Dorothy Malone (1925 – 2018)

A atriz americana Dorothy Malone, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme “Palavras ao Vento” (1956), morreu na manhã de sexta-feira (19/1) aos 92 anos, por causas naturais. Malone iniciou […]

A atriz americana Dorothy Malone, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme “Palavras ao Vento” (1956), morreu na manhã de sexta-feira (19/1) aos 92 anos, por causas naturais.

Malone iniciou a sua carreira artística nos anos 1940, estrelando dezenas de westerns e filmes noir, venceu o Oscar quase duas décadas depois e atingiu o pico de sua fama nos anos 1960, graças a seu trabalho na série “Caldeira do Diabo” (Peyton Place), exibida entre 1964 e 1969.

Dorothy Eloise Maloney nasceu em Chicago em 30 de janeiro de 1925 e teve seu encontro com o destino enquanto estudava na faculdade para virar enfermeira. Sua beleza chamou atenção de um olheiro de Hollywood, que a levou a assinar um contrato com o estúdio RKO Radio Pictures aos 18 anos de idade. Ela figurou em inúmeras produções dos anos 1940, mas foi só quando se acertou com a Warner e encurtou o nome para Malone que sua carreira desabrochou.

Howard Hawks ficou impressionado quando ela apareceu entre os figurantes do estúdio. Em 1946, a escalou em “A Beira do Abismo” (The Big Sleep), um dos maiores clássicos do cinema noir. Era um pequena participação, em que ela aparecia diante de Humphrey Bogart para fechar uma livraria e dizer uma única frase. Mais tarde, o diretor revelou que incluiu a sequência no filme “só porque a menina era muito bonita”.

Em pouco tempo, seus diálogos aumentaram, num crescimento que envolveu filmes de verdadeiros gênios de Hollywood, como “Canção Inesquecível” (1946), de Michael Curtiz, “Ninho de Abutres” (1948), de Delmer Davis, e “Golpe de Misericórdia” (1949), de Raoul Walsh. Até que, a partir de 1949, seu nome passou a aparecer nos cartazes de cinema.

Seu contrato de exclusividade acabou na virada da década, e ela seguiu carreira em westerns baratos, virando uma das “mocinhas” mais vistas nos filmes de cowboy da década de 1950 – ao lado de astros do gênero, como Joel McCrea, Randolph Scott, Jeff Chandler, Fred MacMurray, Richard Egan, Richard Widmark, Henry Fonda e… o futuro presidente Ronald Reagan. Ela chegou até a ilustrar um pôster dispensando “mocinhos”, de chapéu, calças e dois revólveres nas mãos – “Guerrilheiros do Sertão” (1951).

Mas não abandonou o cinema noir, coadjuvando em “A Morte Espera no 322” (1954), de Richard Quine, “Dinheiro Maldito” (1954), de Don Siegel, e “Velozes e Furiosos” (1955), um dos primeiros filmes de carros de fuga, dirigido e estrelado por John Ireland. Todos cultuadíssimos.

Também fez dois filmes com Jerry Lewis e Dean Martin, outro com Frank Sinatra e causou grande impacto no drama “Qual Será Nosso Amanhã” (1955), seu reencontro com o diretor Raoul Walsh, no papel da esposa solitária de um jovem fuzileiro (Tad Hunter) que embarca para a 2ª Guerra Mundial.

Ela completou sua transformação no melodrama “Palavras ao Vento” (1956), do mestre Douglas Sirk. A morena deslumbrante virou uma loira fatal. E roubou a cena da protagonista – ninguém menos que Lauren Bacall. Como um Iago (com “I” maiúsculo”) de saias, ela semeava ciúmes e destruição em cena, colocando dois amigos (Rock Hudson e Robert Stark) em conflito por causa da personagem de Bacall, sem que nenhum tivesse feito nada de errado, além de amar a mesma mulher. Em meio a tantas estrelas, Malone venceu o único Oscar do filme, como Melhor Atriz Coadjuvante.

A atriz voltou a se reunir com Hudson, Stack e o diretor Douglas Sirk em “Almas Maculadas” (1957), interpretou a mulher do lendário ator Lon Chaney na cinebiografia “O Homem das Mil Faces” (1957), até ver seu nome aparecer antes de todos os demais pela primeira vez, em “O Gosto Amargo da Glória” (1958). O filme era outra cinebiografia de atores célebres, em que Malone interpretou Diana Barrymore, tia de Drew Barrymore e filha do famoso John Barrymore (vivido no drama por Errol Flynn), numa espiral de autodestruição.

No auge da carreira cinematográfica, ela fez seu derradeiro e melhor western, “O Último Por-do-Sol” (1961), uma superprodução estrelada por Rock Hudson e Kirk Douglas, escrita por Dalton Trumbo e dirigida por Robert Aldrich em glorioso “Eastman Color”, antes de inesperadamente virar a “coroa” de um filme de surfe, o cultuado “A Praia dos Amores” (1963), que lançou a “Turma da Praia” de Frankie Avalon e Annette Funicello.

As novas gerações acabariam adorando Dorothy por outro papel, como a mãe solteira e superprotetora Constance MacKenzie na série “A Caldeira do Diabo”. A produção fez História como o primeiro novelão do horário nobre da TV americana. Além da narrativa melodramática, tinha a novidade de continuar no próximo capítulo, algo inédito na programação noturna da época, e de abordar sexo fora do casamento, outra ousadia.

A personagem de Dorothy já tinha sido interpretado por Lana Turner no cinema, num filme de 1957 que rendeu o Oscar para a atriz. A versão televisiva trouxe uma indicação ao Globo de Ouro para Malone, que interpretava a mãe da futura esposa de Woody Allen, Mia Farrow.

A atriz sofreu uma embolia pulmonar enquanto trabalhava na série em 1965 e precisou passar por sete horas de cirurgia durante a produção, sendo substituída temporariamente por outra atriz no programa. Mas também teve que lutar por sua vida na ficção, quando os roteiristas resolveram “matá-la” em 1968, após reclamações de descaso com sua personagem. Dorothy foi à justiça contra a 20th Century Fox e recebeu uma fortuna – mais de US$ 1 milhão na época – e sua Constance sobreviveu, mas saiu da série. Sem problemas, pois “A Caldeira do Diabo” acabou no ano seguinte sem ela.

Apesar do clima inamistoso com que saiu da produção, a atriz voltou ao papel de Constance MacKenzie mais duas vezes, em telefilmes que reuniram o elenco original da série, exibidos em 1977 e 1985.

Ela ainda contracenou com Alain Delon no giallo “Crepúsculo dos Insaciáveis” (1969), mas o resto de sua carreira foi preenchido por pequenas participações em filmes e séries. Seu último trabalho aconteceu em 1992, no papel de uma amiga de Sharon Stone no suspense “Instinto Selvagem”.

O sucesso profissional não se refletiu em sua vida pessoal. Seus casamentos duraram pouco. O primeiro foi com o ator francês Jacques Bergerac, ex-marido de Ginger Rogers, em 1959, com quem teve duas filhas. O matrimônio terminou num divórcio amargo, em que Malone acusou Bergerac de se casar com atrizes famosas para promover sua própria carreira. Em 1969, ela se uniu ao empresário Robert Tomarkin, mas o casamento foi anulado em questão de semanas, com acusações ainda piores: ele seria um golpista tentando extorqui-la – anos depois, Tomarkin foi preso por roubo. O último casamento foi com um executivo do ramo de motéis, Charles Huston Bell, em 1971. Igualmente curto, terminou após três anos.

Dorothy Malone costumava dizer que sua vida tinha mais drama que a ficção de “A Caldeira do Diabo”. Cinéfilos também poderiam afirmar que ela foi uma atriz com muito mais classe que a maioria dos filmes que estrelou. Mas quando se portava mal, fazia um bem danado para o cinema.