Halloween é a principal estreia da semana nos cinemas
No último fim de semana antes do Halloween, a principal estreia de cinema é justamente o filme homônimo. Fenômeno de bilheteria na América do Norte, o revival da franquia clássica de terror chega ao Brasil após quebrar diversos recordes de faturamento e com aval da crítica norte-americana – 79% de aprovação no Rotten Tomatoes. Entre os diversos detalhes da produção, um fato específico merece ser louvado nesse sucesso: o envolvimento do criador do filme original, o cineasta e músico John Carpenter, que compôs a trilha sonora do novo confronto entre o psicopata Michael Myers e sua velha rival, Laurie Strone, vivida por Jamie Lee Curtis, que também volta ao papel original. Para quem não lembra, Laurie Strode era a babá adolescente que sobreviveu ao primeiro e segundo filmes criados por John Carpenter. O papel rendeu a Jamie Lee Curtis o apelido de “Scream Queen” e foi retomado mais duas vezes: no longa que celebrou 20 anos da franquia e naquele em que ela morreu, o último “Halloween” antes do remake de Rob Zombie – que, por sua vez, recomeçou a história com uma nova intérprete adolescente. Mas o filme de 2018 passa uma borracha sobre tudo isso, ignorando todos os títulos lançados após o original, para garantir que Michael Myers passou os últimos 40 anos preso num hospício. Até que uma equipe de documentaristas revolve contar sua história e desperta seu desejo de terminar o que começou. Além da atriz original, quem também retorna é Nick Castle, o primeiro ator a viver o psicopata no clássico de 1978. Devido à idade avançada – tem 70 anos – , ele alternou o trabalho com um dublê. Assim, as principais novidades ficaram por trás das câmeras. O responsável pelo novo filme é David Gordon Green, que tem comédias péssimas no currículo, como “O Babá(ca)” (2011) e o recente fracasso de Sandra Bullock “Especialista em Crise” (2015). Para completar, o roteiro foi escrito por ele e seu parceiro comediante, o ator Danny McBride. Os dois produziram juntos a série de comédia “Eastbound & Down” da HBO. Mas, contra todas as expectativas, o filme consegue resgatar o aspecto assustador do original. Pare quem preferir rir no Halloween, a programação inclui a estreia tardia de outra surpresa das bilheterias norte-americanas, a comédia romântica “Podres de Ricos”. Um dos maiores sucessos do gênero nesta década, traz para as telas um best-seller popular que narra mais um romance entre uma pobre ingênua e um galã rico. E só se diferencia de uma telenovela engraçadinha de milionários simpáticos e lindos por ter um elenco composto exclusivamente por atores de descendência asiática. Isto não acontecia num filme americano há 25 anos, desde “O Clube da Felicidade e da Sorte” (1993). A bandeira da diversidade ajudou a obra dirigida por Jon M. Chu (“Truque de Mestre: O 2º Ato”) a virar blockbuster numa época em que comédias românticas estão fracassando uma atrás da outra. E também incentivou a boa vontade da crítica norte-americana, que registrou 92% de aprovação no Rotten Tomatoes – ainda que dificilmente sua história teria tantos aplausos se fosse estrelada por brancos, veja-se “Cinquenta Tons de Cinza”, por exemplo. O sucesso foi tanto (US$ 172,3 milhões só na América do Norte) que o filme chega ao Brasil já com a continuação em desenvolvimento. Há um destaque nacional entre os sete longas que estreiam nesta quinta (25/10): “A Cabeça de Gumercindo Saraiva”, que infelizmente se tornou um dos últimos trabalhos do ator Leonardo Machado (“O Tempo e o Vento”), falecido no mês passado. O novo filme de Tabajara Ruas, especialista em épicos gaúchos, aborda a Revolução Federalista, conflito que aconteceu após a Proclamação de República no final do século 19 e ficou marcado como um dos mais sangrentos da História do Brasil, pelo costume das facções rivais de cortar cabeças dos inimigos. A trama acompanha a saga macabra do filho do comandante rebelde Gumercindo Saraiva, ao tentar resgatar a cabeça do pai, decapitada por revolucionários legalistas e enviada como troféu ao governador gaúcho Júlio de Castilhos. Além dos soldados, a paisagem dos pampas é quase um personagem à parte, fotografada como um western grandioso. O elenco inclui Murilo Rosa (“A Comédia Divina”), Marcos Pitombo (atualmente na novela “Orgulho e Paixão”) e Allan Souza Lima (“Aquarius”). Em circuito quase invisível, vale conferir ainda “Tamara”, um drama venezuelano sobre transexualidade feito em 2016, que chega ao Brasil após a repercussão do chileno “Uma Mulher Fantástica”, vencedor do Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro. A história é real e ressalta a homofobia latina, inclusive entre jovens estudantes. O resto é menos recomendável. “Fúria em Alto Mar” se soma à meta atual de Gerard Butler de virar a versão escocesa de Nicolas Cage, com um thriller ruim após o outro. “Meu Anjo” traz Marion Cotillard como mãe baladeira irresponsável e marca a estreia da diretora e cantora francesa Vanessa Filho (da banda Smoking Smoking), repetindo temas de abandono infantil da filmografia de Asia Argento. E a animação alemã “Amigos Alienígenas” não passa de um genérico de “Cada Um na Sua Casa” (2015) e “Lilo & Stitch” (2002) com inversão de sexo da criança protagonista. Confira abaixo as sinopses e veja os trailers para saber mais sobre todas as estreias da semana. Halloween | EUA | Terror Quatro década depois de ter escapado do ataque de Michael Myers em uma noite de Halloween, Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) terá que confrontar o assassino mascarado pela última vez. Mas dessa vez, quando Myers retorna para a cidade de Haddonfield, ela está preparada. Podres de Ricos | EUA | Comédia Rachel Chu (Constance Wu) é uma professora de economia nos EUA e namora com Nick Young (Henry Golding) há algum tempo. Quando Nick convida Rachel para ir no casamento do melhor amigo, em Singapura, ele esquece de avisar à namorada que, como herdeiro de uma fortuna, ele é um dos solteiros mais cobiçados do local, colocando Rachel na mira de outras candidatas e da mãe de Nick, que desaprova o namoro. A Cabeça de Gumercindo Saraiva | Brasil | Drama No fim do século 19, a Revolução Federalista marcou o sul do Brasil. Na época, o caudilho revolucionário Gumercindo Saraiva foi assassinado pelos legalistas. O filho dele, Francisco Saraiva, parte com cinco cavaleiros para resgatar a cabeça do pai, cortada pelo Major Ramiro de Oliveira. Fúria em Alto Mar | EUA | Ação Um general rapta o presidente da Rússia, que precisa ser resgatado por um capitão americano de submarinos e a força de operações especiais da marinha dos Estados Unidos. Meu Anjo | França | Drama Marlène (Marion Cotillard) tem uma filha de oito anos a quem não dispensa muita atenção, mais interessada em bebedeiras, festas e homens. Certa noite, ela vai a uma celebração numa boate acompanhada da menina, mas a manda sozinha para casa, permanecendo com um novo pretendente. Os dias passam e Marlène não vai ao reencontro da menina, deixando-a entregue à sua própria sorte e sem qualquer notícia da mãe. Amigos Alienígenas | Alemanha | Animação A vida de Louis, um menino de 12 anos, muda completamente quando uma nave espacial com três alienígenas cai nos fundos do quintal de sua casa. Seu pai, um ufologista famoso, congelaria os novos amigos na primeira oportunidade, por isso ele precisa protegê-los e ajudá-los a descobrir o paradeiro da sua nave mãe, para que consigam voltar para casa. Tamara | Venezuela, Uruguai, Peru | Drama Teo (Luis Fernández) vive com a imagem masculina de um advogado bem-sucedido, casado e com dois filhos. Há anos, carrega um segredo: o desejo de assumir a sua identidade feminina. Decidido a seguir seu coração apesar de todas as dificuldades que irá enfrentar, ele começa a realizar sua transição de gênero para se tornar Tamara por completo.
Leonardo Machado (1976 – 2018)
O ator Leonardo Machado, conhecido por participar de novelas da Globo e pela carreira premiada no cinema, morreu na noite de sexta-feira (28/9), aos 42 anos, em Porto Alegre. Ele lutava contra um câncer no fígado desde o ano passado e estava internado no Hospital Moinhos de Vento, na capital gaúcha. Um dos atores de maior projeção no Rio Grande do Sul, ele começou a filmar curtas em 1998, enquanto fazia teatro – estrelou 14 peças – , até se tornar conhecido nacionalmente ao aparecer na novela “O Clone” (2001), na qual figurou como Guilherme. Também teve um pequeno papel em “Senhora do Destino”, em 2005. Mas sua verdadeira projeção se deu no cinema local, a ponto de se tornar o apresentador oficial do Festival de Gramado por dez anos. “Essa função é sempre um prazer. Eu me criei nessa cidade”, ressaltou em entrevista publicada no último ano. Seu primeiro papel em longa-metragem foi uma pequena aparição em “Lara” (2002), cinebiografia de Odete Lara, musa do Cinema Novo, dirigida por Ana Maria Magalhães. Depois, iniciou sua jornada gaúcha, com “Sal de Prata” (2005), de Carlos Gerbase. Dublou a animação “Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll” (2006), de Otto Guerra, voltou a trabalhar com Gerbase em “3 Efes” (2007), fez “Dias e Noites” (2008), de Beto Souza. E a carreira começou a engatar com o premiado “Valsa para Bruno Stein” (2007), de Paulo Nascimento, vencedor do Festival de Gramado, já como coadjuvante. No segundo filme com Nascimento, “Em Teu Nome” (2009), foi finalmente escalado como protagonista. E conquistou o Kikito de Melhor Ator em Gramado, interpretando um estudante durante a Ditadura Militar (1964-1985). O prêmio abriu de vez as portas na Globo. Ele apareceu na novela “Viver a Vida” (2009), de Manoel Carlos, e se tornou um dos protagonistas da série “Na Forma da Lei”, no papel do juiz Célio Rocha, que trabalhava com a advogada Ana Beatriz (Ana Paula Arósio) no julgamento de crimes investigados por outros personagens. Ainda apareceu na novela “Salve Jorge” (2013) antes de voltar ao Rio Grande do Sul, onde emendou diversas produções regionais de TV – na RBS, do grupo Globo, e na TVE. E deu sequência à sua carreira cinematográfica. A dedicação ao cinema na última década viu sua filmografia se multiplicar e ganhar novos parceiros, como Tabajara Ruas, com quem filmou “Os Senhores da Guerra” (2012), a continuação “Os Senhores da Guerra 2 – Passo da Cruz” (2014) e o ainda inédito “A Cabeça de Gumercindo Saraiva” (2018). Ele esteve ainda entre os protagonistas do épico “O Tempo e o Vento” (2013), adaptação do clássico literário de Érico Veríssimo rodado por Jayme Monjardim com grande elenco (Fernanda Montenegro, Thiago Lacerda, Marjorie Estiano, etc). Fez “A Casa Elétrica” (2012), de Gustavo Fogaça, “Insônia” (2013), de Beto Souza, e o recente “Yonlu” (2018), de Hique Montanari, lançado no final de agosto. Mas não há dúvidas de que seu grande parceiro foi Paulo Nascimento, com quem continuou colaborando em mais quatro filmes: “A Casa Verde” (2010), “A Oeste do Fim do Mundo” (2013), “A Superfície da Sombra” (2017) e “Teu Mundo Não Cabe Nos Meus Olhos” (2018). Os dois ficaram amigos durante a gravação da série “Segredo”, uma coprodução da portuguesa RTP e da Globo, realizada em 2005, o que fez com que Leonardo participasse de todos os projetos do diretor desde então – e ainda fosse estimulado a passar para trás das câmeras, enquanto o diretor se viu convencido a ir para a frente, durante a produção da série gaúcha documental “Fim do Mundo” (2011). Esta experiência de explorar as fronteiras da América do Sul inspirou o filme “A Oeste do Fim do Mundo”, que inaugurou outra função na carreira de Leonardo, como produtor de cinema. Por conta disso, venceu o Kikito de Melhor Filme Latino (em coprodução com a Argentina) no Festival de Gramado, além do prêmio do público do evento. Ativo até o fim, Leonardo se jogou no trabalho no fim da vida, estrelando em 2018 nada menos que quatro longas, um curta e uma minissérie da Globo – “Se Eu Fechar Os Olhos Agora”, divulgada apenas em streaming, por enquanto. Além de “Yonlu” e “Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos”, já exibidos, ele ainda poderá ser visto neste ano no mencionado “A Cabeça de Gumercindo Saraiva”, previsto para 25 de outubro, e “Legalidade”, do cineasta Zeca Britto, em que encarna o governador gaúcho Leonel Brizola durante os tumultuados anos 1960 – ainda sem previsão de estreia. Seu colega em “Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos”, Edson Celulari, que também enfrentou um câncer recentemente, lamentou a morte do amigo. “Hoje descansou um amigo que fará muita falta, o querido e talentoso ator Leonardo Machado. Um homem leal, dono de um coração enorme. Companheiro no cinema e parceiro de todas as horas. Que privilégio conhecê-lo!”, escreveu no Instagram.
Trailer de A Cabeça de Gumercindo Saraiva mostra guerra mais sangrenta do Brasil
A Elo Company divulgou o trailer de “A Cabeça de Gumercindo Saraiva”, novo filme de Tabajara Ruas, especialista em épicos gaúchos. Desta vez, o tema não é a Guerra dos Farrapos, mas o conflito posterior, a Revolução Federalista, que aconteceu após a Proclamação de República no final do século 19. Uma das mais sangrentas páginas da História do Brasil, o conflito ficou marcado pelo costume de cortar cabeças dos inimigos. A trama acompanha a saga macabra do filho do comandante rebelde Gumercindo Saraiva, ao tentar resgatar a cabeça do pai, decapitada por revolucionários legalistas e enviada como troféu ao governador gaúcho Júlio de Castilhos. Além dos soldados, a paisagem dos pampas é quase um personagem à parte, fotografada como um western grandioso. O elenco é encabeçado por Murilo Rosa (“A Comédia Divina”), Marcos Pitombo (atualmente na novela “Orgulho e Paixão”), Allan Souza Lima (“Aquarius”) e Leonardo Machado (“O Tempo e o Vento”). “A Cabeça de Gumercindo Saraiva” estreia no dia 25 de outubro.
Desculpe o transtorno, mas sete filmes nacionais estreiam nesta semana
Um terror é o principal lançamento no circuito nacional pela segunda semana consecutiva. Retomando a franquia que popularizou a estética dos vídeos encontrados (found footage) em 1999, “Bruxa de Blair” dará sustos no escuro de 734 cinemas pelo Brasil. A continuação acompanha uma nova equipe de documentaristas na floresta onde os integrantes do filme original desapareceram, e foi rodado em segredo por Adam Wingard (“Você É o Próximo”), um dos diretores mais incensados da nova geração do terror/suspense. A surpresa dividiu opiniões, com 53% de aprovação no site Rotten Tomatoes – bem melhor que a primeira sequência, lançada em 2000 com apenas 13%. O segundo filme americano nos shoppings é “Conexão Escobar”, que traz Bryan Cranston (série “Breaking Bad) como um agente da alfândega que enfrenta o cartel do narcotraficante colombiano Pablo Escobar. Chega em 119 salas após implodir nas bilheterias dos EUA e sem ter gerado um terço do hype da série “Narcos” sobre o mesmo tema. Mas a crítica gringa gostou (67% de aprovação). De todo modo, o que chama atenção na semana é a quantidade de estreias nacionais. São nada menos que sete longas: dois documentários e cinco obras de ficção, com destaque para um drama adolescente absolutamente imperdível. Apesar disso, apenas um dos lançamentos conta com distribuição ampla. “Desculpe o Transtorno” leva a 318 telas a tentativa de Gregório Duvivier emplacar como protagonista de comédia romântica, na esteira do colega de Porta dos Fundos Fábio Porchat. Nesta missão, ele contou com ajuda dos incautos que tornaram viral um texto de propaganda, publicado em sua coluna num grande jornal, supostamente como declaração de amor à ex-esposa, que, “por coincidência”, é seu interesse amoroso no filme. Houve quem achasse o texto profundo. Mas a comédia não passa de uma versão besteirol de “O Médico e o Monstro”, em que Duvivier faz o público sofrer com suas duas personalidades, um estereótipo de paulista e um clichê de carioca. O roteiro foi escrito por Adriana Falcão e Tatiana Maciel, que assinaram juntas “Fica Comigo Esta Noite” (2006), e a direção é de Thomas Portella, que retorna ao humor de sua estreia, “Qualquer Gato Vira-Lata” (2011), após o terror banal “Isolados” (2014) e o ótimo policial “Operações Especiais” (2015). O contraste é brutal com o outro lançamento do gênero, “Turbulência”, que chega em apenas quatro salas no interior do Rio. Acompanhando os encontros e desencontros de dois casais, o filme tem uma história de aeroporto como pano de fundo, como em “Ponte Aérea” (2014), mas é muito amador, com elenco de coadjuvantes de novela, cenografia “Casas Bahia”, falta de timing humorístico e tom histérico permanente. A equipe vem da produção de séries da TV Rio Sul, braço da Globo no interior carioca, e é sub-Globo em tudo. Igualmente televisivo, “Os Senhores da Guerra” tem ambição épica, porém suas cenas de batalha são encenadas como minissérie da Globo – ou, no caso, da RBS TV, cujo padrão é bem mais elevado que o da TV Rio Sul. Assim como nos longas anteriores de Tabajara Ruas (“Netto Perde Sua Alma”), a produção foca conflitos históricos do Rio Grande do Sul, desta vez a Revolução Federalista do século 19. A carga dramática ganha contornos folhetinescos com a divisão política de uma família, que coloca irmão maragato contra irmão ximango. A distribuidora não revelou o circuito, mas o lançamento chega, além do RS, ao menos em São Paulo. Também rodado no Sul do país, “Lua em Sagitário” é um drama adolescente que acompanha uma garota entediada com seu cotidiano, numa cidadezinha catarinense na fronteira com a Argentina. Em busca de novidades, ela descobre o amor, o rock e os últimos hippies brasileiros. Um deles, claro, é Sergei. A outra é a recém-falecida Elke Maravilha, em seu derradeiro papel. Mas vale prestar atenção na jovem protagonista, a estreante Manuela Campagna, que passa meiguice extrema. Com vivência em documentários, a diretora Marcia Paraiso faz uma boa estreia na ficção, apesar de alguns problemas de dicção de seu elenco. Já o melhor da lista é, disparado, “Mate-me por Favor”, filme de estreantes, que mesmo assim rendeu os prêmios de Melhor Atriz e Direção para a Valentina Herszage e Anita Rocha da Silveira, respectivamente. Interessante como as melhores estreias da semana são dois primeiros filmes de novas diretoras, focados em adolescentes e sem atores globais. “Mate-Me por Favor”, inclusive, seguiu carreira internacional, exibido nos festivais de Veneza, Munique, IndieLisboa e SXSW, arrancando elogios da imprensa internacional – mas não foi submetido à comissão do Oscar. Escrito pela própria diretora, “Mate-me por Favor” explora medo e desejo, manifestando as pulsões de eros e thanatos na descoberta da sexualidade de um grupo de adolescentes numa região violenta, marcada pelo assassinato de meninas da sua idade, com reflexo na repressão feminina. Redondinho, rende várias leituras, prende a atenção do começo ao fim e já tem lugar garantido na seleção de melhores do ano da Pipoca Moderna. Mas pode ser difícil vê-lo, pois a distribuição é limitada e não teve seu circuito divulgado. Por falar em pulsão, há ainda um documentário nacional, “Hestórias da Psicanálise – Leitores de Freud”, que chega em 20 telas, dedicado a refletir a leitura de Sigmund Freud no Freud. Bem feito e convencional. O outro documentário é parte ficção. “Olympia” reflete sobre a realização das Olimpíadas no Rio e seu impacto, repisando o pisoteado tema da corrupção. O diretor Rodrigo Mac Niven (“O Estopim”) parte da construção do campo de golfe num terreno de reserva ambiental, mas o escândalo se passa numa cidade fictícia chamada Olympia, onde as pessoas nascem com asas, que logo são cortadas. A alegoria dilui a denúncia, colateralmente lembrando que no Rio tudo inspira carnaval. A programação se completa com dois lançamentos europeus em circuito limitado. Apesar da popularidade dos personagens, a animação espanhola “Mortadelo & Salaminho – Em Missão Inacreditável” estará disponível em cerca de 20 salas com exclusividade na rede Cinépolis. A produção usa computação gráfica para dar novas dimensões à obra clássica de Francisco Ibáñez e terá, inclusive, algumas exibições em 3D, mas seu humor não reflete a graça dos quadrinhos originais. Por fim, o francês “Meu Rei” chega a oito salas do Rio de Janeiro. Sorte dos cariocas, pois é o melhor filme internacional da semana. Dirigido pela bela atriz, que virou brilhante cineasta Maïween (vejam também “Polissia”), acompanha um romance que se torna um relacionamento abusivo, com cenas de amor e violência doméstica, estendendo-se por anos. Emmanuelle Bercot foi premiada como Melhor Atriz do Festival de Cannes por seu papel, e o elenco ainda inclui Vincent Cassel e Louis Garrel – todos, mais a diretora, indicados ao César, o “Oscar francês”. A expectativa é que o circuito se expanda nas próximas semanas para outras cidades.



