O cineasta iraniano Jafar Panahi voltou a ser preso na semana passada em Teerã e condenado a cumprir seis anos de prisão, anunciaram as autoridades judiciais iranianas nesta terça-feira (19/7).
A sentença se refere a um processo de 2010, que ele cumpriu em prisão domiciliar – desconsiderada na nova sentença. Segundo declaração oficial do porta-voz Masud Setayeshi, ele já foi transferido para o centro de detenção de Evin para cumprir sua pena.
O cineasta foi considerado culpado de “propaganda contra o governo” por apoiar os protestos de 2009 contra a reeleição do ultraconservador Mahmud Ahmadinejad como presidente da República Islâmica. Detido por dois meses em 2010, ele foi colocado em prisão domiciliar e proibido de filmar por 25 anos.
Mas Panahi resistiu. Continuou fazendo filmes de forma ilegal. O documentário “Isto Não É um Filme” (2011), que retratou seu cotidiano sob as restrições do governo, foi levado para o Festival de Cannes em 2011 dentro de um bolo de aniversário. “Cortinas Fechadas” também teve que ser contrabandeado para fora do país. Em ambos os casos, ele filmou dentro dos limites de sua prisão domiciliar. Mas, em enfrentamento declarado, foi às ruas disfarçado para rodar “Táxi Teerã”, vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim de 2015. Após o final do período previsto de prisão domiciliar, esteve ainda mais à vontade para filmar “3 Faces”, que venceu o troféu de Melhor Roteiro no Festival de Cannes de 2018.
A decisão de envia-lo para uma prisão, porém, deu-se por um motivo sem relação aos filmes que rodou. Na segunda passada (11/7), Panahi decidiu acompanhar o caso de outro vencedor do Urso de Ouro, Mohammad Rasulof (“Não Há Mal Algum”), preso pelo regime. Ao chegar ao tribunal de Teerã, foi preso em flagrante, apesar do período cumprido em prisão domiciliar.
Rasoulof foi detido junto com seu colega Mostafa Aleahmad por participar de protestos relacionados ao desabamento de um um prédio no sudoeste do país em maio. A tragédia provocou vários protestos no país em solidariedade com as famílias das vítimas e contra as autoridades, acusadas de corrupção e incompetência.
O acúmulo de prisões de cineastas no Irã tem despertado protestos na comunidade cinematográfica mundial.
Os organizadores do Festival de Cannes declararam que condenam veementemente as prisões, bem como “a onda de repressão realizada pelo Irã contra seus artistas”. Por sua vez, o Festival de de Veneza pediu a “libertação imediata” dos diretores de cinema, enquanto o festival de Berlim disse que se sente “consternado e indignado” com a prisão.
Na sexta-feira (15/7), o Ministério das Relações Exteriores da França denunciou um fenômeno que ilustra “a perturbadora deterioração da situação dos artistas no Irã”.
Entretanto, não são apenas diretores de cinema que incomodam as autoridades iranianas. Qualquer comportamento considerado impróprio tem rendido dura repressão. Em maio de 2014, a polícia prendeu homens e mulheres que gravaram um vídeo em que dançavam a música “Happy”, de Pharrell Williams. Apesar da repercussão internacional, inclusive com apelo do músico, os detidos foram condenados a seis meses de prisão e 91 chicotadas.