Robert Pattinson e Mia Wasikowska estrelam primeiro western do #MeToo no Festival de Berlim
Na competição do Leão de Ouro do Festival de Berlim 2018, até o bom e velho western aparece sob a ótica contemporânea do movimento #MeToo. Dirigido pelos irmãos David e Nathan Zellner (“Kumiko, a Caçadora de Tesouros”), “Damsel” traz o inglês Robert Pattinson (“Bom Comportamento”) e a australiana Mia Wasikowska (“Alice Através do Espelho”) como um casal de noivos no Velho Oeste. O detalhe é que ela não quer ser a donzela do final feliz da novela. O personagem de Pattinson é um forasteiro que chega numa cidadezinha em busca de um pastor beberrão para oficializar seu casamento, enquanto a personagem de Wasikowsk luta para confrontar os anseios casamenteiros de um mundo de vaqueiros. “Não preciso ser salva de nada!”, avisa a jovem na trama, que tem mais tom de comédia que tiroteios ao meio-dia e cavalgadas ao por-do-sol. “Gostei de encontrar uma personagem que segue sua própria vontade sem se limitar a satisfazer as projeções de um homem”, disse Mia Wasikowska, na entrevista coletiva de Berlim. Ela afirmou ter gostado muito da proposta da produção. “Sempre tento dar espaço para o cinema independente nas minhas escolhas e aprender com experiências nas quais possa me conectar com pessoas dispostas a mudar o cinema”. Após explicar que passou o último ano inteiro na Austrália, ele contou que estava maravilhada por ver, à distância, as discussões em torno do assédio sexual e da igualdade de gêneros, mas que só percebeu o impacto cultural do momento durante a pré-estreia mundial de “Damsel” no Festival de Sundance. “Foi possível sentir a energia gerada pelos debates que o filme suscitou entre as pessoas que participaram do festival”, ela apontou. “Estamos vivendo um momento que vai trazer mudanças significativas para as mulheres, em todos os setores da sociedade”. Para a atriz, a campanha #MeToo não se restringe apenas à denúncia de assediadores, “é reflexo de uma mudança maior de comportamento – o que significa que certas posturas não serão mais toleradas, dentro e também fora do mundo do cinema”. Robert Pattinson comentou esse clima de mudanças, ao descrever como seu personagem “acredita que o amor permite qualquer atitude, mas não é assim que as coisas funcionam”. “Ele acha que pode tudo e acredito que isso é o que ocorre com a maioria dos homens”, ponderou o ator, para quem a trama reflete a encruzilhada que os homens precisam confrontar. O fato desse confronto de visões acontecer no gênero mais masculino de todos, o western, chama atenção, mas não é casual. “Somos fãs de western desde crianças. Mas a verdade é que alguns clichês nos deixavam entediados”, disse o cineasta David Zellner. “Nos clássicos do gênero, as personagens femininas eram vistas como elementos decorativos ou simples objetos do desejo dos homens. Eram elementos que não nos interessavam agora. Queríamos fazer da heroína um ser humano complexo, com conflitos emocionais. Hoje em dia é difícil fazer filmes como os de John Wayne”, completou.
Coprodução brasileira na disputa do Leão de Ouro em Berlim agrada a crítica internacional
Única produção brasileira na disputa do Urso de Ouro do Festival de Berlim 2018, “Las Herederas” recebeu críticas elogiosas da imprensa internacional que cobre o evento alemão. O filme é uma parceria sul-americana e europeia, dirigida por um jovem paraguaio, Marcelo Martinessi, curtametragista premiado que assina seu primeiro longa. A trama gira em torno de um mulher sexagenária (Ana Brun, aplaudidíssima) separada de sua parceira de toda a vida, enquanto precisa se desfazer dos móveis e obras de arte da família para pagar as contas da casa em que viveram juntas, atualmente em estado de ruína. As dívidas se acumulam, após uma delas ser presa por fraude bancária, deixando a outra sozinha no casarão. Até que, aos poucos, a senhora solitária cede aos convites da vizinha mais jovem, que gosta de sair de casa para jogar pôquer com as amigas, e transforma o antigo Mercedez Bens herdado do pai em transporte particular. O filme é sutil, mas lida com temas poderosos, como amor e companheirismo entre mulheres (LBGTQ, mesmo), decadência da classe média, crise econômica, Terceira Idade, etc, tudo num microcosmo doméstico. “Comecei a pensar nessa casa como uma pequena prisão para essa mulher, que luta por mais liberdade. Queria contar uma história dentro de um espaço fechado, que refletisse um pouco a situação em que a sociedade paraguaia está atravessando. É uma metáfora para o país”, contou Martinessi durante entrevista coletiva no festival. Coproduzido pela diretora carioca Julia Murat, “Las Herederas” também conta com apoio de produtoras do Uruguai, da França, da Alemanha, entre outros países. A coprodução internacional, segundo o cineasta, é a única forma de se fazer cinema de qualidade no Paraguai. “O Paraguai é quase invisível, em termos de cinema. Não temos leis de incentivo lá. Outros países do continente também atravessam momentos difíceis, como o México e o Brasil, mas pelo menos eles tem incentivo e seus cineastas estão contanto histórias fantásticas sobre sua sociedade. Em um certo sentido, nosso filme reflete a obscuridade em que o Paraguai vive. Ninguém sabe o que acontece por lá”.
Wes Anderson abre o Festival de Berlim com cães animados
O Festival de Berlim 2018 foi aberto pela primeira vez com uma animação, “Ilha de Cachorros”, de Wes Anderson. Assim como o primeiro trabalho animado do diretor, “O Fantástico Dr. Raposo” (2009), trata-se de uma obra realizada com as velhas técnicas de stop-motion, em que bichos falam, mas humanos não os entendem. A trama se passa num futuro distópico, após uma epidemia de gripe canina levar os cachorros a serem isolados numa ilha do Japão, que serve de depósito para lixo. Mas o prefeito de Megasaki, amante de gatos, não se contenta e pretende implementar uma política de extermínio dos cães remanescentes. Até o cachorrinho do sobrinho do político corrupto é exilado, o que faz o menino partir numa odisseia para encontrar e resgatar seu pet perdido. Ao chegar na ilha, ele acaba conquistando a confiança de um grupo de cachorros de diferentes espécies, que, sensibilizados, resolvem ajudá-lo em sua busca. O problema é que, como eles falam inglês, não entendem o que diz o menino japonês. Ao falar com a imprensa internacional sobre a produção, Anderson listou as influências que o levaram a filmar essa fábula. “Dois diretores japoneses nos serviram de inspiração: Akira Kurosawa, em termos de ação e personagem, e Hayao Miyazaki”, disse, citando dois mestres. “‘Ilha de Cachorros’ aspira aos detalhes e silêncios dos desenhos animados de Miyazaki. Ele é um mestre em reproduzir a natureza e momentos de paz que não encontramos na tradição americana de animação. A ideia original era fazer um filme sobre cães abandonados que sobrevivem com sobras de um lixão. Acrescentamos nosso amor pelo cinema japonês e os filmes de Akira Kurosawa, no que é uma versão fantasiosa do Japão”. Apesar de se tratar de uma animação, Anderson afirma que “Ilha dos Cachorros” é o seu primeiro filme com viés abertamente “político”. “No início do processo, precisávamos criar uma política para a cidade fictícia de Megasaki. Sabíamos que teríamos um prefeito corrupto e tudo o mais, dentro desse lugar que nós inventamos. Mas o mundo mudou radicalmente ao longo do tempo, então a vida real acabou encontrando o seu caminho na história do filme. A trama virou uma situação que pode acontecer em qualquer lugar do mundo, e a qualquer momento”. Com quem explica a piada, ele acrescenta: “Os cães, claro, são pessoas, são exilados devido a um movimento político. O filme não é apenas inteiramente sobre cães”.
Novo trailer de Okja destaca os elogios da crítica internacional
A Netflix divulgou um novo trailer da fantasia sul-coreana “Okja”, que destaca os elogios da crítica durante sua exibição no Festival de Cannes 2017. Além de saudar o trabalho do diretor e roteirista Bong Joon Ho (“Expresso do Amanhã”), as frases de impacto aplaudem a sempre ótima Tilda Swinton (“Doutor Estranho”) e o desempenho da pequena Ahn Seo Hyun, que, apesar de ter apenas 13 anos, já possuiu uma dezena de títulos em seu currículo, inclusive o drama premiado “A Empregada” (Hanyo, 2010). Na trama, Okja é uma espécie de “superporco” criado em laboratório pela empresa Mirando, dirigida pela personagem de Tilda Swinton, com o objetivo de acabar com a fome mundial. O problema é que o bicho é fofo demais e vira o animal de animação de uma garotinha, que se desespera ao vê-lo ser levado para o abatedouro e se junta a um grupo de ativistas para libertá-lo. Produzido pela Plan B, empresa de Brad Pitt, em parceria com o serviço de streaming, o filme também traz em seu elenco os atores Jake Gyllenhaal (“O Abutre”), Lily Collins (“Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos”), Paul Dano (“12 Anos de Escravidão”), Devon Bostick (série “The 100”), Steven Yeun (série “The Walking Dead”) e a dupla Byeon Hie-bong e Yun Je-mun, que trabalhou com o diretor em vários filmes, entre eles “O Hospedeiro” (2006), primeiro filme de monstros de Bong Joon Ho. “Okja” estreia em streaming no dia 28 de junho.
Testemunha diz que Johnny Depp foi lesado em milhões por seus empresários
A batalha legal entre Johnny Depp e seus ex-empresários ganhou um novo round com o depoimento de uma ex-funcionária da agência TMG, que afirmou em juízo que o ator foi lesado em milhões pela empresa. Depp decidiu processar a TMG em janeiro, após verificar o estado quase falimentar de suas finanças e acusar seus diretores, Joel e Robert Mandel, de tratarem seu dinheiro como se fosse deles, sem prestar contas e tomar decisões que lhe custaram boa parte de sua fortuna. Seus ex-empresários responderam à ação alegando que Depp ficou insolvente porque gastava em ritmo vertiginoso, sem o menor controle. O depoimento da ex-funcionária da empresa, Janine Rayburn, foi dado em março, mas só agora veio à público por decisão da juíza do caso, Teresa Beaudet. Segundo o site The Hollywood Reporter, a TMG tentou impedir que o sigilo dos autos fosse levantado, afirmando que o testemunho era falso e difamatório, além de ferir um contrato de confidencialidade. Mas a juíza contestou a alegação, ao dizer que não poderia haver confidencialidade num caso em que os dados financeiros são a razão do litígio. Além disso, o caso seria de interesse público e não deveria correr em sigilo. Rayburn foi gerente de contas na TMG entre 2008 e 2010, e um dos clientes que administrava era Depp. Ela diz que seu trabalho envolvia processamento de contas bancárias, depósito de cheques, registro de investimentos e a satisfação de outras necessidades do cliente. E que sua demissão se deu na época em que ela se recusou a fazer coisas que considerava anti-éticas e até ilegais, como reconhecer a assinatura de Depp num documento sem o seu conhecimento e alterar números nas demonstrações financeiras. “Eu não acredito que Johnny tenha percebido sua situação financeira”, declarou Rayburn no processo. “Pelo meu conhecimento, as demonstrações financeiras não lhe foram enviadas”. Rayburn afirmou ainda que a empresa estava usando o dinheiro de Depp para pagar as despesas pessoais de sua irmã, que trabalha na sua produtora – incluindo o casamento da filha dela, viagens e uma nova piscina – sem a permissão expressa do ator. Ela diz que questionou Christi Dembrowski, a irmã, sobre os gastos em duas ocasiões e “sua resposta foi, ele é meu irmão. Meu dinheiro é o dinheiro dele. O dinheiro dele é meu”. A TMG sustenta que Rayburn é uma “mentirosa” descontente com a empresa. “Em interrogatório, Janine Rayburn admitiu que não fazia parte da equipe da TMG que confeccionou as demonstrações financeiras da Depp e que ela não tem absolutamente nenhum conhecimento pessoal sobre o que a TMG disse à Depp sobre suas finanças”, afirmou o advogado dos empresários, Michael Kump ao THR. “A confiança de Depp nas declarações altamente especulativas de Rayburn é ridícula. Na verdade, a única conversa que Rayburn afirma ter ouvido foi quando os empresários e seus assessores discutiram os tremendos problemas de gastos de Depp, que se estendiam por pelo menos uma década”. Já os advogados de Depp revelam que contadores independentes verificaram a alteração dos demonstrativos financeiros, com o objetivo de levantar empréstimos bancários no nome do ator, que ele nunca solicitou, para pagar por serviços que ele nunca soube quanto custavam e funcionários com preço acima do mercado. Depp encerrou seu relacionamento com a TMG em 2016, pouco depois que a empresa o aconselhou a começar a liquidar ativos imobiliários para pagar suas contas. Ele então contratou uma auditoria independente, que descobriu uma suposta má conduta dos empresários em relação às suas finanças. O caso deve ouvir várias outras testemunhas, pois o julgamento final está previsto apenas para 2018.
Filme sueco vence Festival de Cannes, que também premiou Sofia Coppola e Joaquin Phoenix
O filme sueco “The Square”, de Ruben Östlund, foi o vencedor da Palma de Ouro do 70º Festival de Cannes. A obra não era das mais badaladas da competição, mas o diretor já tinha causado boa impressão em Cannes com seu filme anterior, “Força Maior” (2014), exibido e premiado na seção Um Certo Olhar há três anos. Em tom que varia entre o drama e a comédia, a trama acompanha o curador de um importante museu de arte contemporânea de Estocolmo, vítima de um pequeno incidente que desencadeia uma série de situações vexaminosas. Em seu intertexto, “The Square” ainda faz um contraponto entre o ambiente elitista das galerias de arte e a realidade das ruas europeias, cheias de imigrantes e desempregados. Apesar da vitória de um longa europeu, a maior parte das premiações do juri presidido pelo espanhol Pedro Almodóvar foi para produções americanas. Um número, por sinal, mais elevado que o costume entre as edições anteriores do festival. O prêmio de direção ficou com Sofia Coppola por “O Estranho que Nós Amamos”, remake do filme homônimo de 1971, que transforma uma trama de western em suspense gótico. A diretora não estava em Cannes para a cerimônia, realizada no domingo (28/5), mas enviou uma longa mensagem de agradecimento, na qual menciona a neozelandesa Jane Campion, única mulher a vencer a Palma de Ouro, com “O Piano”, em 1993, como uma de suas “inspirações” na carreira. A estrela de “O Estranho que Nós Amamos”, Nicole Kidman, também foi homenageada com um prêmio especial do festival. Neste ano, ela participou de quatro produções exibidas na programação de Cannes. Duas delas estavam na mostra competitiva. E a segunda também foi premiada: o suspense “The Killing of a Sacred Deer”, do grego Yorgos Lanthimos, que venceu o troféu de Melhor Roteiro, empatado com “You Were Really Never Here”, outra produção americana, dirigida pela escocesa Lynne Ramsay. Para completar a lista americana, Joaquin Phoenix, estrela de “You Were Really Never Here”, venceu o troféu de Melhor Ator. A alemã Diane Krueger foi premiada como Melhor Atriz por “In the Fade”, e dois filmes europeus levaram o Grande Prêmio e o Prêmio do Juri, equivalentes ao 2º e 3º lugares do festival: o francês “120 Battements par Minute”, de Robin Campillo, e o russo “Loveless”, de Andrey Zvyagintsev. Por fim, o prêmio Câmera de Ouro, para longa-metragem de diretor estreante, foi para “Jeune Femme”, da francesa Léonor Serraille, exibido na mostra paralela Um Certo Olhar. Nenhum filme da Netflix foi premiado. O júri da competição oficial foi composto pelos diretores Pedro Almodóvar, Park Chan-wook, Paolo Sorrentino, e Maren Ade, as atrizes Jessica Chastain, Fan Bingbing, Agnès Jaoui, o ator Will Smith e o compositor Gabriel Yard. Vencedores do Festival de Cannes 2017 Palme de Ouro de Melhor Filme “The Square”, de Ruben Öslund (Suécia) Melhor Direção Sofia Coppola, por “O Estranho que Nós Amamos” (EUA) Melhor Roteiro “The Killing of a Sacred Dear”, de Yorgos Lanthimos (Reino Unido) “You Were Really Never Here”, de Lynne Ramsay (EUA) Melhor Ator Joaquin Phoenix, por “Your Were Never Really Here” (EUA) Melhor Atriz Diane Krueger, por “In the Fade” (Alemanha) Grande Prêmio do Júri “120 Battements par Minute”, de Robin Campillo (França) Prêmio do Júri “Loveless”, de Andrey Zvyagintsev (Rússia) Prêmio Especial do 70º aniversário de Cannes Nicole Kidman (EUA) Câmera de Ouro (melhor filme de estreia) “Jeune Femme”, de Léonor Serraille (França)
Drama iraniano clandestino vence a mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes
O drama iraniano “Lerd” (A Man Of Integrity) foi o vencedor da mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes 2017. Filmado em segredo pelo diretor Mohammad Rasoulof, o longa é uma crítica ao regime opressor iraniano. A trama se concentra num professor perseguido politicamente por ter feito protestos contra a qualidade da comida de uma fábrica. É a terceira vez que Rasoulof é premiado na mostra Um Certo Olhar. Em 2011, conquistou o prêmio de Melhor Diretor por “Goodbye”, mas já na ocasião enfrentou censura política, tendo sido proibido de sair de seu país para participar do festival francês. Ele acabou condenado a seis anos de prisão pela mensagem “subversiva” de seus filmes. Mesmo assim, rodou clandestinamente “Manuscritos não Queimam”, justamente sobre a experiência de ser um preso político, premiado pela crítica na Um Certo Olhar de 2013. Destinada a exibir obras com uma linguagem mais experimental, a mostra Um Certo Olhar é a seção paralela de maior prestígio de Cannes, seguida pela Semana da Crítica, cuja edição deste ano foi vencida pelo filme brasileiro “Gabriel e a Montanha”, de Fellipe Barbosa O júri presidido pela atriz Uma Thurman também premiou o americano Taylor Sheridan como Melhor Diretor, por “Wind River”, um thriller violento sobre a morte de uma jovem numa reserva indígena nos Estados Unidos, estrelado por Jeremy Renner e Elizabeth Olsen (ambos de “Vingadores: Era de Ultron”). Neste ano, Sheridan já tinha sido indicado ao Oscar como Roteirista, por “A Qualquer Custo”. Os demais premiados foram o mexicano “Las Hijas de Abril”, de Michel Franco, sobre a gravidez de uma adolescente, que venceu o Prêmio do Júri, a atriz italiana Jasmine Trinca, como Melhor Intérprete por “Fortunata”, e o francês Mathieu Almaric com uma Menção Honrosa pela direção “Barbara”. Vencedores da Mostra Um Certo Olhar 2017 Melhor Filme “Lerd” (A Man Of Integrity) – Irã Melhor Direção Taylor Sheridan (“Wind River”) – Estados Unidos Melhor Atuação Jasmine Trinca (“Fortunata”) – Itália Prêmio do Juri “Las Hijas de Abril” – México Menção Honrosa Mathieu Almaric (“Barbara”) – França
Joaquin Phoenix encerra Festival de Cannes com brutalidade
O thriller “You Were Never Really Here”, da escocesa Lynne Ramsay, dividiu a crítica no encerramento da competição do 70º Festival de Cannes entre aplausos e vaias. Ininteligível, segundo algumas resenhas. Sublime, de acordo com outras. Mas brutal, em todas. Na trama, Joaquin Phoenix interpreta mais um personagem sombrio de sua filmografia, um ex-policial e veterano de guerra de barba espessa, chamado Joe, que faz bico como brutamontes para uma empresa de segurança e acaba trabalhando no resgate de uma adolescente sequestrada (Ekaterina Samsonov) por traficantes de escravas brancas. Por conta da violência que o acompanha desde a infância, traumas o assombram o tempo inteiro, evocando as imagens macabras do filme anterior da diretora, “Precisamos Falar sobre o Kevin” (2011). “Não estou interessada em explorar o que vemos muito por aí”, disse a diretora sobre a forma, repleta de elipses e metáforas, com que filmou a trama. “Até aprecio o balé e a glamourização da violência, mas é uma coisa que também me entedia”, completou. Ramsay definiu o longa, adaptado de um livro do escritor Martin Amis, como uma obra de “pós-violência”. Talvez isso explique porque, muitas vezes, a violência apareça fora de foco ou de enquadramento. Além disso, o roteiro intercala as cenas de extrema brutalidade com humor. “Achei que estivéssemos fazendo uma comédia”, brincou Phoenix, sobre o tom da produção. “Joe cresceu em meio a muitos traumas, então há nele essa necessidade de se tornar o mais poderoso possível. Ele já chegou à meia idade e muito desse poder já se foi”, comentou o ator, explicando as motivações de seu personagem. “Queríamos que ele tivesse uma dimensão corporal grande, como que usando uma armadura, mas que demonstrasse que está se deteriorando também. A ideia era se afastar o máximo possível da noção de herói masculino. Chamamos de impotência da masculinidade. Ele se sente capaz de tudo, mas na verdade, não é. É a vítima que se salva. Ele só dá uma ajuda”. De forma especialmente simbólica, a arma que ele usa na trama é um pequeno martelo, comprado numa loja de ferragens. “O martelo é uma peça ridícula e maravilhosa. Estamos acostumados a ver muitas armas de fogo em filmes, e eu não estava interessada em coisas já mostradas milhões de vezes”, disse a diretora, sem lembrar de “Oldboy” (2003), que usa um martelo numa coreografia de violência antológica. O filme que todos lembraram foi outro: o clássico de Martin Scorsese “Taxi Driver” (1976). A comparação se deve à ambiguidade moral do protagonista, que, como o Travis Bickle de Robert De Niro, é um militar veterano traumatizado que tenta salvar uma garota abusada sexualmente. “‘Taxi Driver’ é provavelmente um dos filmes que realmente me fez querer ser ator, um tipo particular de ator, então eu tenho certeza que sua influência estava lá, mas não houve nenhuma decisão consciente de copiar”, disse Phoenix. Anti-herói solitário, a única companhia de Phoenix durante a maior parte da projeção é a trilha sonora composta por Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead. Os arranjos exasperantes enfatizam o crescente estado de confusão mental do protagonista, mas servem principalmente para preencher seu vazio. A música é praticamente um ator coadjuvante na história. Tanto que, se o filme dividiu opiniões, a trilha foi um consenso absoluto: melhor trabalho da carreira de Greenwood, superando inclusive a trilha de “Sangue Negro” (2007), que lhe rendeu indicação ao BAFTA (o Oscar britânico).
Roman Polanski leva paranoia ao Festival de Cannes
Aos 83 anos, Roman Polanski ainda comanda atenção da comunidade cinematográfica. Exibido fora da competição do Festival de Cannes, seu novo filme, “D’après une Histoire Vraie”, não se compara a seus clássicos de suspense, mas tem bons momentos e rendeu muitos comentários. Adaptação do premiado romance “Baseado em Fatos Reais”, de Delphine de Vigan, gira em torno de duas escritoras que desenvolvem uma amizade doentia e perigosa. A esposa do diretor, Emmanuelle Seigner, vive o alter-ego de Delphine de Vigan, que passa por um bloqueio criativo após o lançamento de seu último e bem-sucedido livro. O momento difícil é superado com a ajuda de uma nova e maravilhosa amiga, Elle, papel de Eva Green. O problema é que a amiga, que trabalha como ghost writer, revela-se uma admiradora obsessiva que, em pouco tempo, tenta se intrometer no texto e até na vida íntima da escritora. A trama também permite ao diretor questionar o que é fato e ficção, no momento em que luta para que informações escondidas venham à tona em seu processo por estupro de menor, cometido há quatro décadas nos Estados Unidos. Detalhe: a imprensa recebeu orientação de não fazer perguntas sobre o crime sexual cometido contra Samantha Geimer, em 1977. “Existe todo esse bombardeamento de informações, fotos das vidas dos outros ao redor, notícias falsas. E nos perguntamos: O que é uma história verdadeira hoje?”, indagou o cineasta na entrevista coletiva. Questionado se alguma experiência pessoal teria lhe inspirado, Polanski afirmou: “Sim, claro, já conheci gente que não deveria ter tido qualquer importância na minha vida mas que, de alguma forma, conseguia se aproximar cada vez mais e até se transformar no que ingleses chamam de “hanger-on”, parasitas. Mas sempre consegui perceber isso rápido, e procurava manter uma certa distância delas”. Mas o cineasto foi ligeiro para se desvencilhar de quem buscasse maiores paralelos com sua vida privada. “Não penso na minha história pessoal quando desenvolvo um filme, apenas no que tenho para filmar.” No caso, um roteiro do cineasta francês Olivier Assayas, vencedor do prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes passado por “Personal Shopper” (2016), que Polanski faz questão de elogiar. “Já adaptei vários livros em minha vida. O segredo é não se distanciar muito do original. Quando jovem, assisti a muitas adaptações em que personagens e tramas desapareciam nos filmes, o que me deixava muito decepcionado. Oliver me ajudou a me manter no rumo certo. Nada do livro de Delphine se perdeu na versão dele”. A história chama atenção por ser a primeira de Polanski sem embate entre personagens de sexos opostos, e também uma história em os personagens masculinos são totalmente secundários. “Nunca havia feito um filme antes com duas protagonistas, e que ambas estivessem em lados opostos. Achei a ideia fascinante”, comentou o cineasta. Entretanto, Polanski enxergou ligação deste longa com seus primeiros filmes. “É particularmente interessante porque todo o clima de paranoia da trama me fez lembrar dos primeiros filmes que fiz. Então, senti como se estivesse no meu território.” Vivendo novamente uma mulher transtornada, papel em que tem se especializado, Eva Green gostou da principal diferença desta produção em relação às demais que estrelou nos últimos dez anos. Pela primeira vez, desde que virou Bond girl em “007: Cassino Royale” (2006), ela pôde interpretar em francês, lembrando que é parisiense. “Estou sempre me esforçando para melhorar meu sotaque em inglês. Como o francês é minha língua-mãe, esse trabalho foi libertador”, disse a atriz.
Cachorro dá à Netflix seu primeiro prêmio no Festival de Cannes
A Netflix ganhou seu primeiro prêmio no Festival de Cannes. Nesta sexta (26/5), os críticos internacionais presentes do evento francês conferiram o troféu alternativo Palm Dog ao cachorro de “The Meyerowitz Stories”, dirigido por Noah Baumbach (“Frances Ha”). O troféu foi conquistado por Einstein pelo papel de Bruno, o poodle do filme produzido pela plataforma de streaming. A palma canina é uma tradição recente de Cannes. Foi criada em 2001 para destacar o melhor trabalho de um cachorro entre os filmes do festival e já premiou cães famosos, como Lucy, de “Wendy & Lucy” (2008), o saudoso Uggie, de “O Artista” (2011), e todo o elenco canino de “White God” (2014). Neste ano, Einstein conquistou o troféu por sua “atuação” como o cão da problemática família formada por Dustin Hoffman e Emma Thompson. Além da Palma Canina, também foram distribuídos um Prêmio do Júri, espécie de 2º lugar, para o pastor alemão Lupo, do filme “Ava”, de Lea Mysius, e o “Dogmanitarian Award”, que homenageia a melhor relação entre homens e cachorros, que foi para Tchi Tchi, uma shitzu de 16 anos que pertence à atriz Leslie Caron. Os dois contracenam na série britânica “The Durrells”.
Diane Kruger se desespera em fotos e trailer de suspense alemão aplaudido em Cannes
A Pathé divulgou o pôster, cinco fotos e o primeiro trailer do suspense alemão “In the Fade” (Aus dem Nichts), um dos filmes mais aplaudidos do Festival de Cannes 2017. A prévia revela o momento em que a personagem de Diane Kruger (“Bastardos Inglórios”) descobre que o marido e o filho foram vítimas de um atentado de neonazistas. O desespero de sua interpretação é impressionante e arrancou elogios da crítica internacional, durante o festival. Na trama, depois do período de luto e espera por justiça, a protagonista se cansa das desculpas da polícia e decide procurar vingança. Dirigido pelo alemão Fatih Akin (“Soul Kitchen”), que é filho de imigrantes turcos, “In the Fade” ilumina a outra face do terrorismo na Europa, que tem olhos azuis e ataca muçulmanos. A trama foi inspirada por atentados cometidos pelo NSU, um grupo neonazista que já explodiu diversas bombas contra imigrantes desde 1999. A estreia está marcada para 23 de novembro na Alemanha e ainda não há previsão de lançamento no Brasil.
François Ozon leva o thriller erótico ao limite ginecológico no Festival de Cannes
Um dos filmes mais esperados pela crítica francesa no Festival de Cannes, o thriller erótico “L’Amant Double”, novo longa de François Ozon (“Frantz”), dividiu opiniões, chegando a chocar o público normalmente blasé. Arrancando arroubos de “genial” e “lixo”, no mínimo deixou uma impressão forte. Não foi por acaso que a primeira foto divulgada pela produção trazia seus atores nus. Aquela era uma cena tímida do filme, como demonstrou o primeiríssimo take da produção: um close-up ginecológico da protagonista, a corajosa Marine Vacht, que o próprio Ozon lançou em Cannes em 2013, no drama “Jovem e Bela”. Assim como naquele filme, “L’Amant Double” também aborda perturbações da mente feminina. Na trama, Vacht procura um psicólogo para deixar de somatizar suas angústias, que lhe causam dores constantes. As sessões são tão boas que ela se apaixona e planeja se casar com o médico, vivido pelo belga Jérémie Renier, presença constante nos filmes dos irmãos Dardenne. Mas ele esconde a existência de um irmão gêmeo sedutor, também terapeuta. E a descoberta precipita na jovem uma obsessão. Na entrevista coletiva, Ozon disse que se divertiu testando até onde poderia levar o gênero do thriller erótico, que ele já tinha visitado em “A Piscina” (2003). “Eu vinha de uma experiência com uma narrativa mais tradicional (o drama de época ‘Frantz’), então foi natural me voltar para o filme de gênero, o thriller erótico, e brincar com os seus códigos. Sempre procuro não me repetir”, explicou o diretor. Sobre a cena inesquecível que abre o longa, o diretor assumiu que quis mostrar algo diferente e provocador de imediato, uma imagem que não tinha visto com tanto destaque numa tela grande de cinema. “Como menino, eu não fui a clínicas ginecológicas. E ainda sou um menino curioso”, comentou. Na tela, a imagem explícita rapidamente se funde com outro close, do olho lacrimejante da protagonista. O efeito desconcertou o público, rendendo aplausos e gargalhadas nervosas. “É uma forma de estabelecer de cara as intenções do filme, que fala de uma mulher curiosa e cheia de emoções aprisionadas dentro de si”, explicou pacientemente Ozon. “Ao mostrar a genitália e os olhos da personagem, estamos abrindo o jogo desde o início sobre o caminho que estamos seguindo, que é descobrir o que acontece com o corpo e a mente dessa mulher”. E que viagem revela este caminho, repleta de perversões sexuais que o presidente do júri do festival deste ano, Pedro Almodóvar aprovaria – como demonstram filmes como “Kika” (1993) e “A Pele que Habito” (2011). Mas as principais influ~encias são thrillers de Brian De Palma (“Vestida para Matar”) e Peter Cronenberg (“Gêmeos – Mórbida Semelhança”). O próprio Ozon assumiu suas influências. “Eu amo a forma como De Palma desconstrói o thriller e como ele se diverte brincando com os códigos do gênero”, disse Ozon, acrescentando: “Cronenberg também”. “Eu sou um cineasta cinéfilo, então eu acho que não são necessariamente coisas específicas que me influenciam, mas um conjunto de elementos do meu inconsciente”, acrescentou. Mesmo assim, a semelhança com “Gêmeos – Mórbida Semelhança” é a mais óbvia da trama. Ozon confessou que quis rever o filme de Cronenberg para se distanciar dele, antes de começar a filmar. “Eu me vi forçado a rever o filme de Cronenberg. A diferença é que em ‘Gêmeos’, a história é contada do ponto de vista dos irmãos. A minha é contada da perspectiva da vítima deles”, adiantou, quase dando spoiler.











