Fernanda Young (1970 – 2019)

A escritora, atriz e apresentadora de TV Fernanda Young morreu aos 49 anos na madrugada deste domingo (25/8), em Gonçalves, interior de Minas Gerais, onde sua família tem sítio. A artista teve […]

A escritora, atriz e apresentadora de TV Fernanda Young morreu aos 49 anos na madrugada deste domingo (25/8), em Gonçalves, interior de Minas Gerais, onde sua família tem sítio. A artista teve uma crise de asma seguida de parada respiratória.

Fernanda sofria de asma desde a adolescência. Ela nasceu em Niterói (RJ) e também lutava contra a depressão, que a fez abandonar os estudos. Ela só completou o Ensino Médio via supletivo e largou as faculdades de Letras, Jornalismo, Rádio e TV em que se inscreveu.

Ela encontrou um grande parceiro no roteirista e escritor Alexandre Machado. Ambos casaram em 1993, depois de três anos de namoro, e tiveram quatro filhos, dois deles adotados. A parceria se estendeu para o trabalho, resultando na maioria dos roteiros que se seguiram.

A estreia como roteirista aconteceu em 1995 no programa “A Comédia da Vida Privada”, da rede Globo, assinando adaptações de textos de Luis Fernando Veríssimo com o marido. Um ano depois, Fernanda lançou o primeiro de seus 14 livros, “Vergonha dos Pés”, pela editora Objetiva. E em 2000 roteirizou o primeiro filme, “Bossa Nova”, de Bruno Barreto, novamente com Machado.

Logo em seguida, o casal lançou uma das séries de comédias mais bem-sucedidas do século, “Os Normais”, estrelada por Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães. Foi exibida na Globo entre 2001 e 2003 e deu origem a dois filmes, um de 2003 e outro de 2009, também escritos por Fernanda, Alexandre e outros roteiristas.

Trabalhando sempre ao lado de Alexandre Machado, Fernanda Young criou ainda as séries “Os Aspones” (2004), “Minha Nada Mole Vida” (2006), “O Sistema” (2007), “Separação?!” (2010), “Macho Man” (2011), “Como Aproveitar o Fim do Mundo” (2012), “O Dentista Mascarado” (2013), “Odeio Segundas” (2015), “Vade Retro” (2017), “Edifício Paraíso” (2017), “Shippados” (2019), o especial de fim de ano “Nada Fofa” (2008) e os quadros do Fantástico: “As 50 Leis do Amor” e “Super Sincero”.

O casal foi indicado duas vezes ao prêmio de Melhor Comédia do Emmy Internacional, por “Separação?!” e “Como Aproveitar o Fim do Mundo”. Esta última chamou atenção do mercado americano e acabou adaptada pela rede The CW, virando a série de comédia “No Tomorrow” (2016).

Dona de opiniões fortes e presença marcante, com cabelos curtos e tatuagens, Fernanda também se destacou em participações em programas de TV. Depois de integrar “Saia Justa” (2002) comandou dois programas próprios, “Irritando Fernanda Young” (entre 2006 e 2010) e “Confissões do Apocalipse” (2012), ambos no GNT.

Sem seguir padrões de beleza e comportamentos convencionais, ela transformou o fato de posar para a Playboy em 2009 num ato de rebelião feminista. E ainda tripudiou: “Não acredito que se masturbem com minha Playboy. Lendo meus livros, sim”, disse em entrevista ao UOL.

Cansada de sofrer ataques machistas, ela chegou a processar um hater que a chamou de “vadia lésbica” no Instagram. Saiu vitoriosa, mas não sem ser atacada pelo próprio juiz do processo, que reduziu o valor da indenização alegando que sua “reputação é elástica”, por ter posado nua. “O excelentíssimo crê que mulheres como eu provocam o caos”, ironizou Fernanda.

Ela também trabalhou como atriz. Antes mesmo de começar a escrever, já tinha aparecido na minissérie “Iaiá Garcia” (1989), na TV Cultura, e na novela “O Dono do Mundo” (1991), na Globo. Mas só retomou a carreira após ter se consagrado como roteirista. O que começou de brincadeira num episódio de “Macho Man” se tornou regra após estrelar “Surtadas na Yoga” (2013), que foi seguida por mais dois sitcoms escritos e estrelados por ela, “Odeio Segundas” e “Edifício Paraíso”.

Seu último trabalho na Globo foi a criação de “Shippados”, sitcom com Tatá Werneck e Eduardo Sterblitch, que estreou em junho no Globoplay. Já seu último roteiro foi para o cinema, a comédia “Amigas de Sorte”, que escreveu com o marido, com previsão de estreia para 2020.

Deixou ainda um livro inédito completo, que será lançado em novembro, e outro inacabado. E se preparava para estrear em setembro, em São Paulo, a peça “Ainda Nada de Novo”, em que contracenaria com Fernanda Nobre.

Um dia antes de morrer, ela publicou um longo texto em seu Instagram em tom de desabafo. Numa das passagens, escreveu “Sou uma mulher de 50 anos que sonhou alto e realizou muito”, acrescentando, por fim, que estava longe de encerrar sua “jornada nessa orbe”.

Sua última postagem foi a foto da sala de estar do sítio em Gonçalves, horas antes de morrer. “Onde queres descanso, sou desejo” foram suas últimas palavras escritas.

“Posso dizer, de coração, é uma perda muito grande para a gente, para o mundo artístico, para as pessoas que trabalham com ela”, afirmou Luiz Fernando Guimarães, astro de “Os Normais” e “Minha Nada Mole Vida”. “O Brasil perde muito sem a anarquia e a clareza dela”, acrescentou Fernanda Torres, a outra metade de “Os Normais”.