PIPOCAMODERNA
Pipoca Moderna
  • Filme
  • Série
  • Reality
  • TV
  • Música
  • Etc
  • Filme
  • Série
  • Reality
  • TV
  • Música
  • Etc

Nenhum widget encontrado na barra lateral Alt!

  • Filme

    Animais Fantásticos e Onde Habitam é o melhor prelúdio já feito por Hollywood

    21 de novembro de 2016 /

    As sagas mais adoradas do cinema, mais cedo ou mais tarde, decidem explorar o passado de seus universos, ricos em detalhes e cheios de potencial. Um dos maiores problemas é que não sobra muito espaço para surpresas e sabemos onde tudo vai parar, nem que isso leve três filmes, como “Star Wars” fez para mostrar a transformação de Anakin Skywalker em Darth Vader. Outro ponto que costuma atrapalhar é a necessidade de conectar a trama do prelúdio quase o tempo todo com os filmes originais. Felizmente, quem assina o roteiro de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, que serve de prólogo para a franquia “Harry Potter”, é J.K. Rowling, a própria criadora de Harry e a pessoa mais indicada para contar o que de mais relevante aconteceu antes do menino bruxo descobrir seus poderes. Tendo como ponto de partida um guia fictício sobre criaturas mágicas, Rowling consegue ser sutil ao fazer uma ou outra ligação direta com os filmes, que começam em “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, e mostrar novidades de sobra para iniciar uma franquia inédita e envolvente. É verdade que seu roteiro sugere alguns mistérios que podem ligar os fatos de “Animais Fantásticos” a “Harry Potter”, mas isso deve ficar mais claro em novos filmes. Por enquanto, ainda é mais especulação – mas quanto menos você souber, melhor. A trama central acompanha a chegada do protagonista a ora belíssima, ora depressiva Nova York pós-1ª Guerra Mundial (cortesia de um mix de CGI, fotografia, direção de arte e figurinos impecáveis). Trata-se do magizoologista inglês Newt Scamander (Eddie Redmayne, finalmente em um filme que todos irão assistir), que carrega em sua mala os animais fantásticos do título. A princípio, as tramas paralelas à busca de Scamander, pelos bichos que escapam da mala, podem parecer deslocadas do filme. Mas, não se preocupe, porque você gostará de ser surpreendido: Rowling costura tudo muito bem até o ato final e ainda deixa o espectador querendo ver mais desse universo. Embora o cineasta David Yates, que dirigiu os últimos quatro “Harry Potter”, esteja à frente das câmeras, o show é verdadeiramente comandado por ela. Desta vez, com a vantagem de escrever diretamente para as telas, evitando quaisquer equívocos de adaptação e os tradicionais buracos na narrativa, que surgem na transposição de livros para o cinema. Yates segue com cacoetes de Peter Jackson, mas é o homem de confiança da escritora – e da Warner – , para traduzir em imagens a imaginação de Rowling. A escritora, por sinal, confia bastante em sua imaginação para não encher a trama com cenas de ação, lutas, correrias e explosões a cada cinco ou dez minutos. E, em vez de se repetir com outra saga de um escolhido, vai na contramão dos blockbusters atuais ao oferecer uma história de muitas camadas, até lenta para os padrões de hoje. Rowling não tem a mínima pressa para situar e envolver o espectador, que não sentirá a menor falta de Harry, Rony e Hermione na nova trama. Por vezes, seu enredo até abusa do silêncio, em influências que remetem à fase de ouro do cinema. O que leva à atuação de Eddie Redmayne, indicado duas vezes seguidas ao Oscar de Melhor Ator (vencendo por “A Teoria de Tudo”). Numa primeira impressão, é fácil acusá-lo de exagero, mas Newt é um cara solitário que cria e estuda animais do mundo bruxo. Ou seja, ele é no mínimo excêntrico. Dentro da proposta do filme, sua estranheza também reflete a forma como os americanos veem os imigrantes e os julgam sem conhecê-los de perto. Sim, Rowling tem coragem de tocar num tema polêmico: a aversão americana aos imigrantes, bem na hora em que Donald Trump vence as eleições para se tornar presidente dos EUA, com uma plataforma anti-imigração. Aliás, vale a pena reparar no diálogo sobre a melhor escola de bruxaria, numa cutucada à prepotência americana. Além de materializar esse conceito, Redmayne é o ator em cena que melhor aproveita os truques corporais do cinema mudo. Ainda assim, as atuações mais cativantes pertencem a Dan Fogler, como Jacob, o improvável amigo “trouxa” (ops, “no-maj”) e Queenie (Alison Sudol), a doçura em pessoa, que lê os pensamentos de todos ao redor. Tente não se apaixonar pelos dois. Por falar em apaixonante, a cena final é lindíssima, além de servir para J.K. Rowling ilustrar uma nova espécie de magia, a magia do cinema. Com um filme tão envolvente e uma premissa tão promissora para iniciar uma nova franquia, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” não é apenas bom entretenimento. É possivelmente o melhor prelúdio já feito por Hollywood.

    Leia mais
  • Filme

    Festa da Salsicha serve bobagem com molho de ousadia

    30 de outubro de 2016 /

    Após incentivar ataque de hackers e quase iniciar uma guerra com “A Entrevista” (2014), a Sony ainda assim decidiu investir em um novo trabalho de Seth Rogen, uma animação completamente diferente de tudo já visto no cinema. Apesar de animações adultas, como “Mary & Max” (2009) e “Anomalisa” (2015), virem se destacando em meio aos lançamentos de Hollywood, ainda não é comum a união do humor besteirol e animação, tornando possível, até mesmo, contar nos dedos os últimos filmes com esse tom, como: “South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes” (1999) e “Team America” (2004). Em “Festa da Salsicha”, as mentes de Rogen, seu parceiro de sempre Evan Goldberg e de novos agregados apresentam ao público à rotina de alguns produtos de supermercado e como eles se relacionam uns com os outros, além de expressar claramente a devoção pelos humanos, considerados até mesmo como “Deuses”. O enredo ganha força quando a salsicha Frank e a bisnaga Brenda vão atrás de explicações sobre como funciona o tal paraíso, e o que acontece quando os humanos levam os alimentos para casa, embarcando em uma aventura pelos diversos corredores do supermercado, que funcionam como metáforas da sociedade contemporânea. Como esperado, o longa segue o mesmo ritmo dos filmes roteirizados por Seth Rogen e Evan Goldberg, como “A Entrevista” “É o Fim” (2013), “Superbad” (2008) e “Segurando as Pontas” (2007). Entretanto, quem pensa que “Festa da Salsicha” é apenas de um monte de bobagem em 3D está (parcialmente) engado. Afinal, entre as inúmeras piadas de duplo sentido, o filme aborda temas polêmicos e ainda faz uma reflexão muito parecida com as filosofias de Platão. Nem os grandes estúdios de animação, como Disney, Pixar e DreamWorks, são poupados pelas piadas do filme, que consegue fazer referências a cenas importantes de animações e transformá-las em algo longe de fazer algum sentido. É importante ressaltar que os momentos mais marcantes de “Ratatouille” (2007), “Toy Story” (1995) e até mesmo “As Viagens de Gulliver” (2010) nunca mais serão vistos da mesma forma. Seria injusto escrever sobre “Festa da Salsicha” e não comentar sobre a equipe de dublagem. Todo alimento do filme recebe um tratamento especial e único em relação a sua voz – cada uma delas compostas por personalidades como James Franco, Paul Rudd, Jonah Hill, Kristen Wiig, Michael Cera e Edward Norton. No Brasil, a equipe do Porta dos Fundos ficou responsável pela direção de dublagem de grande parte dos personagens e não deixou nenhum palavrão censurado. Contudo, mesmo perdendo um pouco de força na metade do filme, e apresentando um visual de animação relativamente simples, “Festa da Salsicha” é capaz de divertir em proporções absurdas, podendo ser aclamado por sua coragem e inovação. É de extrema importância lembrar que o filme tem a exclusiva função de ser uma sátira. Piadas e comentários de humor negro são constantes nos diálogos, cabendo a cada espectador relevar e rir com as mesmas, ou se irritar entendendo tudo como uma grande ofensa.

    Leia mais
  • Miss Peregrines Home for Peculiar Children
    Filme

    O Lar das Crianças Peculiares resgata a sombra do diretor que já foi Tim Burton

    15 de outubro de 2016 /

    Adaptado dos livros de Ransom Riggs, “O Lar das Crianças Peculiares” tem o perfil de um filme típico de Tim Burton, cuja filmografia é repleta de alegorias contra a descrença. Infelizmente, Burton já não é o mesmo diretor que fez seus grandes clássicos há duas décadas. “O Lar das Crianças Peculiares” pode divertir, encantar, assustar aqui e ali, além de impressionar pela estética (o mínimo que se espera de Tim Burton) e apresentar uma bela trilha sonora. Está tudo lá. Mas, por um segundo, imagine se o diretor tivesse total liberdade criativa (ou a palavra seria “vontade”?) para ser Tim Burton. Falta, sim, aquela pitada de ousadia que caracterizava suas melhores obras, de “Os Fantasmas se Divertem” (1988) a “Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999). Fica a impressão de que, há tempos, estúdio nenhum entrega dinheiro de bandeja para Burton fazer o filme que ele quiser e do jeito que bem entender. Das duas, uma: 1) Ele perdeu a essência que chamou a atenção do mundo no final dos anos 1980, até o fim dos 1990, e assumiu que hoje é uma caricatura de si próprio, ou 2) Ainda que trabalhando sob rédea curta, acomodou-se e prefere seguir usando o apelo de seu nome para faturar com salários caros em contratos com grandes estúdios. Não dá para esconder que este é um produto importante para um grande estúdio como a Fox, que deve enxergar nos livros de Riggs “uma mistura de Harry Potter e X-Men”. Ou seja, uma oportunidade para gerar mais uma franquia lucrativa. Para Tim Burton, trata-se de um conto capaz de despertar as inspirações de outrora para conduzir um filme com sua assinatura tão conhecida e apreciada. Afinal, mesmo dentro do “esquema”, a obra de Riggs permitiu que o cineasta voltasse a extrair beleza da escuridão, sem perder o equilíbrio entre o lirismo e o macabro, entre os prós e contras de estar vivo ou morto de acordo com a sua excêntrica visão. As intenções do estúdio e do diretor se cruzam, mas não parecem se encontrar, o que interfere diretamente no resultado final. Talvez seja o melhor filme de Tim Burton nesta década, muito em função do material de origem. Não se engane, porque a grande cabeça do projeto é a de Ransom Riggs, que armou um tabuleiro sobre o poder da imaginação ser hereditário, mesmo que pule uma geração, passando de avô para neto. Isso leva a uma aventura em um passado mágico, onde existe um orfanato de crianças que carregam mais fardos que poderes. Tudo obra de Riggs, enquanto Burton se contentou apenas em reproduzir na tela algumas das cenas mais bonitas do livro, como a menina cheia de ar nos pulmões isolando a água de um dos cômodos de um navio fantasma ou qualquer frame que traga Eva Green no papel da Srta. Peregrine, que cuida da garotada. A beleza dessas cenas é, claro, mérito do diretor, mas ele tem talento de sobra para ir além da plasticidade evidente. A história era um prato cheio para Tim Burton brilhar, afinal Ransom Riggs distribuiu temas variados em seus livros, como viagens no tempo, a ameaça de uma espécie de bicho papão, o excesso de cuidado com crianças quando o mundo real está lá fora, homenagens ao cinema – como o menino que projeta seus sonhos na tela –, e a situação do orfanato que remete aos judeus fugindo e se escondendo dos nazistas na 2ª Guerra Mundial. Mas tudo acaba se perdendo. Não há a menor dúvida que os dois primeiros atos são muito mais Tim Burton que o último. Embora traga elementos que costumamos identificar em seu cinema, o clímax parece ter sido acelerado pelo estúdio, como se fosse obrigatória a necessidade de aumentar a ação para agradar uma plateia mais jovem. A ação pode acontecer, mas ela precisa ser devidamente preparada. Porém, neste filme, somos arremessados, durante seu ato derradeiro, a uma correria desenfreada, passando por explicações apressadas e, por isso mesmo, confusas sobre fendas no tempo e as motivações dos vilões. O pior é que esse atropelamento narrativo é corriqueiro quando se trata de adaptações literárias infanto-juvenis. Até isso é lugar-comum. E flertar com o convencional é muito pouco quando se trata de Tim Burton. Ao final, é triste constatar que qualquer David Yates poderia ter feito este filme.

    Leia mais
  • Filme

    Meu Amigo, o Dragão é um E.T. para a nova geração

    7 de outubro de 2016 /

    A Disney segue na onda dos remakes de sucessos do estúdio. Mas diferente de “Cinderela”, “Malévola” e “Mogli, O Menino Lobo”, “Meu Amigo, o Dragão” não veio exatamente de uma animação. O filme de 1977, dirigido por Don Chaffey, foi feito com atores de carne e osso e somente a criatura era personagem de desenho animado. Além disso, a versão de 2016, dirigida por David Lowery (“Amor Fora da Lei”), dispensa a nostalgia, já que é fácil se desapegar do original, que pode ter agradado a criançada da época, mas não virou um clássico. A nova leitura é até um pouco mais adulta perto daquilo. Apesar da produção ser assumidamente infantil – e da Disney –, Lowery aposta em músicas pop carregadas de dor de cotovelo, que entrariam muito bem nos ápices dramáticos de séries como “Grey’s Anatomy”, e privilegia momentos silenciosos de pura contemplação, que podem deixar alguns adultos e adolescentes um pouco entediados. Mas não tira o foco das crianças, que são muito mais inteligentes que a geração do filme original. O nível de concentração da garotada de hoje em dia é surpreendente e Lowery usa isso muito bem, alternando sequências reflexivas com o eterno sonho infantil de ter um “amigãozão” para toda hora, que, no caso, não tem nada de imaginário. Sobre o contexto por trás da reflexão, deve entrar na cabeça das crianças de alguma forma o que Lowery e a Disney querem dizer: o dragão de Pete (o ótimo menino Oakes Fegley) é uma metáfora para o período de luto, um rito de passagem entre a perda e sua aceitação para, enfim, seguir em frente. Não é spoiler, porque o dragão existe no filme. Mas atenção ao seu significado. O amigão de Pete funciona da mesma forma que o “E.T.”, de Steven Spielberg, representava a passagem da infância para a vida adulta – o protagonista interpretado por Henry Thomas, no clássico de 1982, havia sido abandonado pelo pai e termina a aventura como uma pessoa completamente diferente e muito mais madura -, só que adaptada para o luto. Talvez este seja o problema de “Meu Amigo, o Dragão”: lembrar outros filmes similares (não por ser remake) sem adicionar nenhuma novidade marcante. Mas não é, longe disso, uma perda de tempo. Se não dá novo fôlego à fórmula, tampouco a desgasta, apenas comprova pela enésima vez a eficiência de seu apelo junto ao público. É um, digamos, herdeiro digno da tradição de “E.T.”, “Onde Vivem os Monstros” e outros similares. O filme é bom, simpático, pode entreter, emocionar e pregar os tradicionais valores familiares da Disney, graças especialmente ao diretor, que sabe contar sua história com paciência e habilidade para envolver os espectadores. No elenco, além do pequeno Oakes Fegley, vale ainda destacar o veterano Robert Redford, mais leve e se divertindo na tela como há muito tempo não se vê. Mas quem rouba a cena é mesmo o dragão verde. Muito mais por curiosa caracterização, como um animal de estimação criado por efeitos visuais. Sim, ele é um dragão, mas poderia ser um cachorro gigante, porque simplesmente age como o melhor amigo do homem. Ou, no caso, da criança.

    Leia mais
  • Filme

    Novo Star Trek é jornada divertida no espírito da série clássica

    2 de setembro de 2016 /

    Em “Star Trek” (2009) e “Além da Escuridão: Star Trek” (2013), J.J. Abrams foi criativo ao dar novo fôlego para a franquia e apontá-la para horizontes jamais explorados. Mas esse “Star Trek: Sem Fronteiras”, de Justin Lin, possui algo que os filmes de Abrams não tinha: cara e alma de episódio de série de TV. E isso é “Star Trek”. Antes que os fãs reclamem, não quer dizer que o terceiro filme da fase estrelada por Chris Pine, Zachary Quinto & Cia. seja cópia de um episódio clássico da série, mas é o exemplar que mais se aproxima. É mais leve e otimista, deixando de lado aquela carga emocional pesada do segundo filme de Abrams. É claro que a veia cerebral, científica que marcou a série – um tanto abandonada nos filmes anteriores e neste aqui também – provavelmente não volta mais. Na era dos blockbusters, e em pleno tsunami de adaptações de quadrinhos, Abrams estabeleceu um padrão mais dinâmico e Lin deu sequência. Só que, digamos, com muito mais amor pela coisa. Não dava para ser diferente, afinal este é o filme de 50 anos da série. Quem diria que chegaríamos a meio século de “Star Trek” e viveríamos para contar? Diferente dos “dois primeiros”, “Star Trek: Sem Fronteiras” não mira o futuro da saga. Longe de seguir seu subtítulo à risca, o filme prefere ficar em território conhecido, não inventa tanto e funciona quase como um episódio isolado e redondinho, divertidíssimo para todos e emocionante para os fãs. Basicamente, “Sem Fronteiras” é sobre o Capitão Kirk (Pine) tentando entender sua vocação e lutando para não enlouquecer no meio do infinito em uma jornada nas estrelas de cinco anos a bordo da Enterprise. Também é sobre aceitar que, um dia, todos nós morreremos, e que isso não é tão ruim assim, apenas será a nossa fronteira final. No fundo é sobre nostalgia. O filme pode ir aos cafundós do espaço, mas é quando olha para dentro de seu próprio legado que “Star Trek: Sem Fronteiras” voa alto. Exemplos: prepare-se para engasgar o choro numa fala de Zachary Quinto sobre um personagem. E existe fã neste universo que não sinta na alma qualquer arranhão sofrido pela Enterprise? Mesmo assim, não espere um filme dominado pelo fan service. “Star Trek: Sem Fronteiras” não esquece de onde veio, mas tem ideias próprias. O lado científico agregado pelo criador Gene Roddenberry pode ter sido deixado de lado, mas Justin Lin traz de sua experiência em “Velozes e Furiosos” a força da união da família que escolhemos. Com os laços entre os tripulantes da Enterprise mais apertados e estabelecidos, inclusive na aceitação do outro – observe a cena em que conhecemos a família de Sulu (John Cho) e notamos a admiração no rosto de Kirk – , e com tudo em seu devido lugar, Justin Lin ainda resolve acelerar. Como na franquia de Vin Diesel e Paul Walker, ele pisa fundo na ação. A ponto de “Star Trek: Sem Fronteiras” registrar as batalhas espaciais mais empolgantes da franquia – por sinal, há tempos não se via o uso de música pop tão bem inserido numa narrativa. Claro, não dá para encerrar sem citar a presença magnífica de Sofia Boutella (“Kingsman – Serviço Secreto”) como Jaylah, a Neytiri albina que rouba todas as cenas. Que personagem! Ela é peça fundamental no plano de Justin Lin (e dos roteiristas Doug Jung e, claro, Simon Pegg, o Sr. Scotty em pessoa, fã e nerd) de deixar as nossas vidas mais divertidas por duas horas. Numa década em que os blockbusters andam muito sombrios, e com o peso do mundo nas costas, apenas relaxe e aproveite a jornada. Vida longa e próspera, Sr. Nimoy. E Sr. Yelchin.

    Leia mais
  • Filme

    Ação eletrizante de Jason Bourne começa a ficar repetitiva

    30 de julho de 2016 /

    “Jason Bourne”, título preguiçoso da quarta aventura do agente interpretado por Matt Damon – aquele com Jeremy Renner não conta -, é um filme para deleite dos fãs da franquia, que resgata as lutas cruas, secas, suadas, assim como as perseguições empolgantes que deixam qualquer filme da série “Velozes e Furiosos” no chinelo – um mérito da montagem histérica de Christopher Rouse, premiada com o Oscar por “O Ultimato Bourne” (2007). Como pontos positivos, também contam o olhar documentarista de Paul Greengrass de volta à direção, e Damon retomando seu papel de protagonista, porque não dá para engolir qualquer outro ator num filme de Jason Bourne. Adicionam-se à equação novos intérpretes de peso e 100% competentes – destaque para Tommy Lee Jones (“Homens de Preto”) e, principalmente, a gloriosa Alicia Vikander (“A Garota Dinamarquesa”), que quase transformam o herói da franquia em coadjuvante de seu próprio filme. E, claro, Bourne falando pouco, fazendo cara de “não me toque”, ora dando porrada, ora desaparecendo e andando/pilotando para lá e para cá. Tem até a trilha habitual e nervosa de John Powell (dividida aqui com David Buckley) e a musiquinha tradicional do Moby nos créditos finais. Ou seja, tudo em seu devido lugar. Faltou apenas um roteiro que justificasse tudo isso, uma trama tão ágil e eletrizante quanto as cenas de ação, capaz de transformar o filme num recomeço para a franquia, e não apenas uma versão similar do que já foi visto antes. A trama se resume a uma correria, porque é um fiapo de história, como aconteceu em “O Ultimato Bourne”, mas ali o que importava era o protagonista concluir a jornada recuperando de vez sua memória. O final da trilogia original, com Bourne nadando, sugeria uma vida em fuga, jamais em paz. Pois voltar para o fogo cruzado apenas conduz o protagonista para um ciclo infinito de mesmice. Só não dá para lamentar a ausência de Tony Gilroy como roteirista. Ele pode ter assinado a ex-trilogia, mas sem filtro de Greengrass e Damon mostrou do que realmente era capaz no infame “O Legado Bourne” (2012). O texto do novo filme foi construído pelo próprio Greengrass e o exímio montador Christopher Rouse com carinho pela série e uma preocupação sobre segurança e privacidade das informações numa era pós-Edward Snowden. Mesmo assim, o script é repleto de coincidências forçadas, reviravoltas pouco criativas e uma desnecessária intenção de emprestar ao retorno de Bourne uma motivação mais pessoal que a premissa contada em “A Identidade Bourne” (2002). Enfim, são clichês capazes de fazer a série continuar para sempre, ainda que esse novo filme já repita algumas ideias que deram certo nos filmes anteriores. Pelo menos serve para matar a saudade, após quase uma década sem ver o personagem. Mas uma provável continuação terá a obrigação de ousar mais.

    Leia mais
  • Filme

    Independence Day ressurge sem a mesma potência

    29 de junho de 2016 /

    Assim como a Terra, o diretor Roland Emmerich teve 20 anos para se preparar para a volta dos alienígenas em “Independence Day: O Ressurgimento”. Mas como um dos personagens conclui de forma metalinguística na metade do filme, não foi suficiente. Fato: estamos mais velhos desde o primeiro “Independence Day” (1996). Mas não é desculpa para o segundo episódio da (agora) franquia parecer tão velho. E a culpa é do próprio Emmerich. Não pelas soluções fáceis e rápidas que a resistência humana encontra para fazer frente aos alienígenas. Ou pelo filme ser brega, clichê e pregar a mesma diversão escapista de quando os cinemas cheiravam à pipoca e ninguém levava blockbusters a sério. Mas por Emmerich ter estabelecido, com mérito, em 1996, um padrão para destruições em grande escala, que tantos outros aprenderam a copiar. “Independence Day” foi o grande evento cinematográfico dos anos 1990, quando as superproduções podiam ser contadas nos dedos da mão. Há duas décadas, só dividiu atenções com “Twister” e o primeiro “Missão: Impossível”. Hoje, Hollywood lança um filme desse porte quase toda semana. Fica difícil sentir o prazer de se surpreender, de ficar impressionado, quando a destruição do planeta vira o lugar-comum cinematográfico – só neste ano, os efeitos digitais ameaçaram a Terra em “Batman vs Superman”, “X-Men: Apocalipse” e até “As Tartarugas Ninja”. Mas Emmerich não estabeleceu um padrão por acaso. Pode-se falar qualquer coisa dele, menos que o diretor se repita na escala de sua destruição. Os efeitos catastróficos do novo “Independence Day” são diferentes dos vistos em “Godzilla” (1998), que não são iguais aos de “O Dia Depois de Amanhã” (2004), que por sua vez são diversos em “2012” (2009). Mesmo assim, como espetáculo, é estranho que “O Ressurgimento” pareça maior em suas ambições e, ao mesmo tempo, menor na execução. É visível a intenção de Emmerich em tornar as sequências de ação e destruição ainda mais monumentais, porém com durações mais curtas, talvez por ter a noção de que praticamente tudo foi explorado nesse quesito nos anos anteriores. Mas os esforços digitais, embora muito bem trabalhados, já não impressionam como os resultados alcançados pelo filme original, que mesclou os primórdios da tecnologia usada atualmente com os sempre bem-vindos efeitos práticos. O resultado é que não há uma cena sequer em “O Ressurgimento” que deixe o espectador com o queixo no chão, como aconteceu com a sombra da nave no primeiro filme, o início dos ataques e a clássica explosão da Casa Branca em 1996. Em parte, isso também se deve à tendência iniciada nesta segunda metade da década de 2010: as continuações que copiam o template dos filmes originais. Não que sejam exatamente iguais, como os remakes, mas utilizam a mesma estrutura de roteiro. Foi a principal reclamação em “Star Wars: O Despertar da Força” (2015), que copiou a estrutura de “Guerra nas Estrelas” (1977). Tudo bem, porque se você vai copiar, copie dos melhores. Acontece que “Independence Day” não é uma obra tão relevante quanto a que George Lucas criou em 1977. Assim, onde o primeiro longa se inspirava nos filmes B, com pitadas do cinema de Lucas e Spielberg, “O Ressurgimento” se inspira basicamente na obra do próprio Emmerich. No elenco, Bill Pullman, Jeff Goldblum e Brent Spiner brilham sempre que aparecem, agindo como “mestres” e deixando as cenas de ação para uma nova geração de “aprendizes”. Mas se Daisy Ridley, John Boyega e Oscar Isaac convencem como substitutos de Mark Hamill, Harrison Ford e Carrie Fisher em “Star Wars”, o mesmo não acontece com Jessie T. Usher, Liam Hemsworth (ambos péssimos) e Maika Monroe (a melhor do trio, mas não tão aproveitada quanto os dois rapazes), que nem somados conseguem fazer frente à ausência de Will Smith, que não topou fazer a continuação. Por outro lado, há uma preocupação em transmitir maior tolerância na representação da espécie humana. O mundo que surge no começo do filme é mais harmônico, sem preconceitos raciais e sexuais, após a população mundial perceber que “não estamos sozinhos”. E, pelo jeito, a humanidade precisará se unir ainda mais, porque há um gancho safado no final do longa-metragem para uma continuação. Infelizmente, esta é outra aposta de Emmerich em seu próprio taco que pode gerar frustração, devido às fracas bilheterias.

    Leia mais
  • Filme

    Invocação do Mal 2 confirma talento de James Wan para assustar o público

    14 de junho de 2016 /

    Não foi com “Jogos Mortais” (2004) e “Sobrenatural” (2010) que James Wan mostrou que deveria ser levado a sério como um dos cineastas mais promissores deste século. Foi com o primeiro “Invocação do Mal” (2013), relembrando como se faz um belo filme de terror, ao valorizar sugestões em cada canto de uma boa e velha casa mal-assombrada e recuperar a sensação de medo do desconhecido. Não precisava de uma continuação, mas, como era inevitável, nada melhor que contar novamente com Wan na direção. Mais uma vez buscando inspiração nos arquivos dos demonologistas Lorraine (a sempre ótima Vera Farmiga) e Ed Warren (o sempre fraco Patrick Wilson), o diretor conduz o espectador à Londres dos anos 1970 para revelar os bastidores do famoso caso conhecido como “Poltergeist de Enfield”. Quem assistir a um documentário da BBC realizado na época, notará o quanto a produção fez um trabalho incrível para reconstruir cenários, figurinos e personagens reais. Destaque para a fotografia de Don Burgess, que além de alçar “voos” pelos cômodos da casa, brinca de forma eficiente com as cores e atua a favor do ilusionismo como poucos filmes do gênero conseguiram. Um exemplo: marcada pelos espíritos de porco de “Invocação do Mal 2”, a menina Peggy (a fantástica Madison Wolfe) só usa vermelho e, assim, se destaca das penumbras ora cinzentas, ora completamente dominadas pela escuridão da casa amaldiçoada da vez. “Invocação do Mal 2”, porém, não supera o original. Nem mesmo se iguala. Ainda assim, mostra como pode ser prazeroso ver o resgate dos ensinamentos dos melhores exemplares do terror hollywoodiano dos anos 1970, aliados a truques modernos, que Wan tira da câmera para manipular as emoções e prender a atenção da plateia. É um mágico no controle absoluto de seus lenços, pombos e cartolas. O show permanece elegante, imersivo e impressionante – muitos se pegarão agarrados à cadeira do cinema em alguns momentos –, mas, diferente do primeiro, Wan mostra e explica mais que sugere. Ao contrário do “Invocação do Mal” original, que segura a onda até os minutos finais, quando o implícito dá lugar ao explícito, o segundo filme privilegia os sustos à incômoda e quase que ininterrupta sensação de calafrio, embora Wan ainda brilhe nesse quesito. Duas cenas de “Invocação do Mal 2” ilustram essa diferença. Há um espírito maligno conhecido como “Homem Torto”, que, já em sua primeira aparição, aparece em toda a sua glória (e não é CGI e sim o incrível trabalho corporal do ator magrelo Javier Botet). Mas é em sua segunda cena, quando mal aparece, que ele tem maior impacto, resultado mais de sugestão que revelação. Mas o filme não é só uma sucessão de sustos. Há um bom desenvolvimento dramático, que aproxima o espectador dos protagonistas e da família que eles tentam salvar. Somos convidados a entrar e a habitar a casa mal-assombrada. É o que basta para embarcar na proposta. James Wan, tanto aqui quanto no primeiro, valoriza as relações humanas e os dramas familiares, uma estratégia que costuma levar aos melhores filmes do gênero. Wan é mestre nesse tipo de filme, mas já começa a se repetir, juntando elementos que deram certo em “Invocação do Mal” e “Sobrenatural” – um velho, um demônio, a caminhada solitária pelo lado espiritual, a “nova Annabelle” (representada pelo “Homem Torto”), entre outros. O que ele faz de melhor é desenvolver bem os personagens, mostrando como os Warren se fortalecem indo até o inferno e retornando como um casal mais apaixonado que nunca. Você pode pular da cadeira na “cena do quadro”, mas é a identificação instantânea com essas pessoas que ficará em sua mente.

    Leia mais
  • Filme

    Como adaptação de game, Warcraft não passa do primeiro nível

    10 de junho de 2016 /

    Antes do nome do filme surgir na tela, embora seja o melhor momento de “Warcraft”, o público cai de cabeça em um mundo que se prepara para ser o palco do primeiro confronto entre orcs e humanos. Basicamente é tudo o que você precisa saber, e isso não costuma ser um problema para situar uma trama de ação e aventura. O problema, na verdade, é que tudo o que vem a seguir continua a ser subentendido e desenvolvido aos trancos e barrancos. Quando entramos em “Star Wars” e “O Senhor dos Anéis”, muita coisa já aconteceu na timeline de seus universos, mas a narrativa é tão eficiente que é possível pegar a história com o bonde andando, preencher o que não foi mostrado com breves informações, uma curta introdução muito bem contada e uma bem-vinda dose de imaginação. Afinal, menos costuma ser mais. Em “Warcraft”, pelo contrário, os excessos dominam as intenções do diretor e roteirista Duncan Jones (“Contra o Tempo”) e a trama entra em convulsão contínua. Nos primeiros minutos, nossos olhos se assustam com tanto CGI, numa qualidade técnica de causar inveja a “Speed Racer” (2008), das Irmãs Wachowski, e aos piores momentos dos episódios I e II de “Star Wars”. Chamar o design de cartunesco seria bondade demais com o filme e uma ofensa aos cartuns. Mas não é só o visual que parece artificial em “Warcraft”. Também os personagens, suas motivações e arcos dramáticos. Duncan Jones divide a trama em vários núcleos, com uma pressa danada para costurá-los e levar a história adiante na marra, mas é claro que não consegue desenvolver adequadamente nenhum deles. O fato é que o espectador não familiarizado com os games acabará se perdendo. A começar pelo herói. Afinal, o que é o humano Lothar? O ator Travis Fimmel (série “Vikings”) faz uma espécie de Aragorn de braços curtos (pode reparar) se requebrando, com as veias saltando da cara, todo suado e vermelho, como se estivesse bêbado ou drogado full time. Que herói é esse que chega atrasado na batalha final? É verdade, espere para ver isso. O sujeito é tão estranho que não é difícil gostar mais de Durotan (Toby Kebbell, de “Quarteto Fantástico”), o orc que questiona a invasão e acredita numa aliança com os humanos para evitar uma catástrofe maior. Pena que ele seja obrigado a dar espaço a outros personagens mal construídos, como o pior de todos: Medivh, o Guardião patético interpretado pelo sempre exagerado Ben Foster (“Programado para Vencer”). Duvido que o leigo em “Warcraft” tenha conseguido entender 100% o que aconteceu com ele. Mas temos duas peças neste tabuleiro que são bem tratadas, o “aprendiz de feiticeiro” Khadgar, e Garona, que é metade orc. Ambos são bem defendidos respectivamente pelos atores Ben Schnetzer (“Orgulho e Esperança”) e Paula Patton (“Missão Impossível: Protocolo Fantasma”). Embora ela seja prejudicada pela pesada maquiagem (estranhamente, a personagem não é CGI) e lembre a Gamora de “Guardiões da Galáxia” – carregando até um nome parecido -, Paula Patton empresta dignidade e força a uma personagem feminina no meio de tantos machos estúpidos, passando a impressão de ter a jornada mais interessante do filme. Como Garona, Durotan, Khadgar e um bebê orc que ainda pode dar o que falar, o filme passa a sensação de que há algo bom escondido no meio de tanta poluição visual e narrativa. Alguns momentos são divertidos e há trabalhos competentes em matéria de direção de arte e figurinos, sem falar que Duncan Jones conduz muito bem as cenas de ação. Mas a produção é prejudicada não por uma história ruim ou sem sentido, mas por uma história mal contada. Talvez os fãs do game consigam preencher facilmente em suas cabeças as lacunas do roteiro, afinal o que não falta em “Warcraft” é fan service. Mas o público em geral pode achar chato ver gameplay na tela grande. Especialmente porque “Warcraft” não tem final e vincula o interesse dos espectadores à possibilidade de continuar sua aventura para além do que mostrou nesse fraco primeiro nível.

    Leia mais
  • Filme

    Alice Através do Espelho exagera nos efeitos para compensar falta de imaginação

    2 de junho de 2016 /

    Na adaptação de 2010, dirigida por Tim Burton, a Disney transformou Alice, a protagonista dos livros de Lewis Carroll, na escolhida. A “The One”, como o Neo de “Matrix” (1999), indicada por uma profecia para salvar o País das Maravilhas de todo o mal. Nada contra adaptações ou atualizações, mas houve um choque de intenções e expectativas. É um filme lindo de se ver, mas dominado por um vazio emocional. Pelo menos, tentou dizer algo e tinha a criatividade de Tim Burton à frente do projeto, mesmo que controlada pelo estúdio. Seis anos depois, “Alice Através do Espelho”, a continuação desnecessária – feita em consequência da surpreendente (e inexplicável) arrecadação de mais de US$ 1 bilhão do primeiro longa nas bilheterias mundiais –, não tem nada (ou quase nada) para contar. Apenas recicla o que Burton imaginou em nome de uma trama sem pé nem cabeça. Desta vez, o cineasta assume o posto de produtor executivo. A direção ficou com o funcionário do mês da Disney, James Bobin, que fez uma graninha para o estúdio com o reboot de “Os Muppets” (2011). Acontece que ele não é Tim Burton, que é como aquele jogador veterano, craque de bola, que mesmo perto da hora de se aposentar, o time não funciona sem sua presença em campo. E notamos sua distância, a começar pela direção de arte pouco inspirada. Bobin concentra em tomadas internas o que há de bom para ser apreciado do visual. Nas cenas externas, carregadas de CGI, a inspiração passa longe do que a mente de Tim Burton é capaz de reproduzir. Se o próprio não foi tão feliz no “primeiro” “Alice”, imagine o que a criatividade de James Bobin pôde proporcionar ao segundo filme? Repare bem, principalmente nas sequências em que Alice viaja numa esfera por cima das ondas do mar. O exagero de CGI é tão grotesco que as imagens lembram menu interativo de escolha de cenas em blu-rays e DVDs. Claro que são boas as intenções do diretor e da roteirista Linda Woolverton, que também assinou o filme de 2010, afinal “Alice Através do Espelho” começa explorando a liberdade feminina e o choque entre velhas e novas gerações. com a protagonista viajando pelo tempo com o intuito de mudar o curso da história. Mas o desenvolvimento é superficial, até porque as ambições e os conflitos de Alice são colocados em segundo plano, para ajudar o insuportável Chapeleiro e colocá-lo no centro da trama – porque é preciso justificar o salário alto do decadente Johnny Depp. Com Depp em cena, Alice ignora até mesmo a perda do pai em suas viagens pelo tempo. Será que não passou pela cabeça dela que havia ali uma chance de trazê-lo de volta? Mas o que importa é deixar o Chapeleiro feliz. Sem mais nem menos, o coitadinho lembrou que tem uma família e precisa encontrá-la. Mas como está tristinho e é preguiçoso como todos os outros personagens do País das Maravilhas, a bucha sobra para a pobre Alice, que é retirada de sua rotina para entrar num mundo de sonhos sem graça mais uma vez. Isso quer dizer que ela pode voltar sempre que um amiguinho quiser? É uma pena que a obra de um gênio como Lewis Carroll seja adaptada para enriquecer um estúdio obcecado pelo potencial lucrativo de uma franquia. Essa não é a versão para o cinema do livro “Alice Através do Espelho”, que tem outra história, mas uma mera continuação inferior do filme de Tim Burton. Nada se salva. Nem Mia Wasikowska, que se esforça para segurar a onda, mas não pode competir com tantos personagens digitais e careteiros. Nem mesmo Sacha Baron Cohen, uma novidade na série personificando o Tempo. E o maior elogio que o ator pode receber é que ele entrega uma atuação menos irritante que a de Johnny Depp. Após uma sucessão de efeitos visuais desastrosos e um roteiro sem imaginação, o Tempo de Sacha Baron Cohen resume o sentimento dos espectadores, ao dizer à protagonista: “Por favor, não volte mais aqui!”

    Leia mais
  • Filme

    Jogo do Dinheiro desperdiça George Clooney e Julia Roberts em história batida

    2 de junho de 2016 /

    Quando Jodie Foster dirige George Clooney e Julia Roberts, você precisa ver o filme, certo? Mas “Jogo do Dinheiro” passa a incômoda impressão de ter sido lançado com anos de atraso. Não apenas na estrutura do roteiro, mas também na crítica ao capitalismo, à forma como o mercado financeiro é movimentado e como a mídia, com destaque para a TV, gosta de um sensacionalismo. Um filme desses já nasce velho desde que Sidney Lumet fez duas obras-primas: “Um Dia de Cão” (1975) e “Rede de Intrigas” (1976). “Jogo do Dinheiro” não chega aos pés de nenhum deles, mas a inspiração está em algum lugar na junção dos dois filmes, com Jodie Foster atualizando o drama para a era digital e o circo de Wall Street. É inferior até às produções recentes que retrataram com um olhar bem mais ousado as rotinas dos corretores da Bolsa, “O Lobo de Wall Street” (2013) e “A Grande Aposta” (2015). A proposta de Jodie Foster, na verdade, está mais para “O Quarto Poder” (1997), talvez o pior filme do diretor Costa-Gavras. Vale a comparação, porque a cineasta recicla para o novo milênio o diálogo entre o homem da mídia (Dustin Hoffman) e o pobre traído pelo sistema capitalista (John Travolta), que faz o primeiro de refém, enquanto a imprensa se esbalda na cobertura ao vivo da tensão. No caso de “Jogo do Dinheiro”, sai o repórter, entra um apresentador de TV, que analisa o mercado e dá dicas aos telespectadores sobre poupar e onde aplicar suas economias. O nome deste guru das finanças é Lee Gates, encarnado por um George Clooney se divertindo muito mais que a plateia do lado de cá da tela, mas o carisma do ator combina com o personagem. Na trama, ele acaba se tornando refém de um infeliz, Kyle (Jack O’ Connell, fraco, fraquíssimo), que perdeu tudo graças aos conselhos de Gates. Com as câmeras ligadas e o mundo assistindo seu calvário, o apresentador tenta levar o sequestrador na lábia, como costuma fazer muito bem, para dar tempo ao resgate orquestrado pela polícia. No meio disso, Jodie Foster enfatiza como o sistema não pode ser interrompido e o posiciona como o grande inimigo de Kyle, que quer apenas um pedido de desculpas, com Gates aprendendo de uma vez por todas a valorizar o ser humano, não o dinheiro, blá blá blá. Nem é preciso contar mais. Assim como filme de cachorro, você sabe como isso vai acabar. Além de Clooney e O’Connell, o elenco ainda tem Julia Roberts como a diretora do programa de TV, Patty. É aquele negócio, Julia é Julia, competente como sempre, mas não entrega nada memorável, além da tradicional química perfeita com Clooney. E entre rostos conhecidos, destaca-se um ainda pouco visto na tela grande, a bela atriz irlandesa Caitriona Balfe, da série “Outlander”, como uma grande executiva da empresa que ferra com a vida de Kyle. Como diretora, Jodie conta a sua história com competência, equilibrando o drama com uma boa dose de humor, sem tropeçar no ritmo. E ajuda o filme ser curto, com pouco mais de uma hora e meia, indo direto ao ponto. É uma pena, no entanto, que o roteiro de Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf esteja ultrapassado e se contente com tão pouco. Esperava-se mais de um filme de Jodie Foster, com George Clooney e Julia Roberts.

    Leia mais
  • Filme

    Novo X-Men decepciona, mas não chega a ser um apocalipse

    24 de maio de 2016 /

    Não foi Christopher Nolan, com a trilogia do “Cavaleiro das Trevas”, que levou a sério um filme de super-herói pela primeira vez. Foi Bryan Singer no “X-Men” original de 2000, abrindo as portas para um novo universo nos cinemas, mais realista que as tentativas anteriores. Só que, desta vez, o diretor que praticamente definiu um gênero, perdeu o rumo ao abraçar o irreal com todas as forças em “X-Men: Apocalipse”, seu trabalho mais fraco à frente da franquia e o pior da trilogia estrelada pela nova geração, como fala Jean Grey numa cena, em que a brincadeirinha com “O Retorno de Jedi” (1983) saiu pela culatra: “Well, at least we can all agree, the third one is always the worst”. Estaria tudo certo se Bryan Singer seguisse o que ele mesmo ensinou: os mutantes são tão ou mais humanos que nós, homo sapiens. Seus poderes extraordinários sempre ficaram em segundo plano. Mas não neste filme, que exige dos X-Men um esforço para a utilização máxima de suas habilidades, para deter um vilão poderosíssimo, o primeiro mutante a andar na Terra, vindo da era de Imhotep e Anck Su Namun, colecionando os atributos de outros mutantes e se vendendo como uma divindade. Na verdade, porém, Apocalipse não passa de um fanfarrão que quer mandar tudo pelos ares. E ele acorda na década de 1980, dez anos após os eventos de “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” (2014), graças a uma solução vergonhosa do superestimado roteirista Simon Kinberg, que Singer jamais deveria ter aprovado. Se você não conseguiu enxergar (e não é culpa sua), pode acreditar que Oscar Isaac (“Star Wars: O Despertar da Força”) é o ator por trás da maquiagem e o “cospobre” de Apocalipse, que daria orgulho aos profissionais que trabalharam em “Power Rangers”, “Jaspion” e “Spectreman”, heroicos artistas que fizeram milagres com um orçamento ridículo. O vilão patético surge com voz de megafone e mais imobilizado, sem expressões ou personalidade, que Darth Vader e RoboCop, o que lhe deixa inerte em cena e obriga a trama e os X-Men a reagirem à sua presença. Então, é hora de dar porrada e descarregar os poderes em cima da criatura estúpida. Pior que a franquia sempre se concentrou em vilões humanos como contraponto aos mutantes. E agora… isso. Desta vez, infelizmente, qualquer traço de humanidade valorizado por Singer nos filmes anteriores foi deixado de lado, apesar do início intrigante. Especialmente a boa parte dramática envolvendo Magneto (Michael Fassbender). Mas é um filme cheio de repetecos, como os dilemas de Jean Grey (agora a talentosa Sophie Turner, de “Game of Thrones”) e o retorno de Mercúrio (o excelente Evan Peters) fazendo exatamente o mesmo de “Dias de um Futuro Esquecido”, mas numa versão estendida em cenário diferente. E, claro, Mística (Jennifer Lawrence), pela milésima vez, tentando nos enganar ao se passar por outra pessoa. Sem esquecer do showzinho básico do Magneto voador arremessando metais para todos os lados. Mas tirando Oscar Isaac, embora seja injusto colocar o mico do figurino em sua conta, o elenco garante a diversão com sua competência indiscutível. Destaque, de novo, para James McAvoy (Charles Xavier) e os já citados Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Evan Peters e Sophie Turner. Vale ainda apontar o jovem Tye Sheridan, que se sai muito melhor que o ex-Ciclope, o insosso James Marsden. Singer só esqueceu de dar um pouco de voz aos “seguranças” do vilão, os quatro modernos cavaleiros do apocalipse. Magneto é o único que não entra mudo e sai calado. Também não espere discussões profundas sobre a origem de Apocalipse e consequentes interpretações bíblicas, embora houvesse material de sobra para agitar um debate interessante sobre o assunto, mas talvez tenha faltado coragem para jogar lenha na fogueira. Fora isso, não há muito o que dizer nessa história, que está lá para servir de apoio para o clímax apoteótico, dominado por uma avalanche de efeitos visuais que fazem o filme de 2000 parecer uma produção rodada no quintal da casa de Bryan Singer, embora tivesse um roteiro bem melhor e personagens mais ricos em humanidade. Aqui, o exagero toma conta da tela, embora a solução final para a batalha pudesse vir a qualquer momento – mas isso transformaria o filme num curta. Apesar de pouco inspirado, Bryan Singer tem crédito, ainda consegue prender a atenção e divertir na medida do possível – não tem como ficar indiferente, por exemplo a uma participação especial lá pela metade do filme, em alusão à história clássica dos quadrinhos “Arma X”. Os fãs piram. E temos uma competente reconstrução dos coloridos e exagerados anos 1980 – que talvez seja uma desculpa para o filme ir pelo mesmo caminho. O fato é que “X-Men: Apocalipse” tem problemas, mas (desculpe-me por isso) não chega a ser o fim do mundo. Verdadeiro apocalipse foram “X-Men: O Confronto Final” (2006) e “X-Men Origens: Wolverine” (2009).

    Leia mais
 Mais Pipoca
Mais Pipoca 
@Pipoca Moderna 2025
Privacidade | Cookies | Facebook | X | Bluesky | Flipboard | Anuncie