O polêmico “The Miseducation of Cameron Post” recebeu o grande prêmio do júri do Festival de Sundance 2018. O longa conta a história de uma jovem adolescente lésbica que é pega beijando a rainha do baile de formatura por sua tia ultra-conservadora, e é enviada, contra sua vontade, para uma espécie de centro de recuperação para jovens gays. A trama conta as amizades que ela faz no “campo de concentração light” disfarçado de centro de reeducação, e sua atitude de desafio contra a repressão.
Dirigido por Desiree Akhavan (“Appropriate Behavior”), o filme traz Chloë Grace Moretz (“Carry, a Estranha”) no papel principal, que no livro de Emily M. Danforth é uma garota de 14 anos, e John Gallagher Jr. (“Rua Cloverfield, 10”) como um ex-gay que virou pastor e dirige o lugar.
A reação da crítica americana foi de espanto para a premiação, considerando que o tema já foi melhor tratado anteriormente e que havia filmes melhores na programação. No Rotten Tomatoes, a nota média de “The Miseducation of Cameron Post” é 75%.
Mas o Prêmio do Público foi igualmente questionado. O drama “Burden”, de Andrew Heckler, foi um dos piores avaliados pela crítica durante o festival. Tem apenas 44% de aprovação no Rotten Tomatoes. E também conta uma história de conversão. Um ex-membro racista da Ku Klux Klan (Gareth Headlund, de “Mudbound”) se apaixona por uma mãe solteira e faz amizade com um pastor negro, aprendendo sobre tolerância.
O prêmio de Melhor Direção ficou com Sara Colangelo, por “The Kindergarten Teacher”, sobre uma professora (Maggie Gyllenhall, da série “Deuce”) obcecada por um aluno, que pode ser um menino prodígio. Christina Choe venceu o prêmio de Melhor Roteiro por “Nancy”, sobre uma mulher (Andrea Riseborough, de “A Guerra dos Sexos”) que acredita ter sido raptada e trocada de família na infância.
“Monsters and Men”, de Reinaldo Marcus Green, sobre o assassinato de um negro por um policial branco, recebeu um prêmio de especial como Filme de Estreia e Benjamin Dickey recebeu outro destaque pela Atuação em “Blaze”, cinebiografia do cantor country Blaze Foley dirigida pelo ator Ethan Hawke. Por fim, “Kailash”, de Derek Doneen, sagrou-se o Melhor Documentário, registrando um movimento de libertação de crianças da escravidão moderna.
Os últimos três filmes que venceram o festival, “Já Não me Sinto em Casa Nesse Mundo” (2017), “O Nascimento de uma Nação” (2016), e “Eu, Earl e a Garota que Vai Morrer” (2015), não tiveram grande impacto nas demais premiações de cinema. Mas o evento também foi responsável por lançar filmes importantes durante o mesmo período. O Oscar 2018, por exemplo, rendeu 16 indicações a filmes que estrearam em Sundance no ano passado, entre eles dois dos longas mais premiados da temporada: “Corra!” e “Me Chame pelo Seu Nome”.
Neste ano, um dos filmes mais comentados foi “The Tale”, de Jennifer Fox, uma história de abuso infantil estrelada por Laura Dern (série “Big Little Lies”). O tema não pode ser mais atual. Mas o trabalho não vai disputar o Oscar 2019, porque foi adquirido pela HBO e será exibido como telefilme. A aquisição consolida uma mudança de paradigma no festival, após a Netflix já ter comprado o vencedor do ano passado, que desapareceu em sua programação.