Troféu do cinema ibero-americano premia Aquarius e Boi Neon
A 3ª edição do Prêmio Fênix Ibero-Americano de Cinema consagrou o filme chileno “Neruda”, de Pablo Larraín, e destacou duas produções brasileiras, “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, e “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro. Os filmes brasileiros levaram dois troféus cada: Melhor Direção e Atriz (Sônia Braga) para “Aquarius”, e Melhor Roteiro (Mascaro) e Fotografia (Diego García) para “Boi Neon”. “Neruda”, por sua vez, ficou com quatro prêmios. Além de Melhor Filme, conquistou os troféus de Montagem, Direção de Arte e Figurino. Para completar, o thriller de época argentino “O Clã” também levou dois prêmios, com destaque para o de Melhor Ator conquistado para o veterano Guillermo Francella. Entre os documentários, “Tempestade” não deixou chances para os concorrentes, vencendo os três troféus disponíveis na categoria. O Prêmio Fênix Ibero-Americano de Cinema é uma das duas premiações recentes que buscam ser consideradas o “Oscar ibero-americano”. A outra é o Prêmio Platino. Curiosamente, ambos foram criados no mesmo ano, com suas primeiras edições realizadas em 2014. No ano passado, o Fênix elegeu outro filme de Pablo Larraín, “O Clube”, como melhor do ano, enquanto o Platino preferiu o colombiano “O Abraço da Serpente”, de Ciro Guerra. Vencedores do prêmio Fênix do Cinema Ibero-Americano 2016 Melhor Filme “Neruda” Melhor Diretor Kleber Mendonça Filho, por “Aquarius” Melhor Atriz Sônia Braga, por “Aquarius” Melhor Ator Guillermo Francella, por “O Clã” Melhor Roteiro Gabriel Mascaro, por “Boi Neon” Melhor Direção de Fotografia Diego García, por “Boi Neon” Melhor Montagem Hervé Schneid, por “Neruda” Melhor Direção de Arte Estefania Larrain, por “Neruda” Melhor Figurino Muriel Parra, “Neruda” Melhor Som Vicente D’Elia e Leandro de Loredo, por “O Clã” Melhor Trabalho de Exibição “Os 33” Melhor Trilha Sonora Original Leonardo Heiblum e Jacobo Lieberman, por “Tempestade” Melhor Documentário “Tempestade” Melhor Direção de Fotografia de Documentário Ernesto Pardo, por “Tempestade” Prêmio pela Carreira Alejandro Jodorowsky
Neruda: Gael Garcia Bernal tenta prender o poeta Pablo Neruda no trailer legendado
A Imovision divulgou o trailer legendado de “Neruda”, novo filme de Pablo Larraín (“O Clube”), escolhido pelo Chile para tentar uma indicação ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Passado no Chile no final dos anos 1940, o vídeo mostra uma caçada policial ao poeta Pablo Neruda (interpretado por Luis Gnecco, de “A Dançarina e o Ladrão”), “o comunista mais importante do mundo”. A prévia também aponta o inusitado tom da produção, que mistura metalinguagem, suspense e comédia, inventando detalhes para divertir o público, enquanto Gael Garcia Bernal (“Zoom”) tenta prender o protagonista, alegando não ser o coadjuvante da história. “Neruda” é o segundo filme de Larraín estrelado por Gael, após o premiado “No” (2012), mas o elenco também retoma outras parcerias, como Marcelo Alonso, Alfredo Castro e Antonia Zegers, todos vistos em “Tony Manero” (2008) e “O Clube” (2015). A época abordada vai dos anos 1946 a 1948, quando Neruda se juntou ao Partido Comunista do Chile, foi eleito senador, protestou contra a prisão de mineiros em greve, foi ameaçado de prisão, fugiu e começou a escrever “Canto Geral”, seu livro de poemas mais famoso, publicado no ano de 1950. O filme teve première na Quinzena dos Realizadores, seção paralela do Festival de Cannes, e estreia em 15 de dezembro no Brasil, um dia antes do lançamento nos EUA.
Lupita Tovar (1910 – 2016)
Morreu Lupita Tovar, uma das primeiras estrelas latinas de Hollywood. Ela faleceu no sábado (12/11) em Los Angeles, de causas naturais aos 106 anos de idade. Nascida em Oaxaca, no México, Lupita foi descoberta pelo documentarista Robert Flaherty na capital mexicana, durante uma competição para revelar atrizes de cinema. Ela ficou em 1º lugar e, como prêmio, foi convidada a filmar nos EUA, mudando-se para Los Angeles na companhia da avó materna em 1928. Seu primeiro contrato foi com os estúdios Fox, participando de filmes mudos, em que deveria demonstrar diversos talentos. Por isso, precisou aprender a tocar violão e ter aulas de dança, além de estudar inglês, uma língua que ela mal falava. Mas se dedicou arduamente, visando conquistar um novo contrato. Ela conseguiu seu objetivo, assinando com a Universal, mas para filmar em espanhol. Muitos de seus primeiros trabalhos se perderam, como “A Mulher Enigma” (1929), em que contracenou com Bela Lugosi. Mas, por coincidência, ela acabou ficando mais conhecida justamente num filme que todos relacionam a Lugosi. Na época, os estúdios começavam a perceber que o mercado de cinema não se restringia aos EUA e passaram a fazer versões alternativas de seus lançamentos faladas em espanhol. Assim, simultaneamente à filmagem do clássico “Drácula” (1931) de Lugosi, a Universal realizou um “Drácula” (1931) com diretor e atores mexicanos, aproveitando os mesmos cenários. Lupita interpretou Eva, a versão mexicana da protagonista Mina, numa produção em que os personagens tinham nomes espanholizados – Juan Harker, Lucía, etc. Além deste terror clássico, ela participou de “A Vontade do Morto” (1930), versão em espanhol de “Meia Noite em Ponto” (1930). E, por sinal, o produtor que teve a ideia de realizar esses remakes, o tcheco Paul Kohner, acabou se apaixonando e se casando com a atriz em 1932. Aos poucos, a Universal começou a escalar Lupita em filmes falados em inglês, como na aventura “A Leste de Bornéu” (1931), com direção de George Melford, e o western “A Lei da Fronteira” (1931), em que viveu a protagonista, ao lado do cowboy Buck Jones. Com status de estrela, Lupita foi convidada a voltar ao México para protagonizar “Santa” (1932), o primeiro filme mexicano sonoro – isto é, que tinha som e imagem sincronizados na mesma tira de celuloide. No melodrama, Lupita vivia uma jovem inocente que, após ter um caso com um soldado, tornava-se tragicamente uma prostituta. Fez tanto sucesso que o governo mexicano chegou a emitir um selo postal em sua homenagem, com Tovar caracterizada como Santa. Após um breve hiato para curtir o casamento e ter a primeira filha, Lupita voltou a Hollywood com a comédia clássica “Fanfarronadas” (1936), ao lado do mestre do humor Buster Keaton, que foi outro grande sucesso. Ela ainda participou do filme de guerra “Bloqueio” (1938), com Henry Fonda, protagonizou o western “Valentia de Gringo” (1939), com George O’Brien, e coestrelou “South of the Border” (1939) com o cowboy cantor Gene Autry, “Inferno Verde” (1940), com Douglas Fairbanks Jr., e “O Galante Aventureiro” (1940), com Gary Cooper, antes de engravidar do segundo filho e se aposentar cinco anos depois com o filme B de mistério “O Médico Destemido” (1945). Ao sair de cena, a atriz deixou uma herdeira, a filha Susan Kohner, que seguiu a carreira da mãe e foi indicada ao Oscar por “Imitação da Vida” (1959), de Douglas Sirk. Além disso, os filhos de Susan também se destacaram no cinema, mas em outras funções, escrevendo e dirigindo filmes. Indicados ao Oscar pelo Roteiro de “O Grande Garoto” (2002), os irmãos Chris e Paul Weitz são netos de Lupita.
Mostra de São Paulo premia filme venezuelano
A 40ª Mostra Internacional de São Paulo premiou o filme venezuelano “El Amparo”, estreia do diretor Rober Calzadilla, sobre o embate entre o Exército venezuelano e um grupo de colombianos acusados de serem guerrilheiros, na região da fronteira entre os dois países. “El Amparo” recebeu por unanimidade o troféu de Melhor Filme, conferido pelo júri internacional do evento, que premia apenas novos diretores, com até dois longas no currículo. Duas atrizes receberam menção honrosa: Mirjana Karanovic, como uma mulher forçada a lidar com um câncer e com o passado misterioso do marido, na coprodução da Sérvia Bósnia e Croácia “A Boa Esposa”, e Lene Cecilia Sparrok, como uma garota que é forçada a esconder os rastros de sua minoria étnica para ser aceita, no sueco “Sámi Blood”. O iraniano “Maat”, de Saba Kazemi, levou o prêmio Abbas Kiarostami, instituído este ano em homenagem ao cineasta falecido em junho, que destaca filmes que expandem o limite da narrativa clássica. A trama do vencedor gira em torno do dilema moral de um grupo de famílias, após encontrar dinheiro escondido num imóvel. O júri internacional foi composto pela diretora americana Bette Gordon, o diretor paulista Jeferson De, a produtora argentina Lita Stantic, o diretor francês Nicolas Klotz, o diretor e produtor belga Peter Brosens, e o diretor de som português Vasco Pimentel. Já os favoritos do público foram outros. Entre os filmes internacionais, o público preferiu o sul-coreano “The Handmaiden”, de Park Chan-wook e os documentários “Gurumbé”, de Miguel Rosales, sobre o flamenco, e “Gaga – O Amor pela Dança”, de Tomer Heymann, que aborda um coreógrafo israelense e não uma cantora pop americana. Entre os nacionais, a votação popular destacou “Era o Hotel Cambridge”, drama sobre uma ocupação urbana dirigido por Eliane Caffé, e “Martírio”, documentário de Vincent Carelli sobre a impunidade no assassinato de índios, denunciado pelo diretor como um verdadeiro genocídio que acontece diariamente no Mato Grosso do Sul. Por fim, a crítica premiou outra mostra de filmes: “Depois da Tempestade”, drama familiar do japonês Hirokazu Koreeda, que já tem distribuição garantida no Brasil, e o documentário brasileiro “Pitanga”, que a atriz Camila Pitanga filmou, ao lado do diretor Beto Brant, sobre seu pai, o ator Antonio Pitanga. A Mostra continua agora com sua tradicional sessão de “repescagem” no CineSesc, que até a próxima quarta (9/11) exibirá alguns dos destaques do evento. Clique nos títulos dos destaques para assistir aos trailers de cada obra.
Neruda: Gael Garcia Bernal tenta prender o poeta Pablo Neruda no trailer do candidato do Chile ao Oscar
A Orchard divulgou o pôster e o trailer americano de “Neruda”, novo filme de Pablo Larraín (“O Clube”), escolhido pelo Chile para tentar uma indicação ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Passado no Chile no final dos anos 1940, o vídeo mostra uma caçada policial ao poeta Pablo Neruda (interpretado por Luis Gnecco, de “A Dançarina e o Ladrão”), “o comunista mais importante do mundo”. A prévia também aponta o inusitado tom da produção, que mistura metalinguagem, suspense e comédia, inventando detalhes para divertir o público, enquanto Gael Garcia Bernal (“Zoom”) tenta prender o protagonista, alegando não ser o coadjuvante da história. “Neruda” é o segundo filme de Larraín estrelado por Gael, após o premiado “No” (2012), mas o elenco também retoma outras parcerias, como Marcelo Alonso, Alfredo Castro e Antonia Zegers, todos vistos em “Tony Manero” (2008) e “O Clube” (2015). A época abordada vai dos anos 1946 a 1948, quando Neruda se juntou ao Partido Comunista do Chile, foi eleito senador, protestou contra a prisão de mineiros em greve, foi ameaçado de prisão, fugiu e começou a escrever “Canto Geral”, seu livro de poemas mais famoso, publicado no ano de 1950. O filme teve première na Quinzena dos Realizadores, seção paralela do Festival de Cannes, e estreia em 15 de dezembro no Brasil, um dia antes do lançamento nos EUA.
Kóblic traz Ricardo Darín em clima de western argentino
Sebastian Borensztein, o diretor do muito competente e divertido “Um Conto Chinês” (2011), agora nos leva ao terreno dramático da política, do suspense, da violência, dos westerns. Uma vez mais, nos traz o grande ator do cinema argentino da atualidade, Ricardo Darín. O filme é “Kóblic”, o sobrenome de um capitão das Forças Armadas em plena ditadura argentina, em 1977. Tomas Kóblic (Ricardo Darín) é escalado para pilotar um dos terríveis voos da morte, que arremessavam ao mar os chamados “subversivos” ou inimigos do regime. Lembram-se da Operação Condor, também no Brasil? A tarefa, muito difícil, e que abala a consciência de qualquer ser humano digno, não sai como devia e Kóblic é exortado a se esconder, numa espécie de exílio no próprio país, em uma localidade perdida no mapa, que não interessa a ninguém. Esse lugar esquecido, porém, tem seus próprios esquemas de poder, ainda que longe de tudo e de todos. O que alcançará o piloto militar e fará com que ele não possa ter sossego. Por um lado, um policial que se considera dono do lugar, uma terra sem lei. Por outro, um perigoso envolvimento romântico. E o suspense se instala, em clima de western. Outra forma de violência não tardará a se apresentar. Não há espaço tranquilo para os que buscam esquecer um passado que teima em não se desfazer. O contexto político realista dá lugar à dimensão mítica da violência que grassa perdida por este mundo de Deus. A partir daí, predominam as referências ao próprio cinema e sua história. O filme flui muito bem, envolve, emociona. É um bom produto do gênero cinematográfico escolhido. Só que terra sem lei leva, inevitavelmente, à justiça por conta própria, à vingança. Esse é um elemento essencial e um complicador para a trama. Afinal, o que é mesmo que a violência produz senão mais violência? A dimensão política mais séria se perde, embora o entretenimento triunfe.
A Passageira embarca nas feridas abertas da América Latina
“A Passageira”, que dá título ao filme de Salvador del Solar no Brasil, é o nome do romance de Alonso Cueto (La Pasajera), o que põe em evidência uma mulher que toma um táxi e abala os sentimentos do motorista, que a partir daí passará a procurá-la, com a intenção de se redimir de um passado cheio de culpa. Esse homem é “Magallanes”, título original do filme peruano, que se centra, de fato, na figura desse personagem, que enfrentará seu passado comprometido, umbilicalmente ligado ao de seu país. Ele foi soldado do exército peruano, lutou contra o Sendero Luminoso, na guerra civil que abalou o Peru e produziu a ditadura de Fujimori. Um passado violento e terrível, que todos parecem querer esquecer. Mas é possível? Magallanes, vivido pelo ótimo ator mexicano Damián Alcazar (série “Narcos”), trabalha hoje transportando e servindo ao “coronel”, papel do grande ator argentino Federico Lupi (“O Labirinto do Fauno”). Coronel, evidentemente, remete aos núcleos de poder militar e também de domínio da terra, representação de uma elite dominante opressora. A passageira que Magallanes reconhece é Celina, papel da atriz peruana Magaly Solier (“A Teta Assustada”), em excelente atuação. Celina sofreu diretamente sob o jugo do tal coronel, de modo vil, ainda muito jovem. Ela é a primeira a querer esquecer o sofrimento atroz que passou. Ao coronel, a seu filho e seus colaboradores policiais e políticos, não interessa mexer nisso. As atrocidades se esquecem. No caso do coronel, a idade avançada já lhe produziu a doença de Alzheimer, ou equivalente, de modo que ele não se lembra de nada. É do esquecimento, do não se lembrar, do não querer saber, do propósito declarado de pôr uma pedra em cima de tudo, que se move esse pequeno grande filme. Uma metáfora das feridas deixadas em aberto pelas ditaduras e guerras da América Latina, de 25, 30 anos atrás, que não fecharam, mas que não podem ser ignoradas. Remetem a uma história que compromete cada um e todos, de um modo ou de outro. Algozes, vítimas, omissos, a todos cabe a tarefa de resgatar a memória do passado recente, para poder superá-lo e não repetir a tragédia. “Magallanes” é um filme que tem uma trama muito bem urdida, no sentido de nos revelar, na história pessoal dos três principais personagens, as dimensões sociopolíticas da realidade peruana e, claro, latino-americana do período. Uma época que esperávamos superada pela democracia recém-conquistada, mas que está sempre em risco. Sobretudo, quando tudo o que se quer é esquecer e não enfrentar os fantasmas e demônios que se produziram por aqui. Além disso, “A Passageira” trabalha com uma narrativa policial e de suspense que mantem o espectador muito ligado nas cenas e sequências apresentadas. A resolução do filme é fantástica, para mostrar a quem interessa e as motivações que estão por trás desse desejo de apagar a História. A produção envolve a participação de diversos países de língua espanhola, como Argentina, Colômbia e Espanha. O peruano Salvador del Solar já tem uma larga trajetória como ator de cinema e TV. Sua estreia como diretor é muito convincente.
O Silêncio do Céu faz suspense competente de nível internacional
A vida de um casal pode resistir a algumas omissões e segredos, talvez, sem maiores sobressaltos. Mas quando algo muito importante aconteceu, foi vivido com muita dor e de forma traumática e, ainda assim, nada se diz sobre isso, como fica a situação? Pior: e quando o outro viu o que aconteceu, sabe do que se trata e também não aborda o assunto, porque tem algo muito importante a esconder? O filme “O Silêncio do Céu” aborda com muita competência essa trama, em que o psiquismo dos personagens fala mais alto. Muito mais importante é o não-dito, em relação a tudo que é dito. O clima onde isso se dá, em torno da casa, do ateliê de trabalho, de um grande viveiro de venda de plantas e em torno do movimento dos automóveis, coloca o espectador dentro do mistério. Que para ele não é exatamente um mistério: é uma grande questão entender as motivações dos comportamentos naquela situação dada. E o que se abre a partir desse universo de omissões como consequência. A tragédia é que omissão puxa omissão e as coisas podem se agravar muito. Para alcançar um resultado muito expressivo nas interpretações, o diretor Marco Dutra contou com Carolina Dieckmann (“Entre Nós”) no papel de Diana, que desde a primeira cena vive um drama pesado e devastador, que ela terá de carregar ao longo de todo o filme. E fazer isso representando em espanhol. Ela é brasileira, mas a produção é toda filmada no Uruguai, falada em espanhol. O outro elemento do casal é Mário, papel do ator argentino Leonardo Sbaraglia, que tem de se mostrar contido, cheio de medos, covarde, sofrendo por dentro e em vias de explodir. Papel exigente, de que ele dá conta muito bem. O ator já é conhecido no Brasil por filmes como “Relatos Selvagens” (2014), “O Que os Homens Falam” (2012) e “Plata Quemada” (2000). Todos os demais atores e atrizes compõem com segurança esse mundo tenso, angustiante, opressor e potencialmente violento, em termos psíquicos. Entre eles, a presença do jovem Chino Darín, filho de Ricardo Darín, que tem pela frente o desafio de se mostrar à altura do talento do pai. Está bem no filme, no papel que lhe coube. Há, também, a atriz uruguaia Mirella Pascual, conhecida por sua atuação em “Whisky” (2004). O roteiro, muito bem construído, contou com três talentos. Primeiro, o do escritor do romance que lhe deu origem, “Era el Cielo”, o argentino Sergio Bizzio. Segundo, o da cineasta argentina Lucía Puenzo, de “XXY” (2008) e “O Médico Alemão” (2013). Terceiro, o do cineasta brasileiro Caetano Gotardo, do excelente “O Que Se Move” (2013). O jovem diretor brasileiro Marco Dutra realizou “Quando Eu Era Vivo” (2012) e “Trabalhar Cansa” (2011), este em parceria com Juliana Rojas, dois filmes igualmente tensos e bem recebidos pela crítica. “O Silêncio do Céu” começou bem sua carreira vencendo o Prêmio Especial do Júri do 44º Festival de Cinema de Gramado. E é sem dúvida um belo trabalho de equipe, que uniu brasileiros, uruguaios e argentinos numa autêntica produção latino-americana. Fato raro e alvissareiro.
Veneza: Filme filipino vence festival marcado por destaques hollywoodianos
O drama filipino “The Woman Who Left”, do cinemaratonista Lav Diaz, foi o vencedor do Leão de Ouro da 73ª edição do Festival de Veneza, marcado por forte presença hollywoodiana e candidatos potenciais ao Oscar 2017. Como sempre na carreira de Lav Diaz, seu novo filme é para poucos, apenas para os mais resistentes, dispostos a encarar o desafio de suas 3h46 de projeção. Isto não impede Diaz de ser um dos mais cineastas asiáticos mais premiados da atualidade, embora também seja o menos visto de todos, devido à dificuldade de encaixar seus literalmente longa-metragens na programação convencional dos cinemas. “The Woman Who Left” rendeu o primeiro Leão de Ouro da carreira do diretor, mas já é seu terceiro filme premiado em Veneza. Anteriormente, ele tinha se destacado na mostra paralela Horizontes, com um Prêmio do Juri pela maratona “Death in the Land of Encantos” (2007), de apenas 9 horas de duração, e o troféu de Melhor Filme por “Melancholia” (2008), filme menorzinho, com 7h30 de metragem. Baseado num conto do escritor russo Leon Tolstoi, “The Woman Who Left” se passa em 1997, quando Hong Kong foi devolvida à China pelos britânicos, e conta a história de Horacia (Charo Santos-Concio), mulher que busca vingar os 30 anos que passou injustamente na prisão. Mas ao se ver livre, Horacia se surpreende ao encontrar uma sociedade com divisões profundas entre pobres e ricos. Em contraste ao único filme asiático premiado, o festival distribuiu a maior quantidade de troféus para o cinema de Hollywood, reconhecendo a boa qualidade da safra. O Grande Prêmio do Júri (espécie de 2º lugar) foi para “Nocturnal Animals”, de Tom Ford, o Prêmio Especial do Júri (3º lugar) para “The Bad Batch”, de Ana Lily Amirpour, e a Copa Volpi de Melhor Atriz para Emma Stone, por “La La Land”. Esperava-se que o filme de Tom Ford e o musical de Damien Chazelle, bastante elogiados, disputassem o prêmio principal. Para completar, outro filme americano, “Jackie”, dirigido pelo chileno Pablo Larraín, rendeu o troféu de Melhor Roteiro para Noah Oppenheim. O cinema latino ficou com a Copa Volpi de Melhor Ator, conquistada pelo argentino Oscar Martinez (por “El Ciudadano Ilustre”), e um dos prêmios de Melhor Direção, que foi dividido entre dois cineastas, o mexicano Amat Escalante (por “La Región Salvaje”) e o russo Andrei Konchalovsky (por “Paradise”). Além de Konchalovsky, houve apenas outro prêmio para desempenho europeu, o de Revelação para a atriz alemã Paula Beer, estrela de “Frantz”, do diretor francês François Ozon. O júri do festival de Veneza foi presidido pelo diretor britânico Sam Mendes, responsável pelos dois últimos filmes da franquia “007”. Confira abaixo a lista completa dos premiados. Vencedores do Festival de Veneza 2016 Melhor Filme “The Woman Who Left”, de Lav Diaz Grande Prêmio do Júri “Nocturnal Animals”, de Tom Ford Prêmio Especial do Júri “The Bad Batch”, de Ana Lily Amirpour Melhor Direção Amat Escalante, por “La Región Salvaje”, e Andrei Konchalovsky, por “Paradise” Melhor Ator Oscar Martinez, por “El Ciudadano Ilustre” Melhor Atriz Emma Stone, por “La La Land” Melhor Roteiro Noah Oppenheim, por “Jackie” Prêmio Marcello Mastroianni de Ator/Atriz Revelação Paula Beer, por “Frantz”, de François Ozon.
Sonia Braga é premiada como Melhor Atriz no Festival de Lima, no Peru
A atriz Sonia Braga foi premiada como Melhor Atriz do 20º Festival de Cinema de Lima, no Peru, por sua interpretação no filme “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho. Ausente do evento, ela agradeceu o troféu em seu Facebook. “Que honra ser premiada na América Latina”, postou em seu perfil. No filme, a atriz resiste à tentativa de uma incorporadora de comprar seu apartamento para derrubar o velho prédio e construir um novo edifício na praia de Boa Viagem, no Recife. “Aquarius” também recebeu o Prêmio Especial do Júri, que foi encabeçado pelo cineasta Ciro Guerra (“O Abraço da Serpente”). Mas não foi o único longa brasileiro premiado no evento. O drama “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, também foi celebrado, vencendo a categoria de Melhor Fotografia. Já o grande vencedor do troféu de Melhor Filme foi o colombiano “Oscuro Animal”, de Felipe Guerrero.
De Longe Te Observo confirma bom momento do cinema latino-americano
O venezuelano “De Longe Te Observo”, primeiro longa de Lorenzo Vigas, foi o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza e chegou a ser exibido na 39ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com seu título original, “Desde Allá”. O filme navega num universo em que a homossexualidade como desejo traz à tona uma série de questões e constrói uma narrativa complexa, muito forte, que surpreende. Tem uma estrutura consistente, que inclui a realidade social dos meninos de rua, mexe e brinca com preconceitos estabelecidos. E envereda por uma trama que tem elementos policiais e suspense. Faz tudo isso de forma bem concatenada. A narrativa se centra no relacionamento entre Armando (Alfredo Castro), um homem que paga para que jovens fiquem nus para ele se masturbar sem tocá-los, e Elder (Luís Silva), adolescente em situação de rua, que lidera uma gangue juvenil. A relação se dá por meio do dinheiro, mas se estabelece de forma complicada, trazendo muitos elementos. O dinheiro aparece como roubo, meio de agressão, chantagem, afeto ou solidariedade. Traz mistérios que envolvem o passado de Armando e o pai dele, que entrarão nessa relação, vinculando dois personagens que, a rigor, só estariam em contato em função de interesses imediatos e fugazes. Assim como o personagem Armando, a câmera observa as situações, passeia pela vida deles e de seus encontros, dá tempo para que entendamos o contexto e as variáveis que os envolvem, mantendo um clima seco, duro e algo misterioso. O que está para ser revelado nunca sabemos muito bem o que é, do que se trata realmente. A trama conta especialmente com os dois protagonistas em ótima atuação, sutil e contida, que ajudam a prender a nossa atenção para o que vai se desenrolar em camadas sucessivas. A história original que serviu de base para o roteiro do diretor é do escritor e roteirista mexicano Guillermo Arriaga, de trabalhos como “Babel” e “Amores Brutos”. O filme é coproduzido pelo México. E resultada num belo trabalho do cinema venezuelano, que confirma a observação de um grande momento criativo para a sétima arte na América Latina.
Por Trás do Céu vence o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo
O filme “Por Trás do Céu”, de Caio Soh, foi o vencedor do Prêmio do Público na 11ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo. O novo longa do diretor de “Teus Olhos Meus” (2011) e “Minutos Atrás” foi rodado no interior da Paraíba e conta a história de Aparecida, uma mulher forte fascinada pelo conhecimento, que vive cercada de pobreza. No elenco, estão Nathalia Dill, Emílio Orciollo e Paula Burlamaqui. O outro longa premiado do festival, “A Última Terra”, levou o prêmio de Melhor Coprodução. Realizado em colaboração por Paraguai, Holanda, Chile e Qatar, o filme de Pablo Lamar já tinha sido premiado nos festivais de Roterdã e Toulouse. A Mostra Escolas de Cinema Ciba-Cilect, de curtas, premiou a produção mexicana “Aurélia e Pedro”, de José Permar e Omar Robles, que já tinha sido exibido no Festival de Berlim. O júri também concedeu uma menção honrosa ao cubano “Polski”, de Rubén Rojas. O festival também prestou homenagem à cineasta Anna Muylaert, com uma retrospectiva de 23 filmes e a exibição de “Mãe Só Há uma”, seu novo longa, na abertura da programação. A 11ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo Esta edição exibiu, ao todo, 118 títulos de 13 países da América Latina e Caribe, com sessões no Memorial da América Latina, CCBB, Cinesesc e circuito SPcine.










