
Instagram/Poze do Rodo
Polícia do Rio mira esposa de Poze do Rodo após funkeiro conseguir habeas corpus
Operação investiga lavagem de dinheiro em empresas da influenciadora e bloqueia bens do casal
Operação bloqueia bens e apura esquema milionário
Um dia após o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro conceder habeas corpus a Poze do Rodo, preso desde a última quinta-feira (30/5) sob acusação de apologia ao crime e ligação com o Comando Vermelho, a Polícia Civil do Rio realizou nesta terça-feira (3) uma operação contra a esposa do funkeiro, a influenciadora Viviane Noronha.
De acordo com as investigações, empresas ligadas à influenciadora estariam envolvidas na lavagem de mais de R$ 250 milhões em recursos do tráfico de drogas e compra de armamento restrito. Cerca de 200 policiais civis cumpriram 35 mandados de busca e apreensão em endereços no Rio e em São Paulo, com bloqueio de bens e valores em 35 contas bancárias. A ação mobilizou unidades como a Delegacia de Roubos e Furtos, a Delegacia de Repressão a Entorpecentes e o Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro.
Segundo a Polícia Civil, o núcleo financeiro investigado usava pessoas físicas e jurídicas para dissimular a origem ilícita dos valores, com parte dos recursos sendo reinvestidos em armamentos e drogas para o fortalecimento territorial da facção. A corporação afirma que Viviane e suas empresas figuram como beneficiárias diretas dos repasses feitos por “laranjas”.
A defesa da influenciadora nega envolvimento em qualquer atividade criminosa.
Por que a polícia aponta lavagem de dinheiro no caso?
A operação policial foi deflagrada poucos dias depois de Viviane Noronha acusar agentes de furto durante buscas feitas na prisão de Poze do Rodo. Nas redes sociais, ela afirmou que um policial encerrou as buscas após encontrar uma bolsa de luxo e que outros itens de valor teriam desaparecido.
A Polícia Civil ignorou as acusações e voltou a atacar a cultura de periferia em nota oficial, destacando preocupação com o uso de eventos culturais, redes sociais e artistas para fortalecer o tráfico. Segundo a polícia, a estratégia busca glamourizar a imagem do crime entre jovens e facilitar o recrutamento por meio de artistas populares. “O que se vende como liberdade de expressão ou arte da ‘periferia’ é, muitas vezes, narcocultura financiada pelo Comando Vermelho, usada para recrutar, dominar e iludir”, declarou a corporação.
De acordo com a PCERJ, a realidade nas comunidades é marcada por restrição ao direito de ir e vir, ausência de serviços públicos e cotidiano violento, condições omitidas em músicas e postagens de influenciadores periféricos.
Judiciário criticou a polícia por prisão de Poze do Rodo
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ao conceder habeas corpus ao cantor, destacou excesso da prisão temporária e questionou a conduta policial no caso. O desembargador Peterson Barroso, da Primeira Vara Criminal de Jacarepaguá, afirmou que a detenção de 30 dias era desproporcional diante da ausência de provas concretas e citou procedimentos inadequados, como o uso de algemas e exposição midiática do artista.
Há perseguição racial e tentativa de criminalizar o funk?
A defesa de Poze do Rodo argumenta que a prisão foi motivada por perseguição à sua atuação artística e baseada apenas em vídeos e letras de música, sem evidências de ligação direta ao crime organizado. Os advogados classificaram as provas como “frágeis e baseadas em interpretações subjetivas”, afirmando que responsabilizar um artista por tráfico nas regiões onde se apresenta abre precedente perigoso para a liberdade de expressão. “A condução foi feita para gerar repercussão nas redes sociais, de forma sensacionalista e desrespeitosa”, afirmou a equipe do funkeiro, lembrando que ele foi acordado pela manhã e levado algemado, descalço e sem camisa à delegacia.
O advogado Fernando Henrique Cardoso, que representa outros artistas como Cabelinho e Oruam, apontou que existe uma narrativa histórica de perseguição a determinados gêneros musicais, criados por artistas negros: “O samba também foi criminalizado. Essas supostas falas da polícia fazem parte de uma narrativa que criminaliza e exclui as manifestações artísticas”.