Operação Fronteira enfrenta clichês de ação dos anos 1980 com elenco atual de peso

Kathryn Bigelow, a única mulher da História do Oscar a ganhar a estatueta de Melhor Direção, por “Guerra ao Terror”, considerou dirigir “Operação Fronteira”. Ela desistiu e ficou com créditos de produtora […]

Kathryn Bigelow, a única mulher da História do Oscar a ganhar a estatueta de Melhor Direção, por “Guerra ao Terror”, considerou dirigir “Operação Fronteira”. Ela desistiu e ficou com créditos de produtora executiva. Mas com isso a história original, desenvolvida por seu roteirista de confiança, Mark Boal, com quem trabalhou em “Guerra ao Terror” (2008), “A Hora Mais Escura” (2012) e “Detroit em Rebelião” (2017), acabou reescrita pelo diretor J.C. Chandor. O resultado deixa o espectador imaginando o quanto esse filme tinha potencial para ir mais longe, sob comando de Bigelow.

É sobre cinco amigos, ex-soldados das Forças Especiais (Oscar Isaac, Ben Affleck, Charlie Hunnam, Garrett Hedlund e Pedro Pascal), que decidem voltar a se juntar para uma última missão: roubar uma fortuna de um chefão das drogas na América do Sul – supostamente na tríplice fronteira entre Paraguai, Argentina e Brasil, embora as filmagens tenham acontecido na Colômbia.

A premissa evoca “Três Reis” (1999), o melhor filme de David O. Russell. Mas, estranhamente, o que se materializa no primeiro ato é o tipo de filme de ação que era estrelado por machões nos anos 1980, algo próximo à narrativa saudosista de “Os Mercenários” (2010). As semelhanças são mais de tom – trilha sonora roqueira, diálogos ruins e curtos, repletos de frases de efeito e narizes empinados – do que em relação à execução das cenas de ação, que são muito bem orquestradas e lembram a pegada visceral de Kathryn Bigelow (sem câmera balançante, graças a Deus).

A partir da segunda metade, dominada por um mix de tensão, ganância e um senso de moral capaz de enlouquecer mais os protagonistas que seus perseguidores, as guitarras rasgadas e barulhentas dão um descanso na trilha. E os atores finalmente demonstram porque tem nomes de peso, inclusive Ben Affleck.

Mas a diferença entre as duas partes é tão gritante que a impressão é que as cabeças pensantes por trás do projeto jamais chegaram a um equilíbrio criativo. E nome mais fraco do trio, J.C. Chandor, ficou com a maior responsabilidade. Infelizmente, o diretor de “Margin Call”, “Até o Fim” e “O Ano Mais Violento” costuma fazer filmes que parecem quase bons. Nunca são bons completamente.

Ao contrário de Kathryn Bigelow, que poderia tornar “Operação Fronteira” numa contraparte de “Guerra ao Terror”.