Lolita Rodrigues, pioneira da TV brasileira, morre aos 94 anos

A atriz Lolita Rodrigues, pioneira da TV brasileira, morreu na madrugada deste domingo (5/11), em João Pessoa, Paraíba, aos 94 anos. Ela estava internada no Hospital Nossa Senhora das Neves e não […]

Divulgação/Globo

A atriz Lolita Rodrigues, pioneira da TV brasileira, morreu na madrugada deste domingo (5/11), em João Pessoa, Paraíba, aos 94 anos. Ela estava internada no Hospital Nossa Senhora das Neves e não resistiu a uma pneumonia.

Nascida Sylvia Gonçalves Rodrigues Leite, em 10 de março de 1929 em Santos, litoral de São Paulo, Lolita iniciou sua carreira nas radionovelas na Rádio Record aos dez anos, em São Paulo, e seguiu como cantora da rádio, com passagens pelas emissoras Bandeirantes, Cultura e Tupi. Durante a era do rádio, Lolita foi reconhecida com dois Troféus Roquette Pinto na categoria de melhor cantora. Este período também foi essencial para que ela construísse uma base sólida de fãs que a levou a ser bastante requisitada com a chegada da televisão.

 

A estreia da TV brasileira

A estreia de Lolita Rodrigues na televisão ocorreu em um momento histórico para o Brasil, marcando o início das transmissões televisivas no país. No dia 18 de setembro de 1950, Lolita surgiu na tela para cantar “Canção da TV” no programa inaugural da TV Tupi, a primeira emissora de TV brasileira. Originalmente, Hebe Camargo havia sido escalada para a apresentação, mas Lolita a substituiu de última hora, tornando-se a primeira cantora da TV.

A canção executada por Lolita foi especialmente composta para o evento, com música do maestro Marcelo Tupinambá e letra do poeta Guilherme de Almeida. E nem ela e nem Hebe gostavam da música.

Lolita Rodrigues compartilhou detalhes desse momento em entrevistas. Ela mencionou: “Hebe estava namorando o empresário Luiz Ramos e ele tinha um evento que precisava da presença dela. Aí sobrou para mim”, revelou Lolita ao portal Terra em 2009. A atriz também brincou sobre a qualidade da canção, dizendo: “Me chamaram no dia, aprendi aquela coisa horrível, e a Hebe toda vez que tem oportunidade, diz ‘que bom que eu não cantei isso'”, relembrando com bom humor o evento que se tornou um marco na história da televisão brasileira.

Este momento não apenas consolidou a inauguração da TV Tupi, mas também posicionou Lolita Rodrigues como uma das pioneiras da televisão brasileira. A partir daí, Lolita tornou-se uma figura recorrente no canal, como apresentadora de diversos programas, entre eles “Música e Fantasia” (1950-1954), “Clube dos Artistas” (1955-1960), “Almoço com as Estrelas” (1956-1983), “Você Faz o Show” (1960) e “Chá das Bonecas” (1960). O mais famoso e duradouro, “Almoço com as Estrelas”, começou no rádio, tinha direção do famoso autor de novelas Cassiano Gabus Mendes e também se tornou o primeiro programa colorido da Tupi nos anos 1970. Nele, Lolita e seu marido Airton Rodrigues recebiam famosos para um bate-papo durante um almoço luxuoso, que ainda tinha shows ao vivo.

 

A primeira telenovela

Querendo ampliar ainda mais seus horizontes, Lolita decidiu virar atriz. Seu primeiro grande papel veio em 1957, no teleteatro “O Corcunda de Notre Dame”, onde interpretou a cigana Esmeralda. A experiência lhe garantiu sua entrada no universo das telenovelas.

Ela estrelou a primeiríssima novela diária brasileira, “2-5499 Ocupado”, atuando ao lado de Glória Menezes e Tarcísio Meira​ em 1963 pela TV Excelsior. Vinda de uma família de espanhóis, Lolita geralmente era lembrada para interpretar personagens que falavam com sotaque castelhano, o que acabou se tornando uma marca em sua carreira. Ela engatou diversas produções da TV Excelsior, Record TV e Tupi nos anos 1960 e 1970, incluindo as clássicas “As Pupilas do Senhor Reitor” (1970), “Os Deuses Estão Mortos” (1971) e “O Direito de Nascer” (1978), até ser contratada pela Globo na década de 1980, onde participou de diversos sucessos dramáticos.

 

Carreira na Globo

Apesar da longa experiência como atriz, ela só foi beijar na telinha em 1987, quando viveu par romântico com Carlos Zara em sua primeira novela da Globo, “Sassaricando”. Lolita ainda participou de “Rainha da Sucata” (1990), “A Viagem” (1994), “Terra Nostra” (1999), “Uga Uga” (2000), “Kubanacan” (2003), “Pé na Jaca” (2006) e “Viver a Vida” (2009), além de ter cantado num especial de Roberto Carlos de 1992.

Muitas dessas novelas foram compartilhadas com a amiga Nair Belo, com quem Lolita ainda trabalhou no humorístico “Zorra Total” (1999-2015). Mas a cumplicidade das duas é mais lembrada pelo dia em que se juntaram a Hebe Camargo numa participação histórica no “Programa do Jô”, exibida no ano 2000 pela Rede Globo, onde divertiram os espectadores com histórias deliciosas sobre os primórdios da TV brasileira. Lembrada até hoje, a edição foi considerada uma das melhores da trajetória do programa de entrevistas de Jô Soares.

Lolita também participou de novelas de outras emissoras, como “A História de Ana Raio e Zé Trovão” (1990) na TV Manchete, e o remake de “2-5499 Ocupado” na Record, intitulado “Louca Paixão” (1999).

 

Últimos anos

Logo depois de encerrar sua participação na novela “Viver a Vida” (2009), onde interpretou Noêmia, avó de Luciana (Alinne Moraes), a estrela decidiu se aposentar. Em 2015, ela se mudou para João Pessoa, na Paraíba, onde passou a viver com sua filha, Silvia Rodrigues, que é médica.

Durante esse período, Lolita Rodrigues fez poucas aparições públicas. Uma das suas últimas aparições foi em dezembro de 2017, quando prestigiou uma apresentação do espetáculo “Hebe – O Musical”, em São Paulo, em homenagem à amiga Hebe Camargo, falecida em 2012.

Depois de tantos amigos mortos – o marido em 1992, Nair Belo em 2007 – , ela dizia que não tinha medo de morrer, mas tinha pena de morrer. “Sou muito feliz. Gosto muito da vida, tenho pena de morrer, mas não tenho medo, não. E envelheço com muita pena. Eu acho a velhice uma indignidade, no que concerne ao fato de você ficar doente, você perder a razão, de você ficar não-lúcida. Isso eu tenho muito medo. Gosto muito de morar sozinha, mas tenho medo de morrer e as pessoas não me acharem”, confessou numa entrevista antiga, explicando porque foi morar na Paraíba com a filha.