Kevin Spacey enfrenta julgamento por assédio de ator de “Star Trek: Discovery”

O primeiro julgamento do ator Kevin Spacey (“House of Cards”) por abuso vai começar nesta quinta (6/10) em Nova York. O caso se concentra nas acusações feitas pelo ator Anthony Rapp (estrela […]

Divulgação/Netflix

O primeiro julgamento do ator Kevin Spacey (“House of Cards”) por abuso vai começar nesta quinta (6/10) em Nova York. O caso se concentra nas acusações feitas pelo ator Anthony Rapp (estrela de “Star Trek: Discovery”), que há cinco anos acusou publicamente Spacey de tê-lo assediado quando ele era menor de idade.

O julgamento vai se concentrar nas acusações de violência e inflição intencional de sofrimento emocional, mas não nas alegações mais fortes de assédio sexual, que foram descartadas em junho, por prescrição. Rapp está pedindo US$ 40 milhões em danos punitivos e compensatórios.

Segundo a alegação de Rapp, Spacey agiu para gratificar seu desejo sexual durante um encontro em uma festa em Manhattan, em 1986, quando ele tinha apenas 14 anos e Spacey estava com 26 ou 27 anos.

O caso veio à tona em 2017, quando o site BuzzFeed publicou uma entrevista com Rapp, em que ele relatou o ocorrido. Segundo o ator, Spacey estava bêbado e o agarrou no final de uma festa com o elenco de uma peça, colocou-o em cima de uma cama, subiu em cima dele e fez avanços sexuais (tocando as suas nádegas).

Logo após a publicação da história, Spacey fez um post no seu Twitter dizendo não se lembrar de nada do que foi relatado. “Se eu me comportei como ele descreve, devo a ele as mais sinceras desculpas pelo que teria sido um comportamento bêbado profundamente inapropriado, e lamento os sentimentos que ele descreve ter carregado por todos esses anos”, escreveu ele, que aproveitou para se assumir gay.

Inicialmente, Rapp havia desistido de processar Spacey porque se recusava a dizer o nome do seu agressor na ação. E após o encorajamento do movimento #MeToo, já era tarde demais e o processo inicial foi descartado. Além disso, a defesa de Spacey argumentou que o ocorrido não se caracterizava como abuso sexual.

“O senhor Rapp afirma que o senhor Fowler [sobrenome real de Spacey] o levantou, que a mão do senhor Fowler ‘raspou’ as nádegas vestidas do senhor Rapp por segundos enquanto o fazia, que o senhor Fowler colocou o senhor Rapp de costas em uma cama, e o senhor Fowler então brevemente colocou seu próprio corpo vestido parcialmente ao lado e parcialmente sobre o do Sr. Rapp”, afirma um documento do processo.

O próprio Rapp afirmou em depoimento que “não houve beijos, ninguém se despiu, não houve toques por cima das roupas e nem declarações ou insinuações sexualizadas”.

Com base nisso, os advogados de Spacey argumentaram que o processo de Rapp deveria ser arquivado, uma vez que a lei “exige” que um acusador precisa “apertar, agarrar ou beliscar uma parte sexual ou outra parte íntima” para que a acusação de abuso sexual possa se qualificar sob a lei de Nova York.

“As alegações do demandante equivalem a uma alegação de que Fowler o surpreendeu ao pegá-lo, colocá-lo em uma cama e colocar um pouco de seu peso corporal contra ele, antes que o demandante ‘se contorcesse’ sem resistência”, disse o documento.

Entretanto, os advogados de Rapp citaram dois casos do estado de Nova York em que homens foram condenados por abuso sexual de terceiro grau depois de “roçarem” as nádegas de mulheres nos vagões de metrô. Na ocasião, eles estavam com as mãos estendidas para fins de gratificação sexual.

O julgamento de Spacey pode produzir algumas testemunhas inesperadas, uma vez que documentos do tribunal deram a entender que testemunhas envolvidas na produção de “House of Cards” podem ser chamadas para depor.

Spacey foi retirado da série depois do surgimento das acusações, que levaram integrantes da equipe a fazerem suas próprias denúncias. Ele também perdeu o papel no filme “Todo o Dinheiro do Mundo” (2017), tendo sido substituído por Christopher Plummer depois que o filme já estava pronto – as refilmagens ocorrem de forma acelerada para o filme não perder sua data de estreia.

O ator já foi condenado a pagar US$ 31 milhões de indenização à produtora MCR pelo cancelamento da série “House of Cards”, com o juiz do caso considerando que seu comportamento foi responsável pela decisão da Netflix de encerrar a série premiada.

Mas ainda não tinha sido julgado por uma denúncia de assédio.

Até então, ele vinha tendo muita sorte. Dois acusadores que o processaram morreram antes de seus casos chegarem nos tribunais. O escritor norueguês Ari Behn, ex-marido da princesa da Noruega, cometeu suicídio no Natal de 2019, três meses após um massagista que acusava o ator falecer subitamente.

Para completar, ele teve outro processo, movido por um rapaz que tinha 18 anos na época do assédio, retirado abruptamente na véspera de ir a julgamento.

Graças à falta de condenação, Spacey conseguiu voltar a atuar. Ele participou de um filme italiano, “L’Uomo che Disegnò Diò”, dirigido e estrelado pelo astro Franco Nero, e interpretou um vilão no filme de baixo orçamento “Peter Five Eight”, que foi levado ao Marché du Film, o mercado de negócios do Festival de Cannes, para conseguir distribuidores internacionais.

Mas neste ano voltou a sofrer denúncias de abuso sexual na justiça britânica. Ele se declarou inocente em julho, na audiência preliminar do julgamento, que vai acontecer só em 2024.

Além de Spacey, o diretor Paul Haggis (“Crash – No Limite”) está enfrentando uma acusação de estupro apresentada pela publicitária Haleigh Breest. O caso de Haggis também será julgado em Nova York. Já em Los Angeles, o produtor Harvey Weinstein (“Os Oito Odiados”) e o ator Danny Masterson (“That ’70s Show”) também estão enfrentando acusações criminais.