Mostra de São Paulo terá “Maestro”, novo filme de Bradley Cooper
A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo revelou o pôster e os primeiros destaques de sua 47ª edição. Novos filmes O título mais esperado é “Maestro”, segundo longa dirigido por Bradley Cooper após estrear com “Nasce uma Estrela”. A obra é uma cinebiografia do compositor americano Leonard Bernstein, responsável pela trilha do musical “Amor, Sublime Amor”, e traz o próprio Cooper no papel-título, além de Carey Mulligan (“Bela Vingança”). Produção da Netflix, o filme teve première mundial no recente Festival de Veneza. Outro destaque é “Evil Does Not Exist”, do cineasta japonês Ryûsuke Hamaguchi, que venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional com “Drive My Car”, no ano passado. Seu novo filme também já é premiado. Venceu o Grande Prêmio do Júri do Festival de Veneza. A trama se passa num vilarejo na periferia de Tóquio, que tem seus costumes ameaçados por planos de construção de luxo. A relação ainda inclui “About Dry Grasses”, do turco Nuri Bilge Ceylan, que rendeu a Merve Dizdar o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes, e “Afire”, do alemão Christian Petzold, vencedor do Grande Prêmio do Júri em Berlim, além de “La Chimera”, parceira da italiana Alice Rohrwacher com a brasileira Carol Duarte, e “Cerrar los Ojos”, do espanhol Víctor Erice. Filmes clássicos Já o pôster psicodélico da edição tem assinatura do cineasta italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007), que será homenageado em uma retrospectiva com 23 títulos e leitura de um roteiro inédito na programação da Mostra deste ano. A ilustração do pôster foi feita pelo diretor de “Blow Up” nos anos 1960. Outros clássicos foram confirmados na programação, com a exibição de versões restauradas. Uma delas é “Le Retour à la Raison” (1923), primeiro trabalho do americano Man Ray, que será apresentado numa coletânea com outros três curtas-metragens do cineasta, com uma nova trilha sonora criada pela banda Sqürl, de Jim Jarmusch. “Amor Louco” (1969), do francês Jacques Rivette, “O Sangue” (1989) e “Vale Abraão” (1993), dirigidos, respectivamente, pelos portugueses Pedro Costa e Manoel de Oliveira, o brasileiro “Corisco & Dadá (1996)”, do diretor cearense Rosemberg Cariry, e “Underground: Mentiras de Guerra” (1995), do sérvio Emir Kusturica, completam a lista. Para completar as novidades, a Petrobras está de volta como patrocinadora, juntando-se ao Itaú após o governo Bolsonaro proibir a estatal de apoiar eventos culturais. A Mostra desta ano vai acontecer entre os dias 19 de outubro de 1º de novembro. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por @mostrasp Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por @mostrasp Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por @mostrasp
Presidente da Petrobras causa revolta após chamar filmes premiados de “mais que sofríveis”
Pegou mal, muito mal a declaração do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, numa palestra virtual para o grupo Personalidades em Foco, realizada na noite de quinta (17/9). Desdenhando da parceria histórica entre a estatal e o cinema, que foi encerrada por Bolsonaro, ele disse que a Petrobras não ia mais patrocinar “artistas ricos” nem “filmes de qualidade mais do que sofrível”. Endividada devido à corrupção descoberta pela Operação Lava Jato, a empresa está cortando custos, mas Castello Branco aproveitou para politizar a economia com ataques gratuitos ao Cinema nacional. “Além da busca contínua por redução de custos, resolvemos mudar a composição de nossos patrocínios. A Petrobras patrocinava artistas ricos e filmes de qualidade mais do que sofrível, como ‘Bixa Travesty’, ‘Lasanha Assassina’ e outras coisas mais”, afirmou o presidente da estatal, citando dois filmes premiados. O primeiro título mencionado pelo presidente da Petrobras é um documentário sobre transexuais, que tem como protagonista a cantora Linn da Quebrada, e foi premiado nos festivais de Berlim (Prêmio Teddy), Brasília (júri popular) e no Mix Brasil. O segundo é um curta animado de 2002 que tem o lendário José Mojica Marins, o Zé do Caixão, como dublador. Este filme foi premiado no Festival de Recife, na Mostra de Tiradentes e no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, promovido pela Academia Brasileira de Cinema, responsável por selecionar o representante nacional no Oscar. Não só isso. “Bixa Travesty” não foi patrocinado pela Petrobras. Pior ainda, levou calote da Petrobras, ao vencer um prêmio no Festival de Brasília, este sim patrocinado pela estatal. Segundo os diretores Kiko Goifman e Claudia Priscilla, “Bixa Travesty” recebeu verbas do Fundo Setorial do Audiovisual, da Agência Nacional de Cinema (Ancine) e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo-Sul. Mas, ao ser premiado no Festival de Brasília, deveria receber, de acordo com o regulamento do evento, R$ 200 mil da Petrobras, que seriam usados para sua distribuição nos cinemas. Entretanto, após Bolsonaro assumir a presidência, a estatal comunicou que não iria pagar. Claudia Priscilla contou para o jornal O Globo que as equipes contempladas pela premiação entraram com uma ação judicial coletiva contra a estatal, mas a Petrobras só pagou metade do valor previamente acordado com o Festival. “Não cabe ao presidente da Petrobras citar o filme nessa situação. ‘Bixa Travesty’ não foi produzido com recursos da Petrobras. Além de um insulto, é uma apropriação indevida. Quando a gente ganhou o prêmio popular de Brasília, o filme obviamente já estava pronto”, criticou a cineasta. Seu parceiro na direção do longa foi além, avisando que iria processar Castello Branco. “Estou me sentindo perseguido. Com certeza absoluta, o senhor Castello Branco não viu o filme. Ele pegou pelo título, ‘Bixa Travesty’, para insultar o nosso filme, que mostra a história de uma pessoa que sofreu a vida toda e que tem uma força imensa. Vamos entrar na Justiça”, afirmou Kiko Goifman. “Esses caras não podem achar que podem pegar a metralhadora do ódio deles e apontar para todo lado. Agora faremos questão de levar o filme para o maior número de pessoas possível. Não vamos ficar calados”. Além dos diretores de “Bixa Travesty”, a cantora Linn da Quebrada, que estrela o documentário, os cineastas Cacá Diegues e Fernando Meirelles, a produtora Mariza Leão e o presidente da Academia Brasileira de Cinema também repudiaram a frase do burocrata, em depoimentos a O Globo. “Uma fala como essa não só reflete, mas também constrói os nossos tempos”, disse Linn da Quebrada. “Sobreviver a um país que nos quer mortas diariamente é uma obra de arte. É isso que estamos expondo com essa produção, e por isso ela se torna tão perigosa. Quando ele tira o nosso filme de um campo de possibilidade, parece dizer que vidas como a minha não importam a ponto de serem vistas”, acrescentou. O veterano Cacá Diegues, autor do clássico “Bye Bye Brasil”, que parece título para as realizações do atual desgoverno, avaliou que a declaração faz parte da guerra contra a cultura levada adiante por Bolsonaro. “É impressionante a simples má vontade ou o grave juízo desqualificado de membros desse governo em relação à Cultura e particularmente ao cinema brasileiro. Não estamos lidando com um governo que não se importa com a cultura, mas com um governo que é contra ela. Eles não se importam com o mal que fazem ao Brasil”, criticou. Jorge Peregrino, presidente da Academia Brasileira de Cinema, que premiou o atacado “Lasanha Assassina”, apontou a falta de qualificação do burocrata como crítico de cinema. “Mesmo que ele tenha visto o filme, ele não tinha o direito de falar isso. É a mesma coisa que eu criticar a extração de petróleo dele, sem entender do assunto. Cada macaco no seu galho”. Ou como diz Mariza Leão, direto ao ponto: “O reconhecimento do cinema brasileiro mundo afora, através de festivais renomados e também do público, fala mais alto do que as declarações de alguém que não tem nenhuma capacitação intelectual para afirmar o contrário. Viva o cinema brasileiro e sua pluralidade!” Diante da repercussão, a Petrobras emitiu um comunicado, afirmando que seu presidente “respeita todas as formas de expressão”, mas que, “como defensor da liberdade de escolha, se reserva o direto de ter suas próprias preferências artísticas”. Através da assessoria da estatal, Roberto Castello Branco ainda disse que “não teve a intenção de ofender qualquer obra ou grupo” e que “se desculpa por algum mal-entendido”. Só que tudo foi bem entendido, inclusive a defesa da Petrobras, em comunicado, do direito ao preconceito.
Congresso derruba veto de Bolsonaro e restabelece Lei de Incentivo ao Audiovisual
Em sessão remota do Congresso Nacional, deputados e senadores derrubaram nesta quarta-feira (12/8) o veto do presidente Jair Bolsonaro ao projeto de lei que prorroga os benefícios fiscais previstos na Lei do Audiovisual e a vigência do Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica (Recine). Bolsonaro tinha vetado integralmente o projeto em dezembro, após aprovação na Câmera e no Senado. A Lei do Audiovisual é uma forma de apoio indireta a projetos do setor, que dá descontos fiscais a patrocinadores. A norma entrou em vigor em 1993 e permite a dedução, no Imposto de Renda, das quantias investidas. Ela tinha perdido sua validade em 2019 e Bolsonaro se recusou a renová-la, vetando o projeto integralmente. Já o Recine é um regime tributário especial, que permite estimular a ampliação de investimentos privados em salas de cinema. A lei, agora promulgada, destina incentivos fiscais aos proprietários de salas de cinema pelo país e também à produção cinematográfica e televisiva brasileira. Pelo programa, é possível a suspensão da cobrança do PIS, Cofins, Imposto de Importação e IPI na importação de equipamentos usados na construção e modernização de cinemas. Por conta do veto original de Bolsonaro à renovação das duas leis, a Ancine, que não libera o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) desde 2018, tinha tomado a iniciativa de propor empréstimos a juros para exibidores pagarem dívidas geradas pelo fechamento das salas durante a pandemia. A promulgação da PL 5.815/2019, projeto de autoria do deputado Marcelo Callero (ex-Ministro da Cultura do governo Temer), agora garantirá verbas incentivadas ao circuito cinematográfico. Será um grande alívio em meio ao sufoco causado pela guerra cultural travada pelo desgoverno, que além de tentar impedir o setor de receber os incentivos da lei, proibiu apoio da Petrobras aos festivais do país, eliminou verbas de apoio da chancelaria à divulgação do cinema nacional no exterior, desmontou várias vezes a estrutura das secretarias da Cultura e do Audiovisual e criou dificuldades burocráticas para a liberação do FSA, verba de fomento da produção audiovisual, arrecadada via taxação do setor, cujo destino desde a posse de Bolsonaro é uma incógnita.
Cinearte, tradicional cinema de São Paulo, fecha as portas após 56 anos
O Cinearte, um dos cinemas mais tradicionais da cidade de São Paulo, localizado no Conjunto Nacional, no coração da Avenida Paulista, fechou as portas na noite de quarta-feira (19/2) devido à política cultural do governo Bolsonaro. O cinema foi inaugurado em 1963 com o nome de Cine Rio. Também já foi chamado de Cine Bombril, Cine Livraria Cultura e, até março de 2019, Cinearte Petrobras. Segundo orientação de Bolsonaro, a Petrobras não renovou o contrato de patrocínio com o cinema no começo de 2019. O corte foi geral e também atingiu festivais, como o Anima Mundi e o Festival de Rio, além de outros eventos culturais. A atriz Angela Leal revelou que chegou a enfartar quando seu teatro, o Rival, perdeu o apoio da Petrobrás no ano passado. O cinema não conseguiu novo patrocinador para ficar aberto, ao contrário do Cine Belas Artes, que enfrentou o mesmo problema em relação à Caixa Econômica Federal. Mas enquanto o Belas Artes, a poucos metros de distância, tornou sua situação – e causa – pública, o desfecho do Cinearte foi melancólico, sem aviso prévio ou alarde. A maioria do público chegou desavisado ao cinema na noite de quarta, sem saber que se tratava da última sessão. “Foram 22 anos de várias parcerias que tornaram possível a apresentação de inúmeros filmes independentes, debates, mostras, pré-estreias. Agradecemos a todos que, ao longo desta jornada, estiveram conosco nesta empreitada. Fechamos duas salas, mas não apagamos a crença na diversidade possível no cinema e que nosso lema Democracia na Tela esteja também no nosso cotidiano sempre”, disse Adhemar Oliveira, diretor do Circuito Cinearte, em comunicado. O último filme exibido foi “Parasita”, vencedor do Oscar 2020. Além de proibir que estatais possam ajudar a manter cinemas abertos, Bolsonaro vetou integralmente em dezembro a prorrogação do Recine (Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica) e dos incentivos fiscais da Lei do Audiovisual, que, entre outros objetivos, visavam fomentar a abertura de novos cinemas no Brasil. Não por acaso, durante o primeiro ano do governo Bolsonaro, o parque exibidor nacional registrou sua maior retração desde os anos 1990, perdendo 155 cinemas em relação ao relatório da administração anterior sobre a quantidade de salas de exibição existentes no país. A principal ironia desses dados é que a Ancine comemorou o resultado “robusto”. Quem quiser comparar e reparar na briga com a realidade, pode verificar um exemplo prático do orweliano Ministério da Verdade no próprio site oficial da Ancine, onde o relatório oficial de 2018 (aqui) exalta o recorde de 3.356 cinemas, enquanto o texto mais recente (aqui) afirma que o número era 3.194 e houve um crescimento “robusto” para 3.201 salas em 2019, “ressaltando o fortalecimento do número de cinemas no país”. O mesmo texto traz um link para powerpoints que não cobrem o ano passado, mas citam 3.352 salas em 2018. Noves fora, continuam aproximadamente 150 cinemas a menos.
Ângela Leal revela ter enfartado após seu teatro perder patrocínio da Petrobras
A atriz Ângela Leal revelou ter sofrido ataque cardíaco ao perder o patrocínio da Petrobras para manter aberto o teatro da família, o Rival, famoso palco da Cinelândia que pertenceu a seu pai, Américo Leal, e que ela administrava desde 1990. A política de desmonte cultural do governo Bolsonaro eliminou o patrocínio das estatais para a Cultura. Eventos de grande porte, como o Festival do Rio e o Anima Mundi, conseguiram alternativas de última hora na iniciativa privada. Mas o Rival, apoiado pela Petrobras desde 2001, encontrou maior dificuldade. A casa que marcou época no Rio de Janeiro, e que emprega 35 funcionários, precisou enfrentar a possibilidade do fim. Ela passou mal no último show da casa, do cantor Ivan Lins, e dias depois sofreu um enfarto. A veterana estrela de novelas da Globo e de filmes como “Zuzu Angel”, “Querô”, “A Febre do Rato” e “Bonitinha, mas Ordinária” entrou o Ano Novo na UTI. “Acabei passando o dia 31 na UTI, acho que foi acúmulo”, disse Ângela em entrevista ao jornal O Globo. “Eu já tinha tido um câncer, estava muito fragilizada e, quando veio o fim do patrocínio, vi que não ia dar mais”. Mas não foi o fim. “Começaram os telefonemas em solidariedade e um deles foi de uma pessoa que se dizia da Refinaria de Manguinhos, perguntando se a gente estava precisando de patrocínio. O mundo dá respostas. Se o pensamento desse governo que foi eleito legitimamente por um pedaço da sociedade é outro, o que resta agora é encarar e exigir que a cultura seja respeitada”, contou Ângela. Assim o Rival fechou um novo patrocínio com a Refit, a Refinaria de Manguinhos, que garantirá por mais dois anos a programação do teatro que Ângela sempre definiu como sendo “de resistência cultural”. Inaugurado em 1934, o Rival, que antes tinha sido convento, foi um dos principais palcos do Teatro de Revista e do chamado Teatro do Rebolado. Além de grandes nomes do humor brasileiro, como Grande Otelo, Oscarito e Dercy Gonçalves, a casa de espetáculos também foi pioneira ao abrir seu palco para shows de travestis, que acabaram popularizando a famosa Rogéria, entre outras. Grande referência da cultura carioca, a casa ainda lançou cantores como Mart’nália, Zeca Pagodinho e Zélia Duncan. Vale lembrar que há dois anos, a atriz Leandra Leal, filha de Ângela, estreou como diretora à frente de um documentário sobre a ligação histórica do Teatro Rival com travestis e drag queens. O filme “Divinas Divas” venceu o prêmio do público de Melhor Documentário do Festival do Rio e da Mostra Global do festival americano SXSW (South by Southwest), em Austin, no Texas.
Vídeo da Indústria Audiovisual do Brasil chama atenção para o setor
O Dia do Trabalhador foi escolhido para o lançamento de um vídeo da Indústria Audiovisual do Brasil, que celebra o trabalho por trás da produção de um filme. Trata-se de um manifesto, criado por iniciativa de produtores de todo o Brasil, para chamar atenção para o setor. Embora não se assuma como tal, é uma resposta ao desmonte do cinema nacional levado adiante pelo governo Bolsonaro. O vídeo lembra que a indústria audiovisual emprega mais e gera mais impostos que o turismo no Brasil, e cita dados, acompanhando imagens de 28 filmes nacionais de grande sucesso. Entre as informações, consta que a indústria audiovisual brasileira é composta por mais de 13 mil empresas de diversos tamanhos, que geram mais de 300 mil empregos. O setor também era o que mais crescia no país até a posse de Bolsonaro, com taxa média de 8,8% ao ano, agregando na economia nacional o valor de R$ 25 bilhões por ano. Além disso, filmes também representam aquilo “que alguns chamam de Cultura”, contribuindo para preservar a memória da história brasileira e a construção da identidade do Brasil, além de divulgar a imagem do país em todo o mundo. Os dados são apresentados em caracteres gigantes, para que ninguém possa fingir que não viu. Em especial os gênios que resolveram cortar o patrocínio de empresas estatais ao cinema, baixar o teto da lei de incentivo comprometendo a organização de festivais, acabar com o Ministério da Cultura e cortar a verba federal para divulgação e comercialização internacional de filmes, enquanto o TCU mantém o investimento da Ancine em novos filmes e séries paralisados em todo o país e o mercado é entregue à distribuição predatória dos estúdios americanos. “Muito prazer, nós somos a indústria audiovisual do Brasil”, conclui a narração do final do vídeo. Aproveite para conhecê-la, enquanto ainda existe.
Revista americana Variety destaca crise do cinema brasileiro sob Bolsonaro
A imagem internacional da cultura brasileira já é de crise nos Estados Unidos. A revista Variety, uma das mais tradicionais publicações americanas sobre o mercado de entretenimento, publicou uma reportagem sobre a paralisação da indústria de cinema e TV do Brasil, sob o governo de Jair Bolsonaro. A revista vê a cultura brasileira ameaçada por cortes de incentivos do governo, e lamenta a estagnação do prestigioso cinema brasileiro “A agência brasileira Ancine, a principal fonte de financiamento público do cinema do país, congelou todos os seus programas de incentivo potencialmente paralisando novas produções da maior indústria de cinema e TV da América Latina”, publicou a Variety. Segundo a publicação, a decisão “dramática” deixou a indústria cinematográfica do país em choque e muito preocupada com o futuro. Também houve o corte de patrocínio estatal, o fim do Ministério da Cultura e o enterro da lei Rouanet, rebatizada de Lei de Incentivo a Cultura e com diversas restrições. Mas a Variety apontou outros dados do desmantelamento da rede de apoio estatal à produção cultural brasileira, que nem a imprensa nacional chegou a noticiar com o devido destaque. A revista revelou que a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) está descontinuando seu apoio financeiro para o programa Cinema do Brasil, voltado à exportação de filmes brasileiros. Até a eleição de Bolsonaro, o Departamento Cultural do Itamaraty, no Ministério das Relações Exteriores, trabalhava junto a entidades públicas e privadas do setor audiovisual para fortalecer a presença de filmes e programas televisivos brasileiros no mundo, com o objetivo de divulgar a cultura nacional e facilitar contatos com vistas à comercialização dos bens audiovisuais. Isto acabou. A Variety também destacou o fim do apoio da Petrobras aos principais eventos de cinema do Brasil, lembrando que “a Petrobras figurou por duas décadas como o maior patrocinador corporativo do setor”. “O congelamento de incentivos apareceu em um contexto de animosidade não disfarçada entre a indústria de cinema e TV e grandes parcelas do governo Bolsonaro, que vê a indústria de entretenimento brasileira como um ralo de orçamento federal”, diz a reportagem. “A grande questão para a indústria é se o congelamento de incentivos é uma moratória temporária ou parte de um desmantelamento contínuo do apoio crucial do governo à indústria brasileira de TV e cinema. A atual falta de visibilidade de qualquer resposta a essa pergunta é, em si mesma, um fator incapacitante para novas produções”, acrescenta o texto. A revista conclui que a tensão entre o governo e os produtores de cinema e TV deve gerar protestos ao longo das próximas semanas, com possíveis manifestações durante apresentações brasileiras em grandes eventos internacionais, como o Festival de Cannes.
Bolsonaro confirma ordem de cortar financiamento ao “setor que alguns dizem ser de cultura”
O presidente Jair Bolsonaro usou sua conta pessoal no Twitter para confirmar que determinou a revisão de contratos vigentes e “possibilidades futuras” da Petrobras ligados “ao setor que alguns dizem ser de cultura”. Segundo Bolsonaro, “a ordem é saber o que fazer com bilhões da população brasileira”. “Respeitando a aplicabilidade do dinheiro público, determinamos a revisão dos contratos vigentes e possibilidades futuras da Petrobras ligados ao setor que alguns dizem ser de cultura. A ordem é saber o que fazem com bilhões da população brasileira”, escreveu. Obedecendo à determinação do presidente, a Petrobras revelou na semana passada que não renovará o patrocínio de 13 eventos neste ano, o que inclui a Mostra de Cinema de São Paulo, o Festival do Rio, o Festival de Brasília e o Anima Mundi, entre outros projetos. Em fevereiro, Bolsonaro já tinha anunciado seu espanto com o investimento da Petrobras em Cultura, ao expor números não fundamentados no Twitter. “A soma dos patrocínios dos últimos anos passa de R$ 3 BILHÕES”, tuitou o presidente, aproveitando para afirmar que o Estado “tem maiores prioridades”. Vale lembrar que, com um único telefonema no começo do mês, mandando reverter aumento no preço do diesel, Bolsonaro deu prejuízo de R$ 32 BILHÕES (para usar a mesma grafia inflamada do presidente) para a Petrobras. O suficiente para décadas de investimento de Cultura, segundo cálculos dele mesmo. Bolsonaro também extinguiu o Ministério da Cultura e congelou a aprovação de novos projetos na Lei Rouanet desde que assumiu a Presidência em janeiro. Nenhum projeto foi aprovado para receber incentivo em quase cinco meses de governo. E não há prazo para o descongelamento, que só deve acontecer quando forem aprovadas mudanças na Lei. O presidente pretende estabelecer o teto de R$ 1 milhão por projeto, o que também acerta os festivais de cinema do Brasil. Paralelamente, o TCU paralisou a Ancine, proibindo-a de investir em novos projetos de cinema e séries nacionais. É uma tempestade perfeita, que tende a culminar na maior catástrofe sofrida pela indústria cultural do país, com resultados já vistos sob o governo Collor: estagnação da produção cultural, aumento no índice de desempregados, quebradeira de empresas, impacto no consumo e na economia (recessão) e queda na arrecadação dos impostos que o governo deixará de receber do setor. Para justificar seus cortes, Bolsonaro publicou um vídeo junto do texto. O material, sem fonte clara – como tem sido praxe na comunicação do governo – , é uma versão editada de um noticiário da Globo News, submetida à tática de choque “golden shower” do presidente. Ele incorpora flashes aleatórios, alguns escatológicos, outros “apenas” preconceituosos, para forçar generalização sobre “o setor que alguns dizem ser de cultura”. Entre os exemplos subliminares está um pôster do filme “Lula, o Filho do Brasil”, que apesar de ser um vexame, não foi feito com dinheiro da Petrobras – ao menos, não diretamente – nem usou qualquer lei de incentivo fiscal federal, estadual ou municipal. Outro exemplo foi o flash de cartaz de um Encontro Nacional de Arte e Cultura LGBT de 2014, com destaque para o fato de que ele ocorreu no Centro Petrobras de Cinema. A imagem entrou no momento em que a cineasta Lais Bodanzky (“Como Nossos Pais”), presidente da Spcine, falava sobre a importância do Festival do Rio, que é dos eventos ameaçados após os cortes da Petrobras. Tendo em vista que todas as imagens aleatórias tem o objetivo de “negativar” as falas apresentadas, o uso do cartaz trata a cultura LGBT como se fosse uma perversão. O vídeo editado segue incorporando fake news, preconceito e generalizações de forma subliminar, para formar opiniões a partir de presunções completamente equivocadas. É uma técnica de lavagem cerebral, popularizada durante a Guerra Fria, para fomentar ódio contra aquilo que é mostrado. Uma das cenas mais icônicas do clássico filme “Laranja Mecânica” (1971), de Stanley Kubrick, lança mão de projeções de filmes para fazer lavagem cerebral no protagonista. O objetivo é recondicionar Alex (Malcolm McDowell) a reagir com repulsa a determinadas situações exemplificadas nas imagens. O condicionamento pela repulsa se alia à outra tática de lavagem cerebral. Você conhece o ditado que diz que “uma mentira contada mil vezes se transforma em uma verdade”? Pois o cérebro humano funciona mais ou menos dessa maneira e, quando não está preparado, cai nas armadilhas da repetição e do reforço de falsidades, passando a acreditar numa visão de mundo completamente mentirosa. Contrariando a visão de mundo do presidente, a Petrobras foi responsável por salvar o cinema brasileiro, junto da Lei Rouanet, do caos criado por Fernando Collor de Mello ao extinguir a Embrafilme – isto e a popularização da música sertaneja foram os maiores legados culturais de Collor, ao passo que a destruição da Cultura nacional será o legado de Bolsonoro. Em release divulgado em dezembro passado, dias antes de Bolsonaro assumir o poder, a Petrobras ainda se dizia orgulhosa de sua atuação como incentivadora do cinema nacional. “São 22 anos e mais de 500 títulos entre longas e curtas metragens que fizeram da Petrobras a principal parceira da Retomada do Cinema Brasileiro, atuando em todos os elos da cadeia produtiva do setor audiovisual”, diz o texto, que ainda acrescenta: “Acreditamos em especial na importância do apoio aos festivais de cinema por promoverem o lançamento e circulação de novos filmes, estimularem a formação de plateia e constituírem espaços privilegiados de debate e reflexão sobre o audiovisual”. “Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil” e “O Quatrilho”, indicado ao Oscar, foram as primeiras produções cinematográficas que contaram com patrocínio da Petrobras. Com seu sucesso e repercussão internacional, os dois filmes de 1995 mudaram os rumos do cinema brasileiro, que foi quebrado por Collor, impichado por corrupção. Um dos slogans da Petrobras até o ano passado celebrava: “Para nós, Cultura é uma energia poderosa que movimenta a sociedade”. Respeitando a aplicabilidade do dinheiro público, determinamos a revisão dos contratos vigentes e possibilidades futuras da Petrobras ligados ao setor que alguns dizem ser de cultura. A ordem é saber o que fazem com bilhões da população brasileira. https://t.co/qc56MPKV7e — Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 21, 2019
Petrobras vai ajudar a distribuir os filmes vencedores de três festivais brasileiros
A Petrobras retomou de forma forte a associação de sua marca com o cinema brasileiro, por meio da criação de um prêmio com seu nome. A iniciativa merece destaque, porque o Prêmio Petrobras de Cinema vai reforçar o ponto mais frágil da produção cinematográfica nacional: a distribuição. Com um investimento total de R$ 900 mil, a empresa pretende ajudar a distribuir os filmes vencedores de três dos maiores festivais de cinema do país, coincidentemente já patrocinados pela Petrobras: o Festival de Brasília, o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo. Com isso, o lançamento comercial dos filmes premiados em salas de cinema também será garantido. É um escândalo cultural, mas vencer um desses festivais não dava certeza de estreia nos cinemas. Que o diga o diretor Vinicius Coimbra, cujo excelente “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” venceu o Festival do Rio em 2011 e só conseguiu ser lançado em 15 salas quatro anos depois. O montante investido em 2017 será repartido entre os três festivais, de acordo com as categorias e critérios pré-estabelecidos (veja os detalhes ao final do texto). Os prêmios de R$ 200 mil garantem a distribuição do filme em pelo menos 15 salas e cinco praças ao longo dos primeiros 90 dias de lançamento comercial. Já os prêmios de R$ 100 mil irão garantir a distribuição em pelo menos dez salas e três praças no mesmo período. Veja abaixo como serão repartidos os montantes do prêmio: Festival de Brasília R$ 200 mil para melhor filme de longa-metragem da Mostra Competitiva Nacional R$ 100 mil para melhor filme de longa-metragem da Mostra Brasília Festival do Rio R$ 200 mil para melhor filme de ficção de longa-metragem da Premiére Brasil R$ 100 mil para melhor filme de longa-metragem da Mostra Novos Rumos Mostra de São Paulo R$ 200 mil para melhor filme para longa-metragem de ficção brasileiro R$ 100 mil para melhor filme para longa-metragem documentário brasileiro







