O ex-diretor da Globo Marcius Melhem foi proibido pela Justiça de vazar para repórteres ou em suas redes sociais conversas privadas que teve com a humorista Dani Calabresa, que o acusa de assédio moral e sexual no período em que foi chefe do Departamento de Humor da Globo. A decisão foi do Foro Regional da Lapa, do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), que julga uma das ações da batalha judicial travada entre os artistas.
A medida cautelar foi dada inicialmente em novembro de 2021, atendendo a um pedido da defesa de Dani Calabresa. O argumento era que o vazamento de mensagens era seletivo e feria a privacidade da humorista na ocasião. A Justiça concordou naquele momento que era uma violação e não acrescentava em nada ao caso.
No último dia 4, a Justiça negou um pedido de Melhem para levantar a proibição. Apesar disso, as mensagens vazaram para um colunista que cobre televisão, rendendo vários artigos na imprensa.
Se ficar provado que o humorista ou sua defesa repassaram as conversas para terceiros, Melhem poderá ser punido, juntamente com quem fez esse vazamento indevido, já que a decisão colocou as mensagens em segredo de Justiça.
Sempre foi desejo de Marcius Melhem que estas mensagens viessem à público, principalmente durante o período entre 2017 e 2018, em que ele alega ter tido um caso consensual com Dani Calabresa. A artista o acusa de boicotá-la na Globo a partir de 2019 e de agarrá-la sem seu consentimento em uma festa do antigo Zorra (2015-2020), em 2017. Segundo a acusação, Melhem teria tentado obrigar a comediante a praticar sexo oral com ele no corredor de um bar.
Melhem diz lamentar a decisão desfavorável e que, curiosamente, ela tenha vazado. Para ele, o esforço de Dani Calabresa e de seus advogados para manter em sigilo as mensagens trocadas entre os dois no WhatsApp prova que sua tese sobre o caso é a verdadeira.
“Marcius Melhem reafirma sua posição de que gostaria que tudo fosse exposto de forma transparente. A luta por manter as mensagens em segredo já mostra de que lado está a verdade”, diz um comunicado enviado por ele.
A defesa de Dani Calabresa também se manifestou em texto enviado à imprensa: “As 12 mulheres que denunciaram Marcius Melhem por assédio moral e sexual têm mantido absoluto respeito ao sigilo dos processos, até mesmo para proteger os nomes de terceiros envolvidos. Lamentamos os constantes vazamentos que têm acontecido, sempre com versões que atacam as vítimas, defendem os pontos de vista do acusado e em momentos que a ele interessam. Acreditamos na Justiça e temos certeza de que a verdade vai prevalecer”.
Os dois comediantes vêm travando diversas batalhas judiciais desde que a advogada Mayra Cotta, que representa as atrizes da Globo, denunciou Melhem por assédio moral e sexual numa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo em outubro de 2020. Dois meses depois, a revista Piauí publicou uma reportagem que descreveu fatos graves cometidos por Melhem, apresentando Calebresa como vítima de forte assédio.
Após a publicação, a defesa de Melhem enviou uma notificação extrajudicial para Calabresa, assinada pelos advogados José Luis Oliveira Lima e Ana Carolina Pivoesana, como medida preparatória para fundamentar um futuro processo. O documento legal reproduziu mensagens de voz enviadas pela atriz, que, segundo Melhem, comprovariam a intimidade que ele tinha com a atriz. A Folha de S. Paulo publicou o conteúdo do documento, acompanhado por uma entrevista com Melhem.
Só então foi dada entrada no Ministério Público Federal (MPF) de um pedido de investigação contra o ex-diretor da Globo, e foi tomada a decisão de deflagrar um processo criminal pelo fato dele ter divulgado áudios de Calabresa, com um pedido de indenização por danos morais à atriz.
Melhem também entrou com uma ação de indenização por danos morais e materiais contra Calabresa por sugerir que ele a tinha assediado.
Em fevereiro, a revista Piauí trouxe novas denúncias, alimentadas por informações das acusadoras, e no mês passado começaram a vazar novamente as conversas por What’s App, em tom bastante íntimo, que contrastam com o teor das acusações feitas contra o ex-diretor do departamento de humor da Globo.
Essas mensagens e gravações de voz foram aceitas e fazem parte do processo em que Melhem tenta provar sua inocência.