Lolita Rodrigues, pioneira da TV brasileira, morre aos 94 anos
A atriz Lolita Rodrigues, pioneira da TV brasileira, morreu na madrugada deste domingo (5/11), em João Pessoa, Paraíba, aos 94 anos. Ela estava internada no Hospital Nossa Senhora das Neves e não resistiu a uma pneumonia. Nascida Sylvia Gonçalves Rodrigues Leite, em 10 de março de 1929 em Santos, litoral de São Paulo, Lolita iniciou sua carreira nas radionovelas na Rádio Record aos dez anos, em São Paulo, e seguiu como cantora da rádio, com passagens pelas emissoras Bandeirantes, Cultura e Tupi. Durante a era do rádio, Lolita foi reconhecida com dois Troféus Roquette Pinto na categoria de melhor cantora. Este período também foi essencial para que ela construísse uma base sólida de fãs que a levou a ser bastante requisitada com a chegada da televisão. A estreia da TV brasileira A estreia de Lolita Rodrigues na televisão ocorreu em um momento histórico para o Brasil, marcando o início das transmissões televisivas no país. No dia 18 de setembro de 1950, Lolita surgiu na tela para cantar “Canção da TV” no programa inaugural da TV Tupi, a primeira emissora de TV brasileira. Originalmente, Hebe Camargo havia sido escalada para a apresentação, mas Lolita a substituiu de última hora, tornando-se a primeira cantora da TV. A canção executada por Lolita foi especialmente composta para o evento, com música do maestro Marcelo Tupinambá e letra do poeta Guilherme de Almeida. E nem ela e nem Hebe gostavam da música. Lolita Rodrigues compartilhou detalhes desse momento em entrevistas. Ela mencionou: “Hebe estava namorando o empresário Luiz Ramos e ele tinha um evento que precisava da presença dela. Aí sobrou para mim”, revelou Lolita ao portal Terra em 2009. A atriz também brincou sobre a qualidade da canção, dizendo: “Me chamaram no dia, aprendi aquela coisa horrível, e a Hebe toda vez que tem oportunidade, diz ‘que bom que eu não cantei isso'”, relembrando com bom humor o evento que se tornou um marco na história da televisão brasileira. Este momento não apenas consolidou a inauguração da TV Tupi, mas também posicionou Lolita Rodrigues como uma das pioneiras da televisão brasileira. A partir daí, Lolita tornou-se uma figura recorrente no canal, como apresentadora de diversos programas, entre eles “Música e Fantasia” (1950-1954), “Clube dos Artistas” (1955-1960), “Almoço com as Estrelas” (1956-1983), “Você Faz o Show” (1960) e “Chá das Bonecas” (1960). O mais famoso e duradouro, “Almoço com as Estrelas”, começou no rádio, tinha direção do famoso autor de novelas Cassiano Gabus Mendes e também se tornou o primeiro programa colorido da Tupi nos anos 1970. Nele, Lolita e seu marido Airton Rodrigues recebiam famosos para um bate-papo durante um almoço luxuoso, que ainda tinha shows ao vivo. A primeira telenovela Querendo ampliar ainda mais seus horizontes, Lolita decidiu virar atriz. Seu primeiro grande papel veio em 1957, no teleteatro “O Corcunda de Notre Dame”, onde interpretou a cigana Esmeralda. A experiência lhe garantiu sua entrada no universo das telenovelas. Ela estrelou a primeiríssima novela diária brasileira, “2-5499 Ocupado”, atuando ao lado de Glória Menezes e Tarcísio Meira em 1963 pela TV Excelsior. Vinda de uma família de espanhóis, Lolita geralmente era lembrada para interpretar personagens que falavam com sotaque castelhano, o que acabou se tornando uma marca em sua carreira. Ela engatou diversas produções da TV Excelsior, Record TV e Tupi nos anos 1960 e 1970, incluindo as clássicas “As Pupilas do Senhor Reitor” (1970), “Os Deuses Estão Mortos” (1971) e “O Direito de Nascer” (1978), até ser contratada pela Globo na década de 1980, onde participou de diversos sucessos dramáticos. Carreira na Globo Apesar da longa experiência como atriz, ela só foi beijar na telinha em 1987, quando viveu par romântico com Carlos Zara em sua primeira novela da Globo, “Sassaricando”. Lolita ainda participou de “Rainha da Sucata” (1990), “A Viagem” (1994), “Terra Nostra” (1999), “Uga Uga” (2000), “Kubanacan” (2003), “Pé na Jaca” (2006) e “Viver a Vida” (2009), além de ter cantado num especial de Roberto Carlos de 1992. Muitas dessas novelas foram compartilhadas com a amiga Nair Belo, com quem Lolita ainda trabalhou no humorístico “Zorra Total” (1999-2015). Mas a cumplicidade das duas é mais lembrada pelo dia em que se juntaram a Hebe Camargo numa participação histórica no “Programa do Jô”, exibida no ano 2000 pela Rede Globo, onde divertiram os espectadores com histórias deliciosas sobre os primórdios da TV brasileira. Lembrada até hoje, a edição foi considerada uma das melhores da trajetória do programa de entrevistas de Jô Soares. Lolita também participou de novelas de outras emissoras, como “A História de Ana Raio e Zé Trovão” (1990) na TV Manchete, e o remake de “2-5499 Ocupado” na Record, intitulado “Louca Paixão” (1999). Últimos anos Logo depois de encerrar sua participação na novela “Viver a Vida” (2009), onde interpretou Noêmia, avó de Luciana (Alinne Moraes), a estrela decidiu se aposentar. Em 2015, ela se mudou para João Pessoa, na Paraíba, onde passou a viver com sua filha, Silvia Rodrigues, que é médica. Durante esse período, Lolita Rodrigues fez poucas aparições públicas. Uma das suas últimas aparições foi em dezembro de 2017, quando prestigiou uma apresentação do espetáculo “Hebe – O Musical”, em São Paulo, em homenagem à amiga Hebe Camargo, falecida em 2012. Depois de tantos amigos mortos – o marido em 1992, Nair Belo em 2007 – , ela dizia que não tinha medo de morrer, mas tinha pena de morrer. “Sou muito feliz. Gosto muito da vida, tenho pena de morrer, mas não tenho medo, não. E envelheço com muita pena. Eu acho a velhice uma indignidade, no que concerne ao fato de você ficar doente, você perder a razão, de você ficar não-lúcida. Isso eu tenho muito medo. Gosto muito de morar sozinha, mas tenho medo de morrer e as pessoas não me acharem”, confessou numa entrevista antiga, explicando porque foi morar na Paraíba com a filha.
Atriz Elizangela, de novelas como “Locomotivas” e “A Dona do Pedaço”, morre aos 68 anos
A atriz Elizangela do Amaral Vergueiro, conhecida somente como Elizangela, faleceu nesta sexta-feira (3/11), aos 68 anos, em Guapimirim, no estado do Rio. A causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória. Elizangela foi atendida pelas equipes do SAMU e encaminhada ao Hospital Municipal José Rabello de Mello, onde, apesar das tentativas de reanimação, não resistiu. A Prefeitura de Guapimirim lamentou sua morte em nota, mencionando que esta foi a segunda vez que o sistema de saúde local atendeu a atriz. Na primeira ocasião, Elizangela enfrentava graves problemas respiratórios, durante a epidemia de Covid-19, mas conseguiu se recuperar após algumas semanas de internação. Nascida em 11 de dezembro de 1954, no Rio de Janeiro, a atriz iniciou sua carreira muito jovem. Aos 7 anos, já fazia comerciais ao vivo na TV Excelsior e rapidamente chamou a atenção dos diretores de televisão. Foi na mesma emissora que estrelou programas como “A Outra Face do Artista”, “Essa Gente Inocente” e “Capitão Furacão”. Em 1969, estreou no cinema com o filme “Quelé do Pajeú”, que lhe rendeu um prêmio de Melhor Atriz Revelação no Festival de Cinema de Santos. Ela ainda participou de “O Enterro da Cafetina” (1970) e “Vale do Canaã” (1971), antes de migrar definitivamente para a televisão. A Locomotiva que alçou sua carreira Em 1971, Elizangela estreou na Globo com uma personagem secundária na novela “O Cafona”, que lhe rendeu a indicação ao Troféu Imprensa de Revelação do Ano. Nos anos seguintes, foi peça-chave em inúmeras produções televisivas. Seu primeiro grande destaque aconteceu em “Locomotivas” (1977), interpretando a personagem Patrícia, inicialmente criada para Lucélia Santos, que preferiu o papel da antagonista, Fernanda. A produção se consagrou como a primeira novela sete em cores, e Elizangela fez tanto sucesso que até se aventurou na música, gravando “Pertinho de Você” em virtude da projeção do papel. Outros papéis marcantes Ela teve outro papel importante na versão original de “Pecado Capital” (1975) e seguiu carreira extensa nas novelas, com participações em produções icônicas como “Roque Santeiro” (1985), “Pedra sobre Pedra” (1992), “Por Amor” (1997), “O Clone” (2001), “Senhora do Destino” (2004) e “A Favorita” (2008). Entre seus papéis na Globo, a atriz também trabalhou no SBT nos anos 1990, nas novelas “Éramos Seis” (1994) e “As Pupilas do Senhor Reitor” (1994), e mais recentemente na Record TV, onde viveu a personagem Milah em “A Terra Prometida” (2016). De volta à Globo, ela fez sua última participação num elenco fixo foi em “A Força do Querer” (2017), onde interpretou Aurora, mãe de Bibi Perigosa (Juliana Paes). Sua despedida das telas se deu dois anos depois, com uma participação em “A Dona do Pedaço” (2019), de Walcyr Carrasco. A atriz chegou a ser cotada para “A Travessia” (2022), mas acabou cortada por não querer se vacinar contra a Covid-19. Antivax convicta, ela chegou a comparar vacinação com estupro nas redes sociais, e ficou muito mal quando pegou coronavírus, indo parar num CTI (Centro de Terapia Intensiva).
Roberto Guilherme, o Sargento Pincel, morre aos 84 anos
O ator Roberto Guilherme, que é conhecido pelo papel do Sargento Pincel em “Os Trapalhões”, morreu nesta quinta-feira (10/11), no Rio de Janeiro, aos 84 anos. Ele lutava contra um câncer há alguns anos e estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul da capital carioca. Há seis semanas atrás, ele chegou a receber a visita de Dedé Santana, com quem contracenou no programa clássico da Globo. “Muito assunto para colocar em dia. Valeu compadre Dedé Santana pela visita!!”, ele escreveu em sua última postagem do Instagram. Roberto na verdade se chamava Edward e nasceu em Ladário, Corumbá (MT), em 25 de agosto de 1938. O nome artístico foi uma homenagem a Roberto Carlos. Antes de ser ator, ele passou por várias profissões, ainda menor de idade. Aos 11 anos, foi aprendiz de sapateiro. Aos 14, virou jogador de futebol profissional, integrando o time mirim do Vasco da Gama. Aos 18, alistou-se no Exército para seguir carreira, tornando-se paraquedista, mas sem abandonar o futebol. Ele chegou a disputar partidas pela Seleção Brasileira Militar de Futebol ao lado de Pelé. Representando o Brasil, Roberto Guilherme disputou campeonatos nos Estados Unidos, Inglaterra, Panamá, e Colômbia, e foi campeão sul-americano na categoria. Ainda no Exército, ele escreveu uma peça de teatro amador encenada no Olaria Atlético Clube, na Zona Norte do Rio. Mas um dia um ator faltou, e Guilherme acabou o substituindo. Um produtor viu a peça e convidou Roberto Guilherme para trabalhar na TV Rio. Foi o início de sua carreira definitiva. Ele teve o encontro que mudou sua vida quando começou a trabalhar na TV Excelsior e conheceu Renato Aragão, o Didi. Eles contracenaram pela primeira vez no humorístico “Um Dois, Feijão Com Arroz” (1965) e levaram a parceria para o cinema em “Dois na Lona” (1968). Depois, o ator passou a fazer parte do elenco fixo de “Adoráveis Trapalhões”, que tinha como astros principais o comediante Aragão, o lutador galã Ted Boy Marino e os cantores Ivon Cury e Wanderley Cardoso. Com o mesmo elenco, também atuou em “Os Legionários” (1965), onde interpretou pela primeira vez um militar sem nome, que virou o embrião do Sargento Pincel. Na Excelsior, ele ainda atuou no programa de aventuras “002 Contra o Crime” (1965) e na novela infanto-juvenil “A Ilha do Tesouro” (1966). O Sargento Pincel, na verdade, materializou-se fora de “Os Trapalhões”, quando Guilherme foi para a TV Record e estrelou o programa “Quartel do Barulho” (1966). No novo canal, ele voltou a fazer dupla com Renato Aragão no humorístico “Praça da Alegria”. E depois se juntou ao elenco do protótipo de “Os Trapalhões”, batizado de “Os Insociáveis” (1971-1974), que juntou pela primeira vez o trio Didi, Dedé e Mussum, além da cantora Vanusa. No final dos anos 1960, Guilherme se separou dessa turma para ir para a TV Tupi, onde trabalhou com Costinha no programa “Do Que Se Trata” (1969). Esta parceria também foi parar no cinema, na comédia “Costinha e o King Mong” (1977). Mas não demorou para ele se reencontrar com Didi, Dedé e Mussum, que o seguiram rumo à Tupi, onde Zacarias acabou se juntando ao grupo. Essa trupe definitiva se reuniu pela primeira vez em 1975 para materializar um programa novo, chamado “Os Trapalhões”. Guilherme participou desde o início, mas com destaque bem menor que o quarteto central. Só que o programa não fez sucesso e foi cancelado no ano seguinte. Sério. Em 1980, com o colapso da Tupi, Guilherme chegou a fazer teste para interpretar o palhaço Bozo, no SBT. Sem conseguir a vaga, buscou a TV Globo, onde participou de humorísticos como “Viva o Gordo” e “Balança Mais Não Cai”, e reencontrou seus antigos colegas. A Globo tinha lançado a versão mais conhecida de “Os Trapalhões” em 1977. Mas Guilherme só entrou no programa em 1982, quando popularizou de vez o Sargento Pincel, líder de um grupo atrapalhado de recrutas militares. O programa ficou no ar até 1997, perseverando mesmo após as mortes de Zacarias (1934–1990) e Mussum (1941–1994). Roberto Guilherme também participou de oito filmes dos Trapalhões entre 1984 e 2017, incluindo dois longas “solos” de Renato Aragão e um “crossover” com Xuxa, “Xuxa e os Trapalhões em o Mistério de Robin Hood” (1990). Ao final de “Os Trapalhões”, ele seguiu ao lado de Renato Aragão na série “Aventuras do Didi” (2010-2013), que manteve o Sargento Pincel na ativa até 2013. Depois disso, ainda voltou a se juntar a Didi e Dedé em “Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood”, último filme do grupo, lançado em 2017. Com o fim da era de Renato Aragão na TV, Guilherme chegou aparecer no humorístico “Zorra” na Globo e em duas produções do Multishow, “Treme Treme” (em 2018) e “Dra. Darci” (2018-2020), ao lado de Tom Cavalcanti. Ao longo da carreira, Roberto Guilherme ficou bastante conhecido pela careca reluzente. Mas ele não era calvo de verdade. A falta de cabelos surgiu em uma esquete de “Os Trapalhões” na Globo, onde Didi e Dedé rasparam sua cabeça completamente com a desculpa de uma aposta. Quando o personagem Sargento Pincel completou 40 anos em 2021, ele lembrou a história da caracterização em entrevista ao jornal Extra. “A máquina [elétrica] estava cega e não cortava, arrancava o meu cabelo. Enquanto o auditório morria de rir, as lágrimas corriam pelo meu rosto, de tanta dor”, comentou. Como o público achou engraçado, ele manteve o corte zero dali em diante. “Sou um cara brincalhão. Moro em Jacarepaguá desde os anos 1960, com muito orgulho. E ando por lá de sandália, bermuda, camiseta e uma bolsinha do lado, tranquilão. Todo mundo é meu amigo, eu sou amigo de todo mundo, acho a vida maravilhosa. Quando perguntam ‘E aí, Pincel, como é que tá?’, digo ‘Tirando tudo que tá errado, para mim tá tudo certo, tá tudo ótimo'”, completou Roberto Guilherme na mesma entrevista.
Márcia Real (1929 – 2019)
A atriz Márcia Real faleceu na madrugada desta sexta-feira (15/3), em um hospital em Ibiúna, interior do estado de São Paulo, aos 90 anos de idade. De acordo com sua filha Márcia Regina, a atriz, que se destacou em novelas entre os anos 1960 e 1980, sofria há mais de uma década de Alzheimer. Eunice Alves (seu nome verdadeiro) nasceu em São Paulo, em 6 de janeiro de 1929. E estreou no teatro ainda adolescente, após um encontro casual com Bibi Ferreira na rua. Da conversa veio o convite para a peça “Minhas Queridas Esposas”, que a lançou na profissão de atriz no final dos anos 1940. Ela estreou no cinema logo em seguida, aos 20 anos, no musical “Carnaval no Fogo” (1949), uma chanchada da produtora Atlântida dirigida por Watson Macedo. Fez também os dramas “Liana, a Pecadora” (1951), de Antonio Tibiriçá, e “O Sobrado” (1956), de Walter George Durst e Cassiano Gabus Mendes, antes de se destacar na TV. Os papéis televisivos surgiram a partir de teleteatros da rede Tupi, como o “TV de Vanguarda”, “TV de Comédia” e “Grande Teatro Tupi”, que a tornaram um dos nomes mais prestigiados da emissora, entre o final dos 1950 e início de 1960, levando-a a apresentar o programa de variedades “Clube dos Artistas”. Com a popularização das telenovelas, ela migrou para o novo gênero, estrelando “Corações em Conflito”, na TV Excelsior, em 1964. Acabou participando das principais produções do canal, como “Vidas Cruzadas”, “A Grande Viagem”, “Redenção”, “Sangue do Meu Sangue” e outras. Após a extinção da Excelsior, migrou para a Record em 1970, onde estrelou “As Pupilas do Senhor Reitor”, “Os Deuses Estão Mortos”, “O Leopardo”, etc. E ainda esteve na fase final da Tupi, em “Aritana” e “Gaivotas”, entre 1978 e 1979. A crise que se abateu sobre a televisão nos anos 1970, com o fechamento de canais, reconduziu a atriz de volta ao cinema durante o auge da pornochanchada. Após participar do clássico “O Rei da Noite” (1975), de Hector Babenco, emendou três longas apelativos de Jean Garret, “A Ilha do Desejo” (1975), “Amadas e Violentadas” (1975) e “Possuídas pelo Pecado” (1976). Ela também fez diversas peças. Márcia Real só retornou à TV no final dos anos 1980, desta vez na Globo. Os papéis que marcaram essa fase eram sempre de mulheres ricas, finas e espirituosas, como Walkíria em “Bebê a Bordo”, Áurea em “Mico Preto”, Sálvia em “De Corpo e Alma” e Isadora em “Quatro por Quatro”, exibidas entre 1988 e 1995. Pelo timing para o humor televisivo, tornou-se uma das atrizes que mais marcaram as novelas de Carlos Lombardi. Mas ela ficou menos de uma década na Globo. Depois de “Quatro por Quatro” foi fazer minisséries e a novela “Canoa do Bagre” (1997) na Record, entrou na série de comédia “Ô… Coitado!” (1999-2000) e fez participação especial em “O Direito de Nascer” (2001) no SBT, encerrando sua filmografia no ano seguinte com a série “SPA TV Fantasia” (2002) na rede Brasil e o filme “Avassaladoras” (2002), de Mara Mourão.
Maria Isabel de Lizandra (1946 – 2019)
Morreu na noite de quinta-feira (15/3), em São Paulo, a atriz Maria Isabel de Lizandra, que fez muito sucesso em novelas das décadas de 1960 e 1970. Ela tinha 72 anos e tinha dado entrada no Hospital das Clínicas pela manhã, com pneumonia. Maria Isabel Reclusa Antunes Maciel nasceu em São Paulo em 1946, e estreou na TV Tupi aos 18 anos, na novela “Se o Mar Contasse” (1964), de Ivani Ribeiro. Em seguida passou a estrelar novelas da TV Excelsior, sempre em personagens de destaque, como Raquel em “As Minas de Prata”, Eulália Terra em “O Tempo e o Vento”, Ruth em “O Terceiro Pecado”, e Rosália em “A Muralha”, entre 1966 e 1969. Com o fim da TV Excelsior, em 1970, voltou à Tupi, onde se tornou uma das principais estrelas da emissora, emendando 10 novelas em 10 anos, com personagens ainda lembradas pelos fãs mais velhos, como Malu de “Mulheres de Areia” (1973-1974), Catarina Batista de “O Machão” (1974-1975) – nestas duas, formando par romântico com Antônio Fagundes -, Lúcia de “Xeque-Mate” (1976) e Isabel de “Éramos Seis” (1977) – filha de Dona Lola (Nicette Bruno). Durante sua fase mais popular, tornou-se também estrela cinematográfica. Levou quase uma década entre a estreia em “Vereda da Salvação” (1964), de Anselmo Duarte, ao segundo filme, “O Supermanso” (1974), de Ary Fernandes, mas emendou lançamentos consecutivos no auge do gênero que ficou conhecido como pornochanchada – “As Mulheres Sempre Querem Mais” (1974), “A Noite da Fêmeas” (1976) e “Belas e Corrompidas” (1977). Ela não fez mais filmes após se casar com Ênio Gonçalves, seu par romântico na novela “Xeque Mate” (1976), com quem teve duas filhas. Mas continuou a fazer sucesso em novelas, chegando à Globo em 1983, onde atuou nas minisséries “Moinhos de Vento” (1983) e “Tenda dos Milagres” (1986) e nas novelas “Champagne” (1983) e “Vale Tudo” (1988), recentemente reprisada no Canal Viva, em que interpretou Marisa, a amiga de Raquel (Regina Duarte) de Foz do Iguaçu. Ainda participou de novelas na Bandeirantes, na Record e na Manchete, onde integrou o elenco de “Dono Beja”. Até encerrar a carreira na minissérie “Labirinto”, da Globo, em 1998. A atriz também atuou em peças como “Quarto de Empregada” e “Freud, Além da Alma”, e foi professora de Teatro e História do Teatro em universidades de São Paulo, mas já estava aposentada.
Bibi Ferreira (1922 – 2019)
A atriz, cantora e diretora Bibi Ferreira, conhecida como primeira-dama do teatro brasileiro, morreu nesta quarta (13/2) aos 96 anos, após sofrer uma parada cardíaca. Com uma vasta e imensurável carreira nos palcos, Bibi se destacou em montagens históricas do teatro nacional. Mas essa dedicação fez com tivesse poucas participações no cinema e na TV, o que lhe deu menos popularidade que merecia. Abigail Izquierdo Ferreira nasceu em 1º de junho de 1922 no Rio de Janeiro, e com 20 dias de idade fez sua estreia no teatro. Filha do também famoso ator Procópio Ferreira e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, ela subiu aos palcos pela primeira vez em 21 de junho de 1922, ainda bebê, substituindo uma boneca que havia desaparecido horas antes da sessão da peça “Manhãs de Sol”. Enquanto crescia, Bibi sentou no colo de Carmem Miranda, aprendeu a cantar com Noel Rosa e estudou teatro em Londres em 1942. Sua carreira premiadíssima destaca grandes sucessos musicais, como “Gota d’Água”, de Chico Buarque e Paulo Pontes, “Minha Querida Dama” (versão brasileira do clássico “My Fair Lady”, que fez com Paulo Autran), “O Homem da La Mancha”, “Alô Dolly” e “Piaf, a Vida de uma Estrela da Canção”. Este último foi o que mais marcou sua carreira. Iniciado em 1983, o espetáculo levou Bibi a percorrer vários países e chegou a virar vídeo em 2004, “Bibi Canta Piaf”. Após mais de duas décadas na pele da diva francesa, a diva brasileira foi reconhecida com a Comenda do Ordem e das Letras da República Francesa, o prêmio máximo da cultura na França. Bibi também foi diretora de shows, óperas e peças de teatro, tendo dirigido cantoras tão diferentes quanto Maria Bethânia, Elizeth Cardoso, Clara Nunes e Roberta Miranda, entre outras. O cinema foi um entusiasmo da juventude, estreando nas telas aos 14 anos, em “Cidade-Mulher” (1936), do grande mestre Humberto Mauro. Depois, foi dirigida pelo inglês Derek N. Twist em “O Fim do Rio” (1947), contracenando com atores britânicos, pelo tcheco Leo Marten em “Almas Adversas” (1952) e pelo argentino Carlos Hugo Christensen em “Leonora dos Sete Mares” (1955). E nunca mais fez outro filme. Em vez disso, preferiu participar dos primeiros teleteatros brasileiros, que eram basicamente teatro filmado: encenações feitas ao vivo, numa época em que ainda não existia o videotape. Foram várias aparições no programa “Grande Teatro Tupi”, entre 1952 e 1956. Em 1960, ela participou da inauguração da TV Excelsior como apresentadora do jornalístico “Brasil 60”, um dos primeiros a combinar reportagens gravadas com apresentação ao vivo, além do programa de variedades “Bibi Sempre aos Domingos”. Também comandou o programa musical “Bibi ao Vivo” na Tupi, em 1968. E foi a comentarista oficial da transmissão do Oscar 1972 no mesmo canal. Mas, curiosamente, jamais fez em novelas. E só apareceu em duas produções da Globo: “O Homem Que Veio do Céu” (1978), episódio da série de antologia “Caso Especial”, em 1978, e a minissérie “Marquesa de Santos”, no papel de Dona Carlota Joaquina, em 1984. Ao completar 50 anos de carreira na década de 1990, ela celebrou sua trajetória artística com o espetáculo “Bibi in Concert”. E, em 2013, levou este espetáculo para Nova York, apresentando-se na Broadway, com direito a dueto com Liza Minelli e críticas rasgadas do jornal New York Post, que a comparou com Ella Fitzgerald. Bibi anunciou sua aposentadoria dos palcos em setembro passado, após 77 anos de carreira, interrompendo planos que desenvolvia para um musical dedicado ao cancioneiro de Dorival Caymmi. Na época, já enfrentava uma série de problemas de saúde e chegou a ser internada com quadro de desidratação. “Nunca pensei em parar, essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada”, disse ela em comunicado.
Aracy Cardoso (1937 – 2017)
Morreu a atriz Aracy Cardoso, que participou de várias novelas na TV Globo. Ela estava internada há um mês no Hospital São Lucas, no Rio de Janeiro, tratando de vários problemas no coração e nos rins, e faleceu nesta terça-feira (26/12), aos 80 anos. Nascida no Rio em 17 de junho de 1937, filha de uma cantora de ópera, Aracy seguiu a carreira artística desde cedo, primeiro nos palcos, depois no cinema, com o drama “Fatalidade” (1953) e várias chanchadas – “Sai de Baixo” (1956), “Depois do Carnaval” (1959), etc. Mas foi se destacar mesmo na televisão. A atriz interpretou as principais “mocinhas” das novelas dos anos 1960 da TV Excelsior, como “Os Quatro Filhos” (1965), “A Indomável” (1965) e “Sublime Amor” (1967), antes de estrear na Globo com “Anastácia, a Mulher sem Destino”, em 1967. Após uma breve passagem pela Tupi na década seguinte, voltou à Globo para se destacar em novelas que marcaram as décadas de 1970 e 1980, entre elas “Fogo sobre Terra” (1974), “Vejo a Lua no Céu” (1976), “O Pulo do Gato” (1978), “Água Viva” (1980), “Final Feliz” (1982), “Selva de Pedra” (1986) e “Mandala” (1987). Foi nesta época que viveu uma de suas personagens mais lembradas, a governanta Zazá, de “A Gata Comeu” (1985). Após três décadas dedicadas à televisão, ela retomou a carreira cinematográfica em “O Homem Nu” (1997), de Hugo Carvana, e fez ainda “Nosso Lar” (2010), de Wagner de Assis. Bastante ativa, acumulou trabalhos em minisséries, séries e novelas nos últimos anos, inclusive na Record, onde integrou “Bela, a Feia” (2009) e “Dona Xepa” (2013). Sua última aparição na TV aconteceu neste ano, numa participação especial em “Sol Nascente”, da Globo. Discreta em relação à sua vida pessoal, Aracy Cardoso foi casada com o diretor e produtor Ibañez Filho, e deixa duas filhas.
Vida Alves (1928 – 2017)
Morreu a atriz Vida Alves, pioneira da TV brasileira, que deu o primeiro beijo numa novela e também o primeiro beijo gay da história televisiva do país. Ela estava internada num hospital de São Paulo há uma semana e morreu na noite de terça-feira (3/1), após uma falência múltipla de órgãos, aos 88 anos de idade. Mineira de Itanhandu, Vida Amélia Guedes Alves começou no rádio e foi escalada por Walter Forster (1917-1996), então diretor da TV Tupi, para fazer par romântico com ele na primeira novela do país, “Sua Vida Me Pertence”, em 1951. O enredo incluía um beijo, que se tornou histórico. Infelizmente, como não havia videotape, não há registro da cena. Mas ela garantia que foi “beijo técnico”. “Um selinho”, não cansava de repetir. O beijo, por sinal, precisou ser aprovado pelo marido da atriz. Por isso, o único ensaio aconteceu na sala a sua casa, diante do marido, que era amigo de Forster. Mesmo assim, a atriz acabou com fama de beijoqueira, já que também protagonizou o primeiro beijo homossexual da TV brasileira. Aconteceu no teleteatro “Calúnia”, adaptação da peça de Lillian Hellman levada ao ar na mesma Tupi no programa “TV Vanguarda” em 1963, quando ela e Geórgia Gomide se beijaram em cena. Na trama, Vida e Geórgia interpretavam diretoras de um internato para meninas que eram caluniadas por uma estudante que as acusava de serem amantes. O escândalo leva os pais a tirarem as filhas do colégio, até que, falidas, as duas acabam descobrindo que realmente se amavam, terminando a história com um selinho. Desde beijo histórico restou uma foto, que comprova que a TV brasileira já foi mais avançada que Hollywood – o beijo final foi proibido na versão cinematográfica americana, “Infâmia” (1961), com Audrey Hepburn e Shirley MacLaine. A ditadura militar, porém, acabou com esses “modernismos”. Ela trabalhou em novelas da Tupi e da TV Excelsior até 1969, voltando a contracenar com a amiga Geórgia Gomide em “A Outra” (1965), de Walter George Durst. Sua última novela foi “Dez Vidas” (1969), escrita por Ivani Ribeiro e dirigida por Gianfrancesco Guarnieri. Fora do ar, liderou um movimento de defesa da memória da TV brasileira, que envolveu diversos pioneiros e reuniu um acervo precioso a partir de 1995 na associação Pró-TV, que ela fundou. Vida só voltou à aparecer na telinha em 2004, para interpretar a si mesma em “Um Só Coração”, minissérie sobre a história de São Paulo, que também foi seu único trabalho na Globo. Sua trajetória é contada em detalhes na biografia “Vida Alves – Sem Medo de Viver, de Nelson Natalino, lançado em 2013 pela Editora Imprensa Oficial. Ela própria escreveu ainda “Televisão Brasileira: O Primeiro Beijo e Outras Curiosidades” em 2014, narrando a história do começo da televisão brasileira e como eram produzidas as primeiras novelas. A atriz deixa dois filhos, três netos e três bisnetos. A cantora Tiê, uma das netas, deixou uma mensagem nas redes sociais: “Dona Vida Alves fez a passagem. Minha amiga, minha avó, minha parceira, minha musa beijoqueira. 88 anos de muita luz, amor, arte e vida. Vire estrela e descanse em paz. Te amo pra sempre e vou sentir saudades todos os dias.”





