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Cidade Invisível é renovada para 2ª temporada
A Netflix anunciou a renovação da série brasileira “Cidade Invisível” para a 2ª temporada. O anúncio veio acompanhado por um vídeo com Marco Pigossi, protagonista da atração, revelando pedidos dos assinantes para a trama continuar. Criada pelo diretor Carlos Saldanha, que estreia no comando de uma obra em live-action após dirigir as animações das franquias “A Era do Gelo”, “Rio” e “O Touro Ferdinando”, “Cidade Invisível” traz Pigossi no papel do detetive Eric, da Delegacia de Polícia Ambiental. Após encontrar um estranho animal morto em uma praia carioca, o policial descobre um mundo habitado por entidades míticas normalmente invisíveis aos seres humanos. A trama explora figuras do folclore nacional, como a Cuca, interpretada pela atriz Alessandra Negrini, e ficou na lista de conteúdos mais vistos em cerca de 40 países. Mas foi acusada por ativistas de “apropriação cultural”, por desconstruir figuras da religiosidade indígena, afastando-os de suas raízes para apresentá-las como “criaturas”, sem dar espaço para atores nativos interpretá-las. Ao mesmo tempo em que comemorou o sucesso internacional da atração, Carlos Saldanha disse, em comunicado, que está levando todas as críticas em consideração para a 2ª temporada. “É uma alegria enorme ver um produto nosso, do Brasil, chegar a tantas partes do mundo e agradar a tantas pessoas. Recebi muitos comentários, li bastante sobre o que as pessoas desejam para a continuação, e estou levando tudo em consideração para trazer ao público uma sequência bacana”, ele afirmou. A 2ª temporada vai explorar outra região do Brasil, possivelmente a Amazônia, e contará com novos personagens, após uma temporada no Rio de Janeiro. O elenco ainda não estaria confirmado para os novos episódios. Segundo Haná Vaisman, gerente de conteúdo de Séries Originais Brasileiras da Netflix, a representatividade será uma das preocupações para a próxima etapa da produção. A data de estreia dos novos episódios ainda não foi agendada. Talvez vocês fiquem hipnotizados pelos olhos de @marcopigossi e não consigam entender muito bem o que ele tá falando, então vou reforçar aqui: a segunda temporada de Cidade Invisível está CONFIRMADA ❤️ pic.twitter.com/BID0h2mYSR — netflixbrasil (@NetflixBrasil) March 2, 2021
Cidade Invisível é acusada de apropriação cultural
Elogiado pela crítica internacional e alvo de tuítes apaixonados em várias línguas, a série brasileira “Cidade Invisível” alterna seu sucesso atual com a acusação de cometer apropriação cultural. “Cidade Invisível” rendeu controvérsia pela falta de representatividade indígena em sua produção, na frente e atrás das câmeras. Como os personagens do folclore brasileiro apresentados na atração se baseiam em lendas e crenças nativas, chamou atenção a quantidade de intérpretes, produtores e roteiristas brancos envolvidos no projeto, entre eles o cineasta Carlos Saldanha (diretor das animações “Rio” e “O Touro Ferdinando”) em contraste com a completa ausência de representantes da cultura retratada. Até o Boto-Cor-de-Rosa, chamado de Manaus, é interpretado por um ator branco, enquanto Iara, a sereia de nome tupi, emerge quase Iemanjá com a pele negra em streaming. Entre vários outros, Fabrício Titiah, ativista da tribo Pataxó HãHãHãe, exaltou a qualidade da produção da Netflix, mas isso só teria tornado maior a oportunidade perdida. “É uma grande produção nacional, uma pena que erraram. Faltou estudar mais e ser respeitoso. Eu e outros parentes podemos contar a história que realmente representa as tradições originárias, a representatividade já começa aí”. “Há uma diferença muito grande entre exaltar uma produção nacional e colaborar para a venda da imagem de um Brasil onde a cultura sagrada de um povo é tratada como uma fantasia exótica. Reforçando pensamentos equivocados que os gringos tem sobre nossa cultura”, ele continuou, no Twitter. “Para nós que já vimos e sentimos a Mãe D’água e a Dona da Mata (Kaapora), ver como a série retratou nossos protetores foi agoniante. E ainda sem nenhum protagonismo indígena”, completou. A comunicadora Alice Pataxó também reclamou no Twitter que “é uma grande problemática tratar de ‘folclore’ Br, crenças e culturas indígenas sem protagonismo Indígena”. E exemplificou porque os equívocos são inevitáveis sem a participação nativa na construção de histórias de sua própria cultura. Porque os roteiristas brancos ao fazer “a apresentação dessas divindades, falam de seres e culturas que desconhecem, ou como em outras obras, se baseiam na Wikipedia”. “Até quando se trata de nós, somos os últimos a sermos lembrados e procurados, essa poderia ter sido uma oportunidade incrível de indígenas nas telinhas, mas a apropriação virou primeira opção”, ela refletiu. Apesar de manifestações mais radicais — como protestos por o Saci refletir o garoto negro eternizado pela literatura de Monteiro Lobato e não o mito indígena — , as reclamações apontam um problema recorrente nas produções brasileiras, que precisa ser escancarado e enfrentado, e nesse sentido é mais que válida, necessária mesmo, a pressão das redes sociais. Basta lembrar que a falta de representatividade chegou ao ponto de, no ano passado, uma roteirista branca ter ficado à frente de um especial em homenagem ao Dia da Consciência Negra. Infelizmente, produtores e executivos de canais e plataformas não parecem dar importância para estes “detalhes” no país em que muitos dizem não existir racismo e sim militância de esquerda. Mas oportunidade, representatividade e correção cultural não são apenas slogans. São emprego, visibilidade e educação. Há uma diferença muito grande entre exaltar uma produção nacional e colaborar para a venda da imagem de um Brasil onde a cultura sagrada de um povo é tratada como uma fantasia exótica. Reforçando pensamentos equivocados que os gringos tem sobre nossa cultura. — Fabrício HãHãHãi VACINADO (@fabriciotitiah) February 15, 2021 #CidadeInvisivel Primeiro, não são fantasias, são nossos Encantados, nosso sagrado, nossos protetores. Para nós que já vimos e sentimos a Mãe D'água e a Dona da Mata (Kaapora), ver como a série retratou nossos protetores foi agoniante. E ainda sem nenhum protagonismo indígena. — Fabrício HãHãHãi VACINADO (@fabriciotitiah) February 14, 2021 Até quando se trata de nós, somos os últimos a sermos lembrados e procurados, essa poderia ter sido uma oportunidade incrível de indígenas nas telinhas, mas a apropriação virou primeira opção. — Alice Pataxó🏹 (@alice_pataxo) February 15, 2021 É importante entender que cobrar representatividade e posicionamento antirracista não é apenas quando esse movimento está em alta, todos os dias nossas culturas são usurpadas e incorporadas ao status brasileiro, enquanto nós somos excluídos. — Alice Pataxó🏹 (@alice_pataxo) February 15, 2021
Disney é acusada de apropriação cultural com O Rei Leão
O ativista Shelton Mpala, natural do Zimbábue, criou uma petição no site Change.org para protestar contra a Disney, que teria se apropriado da frase “Hakuna Matata”. O título da famosa canção entoada por Timão e Pumba em “O Rei Leão”, clássico animado de 1994, é comum na língua africana suaíli, e significa “sem problemas”, ou “sem preocupações”. Para Mpala, o problema não é o uso da frase, que está contextualizada, mas o fato de a Disney ter registrado direitos autorais sobre ela. “Junte-se a nós para dizer não à Disney ou a qualquer corporação e indivíduo que tente clamar direitos autorais sobre uma frase que eles não inventaram”, escreve Mpala na petição. “‘Hakuna Matata’ é uma frase usada pela maioria dos povos e países que falam suaíli”. Entrevistado pela BBC, o ativista afirmou que cidadãos de diversos países africanos se mostraram “chocados” quando souberam que a Disney havia se apropriado da frase. “É mais um exemplo de como a África é explorada”, completou. O professor de linguística queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, que ensina na Universidade da Califórnia, também foi ouvido pela reportagem da BBC e disse apoiar a petição de Mpala. “Seria como se eu tentasse clamar direitos autorais pela frase ‘good morning’ [‘bom dia’, em inglês]. É uma frase comum, usada todos os dias. Nenhuma empresa pode ter direitos sobre ela”, comentou. A Disney conseguiu aprovar o registro dos direitos autorais sobre “Hakuna Matata” em 2003, mas a discussão foi reascendida pela aproximação do lançamento da nova versão de “O Rei Leão”, que chega aos cinemas em 2019. O remake, que usará animais criados por computação gráfica, tem direção de Jon Favreau (“Mogli, o Henino Lobo”) e vai recriar algumas das cenas musicais mais marcantes do desenho original, incluindo “Hakuna Matata”.
Zac Efron é acusado de “apropriação cultural” por foto com dreadlocks
O ator Zac Efron (“Baywatch”) postou uma foto em seu Instagram apresentando um novo visual, que dividiu opiniões. A imagem traz Efron com dreadlocks no cabelo. “Apenas por diversão”, ele escreveu na legenda. A postagem, que já teve mais de 1,4 milhão de curtidas, rendeu quase 17 mil comentários, com muitos usuários acusando o ator de “apropriação cultural”. “Honestamente, ele pode ter dread, mas não deve ser algo por ‘diversão’. Deveria ser porque ele conhece a significância cultural e está se juntando à cultura ao virar rastafari”, escreveu um usuário. “Vocês devem perceber que os dreadlocks têm uma importância cultural e religiosa. Então, não é apenas arrumar o cabelo”. Uma garota retrucou o comentário anterior. “Mas Kim Kardashian e o seu clã têm trancinhas e tudo bem? Apropriação cultural é quando alguém tira sarro de uma cultura. Não há nada de errado em tentar algo novo… além disso, dreads possuem diversos significados no seu lugar de origem”. Outro ainda ironizou: “Não temos nada mais importante para nos preocupar que os cabelos de alguém???” A “guerra de comentários” que começou na foto segue crescendo, mas o ator ainda não se pronunciou sobre o assunto. Just for fun ? Uma publicação compartilhada por Zac Efron (@zacefron) em 5 de Jul, 2018 às 10:24 PDT
Patrulha ideológica exagera e critica “língua dos cachorros” no novo filme de Wes Anderson
Toda a mudança de paradigma tende a ser traumática. E se Hollywood ainda está atordoada com as críticas contra o embranquecimento que sempre fez de personagens africanos, asiáticos e árabes, a patrulha ideológica também é capaz de se empolgar demais e cair no ridículo. Lançamento deste fim de semana nos Estados Unidos, “Ilha de Cachorros”, o novo filme de Wes Anderson, está sendo criticado por causa da língua falada pelos cachorros na trama. É sério. O crítico de cinema Justin Chang, do Los Angeles Times, que tem ascendência oriental, foi quem levantou a bola e alguns ativistas que defendem maior representação asiática em Hollywood entraram no jogo reclamando de pênalti no meio do campo. “Ilha de Cachorros” é uma animação em stop-motion, em que Anderson presta homenagem à cultura japonesa, em especial aos filmes de Akira Kurosawa. Curiosamente, inclui em seu elenco Bill Murray e Scarlett Johansson, que estrelaram “Encontros e Desencontros” (2003), passado no Japão e bastante elogiado – embora alguns já tenham visto problemas no olhar americano do filme sobre clichês japoneses. O trabalho de Anderson foi premiado no Festival de Berlim 2018, onde ninguém criou caso. Mas virou polêmica ao chegar aos cinemas americanos, a ponto de gerar acusações de “apropriação cultural” contra o diretor. Algumas opções estéticas do filme renderam controvérsia. O questionamento mais politizado é: Pode um cineasta americano branco fazer um “filme japonês”? Ninguém questionou o mesmo cineasta americano quando ele fez seu “filme europeu”, “O Grande Hotel Budapeste” (2015), premiado com quatro Oscars. Não houve polêmica. Nem rende questionamento o costume de cineastas japoneses, chineses, russos, brasileiros irem a Hollywood dirigir filmes americanos. Não acham controverso. Outro ponto: o fato de “Ilha de Cachorros” se passar no Japão, incluir personagens japoneses e referenciar Kurosawa torna o filme de Anderson uma “apropriação cultural” maior que o “Godzilla” americano ou o filme dos kaiju (que nem traduz a referência) “Círculo de Fogo: A Revolta”, também lançado neste fim de semana? “Transformers” não é apropriação cultural? “Power Rangers” é 100% americano? E os desenhos animados inspirados em animes, como “Os Jovens Titãs em Ação”? Deve-se fingir que não se vive num mundo globalizado, com internet, e voltar à época do Muro de Berlim? Ir mais adiante, odiar a miscigenação e defender culturas puras e o extremismo nacionalista, que originaram o nazismo? Afinal, o que já produziu de original a cultura branca americana? Nem a música country, que é inspirada pelo folk irlandês, sem falar do jazz e do rock, de origens negras. Mas o questionamento troca a lógica pelo surrealismo ao adentrar o debate sobre o idioma falado pelos cachorros. Os ativistas não podem reclamar que Anderson contratou americanos para dublar personagens japoneses, já que 90% dos personagens humanos foram dublados por atores do Japão – e Yoko Ono! Entretanto, os protagonistas do filme são cachorros. E eles foram dublados por americanos. Os humanos falam japonês e os cachorros inglês. E isto virou um problema, porque o destaque dado aos cachorros representaria como os ocidentais se impõem sobre outras culturas. Por conta disso, os bichos deveriam falar… bom, qual é a língua correta para se dublar um cachorro? Auaustraliano, auaustríaco? O fato de Pantera Negra ter feito sucesso como um filme de herói negro dirigido por um cineasta negro e Mulher-Maravilha como um filme de heroína dirigido por uma cineasta mulher tem um lado obscuro, que é a sugestão de que o cinema deveria criar guetos. Nesta lógica politicamente correta, um filme como “Ilha de Cachorros” deveria ser dirigido e estrelado apenas por japoneses – azar de Anderson, que concebeu tudo, por ter nascido no país errado. Deve-se proibir, então, Martin Scorsese de fazer “Silêncio”? “Apocalypse Now” deve ser queimado à Fahrenheit 451, por colocar um coronel americano como líder de um exército asiático? Angelina Jolie seria a pior de todos por só filmar em outras línguas e refletir culturas estrangeiras? No extremo, todos os cineastas que filmaram a vida de Jesus são culpados de apropriação cultural, por não terem nascido em Israel? Quem patrulha não percebe, mas incentiva o oposto do que defende. Aquilo que tem aparência de avanço no microscópio, permitindo maior expressão às minorias, também pode se revelar um enorme atraso no telescópio. Ou seja, o “avanço” politicamente correto embute a tendência, em uma análise reversa, de segregar minorias no seu mundinho – forçar cineastas negros a só filmar filmes de temática negra, por exemplo. Isto é reducionista, impede diferentes pontos de vistas, limita conversações e não deveria ser um ideal almejado. Há um limite sensato, que a prática tende a estabelecer. Marlon Brando de olhinhos puxados é ofensivo. Cachorros que falam inglês, por outro lado, está errado porque… pastores alemães falam alemão? Não.





