Apesar da irregularidade e falta de foco para um cinema autoral, a carreira de Steven Soderbergh é uma das mais interessantes dentre os cineastas surgidos do cenário indie nos últimos 30 anos. Trata-se de um diretor que se mostrou interessado nos mais diversos assuntos, sendo suas obsessões bastante fragmentadas.
Da estreia em “Sexo, Mentiras e Videotape” (1989) a sua incursão por série interativa (“Mosaic”), Soderbergh não parece ficar preso ao mesmo interesse por muito tempo. Mas o título de seu primeiro longa pode ser considerado revelador de algumas tendências, como as decepções incluídas na realidade e o cinema que pode ser feito com a tecnologia acessível de sua época. Até um celular, com no caso de seu novo filme.
“Distúrbio” (Unsane) é o segundo longa de Soderbergh depois de uma anunciada aposentadoria que não se concretizou. O anterior foi a divertida comédia “Roubo em Família” (Logan Lucky), que retomou o tema do grande assalto, celebrado em “Onze Homens e um Segredo” (2001). Em “Distúrbio”, o diretor volta a outro tema que lhe interessa: a questão da sanidade mental, abordada em um registro mais dramático em “Terapia de Risco” (2013). No novo trabalho, ele serve um suspense bem eficiente.
Na trama, Claire Foy (a Elizabeth II de “The Crown”) vive Sawyer Valentini, vítima de uma fobia que é descortinada aos poucos. Ela mora em uma cidade distante de sua família para fugir de um homem obcecado. Certo dia, após uma consulta com uma psicóloga, ela acaba assinando papéis em que concorda em ficar detida em um sanatório por um determinado período de tempo. Mas, ao chegar lá, afirma que um dos funcionários é o tal homem que a persegue.
Demora um pouco para o público descobrir se o que ela diz é fato ou fruto de sua imaginação. Mas, até lá, a personagem segue em uma espiral de medo e perturbação que é acentuada por imagens às vezes desfocadas, às vezes em enquadramentos pouco usuais, filmadas em uma câmera de iPhone 7 Plus.
O filme foi lançado diretamente em VOD no Brasil.