Claudia Cardinale, símbolo do cinema italiano, morre aos 87 anos.
Atriz de “O Leopardo”, “8 1/2” e “Era uma Vez no Oeste” marcou época com sua presença em grandes clássicos do cinema europeu
Gena Rowlands, estrela de “Gloria” e “Diário de uma Paixão”, morre aos 94 anos
A atriz ficou conhecida por suas colaborações com o marido John Cassavetes, que lhe renderam duas indicações ao Oscar
Barbara Rush, estrela da década de 1950, morre aos 97 anos
Atriz começou na ficção científica e se tornou famosa por estrelar melodramas de grandes diretores de Hollywood
Piper Laurie, atriz de “Carrie, a Estranha”, morre aos 91 anos
A atriz Piper Laurie, indicada três vezes ao Oscar, morreu na manhã deste sábado (14/10) em Los Angeles, aos 91 anos. Sua agente, Marion Rosenberg, revelou que a atriz já não gozava de boa saúde há algum tempo. Início da carreira Piper Laurie, nascida Rosetta Jacobs em 22 de janeiro de 1932 em Detroit, iniciou sua trajetória no cinema ainda na adolescência. Aos 17 anos, foi descoberta por agentes da Universal Pictures e fez sua estreia no filme “Os Noivos de Mamãe” (1950), atuando como filha de Ronald Reagan. Nos anos seguintes, Laurie foi vista em diversos filmes de aventura e romance, fazendo par com Tony Curtis em “O Príncipe Ladrão” (1951), “O Filho de Ali Babá” (1952), “…E o Noivo Voltou” (1952) e “A um Passo da Derrota” (1954), além de Rock Hudson em “Sinfonia Prateada” (1952) e “A Espada de Damasco” (1953), e Tyrone Poweer em “O Aventureiro do Mississippi” (1953). Mas, insatisfeita com os papéis superficiais que lhe eram oferecidos, decidiu romper o contrato com a Universal e mudar-se para Nova York. Performance de Oscar Depois de fazer algumas participações na TV, ela voltou às telas com “Desafio à Corrupção” (1961), onde contracenou com Paul Newman. No filme, ela deu vida à Sarah Packard, uma jovem alcoólatra que se envolvia com o protagonista Eddie Felson, interpretado por Newman, que enfrenta diversos adversários na mesa de bilhar enquanto lida com questões pessoais e emocionais. O longa dirigido por Robert Rossen virou um clássico do cinema, explorando temas de ambição, redenção e a natureza corrosiva do sucesso. A química entre Laurie e Newman foi um dos pontos altos da obra. Um dos momentos marcantes é quando Laurie expressa ao personagem de Newman: “Olha, eu tenho problemas e acho que talvez você tenha problemas. Talvez seja melhor nos deixarmos em paz”. A performance lhe rendeu sua primeira nomeação ao Oscar e a única como Melhor Atriz. Pausa na carreira Após o sucesso de “Desafio à Corrupção”, Piper Laurie casou-se com o escritor Joseph Morgenstern e, juntos, mudaram-se para Woodstock, no interior de Nova York. Durante esse período, Laurie dedicou-se à criação da filha do casal, Anne Grace, e ao estudo de escultura. Retorno triunfal A atriz só retornou à atuação na década de 1970, com outra atuação marcante em “Carrie, a Estranha” (1976) dirigido por Brian De Palma. Laurie interpretou Margaret White, a mãe religiosamente fanática da protagonista Carrie, vivida por Sissy Spacek. A relação tumultuada entre mãe e filha foi um dos pilares da narrativa, contribuindo para a atmosfera opressora e trágica do filme. A performance intensa de Laurie lhe rendeu nova indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. Nos anos seguintes, ela voltou a explorar o terror em “Ruby, A Amante Diabólica” (1977) e estrelou o drama romântico “Tim – Anjos de Aço” (1978), em que fez par com o ainda novato Mel Gibson, antes de mergulhar de vez na TV. Dez anos depois de “Carrie”, a atriz voltou a mostrar seu talento em “Filhos do Silêncio” (1986), onde interpretou a mãe da personagem principal, interpretada por Marlee Matlin. No filme, Laurie retrata as tensões e desafios enfrentados por famílias que lidam com deficiências auditivas, oferecendo uma atuação sensível e impactante, que lhe rendeu nova indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Carreira televisiva Piper Laurie também foi nomeada nove vezes ao Emmy ao longo de sua carreira, vencendo uma vez. Seu triunfo veio com o telefilme “A Promessa” de 1986, onde ela interpretou uma antiga paixão do personagem de James Garner. Entre seus papéis televisivos notáveis destacam-se a participação na minissérie “Os Pássaros Feridos” (“The Thorn Birds”, 1983), um fenômeno de audiência, que lhe rendeu indicação de Melhor Atriz Coadjuvante em Minissérie, e seu papel na série “Twin Peaks” (1990-1991) como Catherine Martell, uma mulher astuta e poderosa, que no ano seguinte retornou à série disfarçada de homem, uma jogada audaciosa que demonstrou sua capacidade de Laurie de mergulhar profundamente em seus personagens. Esta performance rendeu à atriz duas de suas nove indicações ao Emmy. Ela também teve participações notáveis em séries populares como “Frasier”, “Plantão Médico”, “O Toque de Um Anjo”, “Will & Grace” e “Law and Order: SVU”. Últimos filmes Paralelamente, a atriz continuou a atuar em filmes, especialmente do gênero terror, como “Trauma” (1993), do mestre italiano Dario Argento, e “Prova Final” (1998), do então novato Robert Rodriguez, e “Bad Blood” (2012), entre outros. Seu último papel cinematográfico foi em “White Boy Rick” (2018), como a avó do personagem-título, um informante do FBI que se tornou traficante de drogas. Entre outras curiosidades de sua vida pessoal e profissional, destaca-se o fato de Laurie ter revelado em sua autobiografia de 2011, “Learning to Live Out Loud”, que perdeu a virgindade para Ronald Reagan e que teve um affair com Mel Gibson, sendo este último quando ela tinha o dobro da idade do ator.
Lewis John Carlino (1932 – 2020)
O cineasta Lewis John Carlino, que escreveu e dirigiu “O Grande Santini – O Dom da Fúria” (1979), morreu na quarta-feira passada (17/6) aos 88 anos em sua casa, na ilha de Whidbey, no estado de Washington (EUA), com síndrome mielodisplásica, uma doença no sangue. Filho de um alfaiate imigrante siciliano e uma dona de casa, ele nasceu no Queens, em Nova York, no dia de ano novo de 1932, e mudou-se com a família para a Califórnia quando ainda era adolescente. Ele serviu na Força Aérea por quatro anos durante a Guerra da Coréia e, ao retornar, formou-se em teatro na USC (Universidade do Sul da Califórnia). Uma das peças que escreveu na USC tornou-se a primeira apresentação da “CBS Television Workshop”, uma série de antologia de histórias curtas e completas, exibida na TV americana em 1960. Dois outros textos de Carlino chegaram no circuito off-Broadway em 1963, como parte de um programa duplo intitulada “Cages”, estrelado por Shelley Winters e Jack Warden. Vieram outros sucessos fora da Broadway, que lhe renderam o convite para escrever seu primeiro roteiro de cinema em 1966. O sinistro thriller sci-fi “O Segundo Rosto” foi dirigido por John Frankenheimer e selecionado para première mundial na competição do Festival de Cannes. A trama marcou época, influenciando inúmeras produções que se seguiram. Na história, um banqueiro infeliz de meia-idade (John Randolph) se inscrevia no procedimento de uma corporação clandestina para virar uma pessoa nova e bonita (Rock Hudson). O impacto da obra o fez trocar o teatro pelo cinema. Ele escreveu os dramas “Apenas uma Mulher” (1967), de Mark Rydell, indicado ao Globo de Ouro de Melhor Roteiro, e “Sangue de Irmãos” (1968), de Martin Ritt, quando começou a demonstrar fascínio pelo crime – e seus efeitos. O reconhecimento, com uma indicação ao prêmio do WGA (Sindicato dos Roteiristas dos EUA), apontou o caminho. Sua obra criminal mais famosa foi “Assassino a Preço Fixo” (1972), um clássico de ação do diretor Michael Winner, em que Charles Bronson vivia um assassino experiente caçado por seu aprendiz. O filme ganhou remake em 2011, com Jason Statham no papel principal. Ele ainda escreveu o filme de mafioso “Crazy Joe” (1974), produzido na Itália, e o drama “Nunca Te Prometi um Jardim de Rosas” (1977), em que Kathleen Quinlan era internada numa instituição psiquiátrica após uma tentativa de suicídio. Este filme lhe rendeu nova indicação ao troféu do WGA e também ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. A esta altura, Carlino resolveu se lançar como diretor. Ele adaptou o livro de Yukio Mishima no intenso “O Marinheiro que Caiu em Desgraça com o Mar” (1976) para começar a nova carreira. E chamou atenção ao ganhar sua terceira indicação ao troféu do WGA com “O Grande Santini – O Dom da Fúria” (1979), adaptação do romance autobiográfico de Pat Conroy, em que Robert Duvall viveu um militar valentão que ignorava os sentimentos do filho. Foi o ponto alto de sua carreira, um sucesso de público e crítica, considerado um dos dramas mais devastadores já feitos. Apesar disso, Carlino demorou quatro anos para dirigir seu filme seguinte. Um dos motivos foi sua dedicação ao roteiro de “Ressurreição” (1980). Dirigido por Daniel Petrie, o filme trazia Ellen Burstyn como uma mulher dada como morta após um acidente de carro, que retornava à vida com poderes sobrenaturais. A atriz foi indicada ao Oscar pelo papel, após a trama dar muito o que falar – e também se tornar influente. Santini retornou à direção com a comédia sexual “Uma Questão de Classe” em 1983. Foi uma encomenda de estúdio, que ele não escreveu. E acabou com sua carreira. O longa em que Jacqueline Bisset era disputada por Rob Lowe e Andrew McCarthy foi considerado o pior trabalho de sua filmografia. Este fracasso foi o que bastou para que nunca mais trabalhasse como diretor. Para piorar, em seguida ele escreveu “Primeiro Verão de Amor” (1988), romance com Laura Dern, que também implodiu. Foi seu último roteiro inédito. Suas histórias, porém, continuaram a ser recicladas por Hollywood, na produção de um remake televisivo de “Ressurreição” em 1999 e no novo “Assassino a Preço Fixo” de 2011, que ainda ganhou continuação em 2016 – com um nome sugestivo, que juntava dois sucessos do autor – , “Assassino a Preço Fixo 2: A Ressurreição”. Ao se mudar para Whidbey Island com a esposa Jilly em 1996, Carlino voltou às suas raízes teatrais e foi fundamental para o lançamento do Centro de Artes da ilha. Ele dirigiu várias produções originais e seu roteiro mais recente, a peça “Visible Grace”, estava em desenvolvimento para estrear no palco local.
Doris Day (1922 – 2019)
A lendária atriz Doris Day, que estrelou dezenas de comédias clássicas, morreu nesta segunda (13/5) em sua casa, em Carmel Valley, na Califórnia, cercada por amigos. No último dia 3 de abril, ela havia completado 97 anos. “Ela estava com saúde física excelente para sua idade, até recentemente contrair um caso sério de pneumonia”, informou um comunicado da fundação Doris Days, que a atriz criou para defender animais. Uma das estrelas de cinema mais adoradas de todos os tempos, Doris Day ficou marcada por papéis sempre otimistas e pelo charme inocente. Daí, veio seu apelido de “A Rainha Virgem”, pela pureza de seus papéis. Mas ela também era referida como “A Garota da Vizinhança”, por representar mulheres trabalhadoras nas telas, e não beldades glamourosas. Nascida Mary Ann Von Kappelhoff, Doris era filha de um músico talentoso e professor de canto, mas sonhava em seguir carreira como dançarina. O destino lhe reservou outro caminho. Aos 12 anos, ela se envolveu em um acidente de carro quase fatal e passou muitos meses entrando e saindo de hospitais, interrompendo sua vontade de dançar. Durante sua convalescença, ela começou a cantar, logo se apresentando no rádio e em clubes com um nome artístico emprestado de sua música favorita, “Day by Day”. Doris não demorou a se destacar como cantora, atraindo a atenção dos músicos Bob Crosby (irmão de Bing) e Les Brown. Ela excursionou o país por cerca de oito anos com cantora de big bang e, aos 23 anos, gravou seu primeiro grande hit com Brown, “Sentimental Journey”. A canção se tornou uma das favoritas dos soldados americanos durante a 2ª Guerra Mundial e atingiu o 1º lugar nas paradas de sucesso em 1945. Sua carreira musical acabaria ofuscada pela cinematográfica, mas ela recebeu reconhecimento com um Grammy especial por sua discografia em 2008. A transição para o cinema aconteceu em 1948, quando foi convidada a fazer um teste para a Warner Bros. O diretor Michael Curtiz ficou tão impressionado que a escolheu como substituta de última hora de Betty Hutton no musical “Romance em Alto-Mar” (1948). O sucesso da produção a transformou em estrela de Hollywood, levando-o a filmar em média três títulos por ano. Já em seu quinto filme, “No, No, Nanette” (1950), seu nome passou a ter o maior destaque nos cartazes. Além disso, seu par romântico naquele longa, Gordon McRae, se tornou seu primeiro grande parceiro nas telas. Os dois contracenaram em mais quatro produções. Ela era uma artista completa, capaz de interpretar e cantar. E sua interpretação de “Secret Love” no musical “Ardida como Pimenta” (1953), em que viveuu a pistoleira Jane Calamidade, rendeu seu primeiro Oscar de Melhor Canção – um prêmio destinado apenas aos compositores, embora o maior atrativo fosse sua voz na gravação. Após contracenar com Frank Sinatra em “Corações Enamorados” (1954), Doris partiu para a MGM, onde estrelou “Ama-me ou Esquece-me” (1955), uma versão romanceada da vida da cantora de jazz Ruth Etting. Cheio de canções memoráveis, o filme se tornou o favorito da atriz. Mas ela não se acomodou como estrela de musicais. Também viveu personagens dramáticas, com destaque para sua participação em “Dilema de uma Consciência” (1951), que denunciava a violência racial da Ku Klux Klan. Isso chamou a atenção de ninguém menos que Alfred Hitchcock, que cinco anos depois a escalou como esposa de James Stewart no famoso suspense “O Homem que Sabia Demais” (1956). Ironicamente, o filme de Hitchcock rendeu à Doris sua música mais conhecida, “Que Sera, Sera”, que venceu o Oscar. Em 1957, ela retomou seu antigo prazer de dançar, ao trabalhar com o renomado coreógrafo Bob Fosse em “Um Pijama para Dois” (1957), adaptação de um sucesso da Broadway, em que interpretava a líder sindical de uma fábrica de pijamas. A obra virou um de seus maiores sucessos, repletos de hits musicais e coreografias inesquecíveis. E também serviu de padrão para os filmes seguintes, em que Doris sempre vencia, com doçura, as artimanhas masculinas. A partir daí, a atriz se especializou em comédias românticas, contracenando com Clark Gable em “Um Amor de Professora” (1958), Richard Widmark em “O Túnel do Amor” (1958), Jack Lemmon em “A Viuvinha Indomável” (1959) e David Niven em “Já Fomos tão Felizes” (1960). Mas foi em “Confidências à Meia-Noite” (1959) que ela encontrou seu principal par. A comédia em que se apaixona por um mulherengo, vivido por Rock Hudson, forjou um dos mais célebres casais românticos de Hollywood. Doris Day acabou recebendo sua única indicação ao Oscar como atriz por esse filme. Os dois voltaram a contracenar em “Volta Meu Amor” (1961). Mas os produtores de Hollywood sabiam de um segredo que o público desconhecia. Hudson era gay. E, assim, Cary Grant apareceu como o mulherengo da vez em “Carícias de Luxo” (1962), sucedido por James Garner em “Tempero do Amor” (1963) e “Eu, Ela e a Outra” (1963). O público, porém, queria mais Doris e Rock Hudson. Tanto que a volta da parceria em “Não me Mandem Flores” (1964) estourou as bilheterias da época. Doris Day já tinha mais de 40 anos e ainda mantinha sua distinção como protagonista de comédias românticas, num período em que Hollywood supervalorizava juventude e beleza. Por isso, ela se esforçava em acompanhar os modismos da época, das sátiras de 007 em “A Espiã de Calcinhas de Renda” (1966) às paródias de Hitchcock em “Capricho” (1967). Ela até voltou a seus dias de pistoleira no western “A Indomável” (1967). Contudo, depois de aparecer como mãe de filhos bem crescidos em “Tem um Homem na Cama da Mamãe” (1968), sua carreira cinematográfica acabou. Em 1968, ela fez sua transição para a TV, estrelando “The Doris Day Show”, sitcom que a trazia como uma viúva de cidade grande decidida a viver no campo com os filhos. A série foi muito importante para a atriz, pois, após anos interpretando uma viuvinha alegre, seu marido Marty Melchen morrera de verdade. Ela também descobriu que estava falida, abrindo – e vencendo – um processo contra seu ex-advogado e empresário por negligência. A produção televisiva lhe deu um objetivo e ajudou-a a recuperar suas finanças. “The Doris Day Show” durou cinco temporadas, até 1973. Depois disso, ela ainda apresentou “Doris Day’s Best Friends” num canal evangélico, em 1985. Mas queria fazer mais. Em seu discurso de agradecimento ao prêmio Cecil B. DeMille por sua carreira, no Globo de Ouro de 1989, ela disse: “Eu estive longe por muito tempo” e “o melhor ainda está por vir, eu quero fazer mais”. Ela só fez mais um disco, em 2011. Longe da mídia, Doris passou seus últimos anos como ativista dos direitos dos animais, à frente de sua fundação.
Vida de Rock Hudson vai virar filme do diretor de Com Amor, Simon
A Universal vai produzir uma cinebiografia do ator Rock Hudson e abriu negociações com o roteirista Richard LaGravanese (“Invencível”) para assinar o roteiro. A trama será baseada na biografia do ator escrita por Mark Griffin, “All That Heaven”, e já tem diretor. Mais conhecido como megaprodutor de séries, Greg Berlanti vai comandar as filmagens. Ele é produtor da maioria das séries de super-heróis em exibição na TV americana, mas encontra tempo para filmar longas eventuais, como “Com Amor, Simon” no ano passado. O filme vai mostrar como o galã das comédias românticas da Universal, indicado ao Oscar por “Assim Caminha a Humanidade” (1956), era forçado a se passar por um símbolo sexual heterossexual, com medo de ser exposto como gay e encerrar sua ilustre carreira de cinema. Sem nunca ter se assumido gay, Hudson foi diagnosticado com HIV em 1984, e ainda negou rumores de que tinha AIDS até a morte. De Aids, em outubro de 1985, aos 59 anos. LaGravanese já escreveu sobre outro famoso astro gay de Hollywood, em “Minha Vida com Liberace” (2013). Na ocasião, nenhum estúdio quis produzir o filme, que foi parar na HBO e venceu diversos prêmios de melhor produção de TV do ano. Desde então, o sucesso da cinebiografia de Freddie Mercury, “Bohemian Rhapsody”, mudou o humor de Hollywood sobre o tema, ao demonstrar que o público quer saber mais sobre a vida dos ídolos, inclusive o que eles tentaram esconder no armário.
Dorothy Malone (1925 – 2018)
A atriz americana Dorothy Malone, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme “Palavras ao Vento” (1956), morreu na manhã de sexta-feira (19/1) aos 92 anos, por causas naturais. Malone iniciou a sua carreira artística nos anos 1940, estrelando dezenas de westerns e filmes noir, venceu o Oscar quase duas décadas depois e atingiu o pico de sua fama nos anos 1960, graças a seu trabalho na série “Caldeira do Diabo” (Peyton Place), exibida entre 1964 e 1969. Dorothy Eloise Maloney nasceu em Chicago em 30 de janeiro de 1925 e teve seu encontro com o destino enquanto estudava na faculdade para virar enfermeira. Sua beleza chamou atenção de um olheiro de Hollywood, que a levou a assinar um contrato com o estúdio RKO Radio Pictures aos 18 anos de idade. Ela figurou em inúmeras produções dos anos 1940, mas foi só quando se acertou com a Warner e encurtou o nome para Malone que sua carreira desabrochou. Howard Hawks ficou impressionado quando ela apareceu entre os figurantes do estúdio. Em 1946, a escalou em “A Beira do Abismo” (The Big Sleep), um dos maiores clássicos do cinema noir. Era um pequena participação, em que ela aparecia diante de Humphrey Bogart para fechar uma livraria e dizer uma única frase. Mais tarde, o diretor revelou que incluiu a sequência no filme “só porque a menina era muito bonita”. Em pouco tempo, seus diálogos aumentaram, num crescimento que envolveu filmes de verdadeiros gênios de Hollywood, como “Canção Inesquecível” (1946), de Michael Curtiz, “Ninho de Abutres” (1948), de Delmer Davis, e “Golpe de Misericórdia” (1949), de Raoul Walsh. Até que, a partir de 1949, seu nome passou a aparecer nos cartazes de cinema. Seu contrato de exclusividade acabou na virada da década, e ela seguiu carreira em westerns baratos, virando uma das “mocinhas” mais vistas nos filmes de cowboy da década de 1950 – ao lado de astros do gênero, como Joel McCrea, Randolph Scott, Jeff Chandler, Fred MacMurray, Richard Egan, Richard Widmark, Henry Fonda e… o futuro presidente Ronald Reagan. Ela chegou até a ilustrar um pôster dispensando “mocinhos”, de chapéu, calças e dois revólveres nas mãos – “Guerrilheiros do Sertão” (1951). Mas não abandonou o cinema noir, coadjuvando em “A Morte Espera no 322” (1954), de Richard Quine, “Dinheiro Maldito” (1954), de Don Siegel, e “Velozes e Furiosos” (1955), um dos primeiros filmes de carros de fuga, dirigido e estrelado por John Ireland. Todos cultuadíssimos. Também fez dois filmes com Jerry Lewis e Dean Martin, outro com Frank Sinatra e causou grande impacto no drama “Qual Será Nosso Amanhã” (1955), seu reencontro com o diretor Raoul Walsh, no papel da esposa solitária de um jovem fuzileiro (Tad Hunter) que embarca para a 2ª Guerra Mundial. Ela completou sua transformação no melodrama “Palavras ao Vento” (1956), do mestre Douglas Sirk. A morena deslumbrante virou uma loira fatal. E roubou a cena da protagonista – ninguém menos que Lauren Bacall. Como um Iago (com “I” maiúsculo”) de saias, ela semeava ciúmes e destruição em cena, colocando dois amigos (Rock Hudson e Robert Stark) em conflito por causa da personagem de Bacall, sem que nenhum tivesse feito nada de errado, além de amar a mesma mulher. Em meio a tantas estrelas, Malone venceu o único Oscar do filme, como Melhor Atriz Coadjuvante. A atriz voltou a se reunir com Hudson, Stack e o diretor Douglas Sirk em “Almas Maculadas” (1957), interpretou a mulher do lendário ator Lon Chaney na cinebiografia “O Homem das Mil Faces” (1957), até ver seu nome aparecer antes de todos os demais pela primeira vez, em “O Gosto Amargo da Glória” (1958). O filme era outra cinebiografia de atores célebres, em que Malone interpretou Diana Barrymore, tia de Drew Barrymore e filha do famoso John Barrymore (vivido no drama por Errol Flynn), numa espiral de autodestruição. No auge da carreira cinematográfica, ela fez seu derradeiro e melhor western, “O Último Por-do-Sol” (1961), uma superprodução estrelada por Rock Hudson e Kirk Douglas, escrita por Dalton Trumbo e dirigida por Robert Aldrich em glorioso “Eastman Color”, antes de inesperadamente virar a “coroa” de um filme de surfe, o cultuado “A Praia dos Amores” (1963), que lançou a “Turma da Praia” de Frankie Avalon e Annette Funicello. As novas gerações acabariam adorando Dorothy por outro papel, como a mãe solteira e superprotetora Constance MacKenzie na série “A Caldeira do Diabo”. A produção fez História como o primeiro novelão do horário nobre da TV americana. Além da narrativa melodramática, tinha a novidade de continuar no próximo capítulo, algo inédito na programação noturna da época, e de abordar sexo fora do casamento, outra ousadia. A personagem de Dorothy já tinha sido interpretado por Lana Turner no cinema, num filme de 1957 que rendeu o Oscar para a atriz. A versão televisiva trouxe uma indicação ao Globo de Ouro para Malone, que interpretava a mãe da futura esposa de Woody Allen, Mia Farrow. A atriz sofreu uma embolia pulmonar enquanto trabalhava na série em 1965 e precisou passar por sete horas de cirurgia durante a produção, sendo substituída temporariamente por outra atriz no programa. Mas também teve que lutar por sua vida na ficção, quando os roteiristas resolveram “matá-la” em 1968, após reclamações de descaso com sua personagem. Dorothy foi à justiça contra a 20th Century Fox e recebeu uma fortuna – mais de US$ 1 milhão na época – e sua Constance sobreviveu, mas saiu da série. Sem problemas, pois “A Caldeira do Diabo” acabou no ano seguinte sem ela. Apesar do clima inamistoso com que saiu da produção, a atriz voltou ao papel de Constance MacKenzie mais duas vezes, em telefilmes que reuniram o elenco original da série, exibidos em 1977 e 1985. Ela ainda contracenou com Alain Delon no giallo “Crepúsculo dos Insaciáveis” (1969), mas o resto de sua carreira foi preenchido por pequenas participações em filmes e séries. Seu último trabalho aconteceu em 1992, no papel de uma amiga de Sharon Stone no suspense “Instinto Selvagem”. O sucesso profissional não se refletiu em sua vida pessoal. Seus casamentos duraram pouco. O primeiro foi com o ator francês Jacques Bergerac, ex-marido de Ginger Rogers, em 1959, com quem teve duas filhas. O matrimônio terminou num divórcio amargo, em que Malone acusou Bergerac de se casar com atrizes famosas para promover sua própria carreira. Em 1969, ela se uniu ao empresário Robert Tomarkin, mas o casamento foi anulado em questão de semanas, com acusações ainda piores: ele seria um golpista tentando extorqui-la – anos depois, Tomarkin foi preso por roubo. O último casamento foi com um executivo do ramo de motéis, Charles Huston Bell, em 1971. Igualmente curto, terminou após três anos. Dorothy Malone costumava dizer que sua vida tinha mais drama que a ficção de “A Caldeira do Diabo”. Cinéfilos também poderiam afirmar que ela foi uma atriz com muito mais classe que a maioria dos filmes que estrelou. Mas quando se portava mal, fazia um bem danado para o cinema.
Arthur Hiller (1923 – 2016)
Morreu o cineasta Arthur Hiller, que em sua longa carreira foi capaz de levar o público às lágrimas, com “Love Story – Uma História de Amor” (1970), e ao riso farto, com muitas e muitas comédias. Ele também presidiu a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas nos anos 1990, e veio a falecer nesta quarta-feira (17/8) de causas naturais aos 92 anos de idade. Nascido em 22 de novembro de 1923, em Edmonton, no Canadá, Hiller começou sua carreira de diretor com “Se a Mocidade Soubesse” (1957), um drama romântico moralista, sobre jovens de diferentes classes sociais que querem se casar após o primeiro encontro, estrelado pelo então adolescente Dean Stockwell. E, durante seus primeiros anos na profissão, alternou sua produção cinematográfica com a direção de múltiplos episódios de séries clássicas, como “Alfred Hitchcock Apresenta”, “Os Detetives”, “Cidade Nua”, “Rota 66”, “O Homem do Rifle”, “Gunsmoke”, “Perry Mason” e “A Família Addams”. A situação só foi mudar a partir do sucesso de suas primeiras comédias românticas, “Simpático, Rico e Feliz” (1963) e “Não Podes Comprar Meu Amor” (1964), ambas estreladas por James Garner. Após repetir as boas bilheterias com “A Deliciosa Viuvinha” (1965), com Warren Beatty, e “Os Prazeres de Penélope” (1966), com Natalie Wood, ele passou a se dedicar exclusivamente ao cinema. Hiller se especializou em comédias sobre casais atrapalhados, atingindo o auge com “Forasteiros em Nova York” (1970), escrito por Neil Simon, em que a mudança de Jack Lemmon e Sandy Dennis para Nova York dá hilariamente errada, mas também soube demonstrar desenvoltura em outros gêneros, enchendo de ação o clássico de guerra “Tobruk” (1967), com Rock Hudson e George Peppard, e, claro, fazendo chover lágrimas com “Love Story” (1970). “Love Story” foi um fenômeno digno de “Titanic” (1997), com filas, cinemas lotados e muito choro. A história do casal apaixonado, vivido por Ali MacGraw e Ryan O’Neal, é considerada uma das mais românticas do cinema (entrou no Top 10 do American Film Institute), mas também uma das mais trágicas. Opostos em tudo, O’Neal vivia Oliver, um estudante atlético e rico de Direito, enquanto MacGraw era Jenny, uma estudante de Música pobre. Os dois se conhecem na faculdade e conseguem ver, além das diferenças óbvias, tudo o que tinham em comum para compartilhar. Mas o casamento não é bem visto pela família rica do noivo, que corta Oliver de sua herança, deixando o casal desamparado quando ele descobre que Jenny tem uma doença terminal – leuquemia. A popularidade do filme também rendeu reconhecimento a Hiller, que foi indicado ao Oscar de Melhor Direção. Mas ele não quis se envolver com o projeto da continuação, “A História de Oliver” (1978). Em vez disso, preferiu rir das histórias de doença em sua obra seguinte, “Hospital” (1971), que lhe rendeu o Prêmio Especial do Juri no Festival de Berlim. A comédia acabou vencendo o Oscar de Melhor Roteiro, escrito por Paddy Chayefsky, considerado um dos melhores roteiristas de Hollywood, com quem o diretor já tinha trabalhado no começo da carreira, em “Não Podes Comprar Meu Amor”. A melhor fase de sua carreira também contou com “Hotel das Ilusões” (1971), seu segundo longa escrito pelo dramaturgo Neil Simon, “O Homem de la Mancha” (1972), versão musical de “Dom Quixote”, com Peter O’Toole e Sofia Loren, e o polêmico drama “Um Homem na Caixa de Vidro” (1975), sobre um nazista procurado que se disfarça de judeu rico em Nova York – que rendeu indicação ao Oscar de Melhor Ator para o austríaco Maximilian Schell. Mas apesar dos desvios, comédias continuaram a ser seu gênero preferido. Ele chegou, por sinal, a lançar uma das mais bem-sucedidas duplas cômicas de Hollywood, juntando Gene Wilder e Richard Pryor em “O Expresso de Chicago” (1976). O cineasta voltou a dirigir a dupla em outro grande sucesso, a comédia “Cegos, Surdos e Loucos” (1989), e perfilou um verdadeiro “quem é quem” do humor em filmes como “Um Casamento de Alto Risco” (1979), com Peter Falk e Alan Arkin, “Uma Comédia Romântica” (1983), com Dudley Moore, “Rapaz Solitário” (1984), com Steve Martin, “Que Sorte Danada…” (1987), com Bette Midler, e “Milionário num Instante” (1990), com Jim Belushi. Hiller, que também dirigiu cinebiografias (“Frenesi de Glória”, em 1976, e “Ânsia de Viver”, em 1992) e até um filme de horror (“Terrores da Noite”, em 1979), deixou muitas marcas no cinema, inclusive em produções nem tão famosas. Exemplo disso é “Fazendo Amor” (1982), um dos primeiros filmes a mostrar de forma positiva um gay que sai do armário e termina seu casamento para procurar encontrar o amor com outros homens. Após dominar as bilheterias das décadas de 1970 e 1980, o diretor conheceu seus primeiros fracassos comerciais nos anos 1990. O período coincidiu com seu envolvimento com a organização sindical da indústria. Ele presidiu o Sindicato dos Diretores de 1989 a 1993 e a Academia de 1993 a 1997. E não foram poucos fracassos, a ponto de fazê-lo desistir de filmar. A situação tornou-se até tragicômica por conta de “Hollywood – Muito Além das Câmeras” (1997), longa sobre os bastidores de um filme ruim, que explorava a conhecida prática de Hollywood de creditar ao pseudônimo Alan Smithee qualquer filme renegado por seu diretor. Pois Hiller renegou o trabalho, escrito pelo infame Joe Eszterhas (“Showgirls”), que virou metalinguisticamente a última obra de Alan Smithee no cinema – depois disso, o Sindicato dos Diretores proibiu que a prática fosse mantida. Ele ganhou um prêmio humanitário da Academia em 2002, em reconhecimento a seu trabalho junto à indústria cinematográfica, e a volta à cerimônia do Oscar o animou a interromper sua já evidente aposentadoria para filmar um último longa-metragem, nove anos após seu último fracasso. Estrelado pelo roqueiro Jon Bon Jovi, “Pucked” (2006), infelizmente, não pôde ser creditado a Alan Smithee. Hiller teve uma vida longa e discreta, estrelando sua própria love story por 68 anos com a mesma mulher, Gwen Hiller, com quem teve dois filhos. Ela faleceu em junho. Ele morreu dois meses depois.






