Jean-Claude Bernardet, referência da crítica de cinema, morre aos 88 anos
Intelectual belga naturalizado brasileiro marcou gerações como crítico, cineasta, escritor e professor, e teve legado reconhecido em obras e homenagens
Novo filme de Anna Muylaert ganha trailer para estreia no Festival de Berlim
"A Melhor Mãe do Mundo", estrelado por Shirley Cruz e Seu Jorge, será exibido fora de competição na mostra alemã
Altas Expectativas: Trailer revela primeiro besteirol politicamente correto
Até que enfim, um besteirol nacional politicamente correto. A comédia “Altas Expectativas” ganhou pôster, fotos e seu primeiro trailer, que usa piadas para contar uma história de superação e romance. Talvez besteirol não seja a definição correta, apesar das caretas típicas do “gênero” demonstradas por alguns coadjuvantes, pois a trama tem momentos dramáticos. A história gira em torno do personagem de Leonardo Reis, conhecido em shows de stand-up como Leo Gigante. Ele vive um treinador de cavalos anão que se apaixona por uma barista, mas sua baixa autoestima lhe impede de se declarar. Cansado de ser humilhado pela estatura, ele acaba revidando um comediante durante uma apresentação de stand-up e impressiona pelo humor autodepreciativo, iniciando uma nova carreira. E um dia faz a jovem melancólica, que ele adora, rir pela primeira vez em muito tempo, abrindo as portas para seu coração. Este resumo é praticamente a história completa do filme, que não esconde sua estrutura de fábula da Disney, com direito até a rival vilão playboy (o Gaston da vez), vivido pelo canalha favorito do cinema brasileiro, Milhem Cortaz (“O Lobo Atrás da Porta”). Já a bela da história é interpretada por Camila Márdila, que dividiu com Regina Casé o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Sundance 2015 por “Que Horas Ela Volta?”. O elenco do filme ainda inclui Maria Eduarda de Carvalho (novela “Sete Vidas”), que interpreta a melhor amiga do treinador de cavalos, e ainda há participações especiais de Tiago Abravanel (novela “Salve Jorge”), Fabiana Karla (“Loucas pra Casar”), Felipe Abib (“Vai que Dá Certo”) e do veterano do besteirol Agildo Ribeiro (“Casa da Mãe Joana”). O roteiro e a direção são assinados pela dupla Pedro Antônio (“Tô Ryca!”) e Alvaro Campos (“Leo & Carol”), e a estreia está marcada para 30 de novembro.
Regina Casé revela que fará outro filme com a diretora de Que Horas Ela Volta?
A atriz Regina Casé revelou que vai voltar aos cinemas. A novidade foi anunciada durante o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Ao agradecer seu prêmio de Melhor Atriz por “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert, ela contou: “Há duas semanas a Anna me ligou e falou que tinha um outro filme pra gente fazer”. Regina não deu mais detalhes sobre o projeto. Após “Que Horas Ela Volta?”, a diretora Anna Muylaert já lançou “Mãe Só Há Uma” e trabalhou num documentário sobre o Impeachment de Dilma Rousseff, que ainda não tem previsão de lançamento.
Que Horas Ela Volta? vence o “Oscar brasileiro”
O drama “Que Horas Ela Volta?” foi o vencedor do 15° Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, evento da Academia Brasileira de Cinema, que é apelidado de “Oscar brasileiro”. A premiação aconteceu na noite de terça-feira (4/10) no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro, e rendeu sete troféus ao longa escrito e dirigido por Anna Muylaert: Melhor Filme, Direção, Roteiro, Montagem, Atriz (Regina Casé), Atriz Coadjuvante (Camila Márdilla) e o Prêmio do Público. “Demorei 19 anos para chegar a esse filme pronto. É o meu trabalho mais maduro. Dedico esse prêmio aos atores, que me ajudaram a terminar esse filme”, disse Anna Muylaert, em seu agradecimento. Até este prêmio demorou. “Que Horas Ela Volta?” recebeu seu primeiro prêmio internacional, no Festival de Sundance, há 21 meses. Estreou nos cinemas brasileiros há 15 meses. Desde então, Muylaert lançou outro filme, “Mãe Só Há Uma”, e já filmou um terceiro, um documentário sobre o Impeachment de Dilma Rousseff. Mas isso é chover no molhado com o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, cujo nome já soa antiquado como qualquer manifestação de ufanismo. Alheio ao calendário, enquanto o foco está na discussão de “Aquarius” e o Oscar 2017, o “Oscar brasileiro” celebra os melhores de 2015. Mas graças aos problemas inerentes do circuito, acaba também premiando trabalhos de cinco e até 20 anos atrás, como, por exemplo, a interpretação de Marco Ricca, vencedor do troféu de Melhor Ator por “Chatô, o Rei do Brasil”, exibido no ano passado, mas realizado ao longo de duas décadas. A Melhor Animação foi “Até Que a Sbórnia Nos Separe”, de Otto Guerra, que teve première no Festival de Gramado de 2013. A Melhor Comédia, “Infância”, de Domingos de Oliveira, fez parte da programação de Gramado em 2014. Organizada pela Academia Brasileira de Cinema, a premiação se dividiu em 25 categorias e tinha, entre seus indicados, até um filme que venceu o Festival do Rio de 2011: “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, que rendeu o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante a Chico Anysio, falecido há quatro anos. Assim como os demais, “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” também só foi exibido nos cinemas no ano passado. E este é o estado da indústria cinematográfica nacional, celebrada pelo Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Um dia, quem sabe, os grandes filmes brasileiros não terão que esperar tanto tempo para serem reconhecidos, especialmente pelo circuito, que renega produções premiadas, chegando a deixar obras paradas por meia década, apenas para lançá-las em meia dúzia de salas. O Grande Prêmio do Cinema Brasileiro sugeriu que o tema da premiação fosse “manifesto”, numa tentativa de atualizar sua sessão de nostalgia com fatos deste ano. Mas, em vez de partir para o oba-oba, podia se manifestar de fato junto ao circuito. Podia, inclusive, dar o exemplo, aproximando mais o seu próprio calendário de premiações da estreia dos filmes que premia. Novamente, chovendo no molhado…
Que Horas Ela Volta? lidera indicações do “Oscar brasileiro”
“Aquarius” não foi selecionado para disputar o “Oscar brasileiro” em 2016. Calma. É que a Academia brasileira, que entrega o Oscarito, ou melhor, o troféu Grande Otelo, ainda prepara, no final do ano, sua premiação dos melhores do ano passado. Nesta lista, os filmes com maior presença entre as 25 categorias da competição são “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert, e “Chatô, o Rei do Brasil”, de Guilherme Fontes, com 14 e 12 indicações, respectivamente. Eles vão disputar o prêmio de Melhor Filme de 2016 com “A História de Eternidade”, “Ausência”, “Califórnia”, “Casa Grande”, “Sangue Azul” e “Tudo que Aprendemos Juntos”. Ao todo, 31 produções concorrem ao troféu Grande Otelo, também chamado de Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e considerado o Oscarito brasileiro, que em sua nova edição homenageará o diretor Daniel Filho, de sucessos como “Se Eu Fosse Você” (2006) e “Chico Xavier” (2010), e que ainda concorre ao troféu de Melhor Direção por “Sorria, Você Está Sendo Filmado”. A cerimônia de premiação acontece no dia 4 de outubro no Theatro Municipal e incluirá resultados de votação popular. O público (e as distribuidoras) poderão encaminhar seus votos (e de seus funcionários e robôs) para o site da Academia Brasileira de Cinema, ajudando a eleger Melhor Filme, Melhor Documentário e Melhor Filme Estrangeiro. Confira abaixo a lista completa dos indicados, com os nomes originais das categorias: Indicados ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2016 MELHOR LONGA-METRAGEM DE FICÇÃO A História da Eternidade Ausência Califórnia Casa Grande Chatô – O Rei do Brasil Que Horas Ela Volta? Sangue Azul Tudo que Aprendemos Juntos MELHOR LONGA-METRAGEM DOCUMENTÁRIO Betinho, A Esperança Equilibrista Campo de Jogo Cássia Eller Chico – Artista Brasileiro Últimas Conversas MELHOR LONGA-METRAGEM COMÉDIA Infância Pequeno Dicionário Amoroso 2 S.O.S. Mulheres ao Mar 2 Sorria, Você Está Sendo Filmado Super Pai MELHOR LONGA-METRAGEM ANIMAÇÃO Até Que a Sbórnia Nos Separe Ritos de Passagem MELHOR DIREÇÃO Anna Muylaert (Que Horas Ela Volta?) Camilo Cavalcante (A História da Eternidade) Chico Teixeira (Ausência) Daniel Filho (Sorria, Você Está Sendo Filmado) Eduardo Coutinho (Últimas Conversas) Eryk Rocha (Campo de Jogo) Felipe Barbosa (Casa Grande) MELHOR ATRIZ Alice Braga (Muitos Homens Num Só) Andréa Beltrão (Chatô – O Rei do Brasil) Dira Paes (Orfãos do Eldorado) Fernanda Montenegro (Infância) Marcélia Cartaxo (A História da Eternidade) Regina Casé (Que Horas Ela Volta?) MELHOR ATOR Daniel de Oliveira (A Estrada 47) Irandhir Santos (Ausência) João Miguel (A hora e a vez de Augusto Matraga) Lázaro Ramos (Tudo que Aprendemos Juntos) Marco Ricca (Chatô – O Rei do Brasil) MELHOR ATRIZ COADJUVANTE Camila Márdila (Que Horas Ela Volta?) Fabiula Nascimento (Operações Especiais) Georgiana Goes (Casa Grande) Karine Teles (Que Horas Ela Volta?) Leandra Leal (Chatô – O Rei do Brasil) MELHOR ATOR COADJUVANTE Ângelo Antônio (A Floresta que se Move) Chico Anysio (A hora e a vez de Augusto Matraga) Claudio Jaborandy (A História da Eternidade) Lourenço Mutarelli (Que Horas Ela Volta?) Marcello Novaes (Casa Grande) MELHOR DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA Adrian Tejido (Orfãos do Eldorado) Bárbara Alvarez (Que Horas Ela Volta?) José Roberto Eliezer (Chatô – O Rei do Brasil) Lula Carvalho (A hora e a vez de Augusto Matraga) Mauro Pinheiro Jr (Sangue Azul) MELHOR ROTEIRO ORIGINAL Adirley Queirós (Branco Sai, Preto Fica) Anna Muylaert (Que Horas Ela Volta?) Camilo Cavalcante (A História da Eternidade) Fellipe Barbosa e Karen Sztajnberg (Casa Grande) Vicente Ferraz (A Estrada 47) MELHOR ROTEIRO ADAPTADO Domingos Oliveira (Infância) Guilherme Coelho (Orfãos do Eldorado) Guilherme Fontes, João Emanuel Carneiro e Matthew Robbins (Chatô – o Rei do Brasil) Lusa Silvestre e Marcelo Rubens Paiva (Depois de Tudo) Manuela Dias e Vinicius Coimbra (A hora e a vez de Augusto Matraga) Marcos Jorge (O Duelo) MELHOR DIREÇÃO DE ARTE Ana Mara Abreu (Califórnia) Ana Paula Cardoso (Casa Grande) Gualter Pupo (Chatô – O Rei do Brasil) Julia Tiemann (A História da Eternidade) Juliana Carapeba (Sangue Azul) Marcos Pedroso e Thales Junqueira (Que Horas Ela Volta?) MELHOR FIGURINO André Simonetti e Claudia Kopke (Que Horas Ela Volta?) Beth Flipecki e Reinaldo Machado (A hora e a vez de Augusto Matraga) Elisabetta Antico (A Estrada 47) Gabriela Campos (Casa Grande) Letícia Barbieri (Califórnia) Rita Murtinho (Chatô – O Rei do Brasil) MELHOR MAQUIAGEM Anna Van Steen (Califórnia) Auri Mota (Casa Grande) Federico Carrete e Vicenzo Mastrantono (A Estrada 47) Maria Lucia Matos e Martín Macias Trujillo (Chatô – O Rei do Brasil) Tayce Vale e Vavá Torres (A hora e a vez de Augusto Matraga) MELHOR EFEITO VISUAL Bernardo Alevato e Isadora Herts (Orfãos do Eldorado) Guilherme Ramalho (Que Horas Ela Volta?) Marcelo Siqueira (Linda de Morrer) Marcus Cidreira (Chatô – O Rei do Brasil) Robson Sartori (A Estrada 47) MELHOR MONTAGEM FICÇÃO Alexandre Boechat (A hora e a vez de Augusto Matraga) Felipe Lacerda e Umberto Martins (Chatô – O Rei do Brasil) Karen Harley (Orfãos do Eldorado) Karen Harley (Que Horas Ela Volta?) Mair Tavares (A Estrada 47) MELHOR MONTAGEM DOCUMENTÁRIO Carlos Nader e André Braz (Homem Comum) Diana Vasconcellos (Chico – Artista Brasileiro) Paulo Henrique Fontenelle (Cássia Eller) Pedro Asbeg, EDT e Victor Lopes (Betinho, a esperança equilibrista) Rodrigo Pastore (Cauby – Começaria Tudo Outra Vez) MELHOR SOM Acácio Campos, Bruno Armelim, Gabriela Cunha, Júlio César, Eric Ribeiro Chritani e Caetano Cotrim (Cássia Eller) Bruno Fernandes e Rodrigo Noronha (Chico – Artista Brasileiro) Evandro Luma, Waldir Xavier e Damião Lopes (Casa Grande) Gabriela Cunha, Miriam Biderman, ABC, Ricardo Reis e Paulo Gama (Que Horas Ela Volta?) José Moreau Louzeiro e Aurélio Dias (A hora e a vez de Augusto Matraga) Mark Van Der Willigen, Marcelo Cyro, Pedro Lima e Sérgio Fouad (Chatô – O Rei do Brasil) MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL Alexandre Guerra e Felipe de Souza (Tudo Que Aprendemos Juntos) Alexandre Kassin (Ausência) Fábio Trummer e Vitor Araújo (Que Horas Ela Volta?) Patrick Laplan e Victor Camelo (Casa Grande) Zbgniew Preisner (A História da Eternidade) Zeca Baleiro (Oração do Amor Selvagem) MELHOR TRILHA SONORA Los Hermanos (Los Hermanos – Esse é Só o Começo do Fim Das Nossas Vidas) Luis Claudio Ramos (Chico – Artista Brasileiro) Luiz Avellar (A Estrada 47) Nelson Hoineff (Cauby – Começaria Tudo Outra Vez) Paulo Henrique Fontenelle (Cassia Eller) MELHOR LONGA-METRAGEM ESTRANGEIRO Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) Leviatã O Sal da Terra Olmo e a Gaivota Whiplash – Em Busca da Perfeição MELHOR CURTA-METRAGEM ANIMAÇÃO Até a China, de Marão Égun, de Helder Quiroga Giz, de Cesar Cabral O Quebra-Cabeça de Tárik, de Maria Leite Virando Gente, de Analúcia Godoi MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTÁRIO A Festa e os Cães, de Leonardo Mouramateus Cordiheira de Amora II, de Jamille Fortunato De Profundes, de Isabela Cribari Entremundo, de Renata Jardim e Thiago B. Mendonça Retrato de Carmem D., de Isabel Joffily Uma Família Ilustre, de Beth Formaggini Praça da Guerra, de Edimilson Gomes MELHOR CURTA-METRAGEM FICÇÃO História de uma Pena, de Leonardo Mouramateus Loie e Lucy, de Isabella Raposo e Thiago Brito Outubro Acabou, de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes Quintal, de Andrés Novais Rapsódia de um Homem Negro, de Gabriel Martins
Mãe Só Há Uma materializa nova provocação de Anna Muylaert
É natural que se busque uma associação entre os dois filmes mais recentes de Anna Muylaert, “Que Horas Ela Volta?” (2015) e o novo “Mãe Só Há Uma”. Afinal, ambos tratam do tema da maternidade e da questão da identidade. Mas se havia um pouco de caricatura cômica no drama de “Que Horas Ela Volta?”, desta vez o tom é abertamente dramático, tendo como ponto de partida uma história verídica de criança roubada. O filme acompanha Pierre (o estreante Naomi Nero, sobrinho de Alexandre Nero), um rapaz que costumava ter uma vida tranquila com a mãe (Daniela Nefussi, de “É Proibido Fumar”) e sua irmã pequena (Lais Dias). Até o dia em que descobre ter sido roubado na maternidade, vê sua mãe ser presa, descobre que tem outro nome e precisa se adaptar a um novo lar com seus pais biológicos, vividos por Matheus Nachtergaele (“Trinta”) e novamente por Nefussi, numa estratégia de casting que ajuda a acentuar a confusão mental do rapaz – bem como enfatizar o próprio título “Mãe Só Há Uma”. Interessante o modo como Muyalert constrói sua narrativa, com elipses que fazem a história de convivência de Pierre e sua nova família adquirir duração indeterminada, passando a impressão de abranger semanas no espaço de enxutos 82 minutos de projeção. Aliás, a edição é tão acertada que “Mãe Só Há Uma” é daqueles filmes que não exaurem o espectador, terminando no momento certo. Também muito importante é a construção do personagem Pierre/Felipe. Seu mundo vira de cabeça pra baixo justo quando ele está no processo de descobrir sua identidade sexual, que a trama faz questão de não simplificar. Desde o começo, ele é mostrado como um rapaz que gosta de usar calcinhas e maquiagem, mas que não deixa de transar com garotas por causa disso. Ele até faz muito sucesso com elas. Uma das cenas mais interessantes acontece quando ele vai provar uma roupa com seus pais biológicos, que querem moldá-lo à maneira deles. Em determinado momento, ele fala: “é só uma roupa!”, ao procurar fazê-los entender a bobagem que é discutir sobre aquilo. O que pode incomodar um pouco os espectadores é o modo como Muylaert, mais uma vez, trata alguns personagens quase como caricaturas. Desta vez, são os pais biológicos de Pierre, que lembram um pouco os pais de Fabinho em “Que Horas Ela Volta?” . Ainda assim, esse tipo de representação pode ser encarado como uma provocação da diretora, diante do modelo tradicional da família brasileira, numa continuação do que havia sido visto em seu trabalho anterior. O que importa é que estamos diante de mais uma obra sólida e consistente de uma cineasta que se mostra muito acima da média da atual cinematografia nacional.
Colombiano O Abraço da Serpente é o grande vencedor do Prêmio Platino 2016
O filme colombiano “O Abraço da Serpente” foi o grande vencedor da terceira edição dos Prêmios Platino de Cinema Ibero-Americano. O terceiro longa de Ciro Guerra (“As Viagens do Vento”) levou sete prêmios, incluindo Melhor Filme e Direção, no evento que busca se firmar como um Oscar do cinema falado em espanhol e português. “Compartilho este prêmio com as comunidades amazônicas que nos abriram seu mundo”, disse Ciro Guerra em seu agradecimento. Filmado em preto e branco, o filme se baseia em relatos de dois cientistas e exploradores da região amazônica e acompanha a história de um índio em dois tempos: na juventude em que desconfiava dos brancos e numa idade mais avançada, quando se tornou um xamã desiludido (leia a crítica completa). Das oito categorias em que estava indicado, “O Abraço da Serpente” não levou apenas o prêmio de Melhor Roteiro, vencido pelo chileno “O Clube”, escrito por Pablo Larraín, Guillermo Calderón e Daniel Villalobos. As demais vitórias aconteceram nas chamadas categorias técnicas – Melhor Fotografia, Edição, Direção de Arte, Som e Música Original. O cinema argentino também foi comemorado nas categorias de atuação, com os prêmios para Dolores Fonzi por seu papel em “Paulina” e para Guillermo Francella em “O Clã”. Além disso, Ricardo Darín foi ovacionado pelos cerca de 2 mil espectadores presentes na festa quando subiu ao palco para receber o troféu especial Platino de Honra por sua carreira. Nenhum filme brasileiro concorria à premiação, que aconteceu no domingo (24/7) no Centro de Convenções de Punta del Este, no Uruguai. Mesmo assim, “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert levou um prêmio fora de competição. Entregue pela vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1992, a guatemalteca Rigoberta Menchú, o drama nacional recebeu o Prêmio Platino de Cinema e Educação em Valore. Vencedores do Prêmio Platino 2016 Melhor filme “O abraço da serpente” (Colômbina, Venezuela e Argentina) Melhor diretor Ciro Guerra (“O abraço da serpente”) Melhor ator Guillermo Francella (“O clã”) Melhor atriz Dolores Fonzi (“Paulina”) Melhor roteiro Pablo Larraín, Guillermo Calderón e Daniel Villalobos (“O clube”) Melhor animação “No Mundo da Lua” (Espanha) Melhor documentário “O Botão de Pérola” (Chile e Espanha) Melhor edição Etienne Boussac e Cristina Gallego (“O abraço da serpente”) Melhor direção de arte Angélica Perea (“O abraço da serpente”) Melhor direção de fotografia Carlos García e Marco Salavarria (“O abraço da serpente”) Melhor música original Nascuy Linares (“O abraço da serpente”) Melhor direção de som Carlos García e Marco Salaverría (“O abraço da serpente”) Melhor filme de diretor estreante “Ixcanul” (Guatemala)
Estreias: Tarzan é o rei dos cinemas neste fim de semana
Tarzan volta às selvas com grande orçamento e inúmeros efeitos visuais, no maior lançamento desta quinta (21/7) no Brasil. Acompanhado pelo ator Alexander Skarsgård (série “True Blood”), que veio ao país para entrevistas e première, “A Lenda de Tarzan” chega em 840 salas, incluindo 555 telas 3D e todo o circuito IMAX (12 salas). Com direção de David Yates, responsável pelos quatro últimos filmes de “Harry Potter”, o longa custou uma fortuna (US$ 180 milhões), mas teve apenas desempenho modesto nos EUA (levou 18 dias para superar os US$ 100 milhões). A crítica americana não gostou (36% de aprovação no site Rotten Tomatoes), mas o público aprovou (A- no CinemaScore). A Warner agora torce pelo sucesso internacional. A segunda maior estreia é uma comédia nacional. Apesar de ter Ingrid Guimarães (“De Pernas pro Ar”) no elenco, “Entre Idas e Vindas” não é um besteirol ululante. Trata-se de um romance com final e elenco de novela, sobre como Fabio Assunção (novela “Totalmente Demais”) e seu filho vão parar num motor home cheio de mulheres. A direção de José Eduardo Belmonte transmite mais seriedade ao projeto, que visivelmente possui baixo orçamento, mas, por outro lado, os cinéfilos talvez preferissem um trabalho menos ligeiro do grande cineasta brasiliense. Estreia em 283 salas. A melhor comédia da semana, na verdade, é americana: “Dois Caras Legais“, do cineasta Shane Black (“Homem de Ferro 3”). Passada nos anos 1970, com figurino, música e recriação até do espírito dos filmes da época, traz Russel Crowe (“Noé”) e Ryan Gosling (“A Grande Aposta”) como detetives investigando o sequestro de uma jovem em plena era das discotecas. Hilário, o filme tem 91% de aprovação no Rotten Tomatoes, feito raríssimo para comédias. Ocupa 215 salas. Em contraste, o principal lançamento da semana é restrito a 46 salas – sendo 12 CEUs, do circuito SPCine na capital paulista. Trata-se do novo drama de Anna Muylaert, diretora do aclamado “Que Horas Ela Volta?” (2015). Com tema diferente, mas núcleo similar, de mãe, filho e deslocamento da representação do lar, “Mãe Só Há Uma” parte de uma história real para contar a história de um adolescente que descobre ter sido roubado na maternidade e que, após tratar a ladra como mãe por toda a vida, precisa se readequar à família biológica. Para complicar, ele também atravessa crise de identidade sexual. O filme destaca o estreante Naomi Nero (sobrinho de Alexandre Nero) como protagonista, uma grata revelação com futuro brilhante, além de Daniela Nefussi (“É Proibido Fumar”) em dois papéis, como as mães (de criação e biológica) do menino, num artifício que visa destacar a confusão criada na cabeça do rapaz. Filmaço para poucos. O circuito limitado também recebe o drama francês “Chocolate” em 55 salas, mostrando Omar Sy (“Intocáveis”) como o primeiro palhaço negro de circo da França, no século 19. Em 32 salas, “Life – Um Retrato de James Dean”, traz Robert Pattinson (“Mapa para as Estrelas”) como o fotógrafo que ajudou a criar a aura de mito que acompanhou a curta carreira do astro de “Juventude Transviada” (1955). Por fim, a comédia espanhola “Um Dia Perfeito” mostra seu humor negro em quatro salas, com Benício Del Toro (“Sicario”) liderando um grupo de agentes humanitários em meio a uma zona de conflito armado.
Mãe Só Há Uma: Novo filme de Anna Muylaert ganha pôster e primeiro trailer
A Vitrine Filmes divulgou o cartaz nacional e o primeiro trailer de “Mãe Só Há Uma”, novo filme da diretora Anna Muylaert, que volta a tratar do abismo entre mães e filhos após o sucesso de “Que Horas Ela Volta?”. Desta vez, o pano de fundo do contraste social é substituído por uma história inspirada na crônica policial brasileira, sobre um menino raptado que é reencontrado pela família legítima e tem dificuldades de aceitar a mãe biológica, enquanto ainda nutre afeto pela mulher que o roubou e o criou como filho desde criança. A crise de identidade também se estende à sexualidade do jovem, que pinta as unhas e começa a usar roupas femininas. O filme destaca o estreante Naomi Nero (sobrinho de Alexandre Nero) como protagonista e Daniela Nefussi (“É Proibido Fumar”) em dois papéis, como as mães (de criação e biológica) do menino, num artifício que visa destacar a confusão criada na cabeça do rapaz. Matheus Nachtergaele (“Trinta”), Luciana Paes (“Sinfonia da Necrópole”) e Helena Albergaria (“Que Horas Ela Volta?”) também estão no elenco. Exibido com críticas positivas no Festival de Berlim deste ano, “Mãe Só Há Uma” chega aos cinemas brasileiros no dia 21 de julho.
Jovem revelação de Que Horas Ela Volta? vai se apaixonar por anão em seu próximo filme
A atriz Camila Márdila, que dividiu com Regina Casé o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Sundance 2015 por “Que Horas Ela Volta?”, vai aparecer muito diferente em seu próximo filme. Sem o bronzeamento, o penteado e o sotaque que a transformaram em nordestina no filme de Anna Muylaert, ela interpretará uma barista em “Altas Expectativas”. No filme, ela herda o café de sua família e acaba se apaixonando por um cliente frequente, um treinador de cavalos vitorioso e respeitado no Jóquei, que é anão. Em reportagem do jornal O Globo, os diretores Alvaro Campos e Pedro Antonio descreveram a personagem como uma “Amélie Poulain da Zona Norte” do Rio. O par de Camila será interpretado por Leonardo Reis, conhecido em concursos de humor como Leo Gigante. Apesar da especialidade do ator, o filme não será uma comédia escrachada, sendo considerado por seus diretores como uma “dramédia”. “O roteiro passa por questões delicadas e muitos tabus, mas faz isso com leveza. Foi o que me encantou no projeto”, disse Mardila a O Globo. “O nanismo, por incrível que pareça, era familiar para mim. Minha mãe tinha um tio que era anão, e eu convivi muito com ele quando era criança. Era a nossa referência de homem inteligente, um advogado, intelectual, muito respeitado pela família, pelos amigos e pelos colegas de trabalho”, completou O elenco do filme inclui Milhem Cortaz (“O Lobo Atrás da Porta”), que vive um playboy que disputa o coração da barista, além de Maria Eduarda de Carvalho (novela “Sete Vidas”), que interpreta a melhor amiga do treinador de cavalos. Há ainda participações especiais de Tiago Abravanel (novela “Salve Jorge”), Fabiana Karla (“Loucas pra Casar”) e o veterano comediante Agildo Ribeiro (“Casa da Mãe Joana”).
Mãe Só Há Uma: Veja uma cena e o pôster internacional do novo filme de Anna Muylaert
O pôster e a primeira cena de “Mãe Só Há Uma”, novo filme da diretora brasileira Anna Muylaert, foram divulgados para o mercado internacional, acompanhando a repercussão positiva da première no Festival de Berlim. Exibido na mostra Panorama, que no ano passado foi vencida por outra obra da cineasta, “Que Horas Ela Volta?”, o filme teve uma recepção entusiasmada do público e da crítica na Bienale. A trama segue a história de um adolescente, roubado ainda bebê numa maternidade, que é reintroduzido à sua família biológica, enquanto lida ainda com a definição de sua identidade sexual. O elenco destaca o estreante Naomi Nero (sobrinho de Alexandre Nero) no papel principal, a pouco conhecida Dani Nefusi em papel duplo, como a sequestradora e a mãe biológica, e Matheus Nachtergaele (“Trinta”) como o pai burguês e machista, que precisa lidar com a descoberta de um filho transgênero. “Mãe Só Há Uma”, que no mercado internacional se chama “Don’t Call Me Son”, ainda não tem previsão de estreia.










