Prefeitura de São Paulo cria programa de incentivo à filmagens na cidade
A prefeitura de São Paulo publicou decreto que cria um programa de apoio a filmagens nacionais e internacionais na cidade. Ele prevê um subsídio de 20% a 30% do valor total gasto por produções que escolham a capital como cenário. Os recursos podem ser desembolsados tanto em dinheiro como em infraestrutura. A medida consolida a política de atração de filmagens para promover a cidade. Além da promoção de São Paulo, a iniciativa também fomenta a atividade cinematográfica na cidade, ajudando a criar um pólo de profissionais especializados, o que gera mais emprego, circulação de dinheiro e desenvolvimento. Várias metrópoles canadenses têm programas similares, que fazem com que a maioria das séries e muitos filmes americanos sejam rodadas por lá, a ponto de obrigar Los Angeles a conceder incentivos para manter os estúdios de Hollywood na cidade. A iniciativa de estimular filmagens em São Paulo havia sido anunciada no ano passado, por decisão do prefeito Bruno Covas, que encomendou o projeto ao secretário da Cultura, Alê Youssef, e à presidente da Spcine, a cineasta Laís Bodanzky.
Guerra Cultural: Bruna Linzmeyer revela que muitos filmes que ia fazer foram cancelados
Em meio a conversas fúteis de Carnaval – gosta de folia?, como vai a vida amorosa? – a atriz Bruna Linzmeyer (“O Grande Circo Místico”) desabafou com a revista Quem, em plena Sapucaí, na noite de domingo (24/2), que a crise política que ameaça o cinema brasileiro é muito maior do que a imprensa tem noticiado. Enquanto via o desfile das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, ela contou que muitos filmes que tinha concordado em estrelar não serão mais realizados, devido ao impasse criado no setor pelo governo Bolsonaro. “Muitos filmes que eu ia fazer foram cancelados, muitos trabalhadores do cinema estão sem emprego, migrando para a televisão. As pessoas estão tentando se virar, mas está bem perigoso mesmo”, ela afirmou. Um levantamento realizado no começo do mês pelo jornal O Globo apurou que entre 400 e 600 projetos audiovisuais estão atualmente paralisados no Brasil. O governo Bolsonaro não publicou nenhum edital de fomento em 2019 e a aprovação do orçamento do ano passado foi confirmada apenas em dezembro, ainda assim deixando sua liberação para 2020. Normalmente, a verba do FSA (Fundo do Setor Audiovisual) é encaminhada no começo de cada ano, não no seu final. Na prática, isto significa que Bolsonaro paralisou a liberação da verbas para o audiovisual brasileiro desde que assumiu o governo. E ainda não liberou. O dinheiro que se encontra parado não faz parte do orçamento federal para outras áreas, como Saúde, Educação, etc. Não é fruto de Imposto de Renda, mas de uma taxa de mercado, chamada Condecine, que incide exclusivamente sobre o lucro da própria atividade cultural – é paga por produtoras, emissoras e provedores de conteúdo – e vinculada à aplicação no próprio mercado. Portanto, é uma verba que não pode ser realocada. Este montante, que alimenta o FSA, serve para regular e fomentar a produção, e supera R$ 700 milhões só em 2019, valor coletado entre janeiro e dezembro de 2018 e estacionado há mais de um ano. Detalhe: mesmo tendo sentado em cima dessa fortuna, o governo não deixou de cobrar a taxa. Isso significa que uma soma equivalente ao valor de 2019 já deve ter sido levantada (entre janeiro e dezembro passados) para 2020. Graças a isso, é bastante provável que o total de recursos paralisados pelo governo, que deveriam estar fomentando o audiovisual brasileiro, esteja atualmente girando em torno de R$ 1,5 bilhão. Enquanto o governo senta nesse dinheiro, “muitos trabalhadores do cinema estão sem emprego”, como relatou Bruna Linzmeyer.
Guerra Cultural: Servidores da Cultura divulgam carta aberta contra política de Bolsonaro para o setor
A Associação dos Servidores do Ministério da Cultura, que mantém o nome original apesar do Ministério ter virado Secretaria da Cultura, divulgou uma carta aberta em protesto contra a “política cultural” do governo Bolsonaro após uma assembleia de seus integrantes realizada nesta semana, que também contou com funcionários do Iphan e da Fundação Palmares. O documento, endereçado à sociedade, critica o “esvaziamento e o desmonte do setor” que vem ocorrendo “desde o início de 2019”, e também o “comprometimento ideológico autoritário e fascista” de dirigentes da área, que ameaçam as políticas públicas de Cultura. “A área da Cultura do Governo Federal (…) tem vivido um momento de turbulência política e administrativa. O reflexo pode ser visto na extinção do Ministério da Cultura, na diminuição do orçamento e consequente estagnação na execução de ações; na falta de diretrizes para o setor; na descontinuidade de políticas de estado como o Plano Nacional de Cultura e o Sistema Nacional de Cultura, entre outros”, diz o documento, que segue. “Como se não bastasse, o envolvimento dos dirigentes das instituições de cultura com atos de censura, perseguição, comprometimento ideológico autoritário e fascista vem ameaçando o propósito de uma política pública em consonância com o disposto na Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216”. O desmonte do setor, que vem ocorrendo desde o início de 2019, teria começado com a transformação “desastrosa” do antigo Ministério da Cultura em pasta do Ministério da Cidadania, alegando que, desde então, “os recursos são priorizados para projetos de assistência social, e as políticas de Cultura acabam ficando em segundo plano”. Segundo o documento, nos mais de 30 anos de existência do Ministério da Cultura, as políticas culturais fomentaram a valorização da identidade nacional por meio do apoio de diversas áreas, como o cinema e às artes, por exemplo. Entretanto, atualmente há uma “tentativa de transformar a área da Cultura em um espaço de doutrinação e censura pelos recentes gestores nos últimos meses” e que isso deve ser combatido, afirmando que os funcionários da área da Cultura não admitirão esse tipo de atuação. Leia a carta na íntegra: Prezado Cidadão, A área da Cultura do Governo Federal, a qual inclui as políticas públicas para os museus, o patrimônio cultural, as manifestações artísticas, cênicas, literárias, audiovisuais, além de acervos bibliográficos de extrema importância para a história e a memória do Brasil, tem vivido um momento de turbulência política e administrativa. O reflexo pode ser visto na extinção do Ministério da Cultura, na diminuição do orçamento e consequente estagnação na execução de ações; na falta de diretrizes para o setor; na descontinuidade de políticas de estado como o Plano Nacional de Cultura e o Sistema Nacional de Cultura, entre outros. Como se não bastasse, o envolvimento dos dirigentes das instituições de cultura com atos de censura, perseguição, comprometimento ideológico autoritário e fascista vem ameaçando o propósito de uma política pública em consonância com o disposto na Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216. No mundo contemporâneo, a área da Cultura é responsável por metas do desenvolvimento socioeconômico dos países, tendo um papel significativo em setores como o turismo e a educação. No Brasil, nos mais de 30 anos de existência do Ministério da Cultura, as políticas culturais fomentaram a valorização da identidade nacional por meio do apoio às expressões da cultura popular, ao cinema, às artes, à formação de público, à ampliação de equipamentos culturais, à apropriação social do patrimônio cultural, ao incentivo da iniciativa privada às produções artísticas – são estes alguns exemplos. O Ministério da Cultura, desde sua criação em 1985, primou pela liberdade de expressão e criação fora e dentro da instituição. Aqui é importante destacar que, ao longo das décadas, o estabelecimento de quadro de servidores qualificados tecnicamente, que ingressaram por meio de concurso público, possibilitou a defesa e a execução de projetos e ações voltados a todos os públicos, sendo movidos pela riqueza dos saberes e práticas culturais que conectam os diversos grupos e comunidades que configuram a sociedade brasileira. Ressaltamos que a área da Cultura, em todas as suas dimensões, tem por obrigação o desenvolvimento de políticas que se destinem a toda a população, e que não estejam contaminadas por interesses particulares, credos específicos ou ideologia que suprima as liberdades e os direitos culturais. E nós, como prestadores do serviço público nesta área, devemos cumprir com as atribuições do estado democrático de direito e assegurar à sociedade uma oferta de projetos e programas que seja ampla e diversa como é o Brasil, sem filtros religiosos, filosóficos ou políticos. A desastrosa alocação do setor no Ministério da Cidadania demonstrou que políticas culturais não cabem no arcabouço assistencialista daquela pasta. A forma de organização e implementação das políticas diferem de tal maneira que inviabilizam qualquer tipo de atuação conjunta. Os recursos são priorizados para projetos de assistência social, e as políticas de cultura acabam ficando em segundo plano. Os servidores já haviam se posicionado da seguinte forma: “A junção da pasta da Cultura com outras políticas que diferem essencialmente na forma de implantação, princípios, modelos e atuação tem impedido a continuidade /de uma proposta efetivamente cidadã, voltada para processos mais humanos nas suas relações políticas e sociais.” Fonte: AsMinC: Os Servidores da Cultura e o Papel na Construção de Uma Dimensão Ampla para o Setor Cultura, Desmonte do Estado e Desenvolvimento: AFIPEA-2019. Não devemos retroceder! A pouco expressiva economia em despesas administrativas e de custeio, ou na insignificante redução de cargos, não é argumento suficiente para a extinção do Ministério da Cultura sob a forma da Secretaria Especial da Cultura: são perdas irreparáveis o esvaziamento e o desmonte do setor, que vêm ocorrendo paulatinamente desde o início de 2019. Além disso, a tentativa de transformar a área da Cultura em um espaço de doutrinação e censura pelos recentes gestores nos últimos meses deve ser combatida. Os servidores da Cultura não admitem esse tipo de atuação, conclamando a sociedade a se juntar na defesa das instituições públicas e na formação de um quadro de gestores que estejam preparados técnica e eticamente para os cargos. Acreditamos que é possível retomar a construção de uma política de estado no setor e nos colocamos à disposição para apoiar o trabalho, utilizando os critérios técnicos e administrativos que fazem parte da prática do quadro de servidores da Cultura. Assembléia da Associação dos Servidores do Ministério da Cultura de 19/2/2020
Guerra Cultural: Recorde de filmes brasileiros no Festival de Berlim não tem apoio do governo
O Festival de Berlim, que começou na quinta-feira, virou um marco da produção cinematográfica brasileira. Não apenas por conta da presença recorde de filmes nacionais — 19, incluindo coproduções — , que rendeu destaque até da revista americana Variety, mas pelo paradoxo que este reconhecimento internacional representa diante do desdém do governo do Brasil e ao desmonte da política cultural que permitiu esse sucesso. A edição do recorde também é primeira edição do Festival de Berlim em que os filmes selecionados não contam com apoio financeiro do governo federal para participar do evento. Desde que foi criada em 2001, a Ancine costumava apoiar mais do que a presença dos profissionais em quase cem festivais e laboratórios pelo mundo, mas também a confecção de material gráfico e cópias legendadas, o transporte das cópias para o exterior, seu armazenamento e conservação, além das despesas com a exportação. Em setembro passado, contudo, a diretoria da agência anunciou a suspensão do programa de apoio internacional, alegando falta de recursos. Em comunicado, a Ancine, sem querer (querendo?), culpa o governo Bolsonaro, ao alegar que o Programa de Apoio a Festivais foi “temporariamente” cortado “devido ao contingenciamento orçamentário determinado pelo Governo Federal”. O comunicado lembra ainda que o governo paralisou os trabalhos da Ancine, ao mencionar que a diretoria colegiada foi recomposta somente em janeiro de 2020, e só então “voltou a deliberar sobre as pautas represadas durante a vacância de diretores”. Deste modo, apenas a partir das primeiras reuniões da diretoria o programa poderá “ser reavaliado”. Mas já não foi nas duas primeiras, realizadas em fevereiro, onde houve a ratificação da suspensão e, por outro lado, aprovação de verbas para viagens internacionais de servidores da própria entidade. Além da Ancine, os filmes brasileiros também contavam com financiamento do Cinema do Brasil, um programa de exportação e fomento implementado em parceria pelo Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (SIAESP) e pela Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), ligada ao Ministério das Relações Exteriores. O apoio chegava a US$ 15 mil por produção até que, no ano passado, a então diretora de Negócios da Apex, Letícia Catelani, filiada ao PSL, interrompeu a distribuição dos recursos. Não se trata apenas de “política cultural”, mas econômica. As consequências diretas são o enfraquecimento da capacidade da indústria cinematográfica brasileira realizar negócios internacionais. Além de servir de mostra de filmes e da competição do Urso de Ouro, o Festival de Berlim também é um dos principais balcões de negócios da Europa, onde contratos de distribuição, financiamento e coproduções internacionais costumam ser fechados. Bons negócios não acontecem apenas com a exibição de filmes. Requerem material impresso, representação forte e até realização de eventos para o mercado, o que o governo brasileiro costumava apoiar até Bolsonaro ser eleito. Os países mais desenvolvidos do mundo transformam a produção cultural numa de suas maiores fontes de enriquecimento, mas o atual governo do Brasil prefere o empobrecimento em todos os sentidos.
Guerra Cultural: Bolsonaro nomeia pastor e diretora de festival cristão para a Ancine
Jair Bolsonaro costuma repetir, nos mais de 40 eventos evangélicos que frequentou desde que assumiu a presidência da República, que o Estado é laico, mas ele é cristão. Mas com cada vez mais nomeações de cristãos e servidores “terrivelmente evangélicos” para cargos estratégicos, a linha que separa a atividade estatal da religião começa a se dissipar. Nesta sexta (21/2), o presidente nomeou um pastor e uma diretora de festival de cinema cristão para integrar a diretoria da Ancine. As indicações foram publicadas no Diário Oficial da União e agora o Senado precisa avaliar e aprovar os nomes de Edilásio Santana Barra Júnior e Verônica Brendler. Edilásio Barra, o “pastor Tutuca”, já faz parte dos quadros da Ancine. Em 2019, ele assumiu a Superintendência de Desenvolvimento Econômico da Ancine, responsável pela gestão do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), a verba que responde pela principal fonte de fomento à produção de cinema no país, e que se encontra congelada desde que Bolsonaro foi eleito. Ele também é apresentador de TV e bispo da Igreja Continental do Amor de Jesus. Verônica Brendler é produtora cultural e diretora do Festival Internacional de Cinema Cristão. Em seu currículo, ela cita “mais de 80 projetos aprovados pela Rei Rouanet”, além de ter realizado a 1ª Mostra de Cinema Cristão, dirigir a Escola de Cinema Cristão e organizar 30 encontros de cineastas cristãos. As indicações fazem parte do projeto de instalar “filtros” na liberação de verbas para a aprovação de filmes e séries no Brasil, anunciado por Bolsonaro no ano passado. Bolsonaro já tinha posicionado peça importante na nova orientação que pretende impor ao cinema brasileiro ao nomear Hiran Silveira, um diretor da rede Record, braço televisivo da Igreja Universal, para o comitê que administra o caixa do FSA. Seria uma forma “malandra” de driblar a Constituição, que estabelece que o presidente pode ser cristão, mas o Estado não. Na prática, porém, o Estado deixa de ser laico quando regras religiosas passam a determinar a produção cultural de um país, estabelecendo que tipo de conteúdo é incentivado e, consequentemente, o que será vetado.
Cinearte, tradicional cinema de São Paulo, fecha as portas após 56 anos
O Cinearte, um dos cinemas mais tradicionais da cidade de São Paulo, localizado no Conjunto Nacional, no coração da Avenida Paulista, fechou as portas na noite de quarta-feira (19/2) devido à política cultural do governo Bolsonaro. O cinema foi inaugurado em 1963 com o nome de Cine Rio. Também já foi chamado de Cine Bombril, Cine Livraria Cultura e, até março de 2019, Cinearte Petrobras. Segundo orientação de Bolsonaro, a Petrobras não renovou o contrato de patrocínio com o cinema no começo de 2019. O corte foi geral e também atingiu festivais, como o Anima Mundi e o Festival de Rio, além de outros eventos culturais. A atriz Angela Leal revelou que chegou a enfartar quando seu teatro, o Rival, perdeu o apoio da Petrobrás no ano passado. O cinema não conseguiu novo patrocinador para ficar aberto, ao contrário do Cine Belas Artes, que enfrentou o mesmo problema em relação à Caixa Econômica Federal. Mas enquanto o Belas Artes, a poucos metros de distância, tornou sua situação – e causa – pública, o desfecho do Cinearte foi melancólico, sem aviso prévio ou alarde. A maioria do público chegou desavisado ao cinema na noite de quarta, sem saber que se tratava da última sessão. “Foram 22 anos de várias parcerias que tornaram possível a apresentação de inúmeros filmes independentes, debates, mostras, pré-estreias. Agradecemos a todos que, ao longo desta jornada, estiveram conosco nesta empreitada. Fechamos duas salas, mas não apagamos a crença na diversidade possível no cinema e que nosso lema Democracia na Tela esteja também no nosso cotidiano sempre”, disse Adhemar Oliveira, diretor do Circuito Cinearte, em comunicado. O último filme exibido foi “Parasita”, vencedor do Oscar 2020. Além de proibir que estatais possam ajudar a manter cinemas abertos, Bolsonaro vetou integralmente em dezembro a prorrogação do Recine (Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica) e dos incentivos fiscais da Lei do Audiovisual, que, entre outros objetivos, visavam fomentar a abertura de novos cinemas no Brasil. Não por acaso, durante o primeiro ano do governo Bolsonaro, o parque exibidor nacional registrou sua maior retração desde os anos 1990, perdendo 155 cinemas em relação ao relatório da administração anterior sobre a quantidade de salas de exibição existentes no país. A principal ironia desses dados é que a Ancine comemorou o resultado “robusto”. Quem quiser comparar e reparar na briga com a realidade, pode verificar um exemplo prático do orweliano Ministério da Verdade no próprio site oficial da Ancine, onde o relatório oficial de 2018 (aqui) exalta o recorde de 3.356 cinemas, enquanto o texto mais recente (aqui) afirma que o número era 3.194 e houve um crescimento “robusto” para 3.201 salas em 2019, “ressaltando o fortalecimento do número de cinemas no país”. O mesmo texto traz um link para powerpoints que não cobrem o ano passado, mas citam 3.352 salas em 2018. Noves fora, continuam aproximadamente 150 cinemas a menos.
Governo Bolsonaro já paralisa entre 400 e 600 projetos de filmes e séries no Brasil
O jornal O Globo fez um levantamento do financiamento da produção de filmes e séries nacionais pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Chegou a um número expressivo de projetos paralisados, entre 400 e 600, e resumiu sua descoberta no título “2020: o ano que não começou para o audiovisual”. Mas se trata de uma conclusão equivocada. A verdade é que o audiovisual brasileiro está parado desde a eleição de Jair Bolsonaro. O título correto devia ser 2019: o ano que ainda não começou para o audiovisual. Os projetos que conseguiram alguma verba no ano passado foram resultados de editais aprovados até 2018, antes de Bolsonaro virar presidente e travar a produção cultural brasileira. Com uma política assumida de destruição, o governo Bolsonaro cortou apoio de estatais a eventos, comprometendo a realização de importantes festivais de cinema, vetou leis para incentivar a criação de novas salas de cinema no Brasil, vetou a prorrogação de incentivos da Lei do Audiovisual, diminuiu tetos de outras leis de incentivos de produções artísticas, acabou com o Ministério da Cultura, jogando a pasta da Cultura de um ministério para outro, ameaçou uma das mais importantes escolas de cinema do país de despejo, limou apoio do Ministério das Relações Exteriores à exportação cultural e participação de artistas em eventos internacionais, “mandou pro saco” financiamento de séries específicas de temática LGBTQIA+, proibiu exibição de obras LGBTQIA+ em centros culturais de estatais, atacou nominalmente artistas nacionais, usou a receita federal para passar pente fino nas finanças de atores da Globo, instalou um simpatizante nazista como Secretário de Cultura, esvaziou diretorias e comissões responsáveis pelo financiamento cultural ao não nomear seus integrantes, etc. Em relação ao FSA, de onde sai o dinheiro para financiar novas séries e filmes, a aprovação do orçamento do ano passado foi confirmada apenas em dezembro, na última semana de trabalho de 2019, ainda assim deixando sua liberação para 2020. Normalmente, a verba do FSA é encaminhada no começo de cada ano, não no seu final. Na prática, isto significa que Bolsonaro paralisou a liberação da verbas para o audiovisual brasileiro desde que assumiu o governo. E ainda não liberou. A Pipoca Moderna vem chamando atenção disso desde agosto passado. O dinheiro que se encontra parado não faz parte do orçamento federal para outras áreas, como Saúde, Educação, etc. Não é fruto de Imposto de Renda, mas de uma taxa de mercado, chamada Condecine, que incide exclusivamente sobre o lucro da própria atividade cultural – é paga por produtoras, emissoras e provedores de conteúdo – e vinculada à aplicação no próprio mercado. Portanto, é uma verba que não pode ser realocada. Este montante, que alimenta o FSA, serve para regular e fomentar a produção, e supera R$ 700 milhões só em 2019, valor coletado entre janeiro e dezembro de 2018 e estacionado há mais de um ano. Detalhe: mesmo tendo sentado em cima dessa fortuna, o governo não deixou de cobrar a taxa. Isso significa que uma soma equivalente ao valor de 2019 já deve ter sido levantada (entre janeiro e dezembro passados) para 2020. Graças a isso, é bastante provável que o total de recursos paralisados pelo governo, que deveriam estar fomentando o audiovisual brasileiro, esteja atualmente girando em torno de R$ 1,5 bilhão. O Globo tentou questionar a Agência Nacional de Cinema (Ancine) sobre a paralisação do setor e ouviu que o órgão não comentaria o assunto. Para piorar, não há previsão para a liberação dos recursos. Para garantir a aplicação do montante tardiamente aprovado em dezembro, o Comitê Gestor do FSA ainda tem de detalhar as linhas de editais que serão abertos e quanto cada um ofertará para novos projetos. Mas o comitê não pode se reunir, porque está sem membros. Ele inclui a Secretaria Especial da Cultura, que ainda não teve sua chefia nomeada oficialmente – a falta de pressa de Regina Duarte em assumir a pasta coincide com o ritmo do governo – e também o secretário do Audiovisual. André Sturm chegou a ser indicado por Roberto Alvim e aceitou o convite, mas o ex-secretário foi exonerado – após fazer discurso nazista – , antes de assinar os papéis que oficializariam o novo secretário da pasta. Como Regina Duarte não assumiu, o governo segue sem secretário de Cultura e sem secretário do Audiovisual. E com toda as verbas de 2019 e 2020 paralisadas. É importante ressaltar sempre que a liberação do FSA em dezembro foi uma medida que deveria ter sido realizada em janeiro de 2019, e que neste momento o Comitê Gestor precisaria estar encaminhando a verba de 2020. Mas o governo não tem nem sequer previsão para pautar a reunião sobre a verba atrasada – melhor dizendo, retrasada. Os últimos projetos de filmes e séries beneficiados com verbas do FSA são ainda de editais do governo Temer. Em um balanço publicado em janeiro, a Ancine já começou a registrar a queda no número de lançamentos de filmes brasileiros. O total de títulos em 2019 foi 10,9% menor que em 2018. O número deve desabar em 2020. Não por acaso, durante o primeiro ano do governo Bolsonaro, o parque exibidor nacional também registrou sua maior retração desde os anos 1990, perdendo 155 cinemas em relação ao relatório da administração anterior sobre a quantidade de salas de exibição existentes no país. A principal ironia desses dados é que a Ancine comemorou o resultado “robusto”. Quem quiser comparar e reparar na briga com a realidade, pode verificar um exemplo prático do orweliano “Ministério da Verdade” no próprio site oficial da Ancine, onde o relatório oficial de 2018 (aqui) exalta o recorde de 3.356 cinemas, enquanto o texto mais recente (aqui) afirma que o número era 3.194 e houve um crescimento “robusto” para 3.201 salas em 2019, “ressaltando o fortalecimento do número de cinemas no país”. O mesmo texto traz um link para powerpoints que não cobrem o ano passado, mas citam 3.352 salas em 2018. Noves fora, continuam aproximadamente 150 cinemas a menos.
Minha Mãe É uma Peça 3 já é terceiro filme brasileiro mais visto em todos os tempos
O público do filme “Minha Mãe É uma Peça 3” não pára de crescer. Nesta quinta (13/2), a comédia de Paulo Gustavo atingiu 11,2 milhões de espectadores, superando os 11,1 milhões de ingressos vendidos de “Tropa de Elite 2”. Com isso, transformou-se no terceiro filme mais visto da história da indústria cinematográfica nacional, atrás apenas dos dramas “Nada a Perder” (2018) e “Os Dez Mandamentos” (2016), justamente os filmes que têm seu público questionado, por conta de uma estratégia da Igreja Universal, que esgotou os ingressos das sessões sem preencher os assentos dos cinemas com espectadores. Como a diferença é pequena, os números polêmicos do 2º colocado devem ser superados em breve. A diferença para “Os Dez Mandamentos” é de apenas 100 mil ingressos, enquanto “Nada a Perder” tem cerca de 900 mil de vantagem. Atualmente em 3º lugar no ranking nacional, “Minha Mãe É uma Peça 3” ainda continua lotando suas sessões. No fim de semana passado, levou 209 mil espectadores aos cinemas. Basta atingir metade desse número até domingo para superar o recorde de “Os Dez Mandamentos”. Há oito semanas em cartaz, a comédia da Dona Hermínia já tem um faturamento de R$ 175 milhões, que representa a maior bilheteria do cinema brasileiro em todos os tempos – recorde superado em janeiro passado, cerca de 40 milhões atrás. O valor se tornou, inclusive, maior que a soma da arrecadação conjunta dos dois primeiros filmes da franquia. A franquia “Minha Mãe É Uma Peça” é baseada na peça homônima, criada e estrelada por Paulo Gustavo como Dona Hermínia. Os dois primeiros filmes, lançados em 2013 e 2016, atingiram juntos o público de 13 milhões de espectadores e uma arrecadação total de R$ 173,7 milhões. O imenso sucesso e alcance de “Minha Mãe É Uma Peça 3” também coloca em cheque a definição do presidente Jair Bolsonaro sobre filmes que só agradam “uma minoria”, já que se trata de uma produção assumidamente LGBTQIA+. Sua trama é estrelada por um homem vestido de mulher (que na vida real é casado com outro homem), tem como tema um casamento homossexual e gira em torno de uma família que lida com a sexualidade de forma natural e bem-humorada.
O “segredo” do sucesso de Parasita: apoio e incentivo do governo sul-coreano
A consagração do primeiro longa não falado em inglês no Oscar de Melhor Filme tem rendido – e ainda vai render – muitos debates em Hollywood e em todo o mundo. E o Brasil faria muito bem se prestasse atenção. Afinal, enquanto o governo brasileiro atacou seu único representante na disputa, o país de “Parasita” apoiou seu representante do começo ao fim. Agora, com o aval da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA, a Coreia do Sul poderá colher a fartura, que representa a mudança de status comercial de sua indústria cinematográfica, traduzindo-se em mais exportações e divisas para a economia do país. O cinema sul-coreano penou durante 26 anos o sucateamento nas mãos de uma ditadura militar, após um golpe em 1961 instalar censura – ou “filtros” – para permitir apenas a produção de filmes nacionalistas e de apoio ideológico ao governo. Só que o público sul-coreano rejeitou esse modelo, levando a uma queda de 60% no consumo de cinema do país, entre 1969 e 1979. A reação da ditadura foi abrir o mercado para produções estrangeiras em 1986, preferencialmente de Hollywood, que voltaram a atrair espectadores, enquanto os filmes locais se notabilizavam como sinônimos de fracasso comercial. O fim da ditadura abriu ainda mais o mercado. Em 1988, todas as restrições foram derrubadas e os estúdios americanos começaram a se estabelecer no país. Poderia ter sido o fim completo do cinema local, desacreditado pelos temas impostos pela ditadura, mas o novo governo democrata acionou a política de cotas de exibição para produções nacionais, implantada pelos militares nos anos 1960, que foi gradativamente ampliada. Apesar disso, os filmes sul-coreanos ainda respondiam por apenas 16% das bilheterias do país até 1993. As cotas acabaram complementadas por incentivos e financiamento público em todas as etapas, da produção à exibição de filmes do país. Graças à política cultural, o governo atraiu grandes companhias, como a Samsung, que passaram a investir no cinema nacional. Estas mudanças possibilitaram o surgimento de uma nova geração de cineastas no final dos anos 1990, que começou a se apresentar para o mundo em festivais internacionais no final dos anos 1990. Diretores importantes iniciaram suas carreira nesse período, em meio ao movimento batizado pela mídia de “Novo Cinema Coreano”, como Park Chan-wook, Kim Jee-woon e até Bong Joon-Ho, diretor de “Parasita”. Desde seu filme de estreia, “Cão Que Ladra Não Morde” (2000), Bong Joon-Ho conta com apoio do governo, que em 1999 reformou o conselho de cinema do país, rebatizando-o e transformando-o em órgão de incentivo e fomento da produção cinematográfica local. O Korean Film Council (KOFIC, na sigla oficial) é equivalente à Ancine brasileira e faz tudo o que a Ancine poderia/deveria fazer – mas que deixou parcialmente de fazer sob o governo Bolsonaro – , desde financiar despesas de produção, estabelecer políticas de renúncia fiscal, organizar o mercado nacional e dar suporte financeiro para filmes sul-coreanos participarem de eventos internacionais, com autonomia em relação ao partido no poder. Graças ao KOFIC, em pouco tempo o cinema sul-coreano virou o jogo, passando a dominar as bilheterias do país e a vencer prêmios importantes nos maiores festivais de cinema do mundo. Tanto que, em 2006, os filmes nacionais já representavam 50% das bilheterias do país e o governo pôde diminuir a cota de tela sem causar qualquer efeito negativo no mercado. Mesmo com cota menor, a média de lançamento de filmes sul-coreanos manteve-se como uma das maiores do planeta, com pelo menos um título novo por semana. A força das produções locais ainda propiciou que mais empresas, como a Hyundai, passassem a investir nesse segmento. E assim as conversas sobre regulamentação atingiram outro patamar, em torno de apoio maior para os pequenos estúdios e menos incentivo para projetos mais comerciais e lucrativos – o oposto do que Osmar Terra, ministro da Cidadania, planejava para o futuro do cinema brasileiro, em discurso registrado no ano passado. Outras mudanças não tão óbvias também contribuíram para esse resultado, como a educação da população. O estudo de Cinema passou a ser incluído no currículo escolar. Cai no (equivalente ao) vestibular. Estudantes também têm direito à meia-entrada nas bilheterias. Além disso, o governo incentivou aberturas de cursos e escolas de Cinema, contribuindo para a formação de técnicos capazes de realizar trabalhos dignos de Hollywood, e patrocinou a criação de festivais, como o de Busan, que se tornou um dos mais importantes da Ásia. No Brasil, estatais do governo Bolsonaro cortaram o apoio a festivais e ameaçam despejar uma das escolas de cinema mais tradicionais. Para completar, esse apoio às artes foi estendido a várias outras áreas da cultura sul-coreana. E o sucesso mundial do K-Pop é outro grande exemplo da diferença que faz o apoio do Estado à cultura de um país.
Aves de Rapina estreia em 1º lugar no Brasil
A estreia de “Aves de Rapina – Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” arrecadou R$ 10,7 milhões no Brasil, segundo levantamento da empresa de consultoria Comscore. O filme levou 621 mil pessoas aos cinemas brasileiros, o que não é um número muito elevado para uma produção de super-heróis. De todo modo, a distribuição não foi das maiores, com exibição em 413 salas apenas. O lançamento da Warner também teve um desempenho abaixo do esperado na América do Norte, onde faturou US$ 33 milhões em seus três primeiros dias de exibição – contra uma expectativa de mercado de cerca de US$ 50 milhões. Nos EUA e Canadá, porém, “Aves de Rapina” teve distribuição de blockbuster, em mais de 4 mil telas. “Bad Boys para Sempre” ficou em 2º lugar no fim de semana. Mantendo-se em cartaz em 325 salas, teve público de 234 mil espectadores e arrecadou R$ 4 milhões em bilheteria. Desde a estreia, há duas semanas, o longa acumula R$ 14,2 milhões e já levou 872 mil brasileiros aos cinemas. “Minha Mãe é uma Peça 3” completa o Top 3. Exibido em 299 salas, arrecadou R$ 3,7 milhões e teve 209 mil espectadores. Há sete semanas no circuito, a comédia estrelada por Paulo Gustavo já soma R$ 174,2 milhões em ingressos vendidos e público de 11 milhões de pessoas. É o filme nacional de maior bilheteria de todos os tempos. Dentre os filmes premiados no Oscar 2020, “1917” teve a maior bilheteria. Exibido em 363 salas, foi 4º mais visto do fim de semana, levando 163 mil pessoas aos cinemas para faturar R$ 3,3 milhões. A estreia de “Jojo Rabbit” amargou o 6º lugar, apesar da maior distribuição de todas. Em cartaz em 562 salas, teve apenas 74 mil espectadores e R$ 1,6 milhão em bilheteria. Para completar, “Parasita”, o grande vencedor do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA, ficou em 8º lugar. O suspense sul-coreano levou 32 mil pessoas a 278 salas, somando R$ 607 mil. Exibido há 14 semanas no circuito nacional, o longa de Bong Joon Ho já foi assistido por 355 mil brasileiros e rendeu R$ 6,6 milhões. Veja abaixo o Top 10 dos filmes mais vistos no Brasil entre quinta e domingo (9/2), segundo levantamento da Comscore. #TOP10 #bilheteria #cinema Finde 6 a 9 Fev: 1. Ave de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa2. Bad Boys Para Sempre2. Minha Mãe É Uma Peça 34. 19175. Jumanji – Próxima Fase6. Jojo Rabbit7. Frozen 28. Parasita9. Um Espião Animal10. Judy: Muito Além do Arco Iris — Comscore Movies BRA (@cSMoviesBrazil) February 10, 2020
Deputado cria projeto de lei para extinguir a meia-entrada no Brasil
O deputado Vinicius Poit, do partido Novo, protocolou na Câmara Federal um projeto de lei para acabar com a meia-entrada em eventos culturais e esportivos. O projeto do deputado propõe revogar a lei nº 12.933, de 23 de dezembro de 2013, “que dispõe sobre o benefício do pagamento de meia-entrada para estudantes, idosos, pessoas com deficiência e jovens de 15 a 29 anos comprovadamente carentes em espetáculos artístico-culturais e esportivos”. Segundo o político, “meia-entrada é metade do dobro! Acaba ficando mais caro para todos. É uma falsa aparência de proteção aos estudantes”. O tema ganhou relevância política nos últimos dias, depois de Jair Bolsonaro receber um grupo de sertanejos e produtores culturais no Palácio do Planalto. No encontro, Doreni Caramori Junior, presidente da Abrape (Associação Brasileira dos Promotores de Eventos) protestou contra a meia-entrada, que chamou de “injustiça histórica”, ao afirmar que ela desequilibra a cadeia produtiva de shows no país e pedir para que o governo tomasse uma atitude. Poit gravou um vídeo para registrar sua iniciativa (veja abaixo), no qual chega citar Caramori e a boa receptividade do presidente Bolsonaro ao pedido, mas distorceu o contexto. Caramori defendeu que quem realiza eventos culturais tem prejuízo com a meia-entrada, porque não recebe compensação do governo para não cobrar o preço inteiro em todos os ingressos. Fica claro, portanto, que a meia-entrada não é “metade do dobro” para o representante dos promotores de eventos, mas sim o único impedimento para a cobrança do “dobro integral” de todos os consumidores. O político acatou a sugestão, como ele mesmo disse. Ou seja, quer acabar com a meia-entrada, mas não propõe, simultaneamente, nivelar todos os preços de ingressos para o patamar da meia-entrada atual. O que está propondo, na prática, é apenas aumentar o custo de consumo cultural para quem hoje tem desconto. Trata-se de mais um ataque a direitos adquiridos por parte de políticos que não compartilham das mesmas condições sociais de quem eles chamam de “privilegiados” – segundo a lei, “estudantes, idosos, pessoas com deficiência e jovens de 15 a 29 anos comprovadamente carentes”. Em vez de propor projeto de maior inclusão social, o político novo prefere promover a exclusão, defendendo, na prática, o acesso à cultura apenas para quem tem condições financeiras. Ou seja, como privilégio de classe social. Filho de milionário, Vinicius Poit foi eleito com bandeira de “combate aos privilégios” e afirma ter economizado R$ 1.114.832,34 em verba de gabinete, gastos da cota parlamentar e renúncia a regalias que tinha direito.
Secretário de Direitos Humanos da PGR aciona Justiça contra José de Abreu
Após José de Abreu atacar a ex-colega Regina Duarte com palavras de baixo nível, o secretário de Direitos Humanos da Procuradoria Geral da República, Ailton Benedito, encaminhou ofício ao Ministério Público Federal de São Paulo sugerindo que o órgão tome providências em relação às ofensas. Convidada pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a Secretaria Especial da Cultura, Regina Duarte aguarda apenas a nomeação para tomar posse. “Ainda hoje, 4 de fevereiro de 2020, será encaminhado ofício ao Ministério Público Federal no Estado de São Paulo, a fim de que tome conhecimento do fato e promova as medidas que entender cabíveis nas suas atribuições em face do sujeito que ofendeu todas as mulheres brasileiras”, escreveu Benedito no Twitter, para em seguida confirmar o envio do ofício ao Ministério Público, que de fato recebeu o documento. Benedito encaminhou o ofício após criticar, também no Twitter, as declarações dadas por José de Abreu em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo para justificar agressividade anterior contra Regina. Ao comentar a ida de atriz para o governo Bolsonaro, ele afirmou: “Facista não tem sexo. Vagina não transforma uma mulher em um ser humano. Eu não vou parar, eu sou radical mesmo e estou em um caminho sem volta”. Antes da entrevista, José de Abreu já havia sido criticado, tanto pela esquerda quanto pela direita, por um post no Instagram em que ameaçava “desmascarar” Regina, citando os cabelos brancos, rugas e banhas da atriz e dizendo que sabia o que “fizemos” no passado. “Eu sei o que fizemos na sua casa, na Barra da Tijuca. Eu sou artista, assumo meus vícios e me libertei deles. Mas você, assumindo um cargo público, vai ter que prestar conta deles”, escreveu o ator no post, posteriormente deletado. “Lembra de quantos gays lhe tiraram rugas? Coloriram seus cabelos brancos? Criaram figurinos para esconder suas banhas? Você está cagando na cabeça deles! Eles me ligam, desesperados, com sua postura! Tenha vergonha nessa cara! Vou até o fim. Regina Duarte, vou lhe desmascarar! Assuma seu cargo de apoiadora de fascista se tiver coragem. E aguente as consequências”, completou Abreu na mesma publicação. Com suas declarações, Abreu conseguiu envergonhar até petistas que o consideravam seu ator de estimação. Mas não foi sua primeira manifestação execrável. Em 2016, ele chegou a cuspir num casal em um restaurante e ainda se vangloriou no Twitter, orgulhoso: “Cuspi na cara do coxinha e da mulher dele! Não reagiu! Covarde”, mudando o sentido do que significa covardia. Além disso, desde outubro de 2017 ele é procurado por oficiais de justiça, que tentam citá-lo num processo aberto pela então primeira-dama da capital paulista, Bia Doria — hoje primeira-dama do estado. O motivo foi outra manifestação machista do ator, que escreveu no Twitter, em 9 de outubro de 2016: “STF proíbe vaquejada mas permite que a Bia Doria dê entrevista? É um crime contra os animais…”. Para o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), o ator “se encontra em local incerto e não sabido”. Os ataques recentes foram publicados no exterior, enquanto Abreu curtia uma lua de mel com sua nova mulher, 51 anos mais jovem. Em um post de quarta-feira (6/2), ele avisou que o casal não volta ao Brasil, planejando morar na Nova Zelândia.










