A Favorita diverte com show de interpretação e esquisitices

    9 de fevereiro de 2019 /

    O cineasta grego Yorgos Lanthimos conseguiu projeção internacional pelo caráter único de seus filmes. Seu terceiro longa, “Dente Canino” (2009), foi a obra que deu início ao fascínio mundial por suas idiossincrasias, graças à indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Nesse filme já se percebia seu gosto tanto pelo bizarro quanto por um senso de humor muito particular. Afinal, por mais que alguém ache o filme um tanto perturbador em diversos aspectos, há ali tantos momentos desconcertantes que às vezes a única reação possível é rir. O gosto pelo surreal se aprofundou em “Alpes” (2011) e inundou seu primeiro filme em língua inglesa, “O Lagosta” (2015), que contou com Colin Farrell e Rachel Weisz. Trata-se de uma obra difícil de classificar, embora alguns possam imaginá-la como uma comédia romântica perversa e bizarra. Novamente com Farrell, “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017) se encaminhou mais para o gênero horror, embora fuja dos clichês e seja igualmente estranho. Por isso, mesmo sem abrir mão de suas esquisitices, “A Favorita” é o filme mais acessível do diretor. E, como resultado, recebeu 10 indicações ao Oscar. Mesmo assim, ainda pega muitos espectadores desprevenidos, já que sua aparência superficial de drama de época britânico esconde, sob os espartilhos, uma sátira sáfica, que lida com o homoerotismo. Mas “A Favorita” é, antes de tudo, sobre os jogos do poder. E há tempos não vemos um trio de atrizes tão forte representando seus papéis com tanta desenvoltura, que até parece que a disputa por prestígio também acontece por trás das câmeras, no sentido de que Emma Stone, Rachel Weisz e Olivia Colman parecem competir por atenção e admiração. Não por acaso, as três foram indicadas ao Oscar. Na trama, Emma Stone é uma jovem plebeia que é recebida para trabalhar no palácio de Anne (Colman), Rainha da Inglaterra do início do século 18. Além de chegar toda suja, ela ainda é ridicularizada pela mulher que é o braço direito da rainha (Weisz, inspirada). O que a jovem descobre, graças à sua inteligência e luta pela sobrevivência naquele ninho de cobras, é que as personagens de Colman e Weisz também são amantes. É então que percebe o caminho para conquistar o seu lugar ao sol, através daquela rainha que na maioria das vezes mais parece uma criança mimada. Para contar essa história, Lanthimos usa lente grande angular, que destaca principalmente a grandeza dos interiores do palácio real. Há também cenas com utilização apenas de luz natural, o que alimenta comparações com o clássico “Barry Lyndon” (1975), de Stanley Kubrick. E não dá para ignorar a suntuosidade dos cenários e figurinos. Tanto capricho poderia distrair do enredo, não fosse ele tão divertido e tão bem encenado, com um show de interpretação das três atrizes. Fala-se muito de Oliva Colman, que se projetou internacionalmente com este filme, após uma carreira focada na TV britânica, mas a “coadjuvante” Stone aparece mais em cena que a própria intérprete da rainha. A cena em que tenta seduzir um dos nobres do castelo à base de porrada está entre os pontos altos da produção. Considerando-se a fragilidade dos demais filmes indicados à categoria principal do Oscar, “A Favorita” se engrandece ainda mais, atingindo status de obra-prima.

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    Creed II é o Rocky IV de Michael B. Jordan

    9 de fevereiro de 2019 /

    “Rocky IV” (1985) não é um grande filme, mas guarda alguns dos mais icônicos momentos do personagem criado por Sylvester Stallone: a morte de Apollo Creed no ringue, os treinamentos na neve soviética e a vingança final contra o insensível Ivan Drago. Então já era de se esperar que em algum momento “Creed” (que traz o filho de Apollo buscando o sucesso no boxe profissional) evoluísse em direção ao trágico destino do pai de seu protagonista. E assim como o primeiro filme, que apresentava Adonis Creed (o personagem de Michael B. Jordan), mantinha a mesma estrutura do primeiro Rocky, “Creed II” vai atrás de “Rocky IV” para contar sua história, trazendo de volta Ivan Drago, agora acompanhado de seu filho em busca de uma nova chance no boxe. A obra substitui o treinamento na neve pelo treinamento no deserto e tenta colocar Adonis em uma jornada pessoal que pretende não ser ufanista como nos tempos da Guerra Fria, mas que é recheada por momentos parecidos com os do filme de 1985. Neste híbrido de espetáculo com desenvolvimento de personagem, “Creed II” se sai pior do que o anterior, apesar de manter a consistência da marca Rocky. A direção de Steven Caple Jr. não traz nada de novo ou empolgante, apenas copiando o estilo de Ryan Coogler no primeiro “Creed”, misturado com a identidade visual dos capítulos da década de 1980. Parece haver dois filmes competindo entre si, o melhor deles ancorado nas ótimas performances de Michael B. Jordan, Stallone, Tessa Thompson e… Dolph Lundgren! Sim, diferente do tipo robótico que apresentava em “Rocky IV”, Lundgren tem a oportunidade de apresentar novas nuances de Drago, e aí talvez esteja o maior problema do filme. Os dramas não são bem aproveitados, e tudo corre para a resolução fácil quando o roteiro pede. Fica a impressão de que a história de Ivan e seu filho Viktor (o lutador Florian Munteanu) é mais interessante do que a de Adonis, e que merecia pelo menos um desenvolvimento maior. Mas este conto sobre amadurecimento e escolhas da vida é interrompido pelo outro filme, aquele que parece saído direto de 1985, com trama previsível costurada com momentos de treinamento e socos em câmera lenta que nunca empolgam realmente (o uso parcimonioso da icônica trilha sonora não ajuda neste sentido). Não faz feio dentro da saga e aproveita para fechar um arco dramático de Rocky, mas carece da empolgação que o primeiro Creed trazia. Não é de forma alguma um “Rocky V”, disparado o pior da série, mas passa longe de ser um “Rocky Balboa” (2008), por exemplo. É um bom filme que tenta não cometer os mesmos excessos de “Rocky IV”, mas exatamente por isso não atinge momentos marcantes como aqueles que existem em seu filme-modelo.

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    O Menino Que Queria Ser Rei rende uma Sessão da Tarde razoável

    9 de fevereiro de 2019 /

    Quando a animação que resume a história do Rei Arthur logo no início é a melhor coisa do filme, é sinal de que “O Menino Que Queria Ser Rei” ficou devendo o principal: energia. Mais especificamente, energia juvenil para tornar mais essa atualização do mito conhecido em uma história atrativa o suficiente para um público acostumado a épicos de super-heróis. Como Sessão da Tarde, o filme não faz feio, e entrega o tipo de diversão que pode ser interrompida por intervalos comerciais, idas à cozinha para fazer pipoca e constantes enchidas de refrigerante no copo. É tudo muito básico e mastigado, com ações redundantes, personagens assumidamente arquetípicos e uma trama bem previsível. Fica bem ao lado do fraquinho “Um Garoto na Corte do Rei Arthur” (1995) e longe do dinamismo de “Ataque ao Prédio” (2011), filme anterior do mesmo diretor, Joe Cornish. Se o cinismo, o sarcasmo e a ação desenfreada fizeram de “Ataque ao Prédio” uma agradável surpresa no cinema de ação e aventura, Joe Cornish parece abandonar exatamente estes elementos para investir em uma história de heroísmo clássico, honra e amizade. Apesar de bem intencionado, visual impressionante e atores com carisma, “O Menino Que Queria Ser Rei” parece se perder entre aventura juvenil, comentário social sobre o mundo atual e atualização do mito arthuriano. Fica no meio do caminho em tudo, tornando-se por vezes cansativo ao levar os heróis para caminhos sem sentido, tornando-os personagens perdidos dentro de um roteiro que quer abraçar mais do que consegue. Alexander (Louis Ashbourne Serkis, filho de Andy Serkis) é o jovem da Londres atual que sofre bullying e um dia encontra a famosa espada Excalibur fincada em uma pedra. O menino tira a espada, mas ao invés de se tornar rei, traz para si a perseguição de um exército de criaturas lideradas pela bruxa Morgana (Rebecca Ferguson) e, de quebra, ganha um conselheiro na forma do mago Merlin (Angus Imrie, roubando todas as cenas). Ele precisa então reunir os amigos para derrotar Morgana, salvar o mundo, aprender mais sobre si mesmo e tudo aquilo que você já viu antes. A clássica jornada do herói é citada pelo próprio personagem, em um filme que se assume como brincadeira despretensiosa com a fantasia medieval. Há um pouco de tudo que tornou aventuras juvenis conhecidas das décadas de 1980 e 1990 em sucessos, mas falta a originalidade e energia que as fizeram irresistíveis. Contando a trajetória de um menino em busca de identidade, mostrando muita magia e tendo seu clímax em uma escola, bem que poderia se chamar “O menino que queria ser Harry Potter”.

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    Vidro frustra expectativas para se recuperar em reviravolta

    9 de fevereiro de 2019 /

    Quando “Corpo Fechado” foi lançado em 2000, a indústria tinha medo de apostar em filmes baseados em histórias em quadrinhos. O que deu um caráter único à visão de M. Night Shyamalan em sua imersão na mitologia de HQs, mas com os dois pés fincados na realidade. Sua proposta foi imaginar os quadrinhos como resultados da inspiração nas histórias verdadeiras de pessoas com habilidades extraordinárias que podem caminhar entre nós. No fundo, apenas um pretexto para Shyamalan fazer o que gosta: uma fábula a respeito do quanto o sobrenatural quebra o ceticismo do dia a dia. É um filmão, com Bruce Willis e Samuel L. Jackson, que não pode ser comparado com nenhum outro (provavelmente só com “Vidro”); difícil sim, pois exige demais dos espectadores que pagam ingresso em busca de diversão escapista com um longa de alguma forma ligado a super-heróis. Mas Shyamalan não teve medo do ridículo ao empregar uma abordagem séria para um tema que nem todos estavam preparados para levar tão a sério. Como de praxe, muitos reclamaram do diretor, porque esperaram e cobraram por muito tempo um novo “O Sexto Sentido” (1999). Mas o tempo, o melhor crítico de todos, reconheceu a grandeza de “Corpo Fechado”. Hoje, ironicamente, os quadrinhos representam a maior fonte de renda em Hollywood, o que fez muita gente redescobrir o filme e chamá-lo de “o melhor trabalho de M. Night Shyamalan” (não é, pois sempre foi “O Sexto Sentido”). Mais que isso, o diretor fez uma nova geração correr atrás do filme quando encerrou “Fragmentado”, de 2016, com o David Dunn de Bruce Willis fazendo uma ponta para provar que as duas produções fazem parte da mesma realidade. E pronto! Shyamalan, como fazem Marvel e DC, estabeleceu seu próprio universo cinematográfico e o crossover foi prometido para “Vidro”, que encerraria uma trilogia que ninguém imaginou existir ou ser possível da forma como foi construída. Com seus filmes mais recentes, Shyamalan deu uma reviravolta na carreira após amargar diversos fracassos, de “A Dama na Água” (2006) a “Depois da Terra” (2013). Bancado pela Blumhouse, do produtor James Blum, ele retornou com “A Visita” (2015), terror modesto, de baixíssimo orçamento, mas surpreendentemente acima da média. Depois veio “Fragmentado”, que conta a história de um maluco sequestrador de garotas: Kevin (James McAvoy), suas 24 personalidades, além de uma outra que é guardada para “ocasiões especiais” e é conhecida como “A Fera”, que é muito forte, devora suas vítimas (!) e escala paredes (!!). Só que a revelação dessa personalidade não foi a reviravolta tradicional de Shyamalan, mas sim a tal ponta de Bruce Willis. Enfim, nada a ver com nada, porque até aquele ponto, “Fragmentado” valia muito mais pela ótima atuação de McAvoy, não tinha a menor ligação com quadrinhos e, muito menos, com “Corpo Fechado”. Mas esse foi o gancho para “Vidro”, que já nasceu com a responsabilidade de justificar sua existência e entregar algo fora do comum. A expectativa, porém, foi demasiada, e deixa claro que “Corpo Fechado” precisava menos de uma continuação que “Fragmentado”, por mais que Shyamalan tente convencer os fãs do contrário. Embora mostre que os personagens fazem as mesmas coisas de sempre, o primeiro ato de “Vidro” é bem construído, com Shyamalan fingindo que abandonou sua pretensão de ser reconhecido como autor genial para focar somente no que o roteiro exige. Mas ele enche o espectador de expectativa só para… trancá-lo com Willis, McAvoy e Jackson num manicômio em um segundo ato que compromete o ritmo, mas tem seus pontos altos nos atributos técnicos – um excesso de close-ups com fundos desfocados, que torna íntima a crença na história contada por Shyamalan. Sua opção pelo frontal ainda reforça a violência psicológica como algo mais poderoso que a violência física (da qual ele foge o tempo todo). Também se destaca a montagem esperta e, hmm, fragmentada, principalmente no interrogatório inicial dos personagens que parecem estar na mesma cena, só que não. São artifícios que compensam o blá-blá-blá irritante e didático da psiquiatra vivida por Sarah Paulson. E, então, vem o terceiro ato, onde se espera a já tradicional reviravolta de Shyamalan. E o que ele faz? Entrega mais de uma. É exatamente onde o filme divide opiniões, entre erros e acertos, mostrando que Shyamalan manteve a atenção do público do início ao fim, como um habilidoso mágico e contador de histórias. E com o público atento, ele aproveita para introduzir os tópicos que quer realmente discutir, sobretudo a conclusão de que existem pessoas muito piores no mundo real do que os vilões da ficção. São indivíduos e grupos que tentam reprimir tudo e todos que são diferentes, em nome de uma fé presa a conceitos e costumes antigos e ultrapassados. “Vidro” tem muito mais a dizer do que parece. A grande reviravolta de Shyamalan é fazer você pensar que o filme é ruim quando, na verdade, ele é bom.

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    Culpa cria suspense intenso com o mínimo de ação

    9 de fevereiro de 2019 /

    Os primeiros minutos do thriller dinamarquês “Culpa” já apontam a eficácia com que sua narrativa será conduzida ao longo de todo o filme. O policial Asger Holm (Jakob Cedergren, de “Esquadrão de Elite”) trabalha como atendente no serviço de emergência da polícia. Sua atitude agressiva e desconfortável explicita sua inexperiência naquela função. Os diálogos com a supervisora informam que ele está ali há pouco tempo e a contragosto. E a ligação de uma repórter, perguntando sobre a audiência do dia seguinte, fornece os detalhes que faltam: ele foi afastado do seu cargo por causa de alguma ação sua, ficando “de castigo” no serviço telefônico enquanto aguarda conclusão da investigação. Próximo do final do seu turno, ele atende a ligação de uma mulher que, fingindo falar com a filha pequena, informa que foi sequestrada pelo seu ex-marido. Então, Asger tenta investigar o caso e salvar a vítima, mesmo estando limitado pelo confinamento do ambiente em que se encontra. Ao contrário da recente produção americana “Chamada de Emergência” (2013), cuja narrativa se alternava entre a atendente do telefone e a vítima sequestrada, aqui nós nunca saímos de perto do policial, e este nunca sai da sala. Em “Culpa”, o crime investigado pelo protagonista surge como uma maneira de expor os segredos que ele próprio estava escondendo. Afinal, assim como na sua investigação, o seu crime também partiu de uma ideia deturpada de certo e errado, levando-o a tomar atitudes que ele não considerava equivocadas. O sequestro faz com que Asger mergulhe na escuridão de uma situação cujas reviravoltas podem trazer à tona os próprios segredos e culpas que ele carrega. Eficaz ao explorar os limites daquele espaço confinado, a fotografia faz uso de elementos diegéticos – como as cortinas e a luz vermelha acima das estações de trabalho – para estabelecer a ambientação sombria que envolve aquele personagem. Ao explorar uma dicotomia entre escuridão e segredos, luz e verdade, é bastante significativo que o filme nos mostre o policial mudando de sala para um local mais escuro, somente para que, após o clímax, ele possa emergir para a luz, totalmente transformado. Conseguindo manter a tensão ao longo de toda a projeção, o diretor e roteirista estreante Gustav Möller explora ao máximo as limitações impostas pela sua narrativa, demonstrando segurança na composição dos seus enquadramentos e no uso de planos-detalhes, sem que estes se tornem repetitivos ou gratuitos. Já o ator Jakob Cedergren, que passa a maior parte do tempo com a câmera colada no seu rosto, explora muito bem as nuances do seu personagem, demonstrando-as por meio de sua expressividade, sem a necessidade de verbaliza-las. Vale destacar, porém, que o filme não se esforça para transformá-lo em um herói, nem para causar empatia no público. Em certo momento, por exemplo, Asger pede desculpas a um colega pelo jeito como o tratou. Mas o que parecia ser uma faísca de humanidade logo se mostra uma estratégia para extrair uma informação que ele necessitava. Ainda assim, conseguimos nos envolver com a sua situação. Não chega a se tornar admiração – até porque muitas das suas atitudes são condenáveis, ilegais e colocam outras pessoas em risco –, mas do reconhecimento de uma personalidade complexa, repleta de falhas, características que o tornam mais humano.

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    Bohemian Rhapsody é novelão hollywoodiano sem compromisso com os fatos

    9 de fevereiro de 2019 /

    Vencedor do Globo de Ouro na categoria Melhor Filme Dramático e com cinco indicações ao Oscar (incluindo Melhor Filme e Melhor Ator, para Rami Malek), “Bohemian Rhapsody” cativou uma grande audiência ao mesmo tempo em que frustrou fãs do Queen por sua narrativa “descuidada”. Com custo de US$ 52 milhões e receita de mais de US$ 800 milhões, o filme pode ser visto por dois prismas: no primeiro, ele é um dramalhão hollywoodiano que não tem compromisso com a realidade e com a documentação dos fatos, embaralhando datas e causos para fins emocionais do roteiro. Neste caso, o filme alcança seu intento de novelão musicado, e tem seu lugar garantido numa futura “Tela Quente”. No segundo prisma, “Bohemian Rhapsody” é totalmente refém da incompetência de seus roteiristas, que não conseguiram criar momentos de clímax a contento com a narrativa temporal extensa de 15 anos (um recorte ajudaria tanto), precisando embolar os fatos, maquiar a realidade e criar tensões que não existiram para fisgar o espectador. A lista de incorreções é enorme e incomoda tanto colocar o Rock in Rio de janeiro de 1985 em 1978 quanto vaticinar que Fred Mercury revelou sua doença aos músicos antes do Live Aid em junho de 1985, sendo esse o decantado “show de retorno” da banda após uma não existente separação – só para lembrar: em 1984 a banda fez 36 shows e em 1985, antes do Live Aid, foram 16 datas, duas delas no Rio de Janeiro. Dito isso, “Bohemian Rhapsody” é uma produção pipoca de bom coração (e de grandes canções), que diverte, emociona e se fortalece com a grande atuação de Rami Malek (ao mesmo tempo em que se enfraquece com as polêmicas do diretor Bryan Singer). Só não deveria estar sendo cotado a prêmios como o Oscar. É para assistir sem analisar, porque, se for para analisar, a decepção vence.

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  • Filme,  Música

    Fevereiros celebra a música e a religiosidade de Maria Bethânia

    9 de fevereiro de 2019 /

    Maria Bethânia, uma das maiores intérpretes da música brasileira, com 50 anos de uma brilhante carreira, já recebeu inúmeras homenagens, foi cantada em prosa e em verso, por meio de todas as mídias possíveis. Um desafio para o documentarista Márcio Debellian. O que ainda faltaria dizer ou abordar sobre ela? Quem mostrou o caminho foi a escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Em 2016, a Verde e Rosa homenageou Bethânia com o enredo “Menina dos Olhos de Oya”, dando destaque ao lado religioso da vida dela. O sincretismo religioso de Maria Bethânia combina o candomblé, a devoção católica, sobretudo, à Nossa Senhora e sabedorias herdadas dos índios. Esse amálgama traz a fé temperada pela diversidade e pela tolerância. E o convívio muito próximo e intenso com o mano Caetano acrescenta os elementos de ceticismo e ateísmo à mistura. Caetano Veloso, aberto a tudo, como ela, compartilhando experiências, mesmo sem crer verdadeiramente. Belos exemplos de respeito à ampla diversidade de cultos, crenças e não crenças. Que celebra a vida e a história, com festa. O filme “Fevereiros” explora bem esse caminho, ao mostrar e tratar do desfile campeão da Mangueira, que levou em conta a história do samba, a tolerância religiosa e o racismo, ao homenagear a carreira da cantora, que explodiu em 1964, no show Opinião, com a célebre interpretação de “Carcará”, de João do Vale. A ave, em grandes dimensões, foi um dos destaques do desfile. Márcio Debellian buscou explorar o universo familiar, festivo e religioso de Bethânia, acompanhando-a a Santo Amaro da Purificação, cidade natal dela, no Recôncavo Baiano, a região brasileira que recebeu mais negros escravizados da África. E a cidade que cultua Santo Amaro, Nossa Senhora da Purificação e outros santos em todos os fevereiros, com grandes rituais e festas populares. Maria Bethânia nunca deixa de estar lá, a partir de 31 de janeiro, em todos os fevereiros, luminares, marcantes de sua vida. “Fevereiros” traz a boa conversa de Bethânia, de Caetano Veloso, de outros familiares dela, participações de Chico Buarque e da turma da Mangueira. Tudo muito bom de se ver e ouvir. Pena que haja pouca música cantada por ela, mas isso se perdoa. Afinal, o que mais se conhece dela são suas canções gravadas, os poemas que ela recita lindamente, suas aparições mágicas nos palcos. O recorte de “Fevereiros” é outro, não exatamente original, mas bastante oportuno. Em tempos de fundamentalismos religiosos idiotas e opressores, é bom celebrar a vida, a festa, a tolerância e, sobretudo, a diversidade. Lançado no festival do Rio 2017 e já exibido em 29 festivais de cinema pelo mundo, “Fevereiros” foi escolhido como o Melhor Filme do 10º. In-Edit Brasil e recebeu menção honrosa do Júri Latino-americano do Festival Internacional do Uruguai.

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    Temporada destaca desempenho premiado de Grace Passô

    9 de fevereiro de 2019 /

    “Temporada”, de André Novais de Oliveira, o filme mais premiado no último Festival de Brasília, mostra realisticamente o trabalho dos agentes de saúde que partem, de casa em casa, para atuar no combate à dengue e a outras endemias. O foco está em Juliana, que se muda de Itaúna, no interior de Minas Gerais, para assumir um posto de agente de saúde em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. O seu processo de adaptação ao trabalho, aos seus novos colegas e à ausência do marido, que ficou de vir depois, exige dela muito empenho para lidar com essas dificuldades. E algumas situações pouco comuns podem mudar aspectos importantes da sua vida. O grande trunfo de “Temporada” é a atriz que faz Juliana: Grace Passô. Com grande domínio de cena, muita expressividade e forte desempenho, ela leva o filme com muito êxito. Até quando o que está sendo exibido não empolga tanto assim. O tema, importante na área da saúde, é bem trabalhado, do ponto de vista descritivo. Talvez fosse importante aprofundar mais o assunto, com questionamentos que levassem a uma reflexão mais intensa, já que aí está um dos nós da questão da saúde no Brasil. O objetivo do diretor, no entanto, priorizou a personagem em processo de adaptação e mudança, alçando-a ao primeiro plano. O ótimo desempenho de Grace Passô, premiada como Melhor Atriz nos Festivais de Brasília e de Turim, na Itália, justifica isso. Os demais prêmios conquistados no Festival de Brasília incluem Melhor Filme, Ator Coadjuvante, Direção de Arte e Fotografia.

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