Suposto vídeo íntimo de Marcelo Adnet vaza na internet
Um suposto vídeo íntimo de Marcelo Adnet teria vazado na internet. As imagens viriam de uma webcam e mostrariam o humorista se masturbando. A revelação foi feita pelo colunista Léo Dias, que descreveu o material. De acordo com o colunista do jornal O Dia, o vídeo mostra o ator do “Tá no Ar” fazendo caras e bocas e, depois de um corte, um homem do pescoço para baixo se masturbando. Não fica claro se há uma montagem entre o começo e o fim da reprodução. O feed dura 15 minutos e teria sido feito para uma mulher chamada Daniela C. Paula. A assessoria de imprensa de Adnet ainda não comentou o vazamento. O ator atualmente mora com a namorada Patrícia Cardoso, após se separar de sua mulher, a também comediante Dani Calabresa, em abril de 2017. O fim do casamento de sete anos aconteceu após flagras de supostos casos extraconjugais do humorista.
Comercial legendado de Cinquenta Tons Mais Escuros anuncia a pré-venda de ingressos
A Universal divulgou um novo comercial da continuação de “Cinquenta Tons de Cinza”, que anuncia o início da pré-venda de ingressos, entre cenas do reencontro romântico entre Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan). Dirigido por James Foley (série “House of Cards”), “Cinquenta Tons Mais Escuros” estreia em 10 de fevereiro de 2017, às vésperas do Dia dos Namorados no hemisfério norte. No Brasil, o lançamento acontece seis dias depois, em 16 de fevereiro.
Em duas semanas, Rogue One se torna a 3ª maior bilheteria do ano nos EUA
Bastaram apenas 14 dias, também conhecidos como duas semanas, para “Rogue One: Uma História Star Wars” se tornar a terceira maior bilheteria do ano nos EUA. Nesta sexta-feira (30/12), o filme alcançou US$375 milhões de bilheteria doméstica, ficando atrás apenas de “Capitão América: Guerra Civil” (US$ 408 milhões) e “Procurando Dory” (US$ 486 milhões) no ranking do país. Em todo o mundo, o prólogo de “Guerra nas Estrelas” (1977) está com uma arrecadação de US$ 653,8 milhões, ainda fora do Top 10 dos principais blockbusters do ano. Mas isto deve mudar até domingo (1/1).
IndieLisboa chega aos 15 anos apontando tendências
Um dos maiores eventos de cinema alternativo de Portugal, o festival IndieLisboa terminou este final de semana sua 15ª edição. Entre curtas e longas-metragens, foram exibidos quase 300 filmes ao longo de 11 dias e em quatro espaços principais. O prêmio principal do júri coube ao filme chinês “The Family”, de Shumin Liu, uma obra com mais de quatro horas de duração que tem sido descrita com uma espécie de versão do clássico de Yasujiro Ozu “Era uma vez em Tóquio”. O brasileiro “Mate-me por Favor”, de Anita Rocha da Silva, também concorria à distinção. Ao longo de 15 anos, o festival deixou para trás sua origem humilde, de pequenos ciclos de cinemas de autor entre entusiastas, organizados num mítico e bolorento espaço hoje desaparecido da capital portuguesa – o Cine Estúdio 222. Hoje, segundo dados de um dos diretores e programadores, Carlos Ramos, o IndieLisboa reúne anualmente entre 30 e 40 mil espectadores, gozando de um hype único na cidade. A homenagem principal, na seção Herói Independente, coube ao holandês Paul Verhoeven, de prestígio recentemente “recuperado” pela (ainda) influente revista Cahièrs du Cinema. Já não era sem tempo: Verhoeven, cujo novo filme terá première mundial no Festival de Cannes, beneficiou-se de uma retrospetiva completa onde se puderam visualizar as ousadias temáticas de um cineasta que nunca deixou de ser “indie”, mesmo com grandes sucessos no mainstream. Mas dada a idade avançada (77 anos) e a estreia de “Elle” em Cannes, que inicia em dez dias, ele não pôde comparecer ao evento. O outro homenageado foi o ator francês Vincent Macaigne, presença assídua na produção alternativa do seu país. Já entre as obras mais “midiáticas” e fora de competição estiveram filmes como a aventura militante-feminista de Mia Hansen-Love “L’Avenir” (filme de encerramento) e uma comédia de época de um dos darlings indies, Whit Stilman, “Love & Friendship” (sessão de abertura). O cinema brasileiro teve boa presença: além do filme citado, os lisboetas lotaram a sala para ver “Boi Neon” (exibido fora de competição), mais um ponto para o espantoso currículo do filme de Gabriel Mascaro estreado em Veneza (setembro de 2015). As coproduções também apareceram, seja em bom nível – com o novo filme de Petra Costa (realizado em parceria com Lea Glob), “O Olmo e a Gaivota” – ou nem tanto, como com “Eu Estive em Lisboa e Lembrei de Você”, de José Barahona, filme com vários momentos de amadorismo. De uma maneira muito geral, as misturas de documentário e ficção (ou “ficção do real”, como chamam alguns por aqui) mostram-se uma das abordagens preferidas do festival – seguindo tendências dos eventos internacionais por onde passaram muitas das obras exibidas – caso de Veneza, Sundance e Berlim (particularmente a seção Fórum). A competição internacional do festival não faz distinção entre ficção e documentário, o que cada vez mais se justifica com a predominância dos docudramas nos últimos anos. Houve obras de não-ficção mais tradicionais: em “Flotel Europa” o bósnio Vladimir Tomic faz uma reconstituição da dramática crise de refugiados da guerra do seu país, em 1992, através das filmagens em VHS utilizadas pelos seus amigos e familiares quando foram alojados pelos dinamarqueses no navio que dá nome ao filme. Já em “Kate Plays Christine”, de Robert Greene, que venceu o Prêmio Especial do Júri, é o próprio trabalho de criação que está em questão, mostrando uma atriz preparando-se para viver a trágica figura de uma apresentadora que se suicidou em pleno ar, em 1974. O filme é feliz no retrato do trabalho da construção de uma personagem, mas falha ao dar enorme tempo a pessoas que não fazem a menor ideia de sobre o que estão falando. A mistura de formatos é mais notória em “O Olmo e a Gaivota”, filme que, curiosamente, recebeu o prêmio de Melhor Documentário no Festival do Rio – quando traz, manifestamente, várias situações e diálogos “inventados” para mostrar os desafios da maternidade da sua protagonista. O fato só demonstra o grande embaralhamento dos formatos. Este retrato agridoce da gravidez ficou na lista final como um dos prediletos do público. Em outro destaque da tendência, “In the Last Days of the City”, o egípcio Tamer el Said filmou os tempos antes, durante e depois a Primavera Árabe no Cairo, misturando memória coletiva com invenção, na trajetória de um diretor que tenta fazer um filme sobre a sua família. Por sua vez, o cineasta Roberto Minervini já anda há muito nesta fronteira – desde seu primeiro filme, o belo “Low Tide” (2012). Em “Lousiana – The Other Side” ela volta a um registo semi-documental mostrando o lado negro da América profunda com os seus junkies e chauvinistas políticos do sul. O resultado é intenso. Os ciganos, uma das minorias étnicas mais excluídas da Europa, surgem também no limite da ficção no drama austríaco “Brüder der Nacht” (os protagonistas são reais) e no registro humorístico “Balada de um Batráquio”, curta-metragem documental de “ação” (os “protagonistas” saem invadindo lojas e quebrando sapos de porcelana, símbolo do preconceito, pelas ruas de Lisboa) que rendeu o Urso de Ouro na categoria na última edição do Festival de Berlim. O prêmio da crítica, porém, foi para o norte-americano “Short Stay”, do estreante Ted Fendt, que repesca as noções do “mumblecore”, um dos patriarcas destas tendências de mesclagem de gêneros (o primeiro filme é de 2002), com pobreza de recursos total e atores não profissionais O IndieLisboa também fez um belo apanhado das novas tendências do terror. Há quem associe cinema de terror com execráveis franquias sem qualquer interesse ou qualidade. Mas os não-neófitos bem sabem que muita coisa de valor pode ser feita sob a gigantesca capa do selo “horror”. Não muito respeitosamente, Anita Rocha foi buscar elementos dos slashers mas, menos obviamente, em filmes de terror onde os signos visuais agressivos (sangue, cadáveres) são espelhos do mundo interior para o seu “Mate-me por Favor” – onde o simbolismo serve para retratar o tumultuado processo de coming-of-age da sua protagonista. Mais sutil é “Evolution”, aliás um filme tão etéreo que beira a evanescência. Aqui a francesa Lucille Hadzihalilovic recupera histórias de crianças sinistras e ilhas semi-desertas para fazer um comentário, justamente, sobre a evolução. “A Bruxa”, de Robert Eggers, há pouco tempo estreado no Brasil, investe pelo caminho da reconstituição histórica e no mergulho na mentalidade de uma época, com cuidados redobrados no trabalho de décor deste antigo diretor de arte. Deu certo: do burburinho de Sundance, a bruxa segue assombrando salas e festivais ao redor do mundo… Uma última menção ainda vale para “Sociedade Indiferente” (título que no Brasil se achou mais interessante que “Um Monstruo de Mil Cabezas”), de Rodrigo Plá: somado a outros filmes, fez parte de uma das sessões mais originais e instigantes do IndieLisboa: a Boca do Inferno! Confira abaixo a lista completa dos filmes premiados Vencedores do IndieLisboa 2016 Grande Prêmio de Longa Metragem Cidade de Lisboa Jia/The Family, de Shumin Liu (Austrália, China) Prêmio Especial do Júri Kate Plays Christine, de Robert Greene (EUA) Prêmio do Público de Longa Metragem Le Nouveau, de Rudi Rosenberg (França) Grande Prêmio de Curta Metragem Nueva Vida, de Kiro Russo (Argentina, Bolívia) Prêmio do Público – Curta Metragem Small Talk, de Even Hafnor, Lisa Brooke Hansen (Noruega) Menção Especial de Animação Velodrool, de Sander Joon (Estônia) Menção Especial de Documentário La Impresión de una Guerra, de Camilo Restrepo (Colômbia, França) Menção Especial de Ficção Another City, de Lan Pham Ngol (Vietnã) Melhor Longa Metragem Português Treblinka, de Sérgio Tréfaut (Portugal) Melhor Curta Metragem Português The Hunchback, de Gabriel Abrantes, Ben Rivers (Portugal, França) Prêmio Novo Talento Fnac – Curta Metragem Campo de Víboras, de Cristèle Alves Meira (Portugal) Menção Honrosa Viktoria, de Mónica Lima (Alemanha, Portugal) Prêmio FCSH/NOVA para Melhor Filme na secção Novíssimos Maxamba, de Suzanne Barnard, Sofia Borges (Portugal, EUA) Prêmio RTP para Longa Metragem na Secção Silvestre Eva no Duerme, de Pablo Agüero (França) Prêmio FIPRESCI (Primeiras Obras) Short Stay, Ted Fendt (EUA) Prêmio Format Court (Silvestre Curtas) World of Tomorrow, de Don Hertzfeldt (EUA) Prêmio Árvore da Vida para Filme Português Ascensão, de Pedro Peralta, Portugal Prêmio Árvore da Vida – Menção Honrosa Jean-Claude, de Jorge Vaz Gomes (Portugal) Prêmio IndieJúnior Le Nouveau, Rudi Rosenberg (France) Prêmio do Público – IndieJúnior The Short Story of a Fox and a Mouse, de Camille Chaix, Hugo Jean, Juliette Jourdan, Marie Pillier, Kevin Roger (França) Prêmio Amnistia Internacional Flotel Europa, de Vladimir Tomic (Dinamarca, Sérvia) Prêmio Amnistia Internacional – Menção Honrosa Balada de Um Batráquio, de Leonor Teles (Portugal) Prêmio Culturgest Universidades Flotel Europa, de Vladimir Tomic (Dinamarca, Sérvia) Prêmio Culturgest Escolas Le Gouffre, de Vincent Le Port (França) Prêmio IndieMusic Schweppes Sonita, de Rokhsareh G. Maghami (Alemanha, Suíça, Irã)
Novo filme do diretor de O Som ao Redor vai disputar a Palma de Ouro em Cannes
O filme “Aquarius”, segundo longa-metragem do diretor Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), foi selecionado para a competição principal do Festival de Cannes. A organização do festival anunciou a seleção dos candidatos à Palma de Ouro na manhã desta quinta (14/4). Rodado em Recife, a trama é estrelada por Sonia Braga, no papel de uma viúva rica em guerra contra uma construtora que quer desaloja-la do apartamento onde vive. A seleção de “Aquarius” se segue à enorme repercussão alcançada pela estreia em longa-metragem do cineasta, “O Som ao Redor”, que correu o mundo, teve bom desempenho nas bilheterias nacionais, conquistou diversos prêmios e terminou por ser o candidato brasileiro ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. O Brasil levou a Palma de Ouro apenas uma vez na história, com “O Pagador de Promessas”, em 1962. E o cinema nacional estava meio esquecido no festival. “Aquarius” interrompe um hiato de oito anos desde que um filme brasileiro competiu pela Palma de Ouro pela última vez – o anterior havia sido “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniela Thomas em 2008. “Aquarius” vai concorrer, como não poderia deixar de ser, com diversos “pesos pesados” do cinema mundial, como novos longas de Jim Jarmusch, Paul Verhoeven, Jeff Nichols, Ken Loach, Xavier Dolan, Olivier Assayas, Pedro Almodóvar, Bruno Dumont e os irmão Dardenne, entre outros. O festival de Cannes começa em 11 de maio com a première mundial de “Café Society”, novo filme de Woody Allen”, e vai até o dia 22. Entre as estreias mundiais fora de competição, os destaques são para os novos trabalhos de Steven Spielberg, “O Bom Gigante Amigo”, e de Jodie Foster, “Jogo do Dinheiro”. O Brasil ainda marca presença em Cannes com o curta-metragem “A Moça que Dançou com o Diabo”, de João Paulo Miranda Maria.
A Juventude repete a Grande Beleza do cinema de Paolo Sorrentino
Há uma cena de enorme carga poética em “A Grande Beleza” (2013), o filme anterior de Paolo Sorrentino, na qual um melancólico Jep (Tony Servillo) encontra um velho amigo do circo que, enquanto ele olha para o lado, faz desaparecer uma girafa. Diante da surpresa de Jep, ele diz: “É como te disse Jep… é só um truque”. Neste filme, com o fator surpresa, a maestria técnica, a conjugação dos elementos (música, fotografia, artes plásticas etc), os achados vagamente filosóficos e uma tempestade emocional, Sorrentino descobriu a fórmula da magia. Ou, pelo menos, da sua magia. O problema de “A Juventude” é que o italiano parece ter trazido novamente a mesma cartola. “A Grande Beleza” tratava filosoficamente do ocaso de uma era: em “A Juventude” o tema é o fim da vida humana. O filme aborda, com a habitual estrutura fragmentada, a temporada de um maestro aposentado (Michael Caine) num spa, por onde também anda a filha (Rachel Weisz), um velho amigo (Harvey Keitel) e um ator jovem (Paul Dano), entre outros. A elegância continua suprema: câmeras vêm e vão em todas as direções, com cortes suaves marcando o ritmo para mergulhar em imagens oníricas ou mostrar esplendores naturais, enquanto circulam personagens atípicos com suas frases de efeito embalados, claro, por muita música. Longe de pretensioso ou exagerado, consegue os efeitos desejados numa linguagem única. O problema é mesmo o déjà vu em relação ao antecessor. Em “A Juventude”, o modus operandi vai apresentado uma cascata ininterrupta de repetições que vão pondo a olho nu o mecanismo de “A Grande Beleza”. E, como um mágico não pode agradar duas vezes com os mesmos artifícios, o que antes era estimulante, aqui é apenas menos convincente. O filme estreia numa altura pacífica (para o filme, bem esclarecido) no Brasil – quase um ano depois da batalha campal no Festival de Cannes onde adoradores e detratores engalfinharam-se verbalmente como se estivessem defendendo a destituição de Luís XVI. As polarizações na Europa continuaram ao longo do ano à medida que o filme ia ganhando distribuição comercial – com ódios (apareceu em listas de “piores do ano” na imprensa) e prêmios (Melhor Filme no European Awards, da Academia de Cinema Europeu, entre outros). Passada a tempestade, os infiéis continuam com seus argumentos, enquanto os fiéis seguidores passam a torcer para que Sorrentino apresente novos truques, que justifiquem os aplausos em seu próximo filme. No meio de ambos, os espectadores seguem tendo possibilidades de desfrutar de bom cinema.
Para Minha Amada Morta: Aly Muritiba conta como se faz suspense com um filme autoral
“Para minha Amada Morta” estreou mundialmente no prestigiado Festival de San Sebastián (Espanha), foi premiado no Festival de Montreal (Canadá) e recebeu seis troféus no Festival de Brasília (incluindo Melhor Filme) antes de iniciar seu desafio comercial, com o lançamento nos cinemas nesta quinta-feira (31/3). O filme gira em torno de um homem que, após o desaparecimento da mulher, descobre um outro lado dela através de uma fita de VHS, e embarca numa jornada de aparente vingança. Nesta conversa exclusiva com o Pipoca Moderna, o diretor e roteirista Aly Muritiba analisou os temas centrais (a desconstrução do amor romântico idealizado, entre eles), os recursos estilísticos para contar a sua história e considerou “sorte” encontrar uma distribuidora para lançar no Brasil sua produção autoral. De resto, Muritiba já trabalha em novos projetos – uma adaptação literária da obra de Daniel Galera, “Barba Ensopada de Sangue”, outra do livro “Jesus Kid”, de Lourenço Muratelli, e “Ferrugem”, no qual é responsável por argumento, roteiro e direção. O filme traz uma espécie de duelo entre dois homens, onde a “amada morta” do título é uma espécie de peso “etéreo” que sufoca a vida dos protagonistas… Como é que surgiu a ideia para a história? Eu queria fazer um filme sobre projeção e idealização, sobre a criação da imagem que fazemos de alguém e que nos faz amar esta pessoa. No fim das contas, todo o argumento do filme parte deste ponto: quem é a pessoa que amamos? É possível conhecê-la ou apenas fazer uma ideia do que ela seja a partir de fragmentos de informações que, juntas, formam uma projeção, uma imagem que aprendemos a amar? A partir daí, criei esta trama sobre um sujeito que ama e idealiza profundamente uma mulher, cuja imagem é confrontada por um registro numa fita VHS. Em termos de abordagem, “Para minha Amada Morta” apresenta uma proposta de cinema de autor em função do ritmo, de alguns recursos típicos (fora de campo, fundo desfocado) e de intensidade, ao situar-se mais no diálogos que na ação. Ao mesmo tempo, roça o cinema de gênero com uma história de paixão, traição, investigação e vingança. Como pensou/geriu a combinação destes elementos? Pensando sob o ponto de vista do roteiro, “Para minha Amada Morta” parte de uma premissa bastante simples: o que uma pessoa faz ao descobrir algo que, de certo modo, contradiz tudo o que ele pensava sobre o maior amor de sua vida? A resposta a esta pergunta, óbvio, depende da natureza da descoberta. O que proponho, então, é fazer com que o espectador sinta primeiro o amor devotado por uma pessoa à outra. Então construo este outro a quem o amor é devotado baseando-me em reminiscências (a ausência da pessoa amada, que no meu filme está morta, é presentificada por objetos, roupas, fotos e vídeos) para assim fazer com que o espectador, sem que ele se dê conta, experimente a idealização da pessoa amada. E por ultimo proponho que o espectador descubra junto o personagem aquilo que é capaz de desconstruir a idealização e, portanto, o amor. Trocando em miúdos, eu faço com que o espectador esteja todo o tempo com o protagonista do filme, faço com que o espectador saiba tanto quanto o protagonista, sem, no entanto, saber qual será o próximo passo do protagonista. E esta manobra é muito característica do suspense: nunca saber qual o próximo passo, nunca conseguirmos nos antecipar aos eventos. Por outro lado, o meu protagonista, de posse da informação que deteriora a imagem que ele fazia de sua amada, parte numa espécie de investigação e reconstrução de fatos do passado, ações pertinentes ao thriller. No que diz respeito à direção, aí a questão foi mais no sentido de encontrar a melhor maneira de colocar no espaço este sujeito tão deslocado e perdido, que é o meu protagonista, e, ao mesmo tempo, trabalhar com a duração (ritmo da montagem) de modo a maximizar a sensação de suspensão. Enfim, estes elementos do cinema do gênero já estavam no roteiro, mas, para mim, fazer cinema de gênero apenas copiando os códigos não faz o menor sentido, não é excitante. Então, fui buscar no espectador que sou o tipo e filme que gostaria de ver, e me dei conta de que seria um filme em que eu fosse convidado a participar todo o tempo, criando, descobrindo, escrevinhando mesmo, sabe. E, para mim, isto passa pela longa duração dos planos, pelo quadro mais aberto permitindo a varredura, pelos silêncios e pelo extra-quadro. Daí o desafio tornou-se conjugar este roteiro tão marcadamente de gênero com um desejo de direção distinto. O filme também sugere questões complexas sobre o adultério, particularmente na perspetiva masculina. Um dos homens lida com a traição e com uma mulher que pode ser tanto vista como “liberal” quanto como “promíscua”; o outro tem uma mulher casta e submissa, que aceita o adultério da parte dele, mas que nunca receberia a mesma compreensão em contrapartida… Mas, no fim das contas, é um filme de amor. São homens que amaram de maneira muito distinta a mesma mulher, que foi capaz de amá-los profundamente ao mesmo tempo. O mesmo vale para a personagem da Raquel (Mayana Neiva), a esposa evangélica, onde o amor se realiza como perdão. Sabe, eu não costumo fazer julgamentos morais de meus personagens e acho que este é um péssimo caminho para que um roteirista enverede, mas se eu pudesse julgá-los agora, a posteriori, eu diria que a amada que dá nome ao filme é a personagem mais completa da trama, no sentido de que nasceu, amou e morreu. O ciclo dela foi completo, no sentido de termo, mas também de completude. Aos que ficaram é que sobrou o vazio, a falta, a saudade. Ou seja, ela era um baita ser humano, daqueles que amamos com todos os nossos músculos. Os “duelos” entre os dois atores principais rendem sequências memoráveis. Como foi a escolha deles, particularmente do Lourinelson Vladimir? O Lourinelson fez um filme pouco conhecido chamado “Curitiba Zero Grau” e foi ali que eu conheci seu trabalho. Ele é um baita ator, daqueles que dominam o palco e a plateia com poucos. Ao vê-lo atuar no cinema e depois nos palcos percebi que ele tinha a força de que eu precisava. No caso do Fernando Alves Pinto, bem, eu escrevi o papel para ele fazer. Não por acaso, o personagem carrega o nome do ator. O bacana é que o Nando tem uma ternura muito bela no olhar, no sorriso, que é o contrário do que tem o Louri, um sujeito mais bruto. São seres humanos muito sensíveis, mas de naturezas muito distintas. Um é ar, o outro é terra. E era exatamente desta combinação que eu precisava para construir estes embates. Os mercados mundiais de cinema ressentem-se de um monopólio na distribuição por poucas empresas que impõem um determinado tipo de cinema. Como é que vê a veiculação do filme no contexto da distribuição no Brasil? Distribuir filmes pequenos, autorais, é uma tarefa inglória, afinal o parque exibidor é formado por empresários, que até podem gostar de cinema, mas sua prioridade é o lucro, e, convenhamos, nossos filmes não dão lucro. Então encontrar pelo caminho uma empresa distribuidora como a Vitrine Filmes, que topa botar no mercado filmes como o meu, é como estar perdido no exterior com seu cartão de crédito bloqueado e encontrar um amigo. Como foi a passagem pelo Festival de San Sebastián? San Sebastian foi super importante para maturação do projeto. O “Para Minha Amada Morta” esteve lá em 2013, quando ainda era apenas um roteiro, no Foro de Coproducción, uma ação de mercado de cinema onde você discute seu projeto com profissionais da indústria, e voltou lá em 2014 para o Cine En Construccion, que é uma sessão onde se exibem filmes ainda em processo de finalização e se recebe feedbacks. Ter estado lá estas duas feitas foi ótimo para mim e para que o filme se tornasse o que se tornou, um filme maduro. Quando em 2015 eu fui, enfim, exibir o meu filme no Festival de San Sebastian, eu estava bem seguro do filme que levava, e a indústria já sabia o que esperar, o que é bom, pois assim as surpresas ficam reservadas ao público, que aliás, recebeu “Para Minha Amada Morta” de maneira muito calorosa. Veja Também a Crítica: PARA MINHA AMADA MORTA SUBVERTE AS REGRAS DO SUSPENSE
Para Minha Amada Morta subverte as regras do suspense
Há uma mulher ausente cuja presença não se desvaneceu: ao mesmo tempo que se vê a sós com o filho pequeno, Fernando (Fernando Alves Pinto, de “2 Coelhos”) lida com essa falta de forma quase ritual enquanto arruma vestidos, sapatos, jóias. Até encontrar um presente envenenado, enquanto assiste as fitas de videocassete da “amada morta”… O que sucede a partir daí é uma trajetória com elementos de thriller, filmada sem qualquer relação com estes. Ainda bem. Em vez de uma banal e violenta caça a um “culpado”, o diretor baiano Aly Muritiba suspende o ritmo do seu filme e prefere explorar outras nuances. Mais eficazmente, ele recria a premissa do austríaco “Revanche” (2008), de Gotz Spielmann, onde a história baseava-se numa vingança que se dissolvia num jogo pausado de repetições do cotidiano enquanto o protagonista, identificado com o ponto de vista do espectador, sabia aquilo o que o seu oponente desconhecia. Provando que intensidade e emoção nada tem a ver com rapidez, Muritiba manipula com o máximo efeito recursos simples e corriqueiros no universo dos “cinemas de arte”, como o fora de campo (nos últimos anos usado com enorme inventividade no cinema romeno), criando grandes momentos de cinema em trechos onde os personagens principais enveredam por diálogos escorregadios e repletos de possibilidades. No melhor destes “embates”, ao meio do filme, o protagonista, de frente para a câmera, conversa com o seu oponente (Lourinelson Wladimir, de “Curitiba Zero Grau”, num trabalho globalmente extraordinário) alguns metros atrás e sempre fora de foco. A perspetiva e o subentendido permite ao diretor manter a tensão no auge. De resto, Muritiba joga bastante bem com as regras do suspense e da antecipação. Ainda que tropeçando em alguns momentos menos inspirados (com as intenções do protagonista, deslizando do ambíguo para o obtuso) e sequências inúteis (o passeio de carro de Fernando com a menina adolescente), ele volta a carga com um final à altura daquilo que a premissa prometeu. Veja Também a Entrevista: ALY MURITIBA CONTA COMO SE FAZ SUSPENSE COM UM FILME AUTORAL
Tudo Vai Ficar Bem é volta triste de Wim Wenders à ficção
O veterano cineasta alemão Wim Wenders avança pelo século 21 mostrando a vitalidade de um verdadeiro artista – seja por meio de suas mais diversas experiências tecnológicas, com destaque para a bela filmagem em 3D de “Pina” (2011), seja através das tentativas de variação estilístico/temática do seu cinema. O que “Tudo Vai Ficar Bem” vem demonstrar, no entanto, é que os acertos do velho mestre em seus recentes documentários (“Pina”, “O Sal da Terra”) não se confirmam em sua volta para a ficção, sete anos após seu último drama, “Palermo Shooting” (2008). Sem música indie e com exteriores reduzidos em relação a alguns dos seus registros mais característicos, Wenders apoia-se na trilha sonora orquestral do francês Alexandre Desplat (“O Grande Hotel Budapeste”) para desenvolver uma fantasia dramática em tons mais convencionais. Baseado num roteiro do norueguês Bjorn Olaf Johannessen (que chamou atenção com o sucesso de “Nowhere Man”, em Sundance), “Tudo Vai Ficar Bem” conta a história de um escritor (o americano James Franco) em crise existencial, particularmente no casamento e na carreira, que vê a sua situação agravada pela culpa, após um acidente de trânsito com vítima fatal. Wenders continua fascinado por filmar em 3D e, se tal propósito ajuda a sacudir a poeira da idade, “Tudo Vai Ficar Bem” vem falhar no outro polo da sua proposta – a tentativa de contar uma história relativamente linear. A leveza dos movimentos e os fade-outs (e algumas soluções inventivas, como a câmera que sai detrás de um monte de gelo no acidente) são acompanhados por uma fotografia em 3D que visa esmiuçar visualmente o interior dos personagens – num jogo onde os disfarces e os truques dos atores não são permitidos. O problema é que os distribuidores brasileiros não levaram em conta esse detalhe, ao programarem apenas projeções convencionais, em 2D, do longa-metragem. O que ajuda a fazer com que as “almas” dos personagens revelem-se brutalmente desinteressantes. Parte da culpa pela falta de profundidade também cabe ao roteiro de Johannenssen: na sua tentativa de evitar os lugares comuns de uma trama, que bem poderia ser a base de um dramalhão-clichê, o roteirista criou um conjunto de sequências isoladas, em que as elipses constantes parecem uma forma desesperada de compensar a falta de inspiração com novos recomeços. As tantas idas e vindas do enredo transitam do penoso para o exasperante e, se a familiaridade com algumas soluções das obras de Wenders (“Paris, Texas”, por exemplo) permite adivinhar o final, a certa altura isto já não interessa, desde que ele chegue depressa.
Entrevista: Equipe de Antes o Tempo Não Acabava revela o Brasil amazônico ao mundo
A dupla de diretores Sérgio Andrade e Fábio Baldo foi um dos destaques do Festival de Berlim com seu “Antes o Tempo Não Acabava”, que retrata a vida de um índio (interpretado por Anderson Tikuna) vivendo nas fronteiras entre o mundo urbano e a antiga tribo – para a qual tem de prestar contas, submetendo-se às suas práticas rituais. O sincretismo leva à materialização de situações inusitadas, como Anderson cantando e dançando Beyoncé, além de lidar com a homossexualidade, que não existia antes do contato com os brancos. Exibido na seção Panorama, o filme teve boa resposta do público e da crítica, e garantiu distribuição em alguns países da Europa. À espera da estreia oficial, os diretores e o protagonista conversaram com a Pipoca Moderna sobre este singular amálgama entre dois mundos… Este é um filme com vários elementos: existe a cultura indígena, a vida na periferia de uma grande cidade, rock e música eletrônica e uma abordagem estética com semelhanças com o cinema de autor europeu. Como foi a conjugação disto tudo? SÉRGIO: Tudo começa com a zona intermediária. No Brasil, temos várias vertentes de raça, seja o negro, o europeu, o imigrante, o índio. No caso deste filme, quando o indígena vem da sua aldeia do interior da Amazônia para a periferia da cidade, cria-se aí uma zona limítrofe na qual eles são indígenas mas também são habitantes de uma metrópole e tem de viver sob as normas e desejos da vida urbana. O próprio Anderson, o ator principal, veio de uma aldeia com oito anos e tem algumas semelhanças com a personagem. Ele foi criado no ambiente da cidade e vão se confundindo os preceitos da cultura, tradições e rituais indígenas com as novidades da vida urbana em todos os seus aspetos, sejam religiosos, sexuais e de vida pratica. Foi isso que sempre me impressionou. Nos meus filmes anteriores eu tive uma grande aproximação com os índios e gostei muito de trabalhar com eles – caso da curta “Cachoeira” e do meu primeiro longa, “A Floresta de Jonathas”. Sempre fui muito fascinado com o lendário indígena, que usamos como mola de criatividade, e tive o encontro com o Fábio que foi o montador do “Floresta” e também cuidou do som – especialidade dele. A gente se uniu e as nossas cabeças combinam muito em criatividade e inventividade. FÁBIO: Eu gosto de personagens em zonas de transição, que tem a ver com a relação que o Sérgio tem com os índios e a floresta e eu entre as pessoas da zona rural. O meu primeiro filme (o curta “Caos”) era sobre agricultores… O nosso esforço vem no sentido de entender questões de funções e desejos dentro da vida urbana, de trazer esses conflitos, trazer essas dicotomias para o personagem do Anderson. A música tem uma presença importante. FÁBIO: A música veio também desta necessidade. Uma das fontes de inspiração foi um CD de músicas indígenas que o Sérgio arranjou há uns anos no museu de arte etnográfica de Berlim – que um pesquisador alemão, Koch-Grünberg, gravou no Brasil. É uma música etérea, espiritual, que lembra o passado, tradições, quase gramofônica, e jogamos com esses sons em algumas passagens do filme e vimos como soava. Mas depois pensamos que tínhamos que criar uma dicotomia. Fomos buscar música eletrônica… E aí trouxemos a música do Kraftwerk, que também é uma crítica do homem moderno, da tecnologia… Na conversa com o público do Festival de Berlim vocês fizeram algumas piadas e demonstraram afinidade com a Alemanha. SÉRGIO: Essa “conspiração alemã” já vem de antes, o meu primeiro filme estreou aqui em 17 cidades, em salas de filmes autorais. Depois há uma curiosidade: a primeira vez que desejei entrar no mundo do cinema foi quando fui figurante nas filmagens de “Fitzcarraldo” (obra do alemão Werner Herzog), quando tinha 13 anos. Lembro bem do Klaus Kinski e do José Lewgoy… estava entrando num sonho. Há uma curva com a Alemanha interessante e agora o filme é exibido aqui, sendo bem-recebido. FÁBIO: Houve até umas pessoas na rua que nos deram parabéns! A abordagem estética de vocês vai na linha do cinema europeu? FÁBIO: Não, acho que a estética é mais asiática. SÉRGIO: E tem quatro línguas no filme, todas de alguma forma similares a idiomas asiáticos. E aquela cena quando o índio entra no barraca e a mulher está dando comida à menina lembra coisas de Jia Zhangke, Tsai Ming-Liang, Apichatpong Weerasethakul… Situações como a cena do sacrifício de uma criança, mostrada no filme, acontecem realmente? FÁBIO: Em algumas tribos acontecia… SÉRGIO: Bom, algumas etnias indígenas têm uma forma natural de seleção e pensam muito na saúde do guerreiro, que vai ter que trabalhar em prol da aldeia. Crianças que nascem com problemas de saúde podem vir a ser alguém que vai trazer problemas para a sua comunidade. Para eles, isso é perfeitamente natural. Mas são apenas algumas etnias e não existem estimativas que digam que isso continua acontecendo. De qualquer forma, não queríamos fazer um julgamento, embora seja sempre uma questão delicada de abordar. Também houve elogios à fotografia, à sua maneira de filmar a selva… FÁBIO: O Yure César (diretor de fotografia) é de Manaus e é fotógrafo, tem uma empresa produtora de cinema. Ele é muito técnico e busca a perfeição. Sendo ele muito técnico, nós meio que nos confrontamos, pois ele quer a imagem mais bonita, mais perfeita e nós estamos preocupados com a informação, com os planos. Deste conflito surgiu um filme que tem um registro quase documental. É quase todo feito com luz natural – tirando algumas sequência à noite. Uma coisa que nós gostamos muito é que o Yure pensa a luz, ele não é como esses fotógrafos novos com equipamento digital. Ele entende a forma como a luz afeta um personagem. Também há uma abordagem pouco usual, que é associar à questão indígena uma temática LGBT… FÁBIO: A sexualidade é um ponto importante do filme, mas isso está inserido em algo maior, a busca da identidade, dos seus aspetos culturais, filosóficos. Não é apenas um filme gay, é mais que isso. SÉRGIO: Para mim, a questão da sexualidade é tão importante quanto as outras e na cena mais forte de sexo eu vejo um fetiche de um pelo outro, uma experiencia nova, mas também uma miscigenação, duas raças. É uma simbologia de que sexo é prazer. ANDERSON: Entre os índios não havia a homossexualidade, que veio depois do contato com o branco. O povo agora é evangélico, mas em geral respeita essa opção, não há discriminação. Anderson, como acha que vão reagir às cenas de sexo na sua aldeia? ANDERSON: Meu pai e minha mãe me apoiam e é o meu trabalho como ator, isso é um filme de ficção. O que esta achando de Berlim e deste outro tipo de ritual, que é o do grande festival de cinema? ANDERSON: Um sonho, sonho realizado, estou feliz ter ganho a oportunidade de trazer esse filme, essa cultura. Estou ansioso para mostrar o filme ao meu povo. Vão fazer perguntas de como foi. FÁBIO: Berlim é um dos festivais que mais abraça filmes brasileiros depois de Rotterdam. E é o que está dando mais visibilidade. Para além da importância para nós, no Brasil temos grandes eixos de cinema – São Paulo, Rio, Pernambuco e Minas, mas não temos a representação do norte. Agora estamos começando a ser ouvidos, e trazer um filme para cá vai nos tornar mais fortes. Trouxemos um filme de Manaus onde 90% da equipe são pessoas de lá, é algo inédito. SÉRGIO: o festival tem uma orientação para acolher filmes que venham de uma cinematografia em desenvolvimento e com temas provocadores, polémicos, diferentes, que plantam uma semente do bem e do mal, ele acolhe bem esse tipo de filme. Se estamos aqui é porque conseguimos fazer um projeto que deu certo. O que podem adiantar sobre os seus novos projetos? FÁBIO: estou desenvolvendo um argumento com uma produtora em São Paulo, vou passar esse ano escrevendo para rodar em 2017. Aí retomo as minhas indagações sobre os homens do campo, com algo meio biográfico sobre o meu pai, com um pouco de ficção científica, como tinha no meu primeiro filme. Trata dos dilemas dos pequenos agricultores diante das grandes indústrias de fertilizantes, dos transgênicos. Meu pai continua tentado sobreviver, mas os últimos 15 anos têm sido muito difíceis. SÉRGIO: Desde a pré-produção do “Antes o Tempo não Acabava” eu já estava escrevendo um roteiro novo – que se chama “Terra Negra dos Caua”, que é uma etnia fictícia e trata da questão da terra indígena. É uma família que cultiva uma terra negra num sítio nas cercanias de Manaus que, para além das propriedades agrícolas, tem poderes energéticos e até sobrenaturais. É uma metáfora para a questão da posse da terra indígena. Esse projeto ganhou o edital de baixo orçamento do Ministério da Cultura Vou filmar em 2017. É uma quase ficção científica etnográfica. Então vão trabalhar separados? (risos) SÉRGIO: ainda não sabemos! Foi tudo muito rápido. Houve um diretor aqui da Panorama que perguntou se tínhamos feito um filme juntos e quando dissemos que sim ele respondeu: ‘E vocês ainda são amigos’? (risos). FÁBIO: pois é, ainda somos! Talvez não sobrevivamos a um segundo projeto!
Entrevista | Anna Muylaert: “Não sou obrigada a fazer sempre a mesma coisa”
A pressão era grande: depois de vencer o prêmio do público com “Que Horas Ela Volta”, em 2015, Anna Muylaert voltou ao Festival de Berlim para apresentar “Mãe Só Há Uma”. A expectativa gerada em torno de um filme que sai apenas um ano depois era enorme e ajudou que ela se sentisse nervosíssima antes da sessão. Mas não era necessário: mais uma vez, foram aplausos entusiasmados e conversas no final – embora nem todas para elogiar, como ela própria conta… “Mãe Só Há Uma” acabou recebendo um prêmio secundário, mas a diretora diz que este ano não veio atrás de “medalha”. Ela tampouco acredita que o filme seja um sucesso de público, pois não tem atores famosos nem apoio da Globo. Descrita pela cineasta como uma “provocação”, “Mãe Só Há Uma” conta a história de um bebê roubado da maternidade e, que aos 17 anos, enquanto questiona a própria sexualidade, é obrigado a mudar-se para a casa da sua família biológica. De resto, nesta conversa exclusiva com a Pipoca Moderna, Muylaert fala do filme, do cinema brasileiro e das suas esperanças para as bilheterias de “Mãe Só Há Uma”, cujo lançamento está prevista para o segundo semestre. A convivência com o Festival de Berlim está se estreitando… Numa das sessões você parecia uma estrela de rock… (risos) É verdade, loucura… Os seus filmes têm um estilo próprio, um pouco indie e ao mesmo tempo acessível. Por que a Berlinale gosta dos seus filmes? Acho que os filmes ficam sempre no meio, entre o arthouse e o popular. Mas “Que Horas Ela Volta?” é um filme mais popular, todo o mundo gosta. Foi um filme marcante aqui no ano passado, ganhou o prêmio do publico. Este ano, quando cheguei, o pessoal ainda lembrava. Mas o novo é mais fechado, mais provocativo e tem aspetos experimentais. Mas acho que também é acessível. E sente uma pressão maior em função do que aconteceu no ano passado? Sim, claro. Acho que este ano estou aqui por causa do ano passado, eles queriam ver a reação a este novo filme. Eu fiquei um tempo pensando exatamente nisto, que este ano não devo ganhar nada. Depois pensei que o que eu tenho que fazer é poesia, não é um concurso, não tenho de receber medalha. E Berlim é legal porque é o centro da Europa, é dos melhores festivais para se vir, há gente de todo o lado. Em Sundance, por exemplo, só se encontram americanos. Está sendo muito bom, acho que o melhor festival para o filme era esse. O ano passado eu não tinha expectativa porque ninguém me conhecia, mas tinha muita certeza de que o filme agradaria, com uma atriz carismática, um filme solar, todo mundo feliz. Ganhou prêmio de público. E esse ano eu não vim com um filme solar é mais lunar e sem atores famosos. Foi deliberado? Sim, pois é de baixo orçamento, custou U$ 400 mil, muito pequeno. Então eu pensei ‘vou experimentar fazer com mais câmera na mão, sem atores famosos, uma narrativa diferente’. É um filme mais arriscado e eu tinha medo de decepcionar, tipo ‘vamos ver o filme da mesma diretora’ e eu estava morrendo de medo. Aquele dia na primeira sessão eu estava muito nervosa e houve pessoas que disseram que não gostaram. Sério? Sério, houve pessoas que me disseram ‘pô, você me decepcionou, o outro era um filme tão feliz’ etc. Bom, mas eu não sou obrigada a fazer sempre a mesma coisa. Mas, em compensação, tem muita gente que prefere a provocação desse. Mas está tudo bem, são duas coisas autênticas, que eu fiz com o mesmo amor. Por que decidiu contar essa história? Ela tem uma base verídica, certo…? Sim, é uma história muito conhecida no Brasil, quase clássica – mas sempre do ponto de vista da mãe. Tinha uma novela onde a Renata Sorrah fazia a mãe que roubava, e um filme do Caetano Gotardo, “O que se Move”, onde a mãe que era a vítima. Eu sempre me interessei pela história do filho. O personagem dele é desesperador, porque se você troca tudo… quem você é? Há oito anos atrás eu comecei com o processo do filme. Parece que foi rápido, mas não foi, apenas saiu perto do outro. Para ilustrar a questão da identidade você também foi buscar a questão sexual… Sim, no início não tinha isso, mas depois eu comecei a pensar que era para falar da identidade, esse recurso dava para falar de dois tipos de mãe – a da infância, oceânica, e a da adolescência, mais restritiva. Depois do outro filme eu comecei a andar com muitos jovens e com homossexuais e na noite de São Paulo vi muitas coisas que não tinha na época em que eu saia – como homens vestido de mulher andando com mulheres. Para mim, homem que usava vestido era gay – e não é bem assim. Eu fiquei fascinada com isso e resolvi pôr no filme, vai ser uma das metáforas sobre redenção, até porque quando um adolescente chega junto dos pais e diz “eu sou isso”, é sempre um choque, porque nunca somos aquilo que eles queriam… Aquela cena com o Mateus Nachtergaele é bem forte, quando ele diz “o que mais nós temos que fazer para te agradar?” Sim, exatamente. Você espera 17 anos e te aparece um menino que usa vestido…? É uma metáfora muito forte desse conflito de adolescente pra se individualizar. Tem de se ter muita força para crescer dentro da própria família. Quase todo o adolescente nunca corresponde àquilo que o pai espera. Você tem quem que quebrar. O filme é sobre esse momento. Quando estreia no Brasil? Já tem data? Sai no segundo semestre porque eu estou muito cansada, preciso descansar. Há três anos que eu não paro. Daqui a pouco os teus filhos é que perguntam “que horas ela volta”… Exato! Ainda bem que eles estão crescidos. Acha que o cinema tem de ter um compromisso público? No Brasil parece haver um cinema muito experimental de um lado e uma produção bastante comercial de outro… Como dizia Glauber Rocha, ‘os caminhos são todos os caminhos’, tem de ter de tudo. Mas eu acho que não só no Brasil, mas também em toda a América Latina, há uma situação demasiado bipolar. Os filmes do meio, como os meus, têm uma dose de tentativa de inteligência, mas também de comunicação com o público. Os argentinos estão com um cinema tão bem sucedido neste momento porque eles entendem isso. Acha que a presença em Berlim ajuda na carreira dos filmes? Em termos de impacto no mercado interno… muito pouco. Depois tem que se ver a vocação do filme, se for de arte é para os circuitos de festivais apenas. Os meus filmes procuram o público. Mas acho que o “Curumim” (de Marcos Prado, outro filme brasileiro em Berlim), em função do tema que tem, pode ter boa saída. Também tem a ver com ter uma boa distribuição, com o número de salas…Em quantas salas saiu “Que Horas Ela Volta” no Brasil? “Que Horas Ela Volta” saiu em 90 salas e na França em 160, mas lá não foi tão bem. Teve mais sucesso no Brasil – 500 mil espectadores. E teria tido mais se na Itália não tivessem lançado o DVD. Foi logo na segunda semana e aí caiu na pirataria – com boa qualidade. Chegou a ter dez capas diferentes! Mas no Brasil foi um fenômeno. Mas esse não vai ser, não tem famosos, não tem a Globo. Estou à espera entre 50 e 100 mil espectadores.
Documentário sobre refugiados vence o Urso de Ouro do Festival de Berlim
O tema mais incontornável da Europa no momento está no centro de “Fuocoammare” (Fire at the Sea), escolhido pelo júri liderado pela atriz Meryl Streep como o vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim 2016. Documentário como todos os filmes do diretor Gianfranco Rosi, entre eles “Sacro GRA”, vencedor do Festival de Veneza 2013, “Fuocoammare” foca a dura realidade da ilha de Lampedusa, que há cerca de duas décadas é um dos principais destinos das trágicas jornadas pelo Mediterrâneo dos imigrantes. O diretor destaca não só as pessoas em fuga, mas também o quanto a situação afeta a vida de quem vive na ilha. Em seu discurso de agradecimento, ele dedicou sua vitória “àqueles cujas viagens de esperança nunca chegaram a Lampedusa” e aos habitantes da ilha que “há 23 anos abrem os seus corações àqueles que ali chegam.” Nascido há 51 anos na Eritreia, na África, sob nacionalidade italiana, Rosi saiu ainda com os prêmios do Júri Ecumênico, da Anistia Internacional e dos leitores do jornal alemão Berliner Morgenpost, sendo alçado à condição de “embaixador” dos refugiados sem voz. Para Meryl Streep, presidente do júri, seu filme é “urgente” e “imaginativo” e se comunica com o mundo atual. A politização também marcou o Grande Prêmio do Júri, vencido pela coprodução franco-bósnia “Death in Sarajevo”, em que o bósnio Danis Tanovic (“Um Episódio na Vida de Um Catador de Ferro-Velho”) cria uma fábula irônica sobre a situação da Europa atual, mostrando a dificuldade de convivência dos europeus dentro de um mesmo bloco. A francesa Mia Hansen-Love (“Eden”) venceu o Urso de Prata de Melhor Direção por “L’avenir”, sobre uma professora de filosofia (Isabelle Huppert) que se vê obrigada a se reinventar em plena meia idade, enquanto o polonês Tomasz Wasilewski foi considerado o Melhor Roteirista por “United States of Love”. Entre os atores, o novo filme de Thomas Vinteberg (“A Caça”), “The Commune”, rendeu à sua protagonista, a dinamarquesa Trine Dyrholm (“O Amante da Rainha”), o prêmio de Melhor Atriz, enquanto o Urso de Prata de interpretação masculina ficou com o tunisino Majd Mastoura por “Hedi”, de Mohamed Bem Attia, obra que ainda venceu o Urso de Prata de Melhor Filme de Estreia. Completando as distinções, o chinês Mark Lee Ping-Bing foi destacado pelo seu trabalho como operador de câmera em “Crosscurrent”, enquanto a proposta mais ousada da Berlinale, “A Lullaby to the Sorrowful Mystery”, um filme com oito horas de duração do filipino Lav Diaz (“Norte, o Fim da História”), levou o prêmio Alfred Bauer – destinado a produções que “abrem novas perspetivas”. No universo das curtas-metragens, o Urso de Ouro coube à portuguesa Leonor Teles, com “A Balada do Batráquio”, filme que aborda a discriminação contra as comunidades ciganas no país. Aos 23 anos, Leonor também se tornou a mais jovem vencedora do Urso de Ouro da história do Festival de Berlim. Vencedores do Festival de Berlim 2016 Urso de Ouro – Melhor Filme Fuocoammare, de Gianfranco Rosi (Itália) Urso de Prata – Grande Prémio do Júri Death in Sarajevo, de Danis Tanovic (França/Bósnia e Herzegovina) Urso de Prata – Prêmio Alfred Bauer A Lullaby to The Sorrowful Mystery, de Lav Diaz (Filipinas) Urso de Prata – Melhor Direção Mia Hansen-Løve, por L’avenir (França) Urso de Prata – Melhor Atriz Trine Dyrholm, por The Commune (Dinamarca/Suécia) Urso de Prata – Melhor Ator Majd Mastoura, por Hedi (Tunísia) Urso de Prata – Melhor Roteiro United States of Love, de Tomasz Wasilewski (Polônia) Urso de Prata – Melhor Contribuição Artística Crosscurrent, de Mark Lee Ping-Bing (China) Melhor Primeiro Filme Hedi, de Mohamed Ben Attia (Tunísia) Urso de Ouro – Melhor Curta-Metragem Balada de um Batráquio, de Leonor Teles (Portugal) Urso de Prata – Segundo Melhor Curta A Man Returned, de Mahdi Fleifel (Reino Unido/Dinamarca/Holanda) Prêmio Audi para Melhor Curta Anchorage Prohibited, de Chiang Wei Liang (Taiwan) Prêmio European Film A Man Returned, de Mahdi Fleifel (Reino Unido/Dinamarca/Holanda) Veja Também BERLIM: PREMIAÇÃO DA MOSTRA PANORAMA CONSAGRA O CINEMA ISRAELENSE FILMES DA LETÔNIA E DO CHILE SÃO OS PRIMEIROS PREMIADOS EM BERLIM











