O produtor Harvey Weinstein se entregou à polícia de Nova York na manhã desta sexta-feira (25/5).
Se dependesse apenas da polícia, a prisão de Weinstein teria acontecido antes, já que os investigadores alegavam possuir há meses provas suficientes para acusá-lo formalmente pelo assédio sexual das atrizes Paz de la Huerta e Lucia Evans.
A Promotoria de Manhattan, no entanto, quis mais tempo para apresentar uma acusação mais consistente, que não levantasse nenhuma dúvida sobre os crimes de Weinstein, acusado por ao menos 75 mulheres de crimes sexuais.
Weinstein, que já foi um dos produtores mais poderosos de Hollywood, chegou numa delegacia de Tribeca, em Manhattan, por volta das 7h25 (8h25 em Brasília) sorrindo ironicamente e levando três livros. Ao se apresentar, foi algemado e escoltado por policiais até um tribunal de plantão – sem os livros e sem o mesmo sorriso. Três helicópteros acompanharam a movimentação.
Segundo a agência de notícia Reuters, o juiz encarregado do caso, Kevin McGrath, propôs um acordo de fiança de US$ 1 milhão em espécie. Weinstein entregou seu passaporte e concordou em usar um dispositivo de monitoramento que rastreia sua localização até o julgamento.
Ele responde por duas acusações de estupro e uma acusação de ato sexual criminoso contra duas mulheres, disseram os promotores, que ainda investigam novos casos para acrescentar à acusação. Se condenado, Weinstein pode pegar até 25 anos de prisão.
O advogado do produtor, Benjamin Brafman, disse que ele pretende se declarar inocente.
Os abusos sexuais de Weinstein aconteceram ao longo de três décadas, mas a maior parte dos crimes prescreveu. Ele atacava principalmente atrizes jovens em começo de carreira e mantinha suas vítimas em silêncio com ameaças, dizendo-se capaz de impedi-las de trabalhar novamente. As que ousaram recusar seus avanços passaram a ver os papéis minguarem, levando-as a projetos inferiores a seus status.
A impunidade acabou apenas em outubro do ano passado, quando o jornal New York Times publicou uma reportagem denunciando os assédios do produtor com depoimento da atriz Ashley Judd, a primeira a ter coragem de assumir o risco de se expor. A matéria mencionava outros casos, mas foi uma segunda reportagem, da revista New Yorker, que abriu as comportas, trazendo declarações de diversas vítimas, inclusive acusações de estupro.
A soma das denúncias inspirou outras atrizes a quebrarem o silêncio. Não apenas contra Harvey Weinstein, mas contra todos os predadores da indústria do entretenimento, criando um efeito dominó, alimentado pelo movimento #MeToo, uma hashtag criada de forma espontânea no Twitter para unir vítimas e denunciar assédios.
O fenômeno varreu as produções de cinema e TV, gerando novos escândalos e culminando em demissões de produtores, roteiristas e astros poderosos.
Pivô de tudo isso, Weinstein sumiu da mídia, buscando refúgio em um centro de reabilitação para viciados em sexo. Isto, porém, não o protegeu das repercussões. Ele foi demitido de seu estúdio cinematográfico, Weinstein Company, e expulso da Academia de Cinema, que organiza o Oscar, da Academia de TV, que organiza o Emmy, do Sindicato dos Produtores dos Estados Unidos e de muitas outras organizações. Paralelamente, sua empresa encontrou dificuldades para manter projetos, passou a ser alvo de inúmeros processos de vítimas e credores, e se viu forçada a pedir falência, sendo vendida num leilão de liquidação.
Agora, as denúncias começam a ter implicações criminais.
Além da polícia de Nova York, autoridades de Los Angeles e Londres abriram investigações contra Weinstein. Há também uma investigação federal em estágio inicial nos Estados Unidos.