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    Netflix disponibiliza clássicos do cinema brasileiro

    18 de junho de 2024 /

    Em comemoração ao Dia Nacional do Cinema, plataforma lança coleção especial de filmes, incluindo "Central do Brasil", "São Paulo S/A" e "Vidas Secas"

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    20 clássicos para celebrar o Dia do Cinema Brasileiro

    19 de junho de 2022 /

    Selecionamos uma programação especial para este domingo (19/6), em que é celebrado o Dia do Cinema Brasileiro, data escolhida em homenagem à exibição do primeiro filme nacional: “Uma Vista da Baia de Guanabara”, feito pelo ítalo-brasileiro Affonso Segretto em 1898. A lista abaixo relaciona 20 clássicos indispensáveis do cinema brasileiro, lançados ao longo do século passado e presentes em algumas das melhores plataformas e locadoras digitais. Embora vários títulos obrigatórios ainda estejam distantes do streaming – de “Braza Dormida” (1928) a “Carlota Joaquina” (1995), passando por “O Cangaceiro” (1953) e “O Pagador de Promessas” (1962) – é até impressionante a quantidade de opções disponíveis para celebrar a qualidade da produção nacional. Assim como também chama atenção nenhum deles estar presente nas plataformas multinacionais. Confira as sugestões e programe sua sessão. Aproveite para aguçar a curiosidade e conhecer alguns dos melhores filmes já feitos no país.       | LIMITE | 1931 | BELAS ARTES A LA CARTE   Muitos chamam o clássico mudo de Mario Peixoto de o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Foi realmente a primeira obra experimental do cinema nacional, acompanhando um homem e duas mulheres num barco à deriva, que, por meio de imagens simbólicas, mostravam ter chegado ao limite de suas existências. Parte de seu culto tem a ver com a lenda que o acompanha. Consta que na época de sua estreia foi vaiado e gerou quebra-quebra nos cinemas. A reação do público foi tão negativa que ficou décadas sem ser exibido, até ser resgatado por cinéfilos nos anos 1970, que o saudaram como uma obra-prima quase esquecida. Sua fama se tornou mundial quando David Bowie o escolheu entre seus dez filmes favoritos em 2007.   | RIO, 40 GRAUS | 1955 | CLARO TV+, GLOBOPLAY, TELECINE   A estreia de Nelson Pereira dos Santos é considerada precursora do Cinema Novo, movimento estético e cultural que pretendia mostrar a realidade brasileira, além de ser ancestral dos filmes de favela como “Cidade de Deus”. O filme foi censurado pelo governo da época, pois só mostraria aspectos negativos da então capital do Brasil e era uma grande mentira. Segundo o coronel que presidia o Departamento Federal de Segurança Pública, “a média da temperatura do Rio nunca passou dos 39,6° C”.   | OS CAFAJESTES | 1962 | CLARO TV+   O primeiro filme dirigido pelo moçambicano Ruy Guerra no país ficou famoso por inaugurar o nu frontal no cinema brasileiro, que transformou Norma Bengell na atriz mais falada de sua época. O clássico da cafajestagem reunia Jesse Valadão e Daniel Filho em torno de um plano: chantagear um tio rico com fotos de sua amante nua na praia. Mas a bela faz uma contraproposta: fotos da filha do rico dariam mais dinheiro.   | VIDAS SECAS | 1963 | CLARO TV+, GLOBOPLAY, TELECINE   Baseado na obra de Graciliano Ramos, o longa de Nelson Pereira dos Santos acompanha uma família de retirantes em meio à aridez do sertão, em busca de maneiras para sobreviver à seca. A salvação, porém, não os tira da miséria. À exceção de Átila Iorio como o chefe da família e Jofre Soares como o fazendeiro que os acolhe – e explora – , a maioria do elenco foi formado por estreantes e moradores reais da região alagoana que serviu de locação. Seu realismo rendeu um prêmio especial no Festival de Cannes e impressionou o British Film Institute (BFI), que o listou como único título brasileiro em sua lista dos melhores filmes de todos os tempos.   | DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL | 1964 | CLARO TV+, GLOBOPLAY   A obra-prima de Glauber Rocha e mais famoso título do Cinema Novo junta os temas da seca, exploração religiosa dos mais pobres e criminalidade numa espécie de western caboclo. A trama segue o vaqueiro Manuel (Geraldo del Rey) e sua esposa Rosa (Yoná Magalhães) em fuga para o sertão, após ele matar um coronel que tenta enganá-lo. No meio do deserto, eles encontram duas figuras icônicas: Sebastião (inspirado em Antonio Conselheiro e vivido por Lidio Silva), que se diz divino, e o cangaceiro Corisco (Othon Bastos), que se descreve como demoníaco. Enquanto isso, o mercenário Antonio das Mortes (Maurício do Valle) está em seu encalço. Vale lembrar que o filme ganhou uma sequência, “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” (1969), centrada no personagem Antonio das Mortes, e que também está disponível em streaming.   | OS FUZIS | 1964 | CLARO TV+   O drama de Ruy Guerra forma com “Vidas Secas” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” uma “trilogia de ouro” do Cinema Novo. Os três foram lançados no mesmo ano e abordam a vida dura no sertão nordestino. Mais politizado, “Os Fuzis” mostra como o governo tratava do problema: com repressão. O título faz referência a um grupo de soldados que é enviado ao Nordeste para impedir que pobres saqueiem armazéns por causa da fome. Ruy Guerra foi consagrado com o Urso de Prata de Melhor Direção no Festival de Berlim.   | À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA | 1964 | BELAS ARTES, CLARO TV+, GLOBOPLAY, LOOKE, TELECINE   O maior clássico do terror nacional lançou o personagem de Zé do Caixão, criado e vivido pelo cineasta José Mojica Marins. A trama mostra sua origem como um coveiro sádico que aterroriza mulheres em busca do ventre perfeito para gerar seu filho e, assim, garantir a perpetuidade de seu sangue. A saga de Zé do Caixão continua em “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” (1967), que contou com “figuração” de 500 aranhas reais e também pode ser visto em streaming.   | SÃO PAULO, SOCIEDADE ANÔNIMA | 1965 | CLARO TV+, GLOBOPLAY, LOOKE, TELECINE   O drama de Luís Sérgio Person foi o primeiro a captar o estresse da vida moderna brasileira. Passado em maio à euforia desenvolvimentista provocada pela instalação de indústrias automobilísticas estrangeiras em São Paulo, traz Walmor Chagas como um gerente recém-promovido numa fábrica de autopeças, que trabalha muito, ganha bem, mas vive insatisfeito.   | TERRA EM TRANSE | 1967 | CLARO TV+, GLOBOPLAY, TELECINE   Glauber Rocha filmou um país fictício, chamado República de Eldorado, muito parecido com aquele que não podia ser nomeado na época da ditadura militar, já que todos os políticos do lugar eram corruptos, dos conservadores assumidos aos populistas de mostruário. Na trama, o jornalista idealista vivido por Jardel Filho descobria que candidatos de direita e de esquerda estavam envolvidos com os mesmos empresários, que apoiavam todos os lados para ter certeza de vencer e manter tudo como estava. Não só isso: ele próprio foi manipulado e usado pelo poder econômico em seu trabalho de imprensa. Taxado de subversivo, o filme foi proibido pela censura militar. Mas conquistou o Prêmio da Crítica do Festival de Cannes e o troféu de Melhor Filme do Festival de Locarno, e todos se acertaram com uma condição curiosa: nomear o padre que aparecia no filme (interpretado por Jofre Soares). A ironia é que, ao ser exibido, “Terra em Transe” foi destroçado pela crítica. Em época polarizada, a imprensa repudiou seu retrato da esquerda e tentou cancelá-lo com pressão ideológica. Logo Glauber, que foi preso pela ditadura. Falecido em 1981, ele não viveu para ver o mensalão e o petrolão lhe darem razão.   | O BANDIDO DA LUZ VERMELHA | 1968 | CLARO TV+, *VOD   Rogério Sganzerla tinha 22 anos quando dirigiu o filme criminal mais famoso do Brasil. Inspirado nos crimes reais do famoso assaltante João Acácio Pereira da Costa, apelidado de “Bandido da Luz Vermelha”, é considerado um clássico do Cinema Marginal, muito por conta de seu estilo diferentão, que misturava influência visual do expressionismo alemão com narração radiofônica debochada de programa policial. Venceu quase tudo no Festival de Brasília de 1968, incluindo Melhor Filme e Direção, e de quebra ainda lançou a carreira de Sonia Braga, lançada nas telas como uma das vítimas do criminoso (Paulo Villaça).   | MACUNAIMA | 1969 | CLARO TV+, GLOBOPLAY, TELECINE   A obra-prima literária de Mario de Andrade virou um clássico do cinema sob a direção de Joaquim Pedro de Andrade. A representação da identidade brasileira, com direito à metáfora da antropofagia, e o tom debochado e nonsense da adaptação chegaram a ser relacionados ao tropicalismo, que vivia seu auge na música brasileira. O diretor recusou a conexão, mas Mario de Andrade foi grande inspirador do movimento, assim como a fase Jovem Guarda de Roberto Carlos, representada na trilha da produção. Apesar do tom fantasioso e absurdo, “Macunaíma” fez uma das críticas mais devastadoras ao Brasil, país de malandros, aproveitadores e racistas, onde negro só tem vantagens se virar branco. Famoso por comédias de sucesso desde os anos 1930, Grande Otelo só foi ter seu talento reconhecido por este filme, vencendo o prêmio de Melhor Ator do Festival de Brasília como o Macunaíma negro – Paulo José dividiu o papel, como o Macunaíma branco.   | TODA A NUDEZ SERÁ CASTIGADA | 1973 | GLOBOPLAY   Arnaldo Jabor causou escândalo com a adaptação da famosa peça de Nelson Rodrigues, em que um conservador se apaixona e se casa com uma prostituta, enquanto ela se envolve com seu filho. Narrada numa gravação póstuma pela personagem de Darlene Glória, a trama é uma coleção de pecados, incluindo sodomia e suicídio, que desnudam a hipocrisia conservadora. Indignada com a imoralidade da história, a Polícia Federal mandou retirar o filme de cartaz três meses após sua estreia, numa operação para “prender” as cópias em todos os cinemas. Só que, ao mesmo tempo, a produção venceu o Festival de Gramado e Jabor ainda conquistou o Leão de Prata de Melhor Direção no Festival de Berlim. Com isso, a acusação de que “aquilo” não era arte ruiu e os censores negociaram uma solução: quatro cortes para o filme voltar aos cinemas. A polêmica funcionou como a propaganda e ajudou o filme a se tornar um dos maiores sucessos do ano, visto por quase 2 milhões de espectadores, todos maiores de 18 anos.   | XICA DA SILVA | 1976 | CLARO TV+, *VOD   No auge da repressão, o cinema brasileiro trocou a política pelo sexo, promovendo outro tipo de revolução – comportamental – e passou a atrair multidões. Zezé Motta virou a maior sex symbol negra do país ao encarnar a escrava que se transformava em “rainha” e chocava a sociedade ao ter todos os desejos atendidos pelo amante branco e rico (Walmor Chagas). O longa de Cacá Diegues venceu os candangos de Melhor Filme, Diretor e Atriz no Festival de Brasília, e levou mais de 3 milhões aos cinemas.   | DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS | 1976 | CLARO TV+, GLOBOPLAY, LOOKE, MUBI, TELECINE   Maior bilheteria do cinema nacional do século 20, vista por mais de 10 milhões de espectadores, a adaptação de Jorge Amado, dirigida por Bruno Barreto, deveu muito de seu sucesso à Sonia Braga, não apenas pelo talento, que foi reconhecido até com indicação ao BAFTA (o Oscar britânico), mas por seu sex appeal. Vindo um ano depois da novela “Gabriela”, onde a atriz viveu outra deusa criada por Jorge Amado, a produção consolidou Sonia Braga como o maior símbolo sexual do Brasil – ainda que a bunda mais lembrada do longa seja a de José Wilker. O conhecido triângulo sobrenatural gira em torno de uma mulher fogosa (Braga), que se casa com um malandro bonitão, mas mulherengo (o vadio Vadinho, de José Wilker), e após virar viúva decide se juntar a um homem completamente diferente (o bonzinho Dr. Teodoro, de Mauro Mendonça). Só que ser respeitada e bem tratada não era tudo o que ela imaginava, fazendo-a sentir falta das safadezas do falecido. O desejo é tão forte que o fantasma de Vadinho aparece para satisfazê-la. E o melhor é que só ela consegue vê-lo – e senti-lo. Com direito à música-tema: “O Que Será (À Flor da Pele)”, que se tornou um dos maiores hits de Chico Buarque.   | BYE BYE...

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    Nelson Pereira dos Santos (1928 – 2018)

    21 de abril de 2018 /

    Morreu o diretor Nelson Pereira dos Santos, um dos mais importantes cineastas brasileiros, precursor do Cinema Novo, cuja trajetória reflete mais de meio século da história cultural do país. O cineasta estava internado desde a quarta-feira no hospital Samaritano, no Rio, com uma pneumonia. Na internação foi constatado um tumor no fígado, já em estágio avançado, que causou sua morte neste sábado (21/4), aos 89 anos. Nelson Pereira dos Santos assinou mais de 20 filmes, entre eles clássicos absolutos como “Vidas Secas” (1963) e “Memórias do Cárcere” (1984), ambos baseados em livros de Graciliano Ramos, e “Rio 40 Graus” (1955), a obra inspiradora do Cinema Novo. Nascido em 22 de outubro de 1928 em São Paulo, formou-se em direito, mas seguiu carreira como jornalista, tendo passagens por veículos como Diário da Noite e o Jornal do Brasil, antes de se destacar como cineasta. A paixão pelo cinema foi despertada pelo pai cinéfilo, que o levava para ver filmes ainda criança, e alimentada por uma viagem a Paris em 1949, quando frequentou a Cinemateca Francesa e se aproximou do movimento intelectual francês do pós-guerra. Ele fez seu primeiro filme logo ao retornar ao Brasil, o média metragem “Juventude”, de 1950, que pretendia exibir no Festival da Juventude, evento de propaganda do Partido Comunista, realizado em Berlim Oriental. Nelson Pereira dos Santos sempre foi comunista de carteirinha, mas este primeiro filme e outros projetos que se seguiram acabaram perdidos, sem registro, alguns nem finalizados. Para adquirir experiência, decidiu trabalhar como assistente de outros diretores, como Rodolfo Nanni, Ruy Santos e Alex Viany. E assim se mudou para o Rio de Janeiro, onde vicejava um cinema de viés populista, bem diferente das comédias e romances populares da companhia Vera Cruz, em São Paulo. Seu primeiro longa, “Rio 40 Graus” (1955), causou enorme impacto. Filmado com uma câmera emprestada e em sistema cooperativado, Nelson realizou a obra mais inovadora da época, que introduziu a estética neorealista no cinema nacional, ao mesmo tempo em que apresentou temas que seriam posteriormente adotados pelo Cinema Novo, único movimento cinematográfico brasileiro de repercussão internacional. “Rio 40 Graus” era uma antologia de cinco histórias, que retratava um Rio de Janeiro diferente do cartão postal – e de todos os filmes que se faziam no Brasil. Não era o Rio de Copacabana e do Cristo Redentor, mas o Rio da Zona Norte, dos pobres, dos negros e de um cotidiano complexo. Como resultado, o filme foi censurado. Um dos motivos alegados era que a temperatura de 40º era mentira, nunca tinha acontecido no Rio de Janeiro. A liberação só aconteceu depois da posse de Juscelino Kubitschek, o “presidente bossa nova”. O cineasta voltou ao tema do Rio profundo em “Rio Zona Norte”, seu segundo filme, mas procurando fazer uma ponte com o cinema popular da Vera Cruz, com a inclusão de elementos de chanchada e da presença do comediante Grande Otelo. O filme acompanhava a luta de um compositor (Grande Otelo) para ter uma música gravada e a necessidade de vender seu trabalho para sobreviver. Mas, mesmo com a participação da cantora Angela Maria, não obteve a repercussão imaginada. Ambicioso para um diretor iniciante, ele decidir filmar a seguir “Vidas Secas”, um dos maiores clássicos literários do país. Mas não foi fácil tirar esse projeto do papel. Quando a equipe chegou no sertão para as filmagens, deparou-se com um milagre. Nunca chovera tanto no Nordeste quanto naquele ano, criando um cenário completamente diverso do agreste desértico do livro de Graciliano Ramos. O jeito foi trocar de projeto. E assim surgiu “Mandacaru Vermelho” (1962). “Vidas Secas” só aconteceu depois de um ano. Mas valeu a espera. O filme causou uma revolução na forma de captar a iluminação natural. A iniciativa foi do diretor de fotografia Luis Carlos Barreto, que decidiu tirar todos os filtros da câmera para filmar o brilho solar. A captação do verão nordestino com força luminosa e abrasiva arrancou elogios no Festival de Cannes de 1964. E o fato de ter sido exibido no festival francês juntamente com “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, chamou atenção mundial para o cinema brasileiro. Nelson Pereira dos Santos tinha grande afinidade com Glauber, com quem já havia trabalhado, na função de editor, em “Barravento” (1962). Mas o golpe militar de 1964 tolheu as expectativas de maior integração entre os cineastas. Os filmes de denúncia social do período foram paulatinamente substituídos por produções mais experimentais. E Nelson mergulhou neste novo filão com “Fome de Amor” (1969), sobre o isolamento da esquerda, e “Azyllo Muito Louco” (1970), uma adaptação de “O Alienista”, de Machado de Assis, que usava alegorias para abordar o momento do país, do mesmo modo que “Quem É Beta?” (1974). O diretor se aproximou do tropicalismo com “Como Era Gostoso o Meu Francês” (1972), uma evocação da antropofagia que fez bastante sucesso, graças à presença de índias peladas – Ana Maria Magalhães virou sex symbol. Ele também trouxe ao cinema as religiões afrobrasileiras, no momento em que expressões de candomblé e umbanda iniciavam uma transição para o vocabulário popular, via sucessos da MPB. Filmes como “Amuleto de Ogum” (1976) e “Tenda dos Milagres” (1979), este baseado na obra de Jorge Amado, foram equivalentes cinematográficos a “Canto de Ossanha” (1963), “Oração da Mãe Menininha” (1971) e “Tributo aos Orixás” (1972), entre outros. O sucesso comercial se deu em outra frente musical. Ao filmar a cinebiografia da dupla caipira Milionário e José Rico, no filme “Estrada da Vida” (1980), o diretor conseguiu seu maior êxito popular. Entretanto, seu filme mais lembrado dos anos 1980 é outro. Ele voltou à obra de Graciliano Ramos para filmar “Memórias do Cárcere” (1984), que gerou idolatria da crítica como um dos filmes mais importantes da década. Embora retratasse uma época específica, a prisão do escritor durante a ditadura de Getúlio Vargas, nos anos 1930, o longa também refletia o Brasil de sua época, que vivia os últimos suspiros da ditadura militar. O fato de ser exibido sem censura foi exaltado como marco da “abertura democrática” e cortina final da repressão. Poucos meses depois, o Ministro da Justiça Fernando Lyra anunciou o fim da censura no Brasil. Seus filmes seguintes, “Jubiabá” (1986), outra adaptação de Jorge Amado, e “A Terceira Margem do Rio” (1995), baseado em contos de Guimarães Rosa, foram separados por quase uma década, em que o cinema nacional enfrentou sua maior crise, entre o fim da Embrafilme e a reinvenção completa, com a adoção de leis de incentivo. Nelson foi um dos primeiros cineastas a reagir à implosão cultural causada pelo governo Collor, mas teve dificuldades para se enquadrar no novo modelo de produção e viu muitos de seus projetos serem inviabilizados. Por conta disso, partiu para o documentário, mais fácil e barato de filmar. Tornou-se especialista no gênero, com trabalhos sobre Castro Alves, Sergio Buarque de Hollanda, Zé Ketti e principalmente Tom Jobim, cuja vida e obra renderam seus dois filmes finais, “A Música Segundo Tom Jobim” (2012) e “A Luz do Tom” (2013). Em meio a essa fase, ele ainda realizou uma última obra de ficção, “Brasília 18%” (2006), cujo título aludia tanto à secura do ar no Planalto Central quanto às taxas de comissão cobradas por políticos corruptos. Já naquela época, em pleno escândalo do mensalão, ele aludia ao que José Padilha batizaria 12 anos depois de “O Mecanismo”. No mesmo ano, o cineasta foi eleito para a ABL, por conta de alguns roteiros publicados, tornando-se o primeiro diretor de cinema a ocupar uma vaga na Academia Brasileira de Letras. A verdade é que é possível contar boa parte da história cultural e política do Brasil dos últimos 60 anos apenas com os filmes de Nelson Pereira dos Santos.

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