As mudanças programadas para o Oscar 2019, com eliminação de categorias na transmissão televisiva, renderam muitas críticas entre cineastas e um dos sindicatos mais influentes de Hollywood.
O protesto mais sonoro partiu do Sindicato dos Diretores de Fotografia dos Estados Unidos (ASC, na sigla em inglês), que atacou a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas por decidir tirar a categoria da transmissão. A premiação de Melhor Direção de Fotografia acontecerá durante o intervalo comercial, assim com os vencedores em Edição, Curta e Cabelo e Maquiagem, para diminuir o tempo de duração da cerimônia.
O presidente do ASC, Kees van Oostrum, enviou uma carta aos 380 membros do sindicato em que chama a mudança de “muito infeliz” e acrescenta: “Não podemos tranquilamente tolerar esta decisão sem protestar”.
Em sua carta, van Oostrum argumentou: “Consideramos que o cinema é um esforço colaborativo em que as responsabilidades do diretor, diretor de fotografia, editor e outros ofícios frequentemente se cruzam. Essa decisão pode ser percebida como uma separação e divisão desse processo criativo, minimizando nossas contribuições criativas fundamentais”.
Além do sindicato, o cineasta Alfonso Cuarón, que é favorito a receber o Oscar de Melhor Direção de Fotografia por “Roma”, também se manifestou, usando as redes sociais para criticar a Academia.
“Na história do CINEMA, obras-primas existiram sem som, sem cor, sem roteiro, sem atores e sem música. Mas nunca nenhum filme existiu sem CINEMAtografia e sem edição”, ele escreveu.
Ecoando esse sentimento, o vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2018 com “A Forma da Água”, Guillermo del Toro também foi às redes sociais lamentar a decisão. “Se me permitem: eu não pretendo sugerir que categorias cortar da transmissão do Oscar, mas Direção de Fotografia e Edição são o coração de nosso ofício. Eles não foram herdados de uma tradição teatral ou de uma tradição literária: eles são o próprio cinema”, tuitou o cineasta.
A diretora Patty Jenkins, de “Mulher Maravilha”, fez coro: “Eu não poderia concordar mais. Se estamos aqui para celebrar o ofício e o meio, é difícil imaginar por que razão colocar essas categorias abaixo das outras”.
Até o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, de “Aquarius”, replicou, afirmando que montagem e fotografia são as bases do cinema “como o conhecemos”.
A iniciativa de eliminar algumas premiações da transmissão ao vivo do Oscar 2019 aconteceu após discussões com a rede ABC, que detém os direitos de exibição da cerimônia. Os organizadores da premiação se comprometerem em reduzir a longa duração do evento e, para cumprir esse objetivo, anunciaram que quatro categorias passariam a receber seus prêmios durante os intervalos comerciais. Para registrar quem venceu, uma gravação resumida dos discursos de agradecimento dos premiados será exibido durante a transmissão oficial.
Curiosamente, o presidente da Academia é um diretor de fotografia, John Bailey. Ele explicou que as categorias excluídas da transmissão vão variar ano após ano, e que, no próximo ano, haverá quatro (ou até seis) prêmios diferentes que serão entregues durante os anúncios.
Mas críticos da iniciativa repararam num detalhe que pode explicar porque Direção de Fotografia, Edição, Curta e Cabelo e Maquiagem foram as categorias escolhidas neste ano. São justamente as categorias em que a Disney, dona da rede ABC, não têm indicações.
A premiação do Oscar 2019 será realizada em 24 de fevereiro, em Los Angeles, com transmissão no Brasil pelos canais Globo e TNT.