Vencedor de Cannes, Parasita surpreende a cada reviravolta
“Parasita”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e indicado pela Coreia do Sul para disputar o Oscar de Filme Internacional (ex-Filme em Língua Estrangeira), é um produto poderoso. A narrativa se refere a uma família pobre, que se aproveita de uma oportunidade de trabalho temporário para um de seus membros para parasitar uma família rica. Para desenvolver essa história, o cineasta Bong Joon-ho (de “Expresso do Amanhã”) se vale de uma variedade de gêneros. “Parasita” é comédia, destila um humor que produz riso na plateia. É também um drama, até bem pesado. Não há personagem que saia incólume de lá. Tem muito suspense e um sem-número de surpresas e reviravoltas de tirar o fôlego. Tem também alguns elementos fantasiosos, surrealistas, eu diria. Ao mesmo tempo, aborda aspectos da realidade social que estão subjacentes à situação, mas também explicitados na dinâmica das classes sociais envolvidas na trama. Até aspectos políticos da divisão das Coreias aparecem, dando um toque inteligente em cenas de humor. O filme consegue intrincar todos esses elementos dos diferentes gêneros cinematográficos com bastante competência, sem artificializar as passagens de um a outro registro e sem perder o ritmo. Ao contrário, o ritmo só cresce após cada reviravolta. Os desdobramentos das ações, na realidade, produzem novas histórias e situações-problema. Constituem-se num desafio novo a cada um dos personagens, deixando sempre em aberto aonde é que tudo isso vai parar. É um filme imprevisível, mas que conta com um roteiro muito bem engendrado. É, sem dúvida, um dos maiores destaques do cinema mundial em 2019.
Disputa de Melhor Filme Internacional do Oscar 2020 bate recorde de inscrições
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos anunciou nesta segunda-feira (7/10) que 93 países inscreveram seus representantes para concorrer ao Oscar 2020 de Melhor Filme Internacional (antiga categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira). Trata-se de um número recorde de inscrições, superando as 92 registradas em 2007, até então o ano com a maior quantidade de inscritos. A lista inclui as primeiras indicações já feitas por três países: Gana, Nigéria e Uzbequistão. O candidato brasileiro é “A Vida Invisível”, de Karim Ainouz, que venceu a mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes, mas outros dois filmes da relação também trazem atores brasileiros: o cubano “O Tradutor”, estrelado por Rodrigo Santoro, e o italiano “O Traidor”, que além de incluir a atriz Maria Fernanda Cândido é uma coprodução brasileira. Apesar da farta seleção, os filmes que são considerados favoritos não passam de um punhado. São eles o sul-coreano “Parasita”, de Bong Joon-ho, vencedor do Festival de Cannes, o espanhol “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, que rendeu troféu para o ator Antonio Banderas em Cannes, o senegalês “Atlantique”, de Mati Diop, primeira mulher negra a competir e ganhar prêmio em Cannes, e o francês “Les Miserables”, de Ladj Ly, que assim como o brasileiro “A Vida Invisível” contará com apoio financeiro da Amazon para disputar sua vaga. Também chama atenção o fato de o candidato japonês, “Weathering With You”, ser uma animação. 10 dos 93 candidatos serão pré-selecionados por um comitê e revelados no dia 16 de dezembro. Desta dezena sairão os cinco finalistas, apresentados durante o anúncio de todos os indicados ao Oscar, no dia 13 de janeiro. A cerimônia de premiação está marcada para 9 de fevereiro, com transmissão ao vivo para o Brasil pelos canais TNT e Globo. Confira abaixo a lista completa dos selecionados, a maioria com seus títulos internacionais (no inglês da Academia). África do Sul: “Knuckle City”, de Jahmil XT Qubeka Albânia: “The Delegation”, de Bujar Alimani Alemanha: “System Crasher”, de Nora Fingscheidt Arábia Saudita: “The Perfect Candidate”, de Haifaa Al Mansour Argélia: “Papicha”, de Mounia Meddour Argentina: “Heroic Losers”, de Sebastián Borensztein Armênia: “Lengthy Night”, de Edgar Baghdasaryan Austrália: “Buoyancy”, de Rodd Rathjen Áustria: “Joy”, de Sudabeh Mortezai Bangladesh: “Alpha”, de Nasiruddin Yousuff Bielorrússia: “Debut”, de Anastasiya Miroshnichenko Bélgica: “Our Mothers”, de César Díaz Bolívia: “I Miss You”, de Rodrigo Bellott Bósnia e Herzegovina: “The Son”, de Ines Tanovic Brasil: “Vida Invisível”, de Karim Aïnouz Bulgária: “Ága”, de Milko Lazarov Cambógia: “In the Life of Music”, de Caylee So e Sok Visal Canadá: “Antigone”, Sophie Deraspe: diretor Cingapura: “A Land Imagined”, de Yeo Siew Hua Chile: “Spider”, de Andrés Wood China: “Ne Zha”, de Yu Yang Colômbia: “Monos”, de Alejandro Landes Coreia do Sul: “Parasit”, de Bong Joon Ho Costa Rica: “The Awakening of the Ants”, de Antonella Sudasassi Furniss Croácia: “Mali”, de Antonio Nuic Cuba: “O Tradutor”, de Rodrigo Barriuso e Sebastián Barriuso República Tcheca: “The Painted Bird”, de Václav Marhoul Dinamarca: “Queen of Hearts”, de May el-Toukhy Egito: “Poisonous Roses”, de Ahmed Fawzi Saleh Equador: “The Longest Night”, de Gabriela Calvache Eslováquia: “Let There Be Light”, de Marko Skop Eslovênia: “History of Love”, de Sonja Prosenc Espanha: “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar Estônia: “Truth and Justice”, de Tanel Toom Etiópia: “Running against the Wind”, de Jan Philipp Weyl Filipinas: “Verdict”, de Raymund Ribay Gutierrez Finlândia: “Stupid Young Heart”, de Selma Vilhunen França: “Les Misérables”, de Ladj Ly Geórgia: “Shindisi”, de Dimitri Tsintsadze Gana: “Azali”, de Kwabena Gyansah Grécia: “When Tomatoes Met Wagner”, de Marianna Economou Holanda: “Instinct”, de Halina Reijn Honduras: “Blood: Passion: and Coffee”, de Carlos Membreño Hong Kong: “The White Storm 2 Drug Lords”, de Herman Yau Hungria: “Those Who Remained”, de Barnabás Tóth Islândia: “A White: White Day”, de Hlynur Pálmason Índia: “Gully Boy”, de Zoya Akhtar Indonésia: “Memories of My Body”, de Garin Nugroho Irã: “Finding Farideh”, de Azadeh Moussavi e Kourosh Ataee Ireland: “Gaza”, de Garry Keane e Andrew McConnell Israel: “Incitement”, de Yaron Zilberman Itália: “O Traidor”, de Marco Bellocchio Japão: “Weathering with You”, de Makoto Shinkai Kazaquistão: “Kazakh Khanate The Golden Throne”, de Rustem Abdrashov Quênia: “Subira”, de Ravneet Singh (Sippy) Chadha Kosovo: “Zana”, de Antoneta Kastrati Kirgistão: “Aurora”, de Bekzat Pirmatov Letônia: “The Mover”, de Davis Simanis Líbano: “1982”, de Oualid Mouaness Lituânia: “Bridges of Time”, de Audrius Stonys e Kristine Briede Luxemburgo: “Tel Aviv on Fire”, de Sameh Zoabi Malásia: “M for Malaysia”, de Dian Lee e Ineza Roussille México: “The Chambermaid”, de Lila Avilés Mongólia: “The Steed”, de Erdenebileg Ganbold Montenegro: “Neverending Past”, de Andro Martinović Marrocos: “Adam”, de Maryam Touzani Nepal: “Bulbul”, de Binod Paudel Nigéria: “Lionheart”, de Genevieve Nnaji Macedônia: “Honeyland”, de Ljubo Stefanov e Tamara Kotevska Noruega: “Out Stealing Horses”, de Hans Petter Moland Paquistão: “Laal Kabootar”, de Kamal Khan Palestino: “It Must Be Heaven”, de Elia Suleiman Panamá: “Everybody Changes”, de Arturo Montenegro Peru: “Retablo”, de Alvaro Delgado Aparicio Polônia: “Corpus Christi”, de Jan Komasa Portugal: “The Domain”, de Tiago Guedes Reino Unido “The Boy Who Harnessed the Wind”, de Chiwetel Ejiofor República Dominicana: “The Projectionist”, de José María Cabral Romênia: “The Whistlers”, de Corneliu Porumboiu Rússia: “Beanpole”, de Kantemir Balagov Senegal: “Atlantique”, de Mati Diop Sérbia: “King Petar the First”, de Petar Ristovski Suécia: “And Then We Danced”, de Levan Akin Suíça: “Wolkenbruch’s Wondrous Journey into the Arms of a Shiksa”, de Michael Steiner Taiwan: “Dear Ex”, de Mag Hsu e Chih-Yen Hsu Tailândia: “Krasue: Inhuman Kiss”, de Sitisiri Mongkolsiri Tunísia: “Dear Son”, de Mohamed Ben Attia Turquia: “Commitment Asli”, de Semih Kaplanoglu Ucrânia: “Homeward”, de Nariman Aliev Uruguai: “The Moneychanger”, de Federico Veiroj: diretor Uzbequistão: “Hot Bread”, de Umid Khamdamov Venezuela: “Being Impossible”, de Patricia Ortega Vietnã: “Furie”, de Le Van Kiet
Jojo Rabbit: Comédia do diretor de Thor: Ragnarok vence o Festival de Toronto
O filme “Jojo Rabbit”, do cineasta neozelandês Taika Waititi (de “Thor: Ragnarok”), foi o grande vencedor do Festival de Toronto. A comédia em que Waititi vive Adolf Hitler foi a obra favorita do público do festival canadense. Diferentemente de outras mostras de cinema, o vencedor de Toronto é escolhido pelo público e não por um júri. A vitória coloca a produção da Fox Searchlight na mira do Oscar, já que os ganhadores do prêmio de Toronto costumam se destacar no troféu da Academia. No ano passado, por exemplo, o vencedor de Toronto foi “Green Book: O Guia”, que também conquistou o Oscar de Melhor Filme. Curiosamente, “Jojo Rabbit” não foi unanimidade entre a crítica, atingindo 75% de aprovação no Rotten Tomatoes devido ao humor ultrajante da trama, que acompanha um menino da juventude hitlerista que sofre bullying e é confortado por seu amigo imaginário, ninguém menos que Adolf Hitler. Passada na Alemanha nazista, a trama se complica quando a criança descobre que sua mãe está escondendo uma garota judia em sua casa. Por conta disso, o prêmio foi recebido com surpresa pela imprensa norte-americana, que considerava outros dois longas como favoritos: “História de um Casamento”, de Noah Baumbach, e “Parasita”, de Bong Joon-ho, que venceu a Palma de Ouro em Cannes. Estes filmes acabaram ficando, respectivamente, com o 2º e o 3º lugar na premiação do público de Toronto. Também é muito interessante reparar que os dois melhores filmes são estrelados pela mesma atriz: Scarlett Johansson – que vive a mãe de “Jojo Rabbit” e a esposa de “História de um Casamento”. Um desses papéis pode lhe render a primeira indicação ao Oscar de sua carreira. “Jojo Rabbit” estreia comercialmente em 18 de outubro nos Estados Unidos, mas a previsão original de lançamento no Brasil é apenas para fevereiro de 2020. Após a vitória em Toronto, essa data pode ser antecipada.
Parasita: Filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes ganha 60 fotos e primeiro trailer americano
O estúdio indie Neon divulgou mais de 60 fotos, o pôster e o trailer americano de “Parasita”, longa do sul-coreano Bong Joon-ho (“Expresso do Amanhã”) que foi o vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes 2019 – primeira vez que uma produção sul-coreana venceu o festival francês Um dos filmes mais elogiados do ano, com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, “Parasita” é uma sátira de humor negro sobre a injustiça social e narra a história de uma família pobre, em um bairro infestado por pragas, que forja um diploma para que um dos filhos arranje emprego. Ele vai trabalhar em uma luxuosa mansão, como professor particular de uma menina milionária, e passa a indicar seus parentes para trabalhos em outras funções na mansão – mesmo que, para isso, eles precisem prejudicar outras pessoas. A conquista representa uma reviravolta na trajetória do cineasta, que foi mal-recebido em sua passagem anterior por Cannes, simplesmente porque seu filme “Okja” (2017) era uma produção da Netflix. Desde então, o festival barrou produções de streaming em sua competição. O filme vai chegar aos cinemas americanos apenas em 11 de outubro e ainda não há previsão de lançamento no Brasil.
Sul-coreano Bong Joon-ho vence a Palma de Ouro no Festival de Cannes
O filme “Parasite”, do sul-coreano Bong Joon-ho, foi o vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes 2019. Um dos favoritos da crítica, o longa é uma sátira de humor negro sobre a injustiça social e narra a história de uma família pobre, em um apartamento infestado por pragas, que forja um diploma para que um dos filhos arranje emprego. Ele vai trabalhar em uma luxuosa mansão, como professor particular de uma menina milionária, e passa a indicar seus parentes para trabalhos em outras funções na mansão – mesmo que, para isso, eles precisem prejudicar outras pessoas. O diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, presidente do júri da mostra competitiva, afirmou que a premiação de “Parasite” foi unânime entre os votantes. A conquista representa uma reviravolta na trajetória do cineasta sul-coreano, que foi mal-recebido em sua passagem anterior pelo festival, simplesmente porque seu filme “Okja” (2017) era uma produção da Netflix. Desde então, o festival barrou produções de streaming em sua competição. Com a consagração de “Parasite”, feito sem participação do serviço de streaming, Cannes ressalta sua posição de que filmes da Netflix não são cinema – ou, ao menos, não são dignos de competir no festival. “Roma”, por exemplo, foi barrado na competição do ano passado – mas venceu o Festival de Veneza e três Oscars. O Grande Prêmio do Júri, considerado o 2º lugar da competição, foi para “Atlantique”, da franco-senegalesa Mati Diop. Drama sobre um casal de namorados do Senegal que se separa depois que o rapaz tenta a sorte em uma travessia a barco para a Europa, o filme foi o primeiro de uma diretora negra a competir pela Palma de Ouro. A cineasta é sobrinha de um dos diretores mais importantes do continente africano, Djibril Diop Mambéty (de “A Viagem da Hiena”, de 1973). O brasileiro “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, dividiu o Prêmio do Júri, equivalente ao 3º lugar, com “Les Misérables”, do francês Ladj Ly. Mais detalhes sobre a conquista da produção brasileira podem ser lidos aqui. Já “Les Misérables” também se destacou na competição por ter um diretor negro. O drama aborda criminalidade de menores e repressão violenta, a partir do ponto de vista de um policial novato. Nenhum dos três filmes que receberam os prêmios do júri tiveram a mesma receptividade de “Parasite”. Se não pertenciam à grande faixa de mediocridade da seleção do festival, tampouco estavam entre os favoritos da crítica a receber algum reconhecimento na competição. Dentre eles, “Bacurau” foi o que se saiu melhor na média apurada pelo site Rotten Tomatoes, com 88% de aprovação, seguido por “Atlantique”, com 87%, e “Les Misérables”, com 75%. Em termos de comparação, “Parasite” teve 96%. O prêmio de Melhor Direção ficou com os veteranos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne por “Le Jeune Ahmed” (o jovem Ahmed), sobre um jovem muçulmano que é seduzido pela radicalização islâmica. Por coincidência, o longa belga também teve pouca repercussão crítica. De fato, foi considerado um dos mais fracos de toda a competição, com apenas 54% de aprovação no Rotten Tomatoes. Neste caso, o prestígio dos Dardenne, que já venceram duas Palmas de Ouro – por “Rosetta”, em 1999, e por “A Criança”, em 2005 – , pode ter influenciado a decisão do júri. Outro veterano, o espanhol Antonio Banderas, venceu o prêmio de Melhor Ator por “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar. No filme, ele vive o alterego de Almodóvar, um cineasta deprimido que revisita trechos da própria vida, reencontrando antigos amores e relembrando a forte relação com sua mãe. A inglesa Emily Beecham (a Viúva da série “Into the Badlands”) ficou com o prêmio de Melhor Atriz por “Little Joe”, da austríaca Jessica Hausner. No longa, ela interpreta uma cientista que cria uma flor capaz de trazer felicidade às pessoas. Mas ao perceber que seu experimento pode ser perigoso, passa a questionar sua própria criação. “Dor e Glória” e “Little Joe” também não eram favoritos da crítica, com 88% e 71%, respectivamente. Para não dizer que a premiação foi uma decepção completa, o prêmio de Melhor Roteiro ficou com um dos filmes mais celebrados do festival: “Portrait de la Jeune Fille en Feu” (retrato da garota em fogo), da francesa Céline Sciamma, que também venceu a Palma Queer, de Melhor Filme LGBTQIA+ de Cannes. A trama se passa no século 18 e mostra como uma pintora, contratada por uma aristocrata para retratar sua filha, apaixona-se pelo seu “tema”. A produção francesa também apaixonou a crítica internacional e atingiu 100% de aprovação no Rotten Tomatoes. Já o filme vencedor do Prêmio da Crítica – e que também tem 100% no RT – , “It Must Be Heaven”, do palestino Elia Suleiman, recebeu uma… Menção Especial. Entre os demais filmes que saíram sem reconhecimento, encontram-se “Era uma Vez em Hollywood”, de Quentin Tarantino, “O Traidor”, de Marco Bellocchio, e “Sorry We Missed You”, de Ken Loach. Por sinal, o filme de Tarantino chegou a receber 95% de aprovação no Rotten Tomatoes – mais que “Parasite”. O balanço inevitável da premiação leva a concluir que o Festival de Cannes 2019 foi mesmo fraquíssimo. Tivessem sido premiados os favoritos da crítica, o evento teria outro peso, ao apontar caminhos. Mas a verdade é que a seleção foi terrível, com muitos filmes medíocres, como o dos irmãos Dardenne, e até um título que conseguiu a façanha de sair do festival com 0% de aprovação, “Mektoub, My Love: Intermezzo”, de Abdellatif Kechiche – cineasta que já venceu a Palma de Ouro por “Azul É a Cor Mais Quente” (2013). O Festival de Cannes 2019 apostou no passado, com a inclusão de diversos diretores consagrados, mas pode ter prejudicado seu futuro ao subestimar obras mais contundentes de uma nova geração, representada por Suleiman e Sciamma. Claro que “Parasite” foi uma escolha esperta, mas as opções politicamente corretas e de prestígio de museu acabam pesando contra a relevância do festival. Em 2018, a mostra de Cannes já tinha ficado na sombra da seleção do Festival de Veneza. Este ano, corre risco de ser ultrapassada com folga.
Scott Wilson (1942 – 2018)
Morreu o ator Scott Wilson, que interpretou o personagem Hershel Greene na série “The Walking Dead”. Ele tinha leucemia e faleceu em sua residência no sábado (6/10), em Los Angeles, aos 76 anos. Embora seja mais lembrado pela série de zumbis, Wilson teve uma longa carreira cinematográfica, iniciada em 1967 como coadjuvante no clássico “No Calor da Noite” (1967), que venceu o Oscar de Melhor Filme. E já em segundo trabalho se tornou protagonista, interpretando o assassino Dick Hickock em “A Sangue Frio” (1967), adaptação da famosa obra de Truman Capote, baseada em fatos reais. O diretor Richard Brooks apostou no desconhecido jovem ator de 24 anos porque ele era fisicamente semelhante com Hickock. “Todos os atores de Hollywood queriam esses papéis, incluindo [Paul] Newman e [Steve] McQueen”, Wilson recordou em uma entrevista em 1996 ao Los Angeles Times. “Brooks contratou dois ‘desconhecidos’ [o outro foi Robert Blake, o futuro ‘Baretta’], e ele queria que fossem ‘assassinos’ que ele, de alguma forma, encontrou.” Brooks montou uma exibição privada para Wilson e Blake depois que as filmagens foram concluídas, e “depois de ver o filme, eu fui ao banheiro e vomitei”, ele disse em uma entrevista de 2017. “Percebi o que acabara de ver. Fiz parte de algo que resistiria por um período de tempo, um clássico.” Este começo empolgante de carreira o levou a trabalhar com vários cineastas importantes, como Sydney Pollack (“A Defesa do Castelo”, 1969), John Frankenheimer (“Os Paraquedistas Estão Chegando”, 1969), Robert Aldrich (“Resgate de uma Vida”, 1971), Richard Fleischer (“Os Novos Centuriões”, 1972), Richard C. Sarafian (“Quando o Ódio Explode”, 1973), etc., além de levá-lo à primeira versão de “O Grande Gatsby” (1974), estrelada por Robert Redford. Entretanto, seu talento demorou a ser reconhecido, o que só aconteceu no terror “A Nona Configuração” (1980), de William Peter Blatty (o autor de “O Exorcista”), pelo qual foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante. Wilson ainda apareceu em “Os Eleitos: Onde o Futuro Começa” (1983), de Philip Kauffman, no thriller “Um Rosto sem Passado” (1989), de Walter Hill, e no western “Jovem Demais para Morrer” (1990), de Geoff Murphy, antes de voltar a se reunir com Blatty em “O Exorcista III” (1990). A variedade de sua filmografia também incluiu os dramas “Os Últimos Passos de um Homem” (1995), de Tim Robbins, “Até o Limite da Honra” (1997), de Ridley Scott, e as estreias de três cineastas importantes: Christopher McQuarrie (“A Sangue Frio”, 2000), Patty Jenkins (“Monster: Desejo Assassino”, 2003) e o sul-coreano Bong Joon Ho (“O Hospedeiro”, 2006). Seu envolvimento com a televisão começou com um papel recorrente em “CSI”, que o fez aparecer em nove episódios da série, entre 2001 e 2006, mas foi seu desempenho como o fazendeiro Hershel Greene, ao longo de três temporadas de “The Walking Dead”, que conquistou a maior quantidade de fãs de sua carreira. O mais curioso é que o ator nunca fez teste para o papel. “Meu empresário ligou e disse que queriam que eu fizesse dois ou três episódios”, ele contou à revista The Hollywood Reporter. “Eu perguntei do que se tratava e ele disse zumbis. Eu respondi: ‘Me dê uma boa notícia’.” Depois de assistir a 1ª temporada, Wilson acabou topando. “Eu ainda não tinha feito muita TV na época, só ‘CSI’, como o pai de Marg Helgenberger, e achei muito interessante trabalhar em ‘The Walking Dead’, porque nunca tinha interpretado o mesmo personagem por tanto tempo, o que é muito diferente de fazer uma peça ou filme”. Um dos principais aliados do protagonista Rick Grimes (Andrew Lincoln) na série de zumbis, Hershel foi apresentado aos telespectadores na 2ª temporada, como o fazendeiro que salva a vida do jovem Carl (Chandler Riggs) e acolhe os sobreviventes originais em sua propriedade. Pai das personagens Maggie (Lauren Cohan) e Beth (Emily Kinney), Hershel seria eliminado logo em seguida, mas o personagem agradou e logo se estabeleceu como a voz da sabedoria que guiava a série. Ele acabou sobrevivendo por três temporadas, mas sua despedida chocou o público no quarto ano da produção, quando foi brutalmente assassinado pelo Governador (David Morrissey), um dos grandes vilões de “The Walking Dead”. Após o sucesso de sua passagem pelo apocalipse zumbi, Wilson integrou novas séries: “Bosch”, “Damien” e “The OA”. E ainda voltou ao cinema, integrando o western “Hostis” (2017), de Scott Cooper, ao lado de Christian Bale. Durante a New York Comic Con neste fim de semana, a showrunner de “The Walking Dead” Angela Kang revelou que o ator ainda poderá ser visto pelos fãs na série. Ele deixou gravadas suas últimas cenas na 9ª temporada, em que personagens do passado retornam para a despedida de Rick. A participação também foi a despedida de sua carreira.
Okja disfarça de fábula infantil uma aventura com tema adulto e atual
Somente um diretor fora do esquema de Hollywood, e com liberdade total para contar sua história como bem entender, seria capaz de fazer um filme como “Okja”. É o caso de Bong Joon-ho, um dos cineastas mais criativos, brilhantes e corajosos do século. Quando você pensa que o filme caminha por um gênero ou uma fórmula, ele distorce expectativas e entrega inúmeras reviravoltas de emoções distintas. Ainda bem. “Okja” seria uma fábula infantil? Bom, começa com a extraordinária Tilda Swinton (que trabalhou com o diretor em seu filme anterior, “Expresso do Amanhã”) pronunciando um palavrão. “Okja” até pode e deve ser visto por crianças sob a supervisão dos responsáveis, mas é um filme para todos e, principalmente, para o nosso tempo, em que um dos assuntos mais discutidos gira em torno da qualidade da carne oferecida ao consumo. Também aborda os maus tratos aos animais e a inexplicável loucura humana que distingue entre os bichos criados como pets e os que nascem para virar alimento, racionalização que, geralmente, é aceita sem debates. Para contar a saga de Okja – uma “superporca” cuidada por uma menina nas belíssimas montanhas sul-coreanas, que vira alvo de uma grande corporação perversa, como a JBS, mas comandada por Tilda Swinton –, o diretor Bong Joon-ho mistura com equilíbrio perfeito o cinema infantil e um tom de sátira, passando por cenas de ação, suspense, crítica social e o mais puro horror em sequências pesadas (como devem ser) em um matadouro. Ou seja, provavelmente estúdio algum em Hollywood deixaria Bong fazer o filme desse jeito – que você nunca viu antes e não tem a mínima ideia de onde vai chegar. O próprio diretor admitiu em entrevistas que sabichões de grandes estúdios queriam mudanças no roteiro para amenizar a aventura e deixá-la com uma pegada mais Disney. Com a Netflix, no entanto, ele pôde fazer o filme como quis. É curioso tocar no nome de Disney, porque o cineasta sul-coreano se aproxima mais de outro mestre do cinema animado, o japonês Hayao Miyazaki, na forma como combina fábula e realismo. Mas suas influências incluem até “Babe: O Porquinho Atrapalhado” (1995), ainda que “Okja” passe longe da inocência do clássico australiano Não só para todas as idades, para para todo o mundo, o cinema de Bong Joon-ho usa referências internacionais e busca numa audiência global, possibilitada pelo lançamento na Netflix. Para isso, combina atores de Hollywood – incluindo um exagerado Jake Gyllenhaal (“Vida”) – e de seu pais, com respeito a suas origens e seus devidos idiomas, sem perder sua identidade própria. Os filmes de Bong Joon-ho costumam apresentar uma consciência social e ambiental, como “O Hospedeiro”, que tinha um monstro gerado pela poluição de um rio urbano, e “Expresso do Amanhã”, passado após uma catástrofe climática. A isto se soma a luta pelos direitos dos animais em “Okja”. O tema se reflete em ações de militantes da causa, mas é simbolizado principalmente pelo afeto entre o bicho do título e a menininha vivida pela excepcional Ahn Seo-Hyun (“A Criada”), de apenas 13 anos de idade. Depois de trabalhar no filme, o próprio diretor ficou dois meses sem comer carne. Talvez ninguém se torne vegano apenas por ver “Okja”, mas poderá vibrar, rir, chorar e até pensar.
Novo trailer de Okja destaca os elogios da crítica internacional
A Netflix divulgou um novo trailer da fantasia sul-coreana “Okja”, que destaca os elogios da crítica durante sua exibição no Festival de Cannes 2017. Além de saudar o trabalho do diretor e roteirista Bong Joon Ho (“Expresso do Amanhã”), as frases de impacto aplaudem a sempre ótima Tilda Swinton (“Doutor Estranho”) e o desempenho da pequena Ahn Seo Hyun, que, apesar de ter apenas 13 anos, já possuiu uma dezena de títulos em seu currículo, inclusive o drama premiado “A Empregada” (Hanyo, 2010). Na trama, Okja é uma espécie de “superporco” criado em laboratório pela empresa Mirando, dirigida pela personagem de Tilda Swinton, com o objetivo de acabar com a fome mundial. O problema é que o bicho é fofo demais e vira o animal de animação de uma garotinha, que se desespera ao vê-lo ser levado para o abatedouro e se junta a um grupo de ativistas para libertá-lo. Produzido pela Plan B, empresa de Brad Pitt, em parceria com o serviço de streaming, o filme também traz em seu elenco os atores Jake Gyllenhaal (“O Abutre”), Lily Collins (“Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos”), Paul Dano (“12 Anos de Escravidão”), Devon Bostick (série “The 100”), Steven Yeun (série “The Walking Dead”) e a dupla Byeon Hie-bong e Yun Je-mun, que trabalhou com o diretor em vários filmes, entre eles “O Hospedeiro” (2006), primeiro filme de monstros de Bong Joon Ho. “Okja” estreia em streaming no dia 28 de junho.
Okja: Nova fantasia do diretor de Expresso do Amanhã ganha vídeo legendado e pôsteres de personagens
A Netflix divulgou sete pôsteres de personagens e um vídeo legendado de “Okja”, novo filme do diretor Bong Joon Ho (“Expresso do Amanhã”). A prévia destaca a protagonista da trama, a pequena Ahn Seo Hyun, que, como mostra o vídeo, enfrenta qualquer obstáculo para encontrar seu bicho de estimação, a simpática criatura do título. Apesar de ter apenas 13 anos, a atriz sul-coreana tem uma dezena de títulos em seu currículo, inclusive o drama premiado “A Empregada” (Hanyo, 2010). Na trama, Okja é uma espécie de “superporco” criado em laboratório pela empresa Mirando, dirigida pela personagem de Tilda Swinton (“Doutor Estranho”), com o objetivo de acabar com a fome mundial. O problema é que o bicho é fofo demais e vira o animal de animação de uma garotinha, que se desespera ao vê-lo ser levado para o abatedouro e se junta a um grupo de ativistas para libertá-lo. A produção está a cargo da Plan B, empresa de Brad Pitt, em parceria com o serviço de streaming, e o elenco também conta com Jake Gyllenhaal (“O Abutre”), Lily Collins (“Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos”), Paul Dano (“12 Anos de Escravidão”), Devon Bostick (série “The 100”), Steven Yeun (série “The Walking Dead”) e a dupla Byeon Hie-bong e Yun Je-mun, que trabalhou com o diretor em vários filmes, entre eles “O Hospedeiro” (2006), primeiro filme de monstros de Bong Joon Ho. Exibido no Festival de Cannes 2017, entre vaias de protesto contra a participação da Netflix no evento e elogios da crítica internacional, “Okja” estreia em streaming no dia 28 de junho.
Elenco de Okja avisa: “A Netflix vai mudar o mundo”
O elenco de “Okja”, um dos filmes produzidos pela Netflix no Festival de Cannes, deu uma entrevista arrojada para o site Deadline. Lily Collins (“Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos”), Paul Dano (“12 Anos de Escravidão”), Giancarlo Esposito (série “Breaking Bad”) e Steven Yeun (série “The Walking Dead”) falaram com muito mais empolgação sobre o que a Netflix representa para o futuro do cinema do que na entrevista coletiva oficial. “A Netflix vai mudar o mundo”, disse candidamente Esposito. Os atores apontaram que o principal diferencial não está no lugar onde filme do sul-coreano Bong Joon Ho será visto, mas como ele foi feito e quantas pessoas o verão. “Bong Joon Ho só conseguiria realizar esse filme do jeito que fez porque teve completa liberdade. Esta é maior mensagem que se tira disso”, avaliou Yeun. “Como cineasta, você quer que seu filme seja visto pelo maior número de pessoas e no maior quantidade de lugares em que for possível. E para este filme, ser feito como uma produção de baixo orçamento para uma exibição durante um mês, não seria o suficiente. Este é um grande filme visionário e graças a Deus que alguém apareceu e cobriu os valores para ele ser realizado”, completou Esposito. No encontro com a imprensa internacional, o diretor já tinha relatado como trabalhar com o serviço de streaming tinha sido uma experiência positiva, sem mencionar o sofrimento que passou com sua produção cinematográfica anterior. Para quem não lembra, “O Expresso do Amanhã” sofreu adiamentos sucessivos e ameaças do produtor Harvey Weinstein, que queria cortar o filme para que ficasse num tamanho que pudesse render mais sessões em salas de cinema. “A Netflix me deu um orçamento excepcional e total liberdade de criação, desde o roteiro à edição. Nunca interferiram no projeto. Não senti qualquer pressão deles, mesmo trabalhando em um filme que seria desaconselhável para menores de 13 anos”, comparou Joon Ho. Esposito demonstra otimismo em relação à convivência da Netflix e o parque de exibidor. Para isso, porém, algumas concessões precisarão ser feitas, principalmente por parte do circuito cinematográfico. Janelas como as da França, que exigem intervalo de três anos entre a exibição nas salas e a disponibilização em streaming, são superprotecionistas e já atuam contra os interesses dos próprios estúdios de cinema no mundo atual. “Acredito que, no futuro, encontraremos um meio termo feliz, onde os filmes serão exibidos por um período de tempo nos cinemas franceses, e é preciso resolver isso, pois nem os cinemas nem a Neflix vão sumir. Eles nos dão a oportunidade de ver filmes onde quisermos, como quisermos, inclusive no conforto das nossas casas, e a forma como a Netflix faz isso vai mudar o mundo”. “O jeito como os filmes são vistos já mudou muito ao longo dos anos e continua a mudar. Estar aqui, no meio de uma conversa tão intensa sobre mudanças, é interessante e uma honra”, conclui Lily Collins. Veja abaixo o vídeo com a entrevista completa com os atores do filme. Além deles, a produção ainda inclui Tilda Swinton (“Doutor Estranho”), Jake Gyllenhaal (“O Abutre”), Devon Bostick (série “The 100”) e a dupla Byeon Hie-bong e Yun Je-mun, que trabalhou com o diretor em vários filmes, entre eles “O Hospedeiro” (2006), primeiro filme de monstros de Bong Joon Ho.
Okja: Filme da Netflix no Festival de Cannes ganha trailer legendado
A Netflix divulgou o pôster e o trailer legendado de “Okja”, novo filme do diretor Bong Joon Ho (“Expresso do Amanhã”). A prévia apresenta a simpática criatura de seu título, uma espécie de “superporco” criado em laboratório pela empresa Mirando, dirigida pela personagem de Tilda Swinton (“Doutor Estranho”), para acabar com a fome mundial. O problema é que o bicho é fofo demais e vira o animal de animação de uma garotinha, que se desespera ao vê-lo ser levado para o abatedouro e se junta a um grupo de ativistas para libertá-lo. Não faltam cenas de ação na tentativa de resgate. A produção está a cargo da Plan B, empresa de Brad Pitt, em parceria com o serviço de streaming, e o elenco também conta com Jake Gyllenhaal (“O Abutre”), Lily Collins (“Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos”), Paul Dano (“12 Anos de Escravidão”), Devon Bostick (série “The 100”), Steven Yeun (série “The Walking Dead”) e a dupla Byeon Hie-bong e Yun Je-mun, que trabalhou com o diretor em vários filmes, entre eles “O Hospedeiro” (2006), primeiro filme de monstros de Bong Joon Ho. Exibido no Festival de Cannes 2017, entre vaias de protesto da crítica francesa e elogios da crítica internacional, “Okja” vai chegar na Netflix no dia 28 de junho.
Netflix estreia em Cannes sob vaias e vontade de aplaudir
A estreia de “Okja” no Festival de Cannes foi histórica. A primeira produção da Netflix foi recebida, na sessão para a imprensa, com vaias da crítica, que começaram quando o logotipo da empresa apareceu na tela. Brasileiros poderiam brincar que o filme é golpista. Mas a crítica de Cannes é que é elitista. O protesto aconteceu porque “Okja” não será exibido nos cinemas franceses, ganhando um lançamento direto em streaming. Para completar o incômodo, a projeção teve problemas técnicos e gerou ainda mais vaias, precisando ser interrompida e recomeçar. Adeptos de teorias conspiratórias já imaginaram sabotagem. Mas o diretor sul-coreano Bong Joon Ho adorou, dizendo que o acidente permitiu à imprensa ver duas vezes a abertura. Vale observar que a segunda projeção veio sem vaias. E, ao final da sessão, houve constrangimento em relação ao que fazer. Afinal, como se veria mais tarde, todos queriam aplaudir. Joon-Ho não quis entrar em polêmicas. Declarando-se fã de Pedro Almodóvar, presidente do júri da competição deste ano, que lamentou a inclusão de filmes da Netflix no festival, o sul-coreano se disse satisfeito pelo simples fato de “Okja” ser visto. “Não importa o que aconteça com o filme, que falem bem ou mau dele, para mim está ok”. “Não viemos para Cannes para ganhar prêmios, mas para mostrá-lo ao mundo, e o festival é uma tela importante. Acho que, em muitos assuntos, há espaço para todo mundo”, emendou Tilda Swinton, que vive a vilã da trama. A atriz completou seu raciocínio com um comentário fulminante sobre os protestos. “Há dezenas de filmes exibidos em Cannes que não serão exibidos em cinemas de muitos países do mundo. Na verdade, temos que agradecer o apoio que a Netflix tem dados aos realizadores”, apontou. Também presente à entrevista coletiva, o ator Jake Gyllenhaal ecoou a colega. “A plataforma de um filme, a partir de onde ele pode alcançar o público para comunicar sua mensagem, é realmente importante. É extraordinário quando um filme atinge uma pessoa, que dirá milhões de pessoas. É bom espalhar a arte da forma que for possível. Mas claro que o debate sempre é fundamental”, completou. Por fim, o diretor falou sobre sua experiência de trabalhar com o serviço de streaming, após ter sofrido com adiamentos sucessivos e ameaças do produtor Harvey Weinstein, que queria cortar seu filme anterior, “O Expresso do Amanhã”, para que ficasse num tamanho que pudesse render mais sessões nas tais salas de cinema idolatradas pela crítica cannina. “A Netflix me deu um orçamento excepcional e total liberdade de criação, desde o roteiro à edição. Nunca interferiram no projeto. Não senti qualquer pressão deles, mesmo trabalhando em um filme que seria desaconselhável para menores de 13 anos”, comparou Joon Ho. O filme é uma fábula sobre o crescimento, com inspiração no cinema de Steven Spielberg e Hayao Miyazaki, e gira em torno da amizade entre uma menina (An Seo Hyun) e seu animal de estimação, a Okja do título. O detalhe é que o bicho pertence a uma espécie nova, um “super porco” desenvolvido em laboratório, que uma grande corporação, a Mirando, liderada pela personagem de Tilda Swinton, criou para ser estrela de uma campanha promocional contra a fome mundial – e abater. E para salvar seu amigo, a menina contará com apoio de um grupo radical de proteção dos animais comandado por Paul Dano. Jake Gyllenhaal participa como um biólogo contratado para dar uma aparência de comprometimento ético à Mirando. A trama sugere uma aventura infantil, e há instantes de comédia pastelão, mas também exibe cenas de violência gráfica pouco aconselháveis para crianças. Ou, pelo menos, é assim que o cérebro ocidental o processa, num curto-circuíto de intensões. Mas, apesar dos atores conhecidos de Hollywood, a produção não é ocidental. Tanto Joon Ho como Tilda Swinton abordaram a influência dos longas animados do diretor japonês Hayo Miyazaki na trama. “Quando se faz um filme sobre vida e natureza, é difícil não pensar em Miyazaki”, admitiu o diretor. “Há algo nos filmes de Miyazaki que vão para além da questão da nossa relação emocional com o meio ambiente. Eles também aludem a outro ambiente, o da infância, que é um lugar pra onde podemos ir”, aprofundou a atriz. E assim, após vaias, “Okja” sutilmente trouxe o cinema para dentro da discussão. E os críticos se interessou em esmiuçar essas referências, em resenhas assombrosamente positivas. “Glorioso” e “um grande prazer”, definiu o jornal The Guardian. “Seriamente gratificante”, elogiou a revista “Time Out. “Uma fábula alucinada tão cheia de propósito quanto imprevisível”, apontou a New York Magazine. “Esta produção da Netflix pertence à tela grande”, concluiu a Variety. Para o bem e para o mal, a Netflix estreou em Cannes.









