Novo filme do diretor de “O Regresso” será lançado pela Netflix
O próximo filme de Alejandro G. Iñárritu, vencedor do Oscar por “Birdman” (2015) e “O Regresso” (2016), será lançado pela Netflix. Intitulado em espanhol “Bardo – Falsa Crónica de Unas Cuantas Verdades”, o filme foi rodado na Cidade do México e é estrelado pelo espanhol Daniel Giménez Cacho (“Zema”) e a mexicana Griselda Siciliani (“Quem Matou Sara?”), entre outros. Descrita como uma “comédia nostálgica”, sua trama acompanha um renomado jornalista e documentarista que, durante uma crise existencial, retorna à sua cidade natal, onde precisa se reconectar com sua família, suas memórias e sua própria identidade. As filmagens se encerram em setembro passado e Iñárritu se encontra atualmente trabalhando em sua pós-produção. Além da exibição na Netflix, “Bardo” também será lançado em circuito limitado nos cinemas de diversos países, incluindo o Brasil, no final de 2022.
Trailer de “Sundown” explora tensão enervante com Tim Roth
O estúdio Bleecker Street divulgou o pôster americano e o trailer enervante de “Sundown”, novo filme do cineasta mexicano Michel Franco (“Depois de Lúcia”, “New Order”). O drama é estrelado por Tim Roth (“Os Oito Odiados”) e Charlotte Gainsbourg (“Ninfomaníaca”) como parte de uma família rica em férias no litoral mexicano. Quando um parente perturba a ordem restrita da família, as tensões latentes vêm à tona. “Sundown” marca um reencontro entre Franco e Roth. O cineasta já tinha comandado o ator britânico em seu primeiro filme rodado em inglês, “Chronic”, premiado no Festival de Cannes em 2015. Exibido nos festivais de Veneza, Toronto e Londres, e premiado no El Gouna, o novo filme estreia em 28 de janeiro nos Estados Unidos e ainda não tem previsão para o Brasil.
Tania Mendoza (1979-2021)
A atriz Tania Mendoza, de 42 anos, foi assassinada em Cuernavaca, no estado de Morelos, no México. O crime aconteceu na terça-feira (14/12) enquanto a atriz esperava o filho de 11 anos em um treino de futebol. Duas pessoas encapuzadas passaram em uma moto e dispararam contra ela. A atriz morreu no local. Ela era conhecida por estrelar produções criminais de baixo orçamento, muitas delas lançadas direto em vídeo, como “La Mera Reina de Sur” (2003), história muito parecida com a do romance de Arturo Pérez-Reverte, publicado um ano antes, e que depois ganharia vida por meio de Kate del Castillo na série mexicana “Rainha do Sul” e com Alice Braga na adaptação americana. Antes de virar atriz, Mendoza se lançou como cantora de música regional mexicana e chegou a manter a carreira de forma paralela por alguns anos. Sua trajetória nos filmes e séries se iniciou em 1998 e rendeu ao todo 25 títulos, mas desde 2012 ela já não aparecia mais diante das câmeras, trabalhando em eventos e feiras nos últimos anos. A mudança coincide com a transformação de sua própria vida numa história policial. Em 2010, Tania foi sequestrada com o marido e o filho de seis meses no lava rápido da família. Na época, ela foi mantida em cativeiro por algumas horas por um grupo de homens encapuzados, que lhe pediram uma quantia de dinheiro como resgate e lhe deram o aviso de que deveria sair do estado de Morelos, onde acabou sendo assassinada. Agora, a polícia investiga se seu assassinato tinha alguma ligação com o traficante Arturo Beltrán Leyva, morto pela Marinha mexicana em 2009. Nas redes sociais, Tania fez várias declarações para o traficante, lamentando sua morte. “11 anos de sua partida, te amamos”, escreveu no aniversário de morte de Arturo no ano passado. “Aqui em Acapulco sentimos falta dele, era o único que punha ordem nas coisas”, comentou um seguidor da atriz após uma publicação elogiando o traficante. “Concordo”, ela respondeu. O Ministério Público Estadual de Morelos também não descarta que o assassinato da atriz seja um possível caso de feminicídio. O México é um dos países com maior taxa de assassinato de mulheres do mundo.
Netflix revela trailer do candidato mexicano ao Oscar 2021
A Netflix divulgou o pôster e o trailer americano de “Noche de Fuego” (Prayers for the Stolen, em inglês), longa selecionado pelo México para tentar uma vaga no Oscar, na categoria de Melhor Filme Internacional. A prévia arrepiante acompanha o cotidiano de um grupo de meninas no interior mexicano, onde os perigos vem em várias formas, como cobras, pesticidas jogados de aviões, militares e traficantes. A trama se passa num povoado solitário situada nas montanhas, onde as meninas usam cortes de cabelo curo para parecerem meninos e têm esconderijos secretos no subsolo. Ana e suas duas melhores amigas ocupam as casas daqueles que fugiram e só se vestem de mulheres quando ninguém está olhando. Juntas, elas brincam e se divertem como qualquer criança, enquanto suas mães as treinam para fugir daqueles que podem transformá-las em escravas ou fantasmas. Mas um dia, uma das meninas não consegue chegar a tempo a seu esconderijo. O filme adapta o romance “Reze pelas Mulheres Roubadas”, de Jennifer Clement, e é a primeira obra de ficção da premiada documentarista Tatiana Huezo (“Tempestade”). Exibido no Festival de Cannes deste ano, “Noche de Fuego” recebeu menção especial na mostra Um Certo Olhar (Un Certain Regard) e vários prêmios nos festivais de cinema de San Sebastian e Atenas. A Netflix adquiriu os direitos da produção após a repercussão e os elogios à obra, que atingiu 88% de aprovação no site Rotten Tomatoes. A estreia em streaming está marcada para 17 de novembro.
Roberto “Puck” Miranda (- 2020)
O ator Roberto “Puck” Miranda, que interpretou o personagem Cosme Méndez na novela “Rebelde”, morreu na sexta-feira passada (27/11) de causas ainda desconhecidas. A informação foi confirmada pela ANDA (Associação Nacional de Atores do México) no Twitter. O personagem de Miranda na novela mexicana era pai de Giovanni, um dos protagonistas da trama, interpretado por Christian Chávez. O colega de elenco lamentou morte do ator nas redes sociais, escrevendo: “Que Deus o tenha em sua glória”. Além de aparecer em “Rebelde”, Miranda também foi diretor teatral e participou de várias comédias, maioria bem picantes, no cinema mexicano desde os anos 1980. Um dos destaques de sua filmografia foi “La Chilindrina en Apuros” (1994), filme solo da Chilindrina (María Antonieta de las Nieves), conhecida no Brasil como a Chiquinha da série “Chaves”. Ele também teve papéis em “A Intrusa” e “Cúmplices de um Resgate”, novelas mexicanas exibidas com grande sucesso no Brasil. Seu último trabalho foi num produção bem diferente, o terror “Volverá El Povo a la Terra”, de Alejandro Soltero, lançado em 2017.
Raymundo Capetillo (1945 – 2020)
O ator mexicano Raymundo Capetillo morreu na madrugada desta segunda (13/7), aos 76 anos. Ele foi diagnosticado com covid-19 e estava internado desde o dia 4 de julho, segundo a Andi (Associação Nacional de Atores do México). Capetillo era conhecido por seus papéis em novelas, como “A Rosa dos Milagres”, transmitida pelo SBT, e “Marisol”, que ganhou uma versão brasileira, também no SBT. Mas iniciou sua carreira no cinema, numa participação em “El Despertar del Lobo” (1970), comédia de um especialista em terror, René Cardona Jr. Na verdade, fez vários filmes nos anos 1970, incluindo um capítulo de 1975 da saga de Santo (“Santo en Anónimo Mortal”), o lendário astro mascarado de lucha libre que enfrentava criminosos e criaturas das trevas. Ao assinar contrato com a Televisa em 1977, acabou se especializando em telenovelas. Ele estrelou vários sucessos do gênero, como “Viviana” (1978) “Aprendiendo a Amar” (1980), “A Fera” (1983), “Victoria” (1985), “Rosa Selvagem” (1987), “Marisol” (1996), “Manancial” (2001), “Barrera de Amor” (2005) e “A Rosa dos Milagres” (2008). Seus trabalhos mais recentes incluem participações nas séries “Mulheres Assassinas” (2008-2010) e “Como Dice el Dicho” (2012-2020). “Com a alma destroçada, recebo a notícia de que meu amado amigo de toda a vida acaba de partir. Ele começou seu voo de volta para a casa do senhor. Descanse em paz, vou sentir sua falta, meu amigo”, escreveu a amiga e atriz Laura Zapata (“A Intrusa”), que estrelou “Rosa Selvagem” com Capetillo.
Rosita Fornés (1923 – 2020)
Rosita Fornés , considerada a grande vedete de Cuba, morreu nesta quarta-feira (10/6) em Miami aos 97 anos, após uma carreira artística de oito décadas em que brilhou dentro e fora da ilha. “Nesta madrugada tivemos a triste notícia de que morreu em Miami, Estados Unidos, a grande artista Rosita Fornés, glória da cultura cubana”, lamentou no Twitter o ministro cubano da Cultura, Alpidio Alonso. Ela morreu devido a uma condição pulmonar “com a qual lutou por vários anos”, explicou Rey González, amigo de Fornés e administrador de sua página oficial, ao anunciar sua morte no Facebook. A artista estava há vários dias internada em Miami, cidade onde decidiu morar em 2019. Na verdade, Fornés era americana. Ela nasceu em 11 de fevereiro de 1923 em Nova York, mas mudou-se para Cuba ainda pequena. Seus pais eram espanhóis e se divorciaram quando Fornés tinha aproximadamente cinco anos. Ela então assumiu o sobrenome de seu padrasto. Foi em Cuba que virou artista. Com apenas 15 anos, chamou atenção ao ganhar um concurso de cantores no rádio e foi convidada a estrear nos palcos em uma comédia musical. Aos 17 virou atriz de cinema, apareceu em dois filmes cubanos, “Una Aventura Peligrosa (1940) e “Romance Musical” (1941), antes de se mudar para o México, onde se tornou uma grande estrela, protagonizando vários filmes durante a idade de ouro do cinema mexicano. Rosita Fornés virou uma das maiores sex symbols latinas em produções como “El Deseo” (1948) e “La Carne Manda” (1948), e se manteve em alta até a metade dos anos 1950. Em 1956, fez seu último longa mexicano, “No Me Olvides Nunca” (1956). Ao se divorciar do ator Manuel Medel, mudou-se com sua filha novamente para Cuba, onde se estabeleceu na nascente indústria televisiva do país. Também retomou a carreira teatral, excursionando pela América Latina e pela Espanha, ao mesmo tempo em que virou representante da música cubana em vários festivais internacionais. Nos anos 1980, experimentou um renascimento da carreira cinematográfica, atuando em três longas cubanos, “Permutam-se Casas” (1985), “Plácido” (1986) e “Papéis Secundários” (1989). Mas, desde então, as turnês teatrais e musicais, que a levaram também a Nova York em várias apresentações, acabaram tomando a maior parte de seu tempo. A atriz e cantora ganhou um documentário sobre sua vida e obra em 1996, “Rosita Fornés, Mis Tres Vidas”, e se despediu dos cinemas em 2001, com “Las Noches de Constantinopla”. Ao longo da carreira, ela ganhou muitos prêmios e homenagens. Entre outras honrarias, foi consagrada Artista do Povo pelo governo do México em 1985 e recebeu a Ordem do Mérito Civil da Espanha em 2011, concedida pelo rei Juan Carlos I.
Descubra três dramas que disputam indicações ao Oscar de Melhor Filme Internacional
Três filmes de passagem recente e meteórica pelo circuito comercial brasileiro representam indicações de seus países ao Oscar. Surpreendentemente, seguem em exibição, mas num só cinema ou num só horário. E são bons filmes, que mereceriam ser conhecidos. “Retablo” O filme é de 2017, foi exibido na Mostra de São Paulo do ano passado, mas é a indicação do Peru para o Oscar 2020, na categoria de Melhor filme internacional. Dirigido pelo cineasta e psicólogo Álvaro Delgado-Aparício, em seu primeiro longa, é um filme que lida com tradições, folclore, e um ambiente conservador, que torna tudo mais complicado e dramático. A trama aborda a tradição artística dos retablos – caixas artesanais portáteis, de madeira, com porta, que contém figuras de massa pintadas, que representam cenas religiosas ou cotidianas de famílias abastadas da elite local, como, por exemplo, dos políticos. É um belo trabalho que o reconhecido artesão Noé desenvolve e capacita seu filho adolescente de 14 anos, Segundo, para sucedê-lo. A narrativa se baseia na visão do adolescente. E foca na relação pai e filho. Essa bela arte tradicional será posta em xeque quando uma cena homoerótica é flagrada e não consegue ser assimilada pela sociedade conservadora e religiosa da localidade. Mais do que isso: é fortemente rejeitada e perseguida, sem abrir nenhuma possibilidade de assimilação. Como Segundo vai lidar com isso? Que caminho vai tomar? É por aí que o filme se coloca, questionando a visão conservadora, e explorando as manifestações artísticas e folclóricas que merecem ser preservadas. 101 min. “A Camareira” O drama de Lila Avilés, de 2018, é a indicação mexicana para concorrer ao Oscar de Filme Internacional. Sua narrativa concentra-se na vida penosa e frustrante de Eve, uma jovem mãe solteira que trabalha como camareira num hotel de luxo, na cidade do México, sem tempo para nada, nem mesmo para ver com regularidade seu bebê, cuidado por outra pessoa. Acompanhamos sua rotina e, como espectadores, vamos percebendo pouco a pouco o que a move, que expectativas tem, por onde passa seu desejo, que planos alimenta para o futuro e que ações toma, com base nisso. Vemos que o trabalho pesado e cansativo até promete, mas não cumpre. O que resulta disso é angustiante, especialmente quando uma esperança que parecia tão concreta não se realiza. Aí é que o filme ensaia caminhos e possibilidades, mas acaba não encontrando propriamente um rumo para a personagem. Ou prefere deixar em aberto, só sugerindo, esse rumo. As soluções individuais são mesmo muito complicadas, ou virtualmente inexistentes, quando um sistema explorador não oferece saídas reais, apenas doura a pílula, sendo até acolhedor ou afetivo sob alguns aspectos, mas sem resolver o cerne da questão. É como aquela história do gerente do banco que não resolve o que você precisa, mas o trata bem, oferece cafezinho e tal. De que adianta? “A Camareira” é um filme de clima, que nos põe no centro da vida de uma trabalhadora modesta, sem preparo, mas dedicada à função que ocupa, e que ousa ter esperança. Em certos contextos, no entanto, até sonhar é difícil. “Adam” Produção do Marrocos de 2018, dirigida por Maryam Touzani e indicada para concorrer pelo país ao Oscar de Filme Internacional, é um filme sobre mulheres desamparadas, cada qual à sua maneira. Põe em contato duas mulheres, uma, viúva com uma filha ainda pequena, que tenta sobreviver de forma estoica e a muito custo. Que se enrijece, endurece, mas não verga. É sua defesa, indispensável. Pelo menos até que encontra e acolhe uma jovem grávida, fora do casamento, o que é um problema moral no Marrocos, vagando pelas ruas sem casa ou trabalho. Do encontro das duas, vêm novas perspectivas. Uma modificará a outra, abrindo espaços para novas possibilidades e esperanças, num contexto muito difícil para ambas. Na verdade, para o trio, já que a menina que vive na casa, onde elas acabarão convivendo, servirá de elemento catalizador da relação, com a indispensável perspectiva do futuro que as crianças trazem. A maternidade está no centro dessa trama, em que as relações ocupam o lugar principal. A sempre possível perspectiva de mudança e o encontro consigo mesmo servem de elementos para uma história contada com sensibilidade e respeito pelos sentimentos, desejos e idiossincrasias de cada uma.
Alejandro G. Iñárritu vai presidir o Festival de Cannes 2019
O cineasta mexicano Alejandro G. Iñárritu será o presidente do júri da próxima edição do Festival de Cannes, evento que acontece de 14 a 25 de maio na Riviera Francesa. A escolha reforça a influência dos cineastas mexicanos no mundo cinematográfico, e acontece após Guillermo del Toro presidir o Festival de Veneza e Alfonso Cuarón vencer três Oscars por “Roma”. Todos os três venceram Oscars de Melhor Direção e têm dominado a preferência da Academia desde 2013. Iñárritu, que conquistou seus dois Oscars de Melhor Direção de forma consecutiva, por “Birdman” (2014) e “O Regresso” (2015), tem uma longa relação com Cannes, começando com a exibição de seu longa-metragem de estreia, “Amores Brutos”, em 2000, que marcou presença na mostra Semana da Crítica. O festival francês também foi um dos primeiros a reconhecer seu talento, premiando-o como Melhor Diretor por “Babel” em 2006. “Cannes é um festival que tem sido importante para mim desde o início da minha carreira”, disse o cineasta em comunicado. “Sinto-me humilde e emocionado por regressar este ano com a imensa honra de presidir o júri”. Pierre Lescure, presidente do festival, e Thierry Frémaux, diretor artístico, elogiaram Iñárritu por ser não apenas um cineasta ousado e um realizador cheio de surpresas, mas igualmente “um homem de convicções, um artista de seu tempo”. O diretor mexicano ainda acrescentou: “O cinema corre pelas veias do planeta e este festival tem sido o seu coração. Nós, no júri, teremos o privilégio de testemunhar o novo e excelente trabalho de outros cineastas de todo o planeta. É um verdadeiro prazer e uma responsabilidade que vamos assumir com paixão e devoção”.
Estrela de Roma indicada ao Oscar sofre preconceito de atrizes e celebridades mexicanas
Yalitza Aparicio, que concorre ao Oscar 2019 de Melhor Atriz como protagonista do filme “Roma”, está sendo alvo de uma campanha de ódio e preconceito no México. E não é de trolls da internet, mas de celebridades da televisão do país – diretores, atrizes e apresentadores inconformados com seu sucesso. Na semana passada, veio à tona que um grupo de atores tentou evitar que Yalitza fosse indicada como Melhor Atriz no prêmio Ariel, entregue pela Academia Mexicana de Artes e Ciências Cinematográficas – troféu equivalente ao Oscar no país. A tentativa de boicotar a nomeação da atriz de origem indígena foi divulgada no Twitter por Rossana Barro, coordenadora do Festival Internacional de Cinema Morelia. “Soube que há um grupo de atrizes mexicanas que está se organizado para pedir à Academia de Cinema que Yalitza Aparicio não seja considerada para a categoria de Melhor Atriz”, escreveu Rossana Barro, em 11 de fevereiro. “É a coisa mais medíocre, patética e vil que já escutei. Não direi mais nada”, acrescentou. Não se sabe quem fazia parte do grupo e há quem questione a sua existência. Mas a cineasta María José Cuevas, autora do documentário “Bellas de Noche”, disse que a tentativa de boicote, de fato, existiu. “Sim. Confirmado por vários lados”, disse a cineasta pelo Twitter, ao ser perguntada sobre se o “rumor” tinha bases na realidade. O ator mexicano Diego Luna foi um dos que aproveitou a polêmica para dizer que não precisava ver “Roma” para saber do “racismo e a estratificação social” do México. O boicote feito longe dos holofotes reflete a rejeição a Yalitza Aparicio em seu próprio país, especialmente após sua indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz. Ela é a segunda atriz mexicana a conseguir esse feito, depois de Salma Hayek em 2003, pela participação no filme “Frida”. Os críticos à sua indicação ao Oscar questionam o fato de Yalitza não ter carreira. Um dos comentários mais frequentes é o de que ela ficou famosa “por sorte” e que nunca se preparou para se tornar atriz. Por isso, enquanto a maioria dos atores mexicanos parabenizou Yalitza – muitos com entusiasmo – , alguns chegaram a protestar contra sua projeção internacional. A apresentadora de televisão Elsa Burgos manifestou sua indignação pelo Facebook. “Não estou desmerecendo o trabalho de ninguém. Cada um sabe como e quando vai chegar aonde quer. Mas, sinceramente, me digam: A atuação de Yalitza é espetacular para que seja nomeada ao Oscar?”, questionou. “Ela não atuou. Ela é assim. Fala assim, se comporta assim, como a Cleo [nome da personagem de Yalitza no filme]. O Oscar se dá a uma atuação que não tenha nada a ver com você.” A atriz e produtora de televisão mexicana Patricia Reyes também minimizou o talento de Yalitza. “Ela fez bem o seu papel, mas não acho que vá fazer uma carreira disso”, disse em entrevista à TV Azteca. “Não é a sua vocação, não é o que ela quer. Mas se [Alfonso] Cuarón [diretor de ‘Roma’] continuar a chamá-la para trabalhar, provavelmente será. Mas não sinto que seja sua vocação, é um momento, um flash”, acrescentou. A atriz Laura Zapata também criticou a aparência de Yalitza quando os jornalistas perguntaram sua opinião sobre o sucesso da jovem. “Que sorte, né? É a sorte das feias”, respondeu. Outra declaração que gerou polêmica foi da cantora Yuri (Yuridia Valenzuela Canseco), que durante uma entrevista se disse contente por ver que alguém “com aquele tipo físico” esteja concorrendo ao Oscar. “Acho muito bom. Como que uma pessoa com esse tipo (físico foi indicada)? Não importa o físico, é o talento”, disse. “Muita gente diz que se você está em Hollywood tem que ser muito mexicana, muito bonita e ter um corpaço. E ela é o contrário disso”, acrescentou. A polêmica mais recente foi do ator Sergio Goyri, num vídeo que viralizou, em que ele aparece reclamando que tinham “nomeado uma índia” ao Oscar. Ao saber dessas declarações, Yalitza disse: “Estou orgulhosa de ser uma indígena oaxaqueña e só lamento que haja pessoas que não sabem o significado correto das palavras.” Antes de participar de “Roma”, Yalitza era professora de uma pré-escola em Tlaxiaco, no estado de Oaxaca. A mudança foi drástica, ainda mais que ela nunca tinha visto uma mulher “desse tipo” ter alguma projeção no cinema mexicano, graças ao “azar” das minorias. “Eu não conhecia muito sobre cinema. Eu me afastei totalmente do cinema porque considerava que não me pertencia, que era um mundo de sonhos a que eu não podia aspirar, porque nenhuma mulher que eu via nas telas se parecia comigo”, afirmou a atriz em entrevista à imprensa. “Agora que comecei a pesquisar mais, já sei que há muitos atores incríveis que, sem ter estudado atuação, chegaram a ser grandes”, concluiu.
Oscar 2019: Roma atinge recorde de indicações para filme estrangeiro na premiação
As indicações ao Oscar 2019 refletem uma internacionalização da premiação do cinema americana, marcada pela inclusão de diversos filmes de línguas estrangeiras em categorias importantes. Falado em espanhol, “Roma” foi o filme com mais destaque na lista divulgada nesta terça (22/1) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. Disputando prêmios em 10 categorias, igualou o recorde de “O Tigre e o Dragão”, primeiro filme estrangeiro a obter uma dezena de indicações ao Oscar – venceu quatro em 2001. Além de “Roma”, o polonês “Guerra Fria”, de Pawel Pawlikowski, destacou-se em três categorias, incluindo Direção e Fotografia, em que enfrentará o filme de Cuarón. Os dois ainda disputarão com o alemão “Never Look Away’, de Florian Henckel von Donnersmarck, o Oscar de Melhor Fotografia. Os três filmes ainda fazem parte da acirrada categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira, que também inclui o drama libanês “Cafarnaum”, de Nadine Labaki, e o japonês “Assunto de Família”, de Hirokazu Kore-eda. Além destes, o filme japonês “Mirai” entrou na lista de Melhor Animação, a produção síria-alemã “Of Fathers and Sons” na disputa de Documentário, e o drama sueco “Border” na categoria de Melhor Maquiagem e Penteado. Para completar, a Academia indicou o grego Yorgos Lanthimos na disputa de Melhor Direção por “A Favorita”. Esta dramédia de época é, por sinal, uma produção britânica. E empatou com “Roma” em quantidade de nomeações ao Oscar 2019. Ambos são coproduções com os Estados Unidos, mas é relevante que um longa essencialmente mexicano e uma produção essencialmente britânica tenham dominando a premiação do cinema americana. E isto é sintomático da abertura cada vez maior da Academia para eleitores estrangeiros, privilegiando a visão de cineastas de vários cantos do mundo. Entretanto, com reflexos inesperados, já que os estrangeiros não valorizaram a produção independente americana. Vale reparar, por isso, que os filmes estrangeiros são os que possuem maior aprovação da crítica entre os títulos que disputam o Oscar 2019. E isto se dá pela ausência maciça de representantes do cinema de qualidade feito nos Estados Unidos. No lugar de filmes independentes premiados, o Oscar estendeu seu tapete vermelho para obras americanas mais convencionais, de sucesso comercial e apelo popular, como “Pantera Negra”, “Bohemian Rhapsody” e “Nasce uma Estrela”, conhecidas por todo mundo.
Alfonso Cuarón chama cinemas de elitizados e defende a Netflix nos bastidores do Globo de Ouro
Duplamente vencedor do Globo de Ouro 2019 por “Roma”, o diretor Alfonso Cuarón fez uma defesa apaixonada da Netflix nos bastidores da premiação, ao responder perguntas da imprensa. O tom subiu quando um jornalista alegou que alguns distribuidores independentes caracterizaram o destaque de “Roma” na atual temporada de premiações como prejudicial para a indústria, porque sinalizaria que filmes não precisam ser lançados no cinema para serem considerados para o Globo de Ouro ou o Oscar. “Eu acho que é injusto dizer isso”, protestou o cineasta. “Eu te faço outra pergunta: Quantos cinemas você acha que exibiriam um filme mexicano em preto e branco, falando em espanhol e dialeto, que é um drama sem nenhuma estrela no elenco?”, retrucou. “Meu filme ganhou um lançamento muito maior do que ganharia de outra forma”, continuou. “Por que você não pega a lista de filmes estrangeiros indicados, e compara o lançamento que eles tiveram com o meu?”, disse Cuarón, que lembrou que a Netflix lançou “Roma” nos cinemas americanos e em alguns outros países, ainda que em um número reduzido de salas e por período limitado. “Precisamos ter consciência que a experiência de ir ao cinema se tornou muito elitizada”, contra-atacou Cuarón. “É claro que você tem muitos cineastas correndo para as plataformas de streaming, porque elas não têm medo de fazer os filmes que eles querem fazer”, completou. “Roma” venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e o de Melhor Direção.
Filme de arte da era do streaming, Roma é um épico humanista
“Roma” é o que costumávamos chamar de filme de arte no século passado. Tem inspiração no neorrealismo italiano, não possui trilha sonora e foi rodado em preto e branco pelo cineasta Alfonso Cuarón (“Gravidade”), que relembra sua infância e, principalmente, das mulheres responsáveis por sua educação em Roma (não aquela da Itália, mas o bairro da Cidade do México). Mas é um filme de arte para se ver em streaming, concebido como um produto (Netflix) do século 21. E esta nem é a maior contradição da produção. Também responsável pela fotografia do filme, o diretor picota o longa em recortes quase sempre isolados do cotidiano, sem as costuras do storytelling tradicional. É como se fossem flashes de memórias do diretor jogados na tela, como um adulto se esforçando para se lembrar de passagens marcantes de sua época de criança. Todas eles contam de alguma forma com a presença da verdadeira protagonista da história, a jovem trabalhadora doméstica Cleo (a sensacional Yalitza Aparicio), que dita o ponto de vista único do filme. Como pano de fundo, o momento político, econômico e social conturbado dos anos 1970 no México. Mas os olhos de Cuarón estão voltados para Cleo, o coração de uma família em frangalhos. Ela percorre uma ladeira emocional com a patroa e os filhos dela. Mas, aos poucos, entende que é mais que a mulher que cuida da casa. É a que cuida de todos e é o alicerce mais poderoso dessa que é, no fim das contas, sua verdadeira família. E quando sua ficha cai na lindíssima cena da praia, quem não sentir um nó na garganta precisa urgentemente ir ao médico. Hoje em dia, um filme com esse roteiro costuma ser feito sem grande orçamento, com câmera tremendo, fotografia desleixada e se o cenário é o México, então, dá-lhe cores estouradas com preferência pelo amarelo do sol castigando tudo e todos. Mas Cuarón, além de apostar no preto e branco mais elegante que você viu nos últimos anos, não balança a câmera, busca enquadramentos não menos que perfeitos e tira beleza de qualquer momento do cotidiano, além de enquadrar momentos épicos como quem está acostumado a realizar superproduções. Aliás, Cuarón prefere mais imagens que palavras. Para você ter uma ideia, ele começa o filme com água e sabão abrindo uma janela no céu. Impossível ser mais evidente que isso para deixar clara sua intenção logo nos minutos iniciais. Cuarón quer abrir não somente a janela para suas memórias, mas também para o público. E de qualquer nacionalidade. Não importa a língua falada no filme, pois em pouquíssimo tempo, todos nós falamos o mesmo idioma, porque as lembranças de Cuarón se tornam nossas próprias lembranças, conectando-se por experiências similares. E para ajudar a moldar essa experiência, há uma relação muito profunda entre o que você vê em primeiro plano e o que está em segundo plano no frame. Às vezes exalando contradição, outras atuando como complemento. Mas dissecar aqui o que está em cada cena é atrapalhar o prazer para os sentidos que é descobrir e redescobrir “Roma”. Quantas vezes na vida você estava triste e alguém próximo estava feliz? Ou vice-versa. Quantas vezes num momento de angústia, você seria capaz de imaginar que acontecia algo ao redor ou existia uma pessoa capaz de mudar aquela sua sensação desoladora de uma hora para outra? Quantas vezes não enxergamos uma oportunidade debaixo de nossos narizes? É verdade que Cuarón poderia criticar muito mais a relação entre patrões e empregados ou discutir com mais contundência a tensão política no México, mas não era o filme que ele pretendeu fazer. É no fator humano e em sua sensibilidade engajadora e universal que reside o segredo da grandeza de “Roma”. É sobre mulheres. Isso não quer dizer que esses pontos não sirvam de apoio para mostrar a evolução de Cleo. Mesmo que fique em silêncio muitas vezes, Cleo não é tão passiva, estagnada e parada no tempo quanto aparenta (o avião que abre e fecha o filme não está lá por acaso, pois indica passagem de tempo). A relação entre chefes e seus subordinados não é tão simples assim e muitas vezes aceitamos coisas que vão contra nossos princípios. Mas note como a própria personagem é a mais equilibrada do filme (literalmente, como mostrado na cena daquele artista excêntrico colocando todo mundo num pé só). Em constante movimento evolutivo, Cleo ainda tem seu inesperado segundo de catarse no clímax de “Roma”. Em outras palavras, Cleo caminha para frente sim em sua jornada; ainda que ela demonstre humildade em um mundo injusto e entenda que seu lugar é ao lado daquela família. Existe algo mais épico que o sentimento humano? É por isso que, mando quando a grandiosidade contida ameaça estourar na tela ou quando Cuarón arrisca sequências sem cortes, o filme de streaming que venceu o Festival de Veneza 2018 se destaca por suas sutilezas. Pode até lembrar semelhanças com o cinema de Fellini, Visconti ou De Sica, mas esta “Roma” é de Cuarón mesmo.










