Diretora de “Democracia em Vertigem” está filmando CPI da Covid
Em meio a um documentário sobre a pandemia, a diretora Petra Costa passou os últimos dias acompanhando e filmando senadores que integram a CPI da Covid. Indicada ao Oscar por “Democracia em Vertigem” (2019), a cineasta está trabalhando no novo filme há um ano. Em sua gênese, o projeto seria um mosaico de depoimentos sobre o confinamento causado pela pandemia, mas logo no começo de sua produção ficou claro que a doença estava saindo do controle devido à politização e ao avanço de uma retórica da morte nas redes sociais bolsonaristas. “Eu acho que a pandemia revela muito do que não era óbvio para todos: essa retórica fascista estava escondida atrás da retórica do ódio pelo diferente, pela esquerda, pelo Partido dos Trabalhadores, pelos artistas, gays, mulheres”, opinou a cineasta, em registro da revista Variety, em maio do ano passado. “O que o coronavírus mostra é que se trata de um ódio pela humanidade. Um desejo pela morte”, apontou. Na época da entrevista, o projeto foi apresentado com o título de “Distopia”, mas isso pode mudar, conforme a produção ganha novos desdobramentos.
Padre Julio Lancellotti “abençoa” especial de Natal do Porta dos Fundos
O novo especial de Natal do Porta do Fundos, “Teocracia em Vertigem”, foi lançado na quinta (10/12) no YouTube e já começou a repercutir nos círculos religiosos. Mas desta vez recebeu até elogios. O Padre Julio Lancellotti, que recentemente recebeu o Prêmio de Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, surpreendeu seus seguidores ao abençoar (no sentido de dar seu aval) o trabalho dos humoristas. Em um post publicado em suas redes sociais, ele compartilhou o slogan da campanha de divulgação do filme do canal humorístico: “#NãoAssista Teocracia em Vertigem”. E acrescentou: “Assisti! Impressionante!”. Curiosamente, o trailer da produção incluía condenações prévias de figuras religiosas e conservadoras do país, fazendo até uma sugestão ao distinto público que protestou contra o especial do ano passado: “Você que cancelou a Netflix, prepara-se para cancelar o YouTube”. Desde 2013, os especiais de Natal do Porta dos Fundos polemizam temas relacionados à Bíblia, utilizando a figura de Jesus para fazer humor político. Isso valeu a Fabio Porchat e cia inúmeras críticas, ameaças, processos judiciais e até mesmo atentado com bomba incendiária, especialmente nos dois últimos anos, quando os programas foram disponibilizados pela Netflix. Por isso, o aval positivo de Julio Lancelloti surpreendeu até o elenco. “Que alegria ler isso. Feliz demais”, comentou Fábio Porchat, intérprete de Jesus e autor do roteiro do especial deste ano. Em “Teocracia em Vertigem”, o Porta dos Fundos optou por satirizar o cenário político brasileiro desde o impeachment de Dilma Rousseff, usando como base o golpe que levou à crucificação de Cristo. Assim, várias referências políticas brasileiras aparecem na trama bíblica, como micheques (cheques misteriosos) de Fabrício Queiroz, que são usados para pagar Judas, e nas justificativas de votos em Barrabás, um personagem até então do baixo clero. Para estruturar o projeto, o grupo escolheu um formato de falso documentário com depoimentos individuais, que serviu de alternativa à impossibilidade de gravar normalmente com aglomeração de pessoas, por causa da pandemia. O título, inclusive, presta homenagem a “Democracia em Vertigem”, documentário de Petra Costa sobre o mesmo tema – não o Natal, o impeachment – , que foi indicado ao Oscar. A nova produção ainda conta com várias participações especiais, desde a citada Petra Costa à várias figuras da cultura pop nacional, como Emicida, Thati Lopes, Clarice Falcão, Daniel Furlan, Emicida, Gabriel Louchard, Hélio de la Peña, Marcos Palmeira, Raphael Logam, Renato Góes, Teresa Cristina, Yuri Marçal, Marco Gonçalves, entre outros nomes, além de Arnaldo Antunes, que contribui com uma música – a regravação da canção “Marcha do Demo”, dos Titãs. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Padre Julio Lancellotti (@padrejulio.lancellotti)
Arnaldo Antunes se junta ao Porta dos Fundos em clipe de novo especial de Natal
O canal do Porta dos Fundos no YouTube lançou o clipe de “Marcha do Demo”, marchinha carnavalesca dos Titãs, cantada por Arnaldo Antunes, que embala o novo especial de Natal do grupo. O vídeo traz o cantor e os integrantes do Porta dos Fundos em participações à distância, além de incluir cenas dos bastidores das gravações do programa, batizado de “Teocracia em Vertigem”. Com título inspirado no documentário “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, a produção transforma a situação política brasileira atual em paródia bíblica, via reflexões sobre o golpe que levou à crucificação de Jesus – vivido por Fábio Porchat. Outras referências aparecem quando micheques (cheques misteriosos) de Fabrício Queiroz são usados para pagar Judas e nas justificativas de votos em Barrabás, um personagem até então do baixo clero. A estrutura documental do projeto foi uma saída encontrada diante da impossibilidade de gravar normalmente, por causa da pandemia, com a presença de dezenas de pessoas juntas. O formato escolhido permite a gravação de depoimentos individuais, de forma caseira, e deve ser recheado com imagens de outros especiais. A tradição dos especiais de Natal do Porta dos Fundos vem desde 2013 no YouTube, mas só passou a ter repercussão a partir de 2018, com “Se Beber, Não Ceie”, quando o grupo estabeleceu uma parceria com a Netflix e venceu o Emmy Internacional. A parceria foi desfeita após a polêmica do ano passado – a Netflix nem teria inscrito “A Primeira Tentação de Cristo” no Emmy Internacional – e o Porta dos Fundos acabou decidindo voltar a produzir o especial por conta própria e exibi-lo no seu canal no YouTube, que conta com 16,5 milhões de assinantes. Em vez de comemorar a “vitória” de sua pressão, os conservadores deveriam se preocupar, porque no YouTube, que é de graça, o especial será visto por mais pessoas que se tivesse sido lançado na Netflix. A nova produção contará com várias participações especiais, desde a citada Petra Costa a várias figuras da cultura pop nacional, como Emicida, Thati Lopes, Clarice Falcão, Daniel Furlan, Emicida, Gabriel Louchard, Hélio de la Peña, Marcos Palmeira, Raphael Logam, Renato Góes, Teresa Cristina, Yuri Marçal, Marco Gonçalves, entre outros nomes. . O lançamento vai acontecer em 10 de dezembro.
Teocracia em Vertigem: Veja o trailer do novo especial de Natal do Porta dos Fundos
O Porta dos Fundos divulgou o pôster e o trailer de seu especial de Natal de 2020, batizado de “Teocracia em Vertigem”. A prévia abre com participação da cineasta Petra Costa, diretora do documentário “Democracia em Vertigem”, que inspira o título da nova produção, e segue com cenas que remetem ao Impeachment de Dilma Rousseff, alterado na trama para refletir a crucificação de Jesus – vivido por Fábio Porchat. Outras referências políticas brasileiras aparecem quando micheques (cheques misteriosos) de Fabrício Queiroz são usados para pagar Judas e nas justificativas de votos em Barrabás, um personagem até então do baixo clero. O tom debochado já inclui condenações de figuras religiosas e conservadoras do país, e faz uma sugestão ao distinto público que protestou contra o especial do ano passado: “Você que cancelou a Netflix, prepara-se para cancelar o YouTube”. A estrutura documental do projeto foi uma saída encontrada diante da impossibilidade de gravar normalmente, por causa da pandemia, com a presença de dezenas de pessoas juntas. O formato escolhido permite a gravação de depoimentos individuais, de forma caseira, e deve ser recheado com imagens de outros especiais. A tradição dos especiais de Natal do Porta dos Fundos vem desde 2013 no YouTube, mas só passou a ter repercussão a partir de 2018, com “Se Beber, Não Ceie”, quando o grupo estabeleceu uma parceria com a Netflix e venceu o Emmy Internacional. A parceria foi desfeita após a polêmica do ano passado – a Netflix nem teria inscrito “A Primeira Tentação de Cristo” no Emmy Internacional – e o Porta dos Fundos acabou decidindo voltar a produzir o especial por conta própria e exibi-lo no seu canal no YouTube, que conta com 16,5 milhões de assinantes. Em vez de comemorar a “vitória” de sua pressão, os conservadores deveriam se preocupar, porque no YouTube, que é de graça, o especial será visto por mais pessoas que se tivesse sido lançado na Netflix. A nova produção contará com várias participações especiais, desde a citada Petra Costa a várias figuras da cultura pop nacional, como Emicida, Thati Lopes, Clarice Falcão, Daniel Furlan, Emicida, Gabriel Louchard, Hélio de la Peña, Marcos Palmeira, Raphael Logam, Renato Góes, Teresa Cristina, Yuri Marçal, Marco Gonçalves, entre outros nomes. E Arnaldo Antunes ainda faz uma interpretação da canção “Marcha do Demo”, dos Titãs. O lançamento vai acontecer em 10 de dezembro.
Novo especial de Natal do Porta dos Fundos vai se chamar Teocracia em Vertigem
O grupo Porta dos Fundos definiu o tema e o título de seu próximo especial de Natal. Depois de sofrer atentado à bomba incendiária e enfrentar a ira de religiosos e políticos conservadores por mostrar um Jesus Cristo em relação gay no especial “A Primeira Tentação de Cristo”, os humoristas vão contra-atacar os detratores com “Teocracia em Vertigem”. O título referencia o premiado documentário “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, que aborda o impeachment da presidente Dilma Rousseff e concorreu ao Oscar no início deste ano. A revelação foi feita pelo jornalista Maurício Stycer, acrescentando que a produção terá clima documental e vai reunir depoimentos dos apóstolos, de Pôncio Pilatos e de testemunhas anônimas da história para contar “a verdadeira história por trás do golpe que levou à crucificação de Jesus Cristo”. Até Petra Costa teria topado fazer uma participação especial. A produção deve incluir muitas analogias com a situação atual do país e do mundo, em que fundamentalistas religiosos e políticos promovem o ódio em nome de Deus. Autor do roteiro final, Fábio Porchat voltará a viverá Jesus na produção, como em “Se Beber, Não Ceia”. Mas não vai passar sermão. Seu personagem não deve falar, apenas cantar. A ideia foi de Gabriel Esteves, um dos roteiristas do Porta, diante da impossibilidade de gravar normalmente, por causa da pandemia, com a presença de dezenas de pessoas juntas. O formato de documentário permite a gravação de depoimentos individuais, de forma caseira, e será recheado com imagens de outros especiais. A tradição dos especiais de Natal do Porta dos Fundos vem desde 2013 no YouTube, mas só passou a ter repercussão a partir de 2018, com “Se Beber, Não Ceie”, quando o grupo estabeleceu uma parceria com a Netflix e venceu o Emmy Internacional. A parceria foi desfeita após a polêmica do ano passado – a Netflix nem teria inscrito “A Primeira Tentação de Cristo” no Emmy Internacional – e o Porta dos Fundos acabou decidindo voltar a produzir o especial por conta própria e exibi-lo no seu canal no YouTube, que conta com 16,5 milhões de assinantes.
Petra Costa diz que coronavírus revela “ódio pela humanidade” de alguns políticos
A cineasta Petra Costa, indicada ao Oscar 2019 pelo documentário “Democracia em Vertigem”, apresentou uma masterclass de três horas em streaming no festival de cinema suíço Visions du Reél, na quinta-feira (30/4), em que falou de seu próximo projeto, o documentário “Distopia”, sobre as consequências da pandemia do novo coronavírus. Falando sobre o aspecto político da covid-19, ela diz ter constatado que a doença deixou claro o fascismo de alguns líderes políticos, especialmente no Brasil. “Eu acho que a pandemia revela muito do que não era óbvio para todos: essa retórica fascista estava escondida atrás da retórica do ódio pelo diferente, pela esquerda, pelo Partido dos Trabalhadores, pelos artistas, gays, mulheres”, opinou a cineasta, em registro da revista Variety. “O que o coronavírus mostra é que se trata de um ódio pela humanidade. Um desejo por morte”, apontou. O novo filme de Petra Costa, cujo título veio à tona na palestra, é um filme sobre o isolamento social a partir do ponto de vista da população brasileira, conforme atravessa o atual período. Para reunir as imagens, ela fez um pedido em suas redes sociais para que pessoas de todo o país encaminhassem vídeos com seus cotidianos e testemunhos da pandemia. “Estamos coletando narrativas e perspectivas de várias pessoas sobre suas quarentenas. Eu convido a qualquer um que queira compartilhar suas imagens e vamos pagar por tudo caso as utilizemos. Adoraríamos compor um mosaico com as mais variadas visões”, ela explicou. Contatos e vídeos devem ser encaminhados para o email dystopia@buscavidefilmes.com. A tendência é que o resultado seja tão polarizador quanto “Democracia em Vertigem”, pois o Brasil jamais deixou de lado a polarização desde o Impeachment de Dilma Rousseff, culminando na eleição de Jair Bolsonaro à presidência. Na palestra, Petra explicou que “Democracia em Vertigem” foi resultado de seu tempo. “O filme só poderia ser polarizador porque o que aconteceu era polarizador. Construíram um muro em frente ao Congresso. Qualquer filme sobre o que aconteceu no Brasil nos últimos cinco anos seria polarizador”, explicou. “Eu já estava lidando com essa divisão dentro da minha própria família e como encontrava essa contradição do Brasil ali”, relembrou. Sobre a possibilidade de uma continuação de seu documentário mais famoso e premiado, Petra deixou a questão em aberto. “É algo que me assombra também. Não tenho resposta para isso ainda”, admitiu.
Diretora de Democracia em Vertigem prepara projeto sobre o coronavírus no Brasil
A diretora Petra Costa, do documentário indicado ao Oscar “Democracia em Vertigem”, definiu um novo projeto. Segundo a colunista Monica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, ela vai pedir em suas redes sociais para que pessoas de todo o Brasil encaminhem vídeos com seus testemunhos de como estão vivendo nesses tempos da pandemia do novo coronavírus. “Queremos fazer um mosaico de visões do Brasil, de como cada um está vivendo esse momento histórico intenso de dentro de suas casas, de seus bairros, de suas comunidades”. Maiores detalhes devem surgir em breve.
Petra Costa conta detalhes de seus encontros com astros de Hollywood nos bastidores do Oscar 2020
Petra Costa, diretora de “Democracia em Vertigem”, revelou o que conversou com os astros de Hollywood nos bastidores de sua participação no Oscar 2020. O documentário da cineasta brasileira, sobre a trajetória do impeachment de Dilma Rousseff, concorreu ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA, levando-a a participar de vários eventos oficiais relacionados à premiação. No podcast Anticast, apresentado por Ivan Mizanzuk, ela relatou os bastidores de seus encontros com as estrelas do cinema americano, que chegou a destacar em suas redes sociais. “Com o Leonardo DiCaprio, tive o prazer de ser apresentada pra ele pela Sônia [Guajajara, líder indígena] e ele falou: ‘Nossa, já estou ajudando uma fundação a qual a Sonia é associada, então fico feliz de vê-la. Mas eu fui atacado pelo seu presidente’. E a Sônia falou: ‘Eu também’. E eu: ‘Eu também!’. Então, nós três tínhamos isso em comum”, contou Petra. DiCaprio disse para Petra que, inclusive, já tinha assistido a “Democracia em Vertigem. “Ele tinha visto o filme, falou que gostou muito do filme e que tinha achado superinteressante. Ficamos de conversar mais. Eles [Leo e Sonia] têm feito algumas ações juntos”. “Conversei também com [Robert] De Niro, que ajudou em todos os meus filmes por meio da fundação dele, a Tribeca. Ele foi muito simpático. O Tarantino foi superlegal. Contei um pouco do filme e ele prometeu que ia ver, foi muito simpático. E com o Brad Pitt falamos sobre o filme, ele falou muito de uma série [sobre o Brasil] que gosta muito, ‘Bandidos na TV'”, afirmou Petra, citando a atração da Netflix sobre a história do apresentador Wallace Souza. Ela também contou que, como qualquer pessoa normal, não resistiu e tietou alguns de seus ídolos, especialmente De Niro e Al Pacino. “Robert DeNiro eu apresentei pra minha mãe, e ela cantou uma música para ele. E o Al Pacino eu não aguentei e falei: ‘Você é o melhor da história. Você é o Deus e o Diabo do cinema’. Ele ficou todo tocado, chocado, não sei…”, riu a diretora. Durante a entrevista, ela adiantou que já está trabalhando num novo projeto cinematográfico. “Estou trabalhando, mas ainda não prefiro falar muito. É um projeto que continuo na investigação, que é na intersecção entre pessoal e político, mas em breve poderei falar mais.” Mas não deve ser um desdobramento de “Democracia em Vertigem”, apesar de achar que as sobras de material poderiam render outros filmes. “Daria muitos filmes”, disse, afirmando que quer partir para outros temas. “Foram três anos de imersão completa e total. Estou adorando pensar em outros temas. Eu tive um cansaço dessa temática. Mas teria outros filmes a se fazer. Há discussões interessantes com congressistas, aprofundando sobre o que deixa a democracia brasileira tão disfuncional. Todos os partidos concordam que o Brasil precisa de uma reforma política. Que nosso sistema eleitoral é impossível. Seria interessante que alguém explorasse”, avaliou.
Parasita tem vitória histórica no Oscar 2020
Bong Joon Ho não tem hora para parar de celebrar. Ele avisou duas vezes que pretendia comemorar com bebidas, ao receber os troféus de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme Internacional por “Parasita”, na premiação do Oscar 2020, que aconteceu na noite de domingo (9/2) no Dolby Theatre, em Los Angeles. Ainda não tinha começado o primeiro drinque quando ouviu seu nome ser chamado novamente, como Melhor Diretor. Em estado de legítima perplexidade, conseguiu citar como Martin Scorsese influenciou sua carreira, além de agradecer a Quentin Tarantino por sempre falar de seus filmes quando ninguém o conhecia. E saiu do palco extasiado, acreditando ter feito História com sua participação na cerimônia. Mas estava enganado. Precisou voltar mais uma vez, quando “Parasita” venceu o Oscar de Melhor Filme do ano. O cineasta sul-coreano foi responsável pela maior surpresa dos 92 anos da História do Oscar. Isto porque nunca antes um filme falado em língua estrangeira tinha vencido o troféu principal da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA. “Parasita” venceu o troféu principal da cerimônia… e mais três. Individualmente, Bong Joon Ho ficou com quatro Oscars, o que também é um feito histórico – anteriormente, apenas Walt Disney tinha vencido quatro troféus na mesma cerimônia, mas todos como produtor e por filmes diferentes em 1954. É interessante reparar o contexto que tornou possível essa reviravolta espetacular. Ao buscar maior inclusão, após a recepção negativa da falta de representatividade racial entre os indicados ao Oscar 2016, a Academia decidiu aumentar a presença de minorias em seus quadros e ampliou convites para artistas internacionais. Cineastas, roteiristas, produtores, técnicos e atores de mais países passaram a votar na premiação, fazendo disparar a quantidade de membros da Academia, que somou quase dois mil novos eleitores do Oscar em quatro anos. Isso, sem dúvida, mexeu com o DNA do troféu. Os eleitores estrangeiros não fazem parte das panelinhas de Hollywood, não trabalharam anteriormente com os indicados e não avaliam os filmes pelo ponto de vista da indústria cinematográfica americana. Em outras palavras, seus votos desconsideram interesses do mercado local dos EUA. É fato que a vitória do francês “O Artista” em 2012 já tinha aberto uma brecha. Mesmo assim, aquele filme não era falado em idioma estrangeiro (era cinema mudo) e fazia uma homenagem a Hollywood. O sinal de que algo estava mudando foi dado apenas no ano passado, com as três vitórias do mexicano “Roma”. O filme falado em espanhol venceu, entre outros, um prêmio de Melhor Direção. A conquista de “Parasita”, claro, é muito maior, incomparável. O Melhor Filme do ano é estrelado por atores sul-coreanos que não fazem parte do SAG, realizado por um equipe estrangeira não filiada aos sindicatos hollywoodianos e exibido nos cinemas dos EUA com legendas. Se a consagração de “Moonlight”, um filme indie com diretor negro, elenco negro e temática LGBTQIA+, causou um terremoto nos bastidores da premiação em 2017 – a rede ABC exigiu mais filmes populares em nome da audiência – , a vitória de “Parasita” deve trazer consequências ainda maiores. Os otimistas podem imaginar uma abertura definitiva do prêmio – e do mercado americano – para o resto do mundo. Os realistas, porém, já devem estar calculando o tamanho da reação do mercado, dos sindicatos e dos estúdios americanos contra essa internacionalização. O slogan “America First” não venceu uma eleição nos EUA por acaso. Curioso, ainda, que “Parasita” tenha sido tão bem-recebido, em proporção inversa ao desdém dispensado a “A Despedida” (The Farewell), de Lulu Wang, barrado no Oscar. O vencedor do Spirit Awards (o “Oscar” do cinema independente) no sábado (8/2) também tinha cineasta e elenco asiático e foi exibido com legendas. Mas, diferente da obra sul-coreana, era uma produção americana, com diretora americana e diversos atores nascidos no país. Neste sentido, a eleição de “Parasita” também pode ser vislumbrada como um voto de protesto contra a seleção de concorrentes feita pela Academia – “A Despedida” não foi o único longa injustiçado. A verdade é que a tão evidente falta de diversidade entre os indicados se deu como efeito colateral da pressão de bastidores por uma seleção de filmes populares. Dentre as opções oferecidas, “Parasita” era um dos poucos filmes (ao lado de “Adoráveis Mulheres”) que não contava histórias de homens brancos heterossexuais, geralmente em luta – às vezes em guerra – por ideais masculinos de poder e superioridade. Joaquin Phoenix, que assimilou perfeitamente a mensagem de “Coringa”, fez um discurso sensível nesse sentido, ao aceitar seu Oscar de Melhor Ator. Ao falar das diferentes causas sociais que engajam seus colegas, ele sintetizou: “Lutamos contra a noção de que uma nação, um povo, uma raça, um gênero ou uma espécie tem o direito de dominar, controlar, usar e explorar a outra com impunidade”. A vitória de “Parasita” rechaçou o viés conservador ensaiado para o Oscar 2020, representado pelas histórias de homens heterossexuais brancos, que dominaram as indicações – como se esse tipo de narrativa fosse mais indicado a prêmios. Exceção gritante, o filme sul-coreano não tinha apenas etnia diversa, mas equilíbrio entre papéis masculinos e femininos, além de franco questionamento social – “marxismo cultural”, já que trata da luta de classes. A ressaca de Bong Joon Ho também é, portanto, fruto de resistência cultural. Ao barrar o cinema indie, a Academia deixou aberta uma fresta para o cinema mundial, que se transformou em saída. E, ironicamente, a empresa que trouxe o longa sul-coreano para os EUA foi um estúdio indie, o Neon, completando a vingança. Importante destacar ainda outro aspecto da internacionalização da Academia, menos evidente que a vitória de “Parasita”. No domingo, várias conquistas foram celebradas por artistas estrangeiros também em filmes americanos. Para citar alguns, o neozelandês Taika Waititi venceu a categoria de Melhor Roteiro Adaptado por “Jojo Rabbit” e a islandesa Hildur Guðnadóttir assinou a Melhor Trilha em “Coringa”. Tratam-se de vitórias com alcances duradouros, que vão além da entrega dos troféus. Lembrem-se que a simples indicação ao Oscar costuma render convite para os nomeados ingressarem na Academia. A brasileira Petra Costa, por exemplo, não venceu a disputa de Melhor Documentário – o único candidato americano faturou a categoria, numa inversão em relação ao troféu de Melhor Filme – , mas ajudará a escolher o vencedor de 2021. Mais estrangeiros estarão votando no próximo ano. Assim, se a Academia superar as pressões do mercado americano, a tendência é o Oscar continuar surpreendendo. Mas pressões, com certeza, virão. A propósito, os que comemoraram a derrota do “marxismo cultural” representado por “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, podem não ter percebido, mas o discurso da vencedora da categoria, a cineasta Julia Reichert, de “Indústria Americana”, encerrou-se com uma citação ao “Manifesto Comunista”. “Os trabalhadores têm cada vez mais dificuldade hoje em dia, e acreditamos que as coisas vão melhorar quando os trabalhadores do mundo se unirem”, disse a americana, parafraseando o slogan “Trabalhadores do mundo, uni-vos”, que se tornou célebre na obra de Karl Marx e Friederich Engels. Para completar sem alongar demais, omitindo comentários para outras categorias remanescentes, vale ressaltar, mesmo que rapidamente, o reconhecimento à brilhante fotografia do inglês Roger Deakins, verdadeiro motivo de “1917” ter sido considerado, de véspera, o maior favorito ao Oscar. A lista completa dos filmes premiados pode ser conferida abaixo. Melhor Filme – “Parasita” “Ford vs Ferrari” “O Irlandês” “Jojo Rabbit” “Coringa” “Adoráveis Mulheres” “História De Um Casamento” “1917” “Era Uma Vez Em Hollywood” Melhor Direção – Bong Joon Ho – “Parasita” Sam Mendes – “1917” Martin Scorsese – “O Irlandês” Quentin Tarantino – “Era Uma Vez Em Hollywood” Todd Phillips – “Coringa” Melhor Atriz – Renée Zellweger – “Judy” Cynthia Erivo – “Harriet” Scarlett Johansson – “História De Um Casamento” Saoirse Ronan – “Adoráveis Mulheres” Charlize Theron – “O Escândalo” Melhor Ator – Joaquin Phoenix – “Coringa” Antonio Banderas – “Dor e Glória” Adam Driver – “História De Um Casamento” Jonathan Pryce – “Dois Papas” Leonardo DiCaprio – “Era Uma Vez Em Hollywood” Melhor Atriz Coadjuvante – Laura Dern – “História De Um Casamento” Margot Robbie – “O Escândalo” Kathy Bates – “O Caso Richard Jewell” Scarlett Johansson – “Jojo Rabbit” Florence Pugh – “Adoráveis Mulheres” Melhor Ator Coadjuvante – Brad Pitt – “Era Uma Vez Em Hollywood” Tom Hanks – “Um Lindo Dia na Vizinhança” Al Pacino – “O Irlandês” Joe Pesci – “O Irlandês” Anthony Hopkins – “Dois Papas” Melhor Roteiro Adaptado – Taika Waititi – “Jojo Rabbit” Greta Gerwig – “Adoráveis Mulheres” Anthony McCarten – “Dois Papas” Todd Phillips & Scott Silver – “Coringa” Steven Zaillian – “O Irlandês” Melhor Roteiro Original – Bong Joon Ho e Han Jin Won – “Parasita” Noah Baumbach – “História De Um Casamento” Rian Johnson – “Entre Facas e Segredos” Quentin Tarantino – “Era Uma Vez Em Hollywood” Sam Mendes & Kristy Wilson-Cairns – “1917” Melhor Fotografia – Roger Deakins – “1917” Jarin Blaschke – “O Farol” Rodrigo Pietro – “O Irlandês” Robert Richardson – “Era Uma Vez Em Hollywood” Lawrence Sher – “Coringa” Melhor Figurino – Jacqueline Durran – “Adoráveis Mulheres” Arianne Phillips – “Era Uma Vez Em Hollywood” Sandy Powell e Christopher Peterson – “O Irlandês” Mayes C. Rubeo – “Jojo Rabbit” Mark Bridges – “Coringa” Melhor Edição – Andrew Buckland e Michael McCusker – “Ford vs Ferrari” Yang Jinmo – “Parasita” Thelma Schoonmaker – “O Irlandês” Tom Eagles – “Jojo Rabbit” Jeff Groth – “Coringa” Melhor Maquiagem e Cabelo – “O Escândalo” “Coringa” “Judy” “Malévola: Dona do Mal” “1917” Melhor Trilha Sonora – Hildur Guðnadóttir – “Coringa” Alexandre Desplat – “Adoráveis Mulheres” Randy Newman – “História de um Casamento” Thomas Newman – “1917” John Williams – “Star Wars: A Ascensão Skywalker” Melhor Canção Original – (I’m Gonna) Love Me Again – “Rocketman” I’m Standing With You – “Superação: O Milagre da Fé” Into the Unknown – “Frozen 2” Stand Up – “Harriet” I Can’t Let You Throw Yourself Away – “Toy Story 4” Melhor Design de Produção – “Era Uma Vez Em Hollywood” “1917” “Parasita” “O Irlandês” “Jojo Rabbit” Melhor Edição de Som -“Ford vs. Ferrari” “Era Uma Vez Em Hollywood” “Coringa” “1917” “Star Wars: A Ascensão Skywalker” Melhor Mixagem de Som – “1917” “Ford vs Ferrari” “Coringa” “Era Uma Vez Em Hollywood” “Ad Astra” Melhores Efeitos Visuais – “1917” “Vingadores: Ultimato” “O Irlandês” “O Rei Leão” “Star Wars: A Ascensão Skywalker” Melhor Animação – “Toy Story 4” “Como Treinar o seu Dragão 3” “Perdi Meu Corpo” “Link Perdido” “Klaus” Melhor Documentário – “Indústria Americana” “The Cave” “Democracia em Vertigem” “For Sama” “Honeyland” Melhor Filme Internacional – “Parasita” (Coreia do Sul) “Les Misérables” (França) “Dor e Glória” (Espanha) “Corpus Christi” (Polônia) “Honeyland” (Macedônia) Melhor Curta Animado – “Hair Love” “Kitbull” “Dcera (Daughter)” “Memorable” “Sister” Melhor Curta Documentário – “Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)” “Life Overtakes Me” “In the Absence” “St. Louis Superman” “Walk Run Cha-Cha” Melhor Curta Live-Action – “The Neighbors’ Window” “Brotherhood” “Nefta Football Club” “Saria” “A Sister” Louise Alves
Pedro Bial se diz vítima, não se desculpa e repete frase machista contra Petra Costa
O apresentador Pedro Bial dobrou sua aposta no discurso machista contra Petra Costa, diretora do documentário “Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar 2020. Em artigo publicado no jornal O Globo deste domingo (9/2), ele disse que “experimentou um linchamento virtual” por ter criticada a diretora brasileira pelo filme, que tem 97% de aprovação no site Rotten Tomatoes, e voltou a repetir uma das frases machistas de seu ataque original. A polêmica começou numa entrevista à Rádio Gaúcha nesta semana, em que Bial afirmou que “Democracia em Vertigem” é uma “ficção alucinada”, “vai contando as coisas num pé com bunda danado”, com “narração miada, insuportável, onde ela [Petra Costa] fica choramingando o filme inteiro”. Acusado de machismo, inclusive por colegas, como a ex-repórter da Globo Cristina Serra, Bial ainda arrematou: “É um filme de uma menina dizendo para a mamãe dela que fez tudo direitinho, que ela está ali cumprindo as ordens e a inspiração de mamãe, somos da esquerda, somos bons, não fizemos nada, não temos que fazer autocrítica”. O ataque gratuito e de tom machista, que desrespeita a carreira premiada da jovem cineasta, foi amplamente criticado nas redes sociais. Por conta disso, Bial resolveu se defender. Mas sem pedir desculpas, assumindo papel de vítima e reforçando o machismo de suas convicções. “É com a carcaça moída e esfolada de tanta pancada virtual que venho a público acenar: bandeira branca. Amor. Eu peço paz”, escreveu, vitimista e parafraseador. “Esta semana, experimentei, mais uma vez, o que é estar na parte linchada de um linchamento virtual. Eu, que vivo de acolher as opiniões das pessoas, caí na temeridade de dar a minha. Eu não peço desculpas, nem peço que me peçam desculpas”, continuou. “Apanho sem berrar, só não me venham com o machismo de tratar como menina indefesa uma mulher que sabe bem se defender”. Importante lembrar que quem chamou a cineasta de menina foi o próprio Bial, não as pessoas que reclamaram desse menosprezo machista do apresentador. Além disso, como afirmou, ele não pediu desculpas. Bial disse ainda não reclamar, reclamando, “da prática jornalística de tirar de contexto e contrastar, a fim de buscar a essência da notícia”. “Parece fácil, mas é um exercício difícil, onde se erra mais do que se acerta. Por exemplo, publica-se antes a frase editada “é uma menina sob as ordens de mamãe”, do que a integral ‘numa leitura psicanalítica mais profunda, é uma menina sob as ordens de mamãe'”, escreveu. Ou seja, ele repetiu a crítica machista para defender-se, num jornal de grande circulação nacional, e ainda acrescentou justificativa pseudo-científica. Numa leitura psicanalista mais profunda, o caso não se encaixa como ato falho. Já se estabeleceu como padrão de comportamento.
Oscar 2020 pode consagrar reacionarismo ou surpreender radicalmente
A premiação ao Oscar 2020, que acontece neste domingo (9/2), tende a consagrar um momento de conservadorismo histórico da indústria cinematográfica americana. Mas não está descartada uma surpresa radical. Os detalhes desses resultados alternativos envolvem políticas de bastidores e as próprias regras da votação. Como não há possibilidade de prêmios fora da lista de indicados, já está registrado um grande retrocesso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, ao privilegiar majoritariamente histórias de homens brancos heterossexuais, após o esforço de diversificação da organização ter rendido um número recorde de mulheres premiadas e grande representatividade racial e sexual em 2019. Vale comparar. Na lista de concorrentes de Melhor Filme no Oscar 2019 estavam “Pantera Negra”, “Infiltrado na Klan”, “A Favorita”, “Roma”, “Nasce Uma Estrela”, “Bohemian Rhapsody”, “Vice” e “Green Book”. Apenas um desses filmes representava uma história de homem branco heterossexual: “Vice”, apropriadamente sobre um político de direita dos EUA. Neste ano, as tramas sobre brancos heterossexuais totalizam seis títulos, de um total de nove indicados ao Oscar de Melhor Filme: “Ford x Ferrari”, “O Irlandês”, “Jojo Rabbit”, “Coringa”, “1917” e “Era uma Vez em Hollywood”. Extremamente masculinos, filmes como “O Irlandês” e “1917” chegam a relegar mulheres a papéis de figuração. “1917” tem uma desculpa narrativa, já que mulheres não lutaram no front da 1ª Guerra Mundial. Mas “O Irlandês”, que projeta décadas de desenvolvimento de personagens, não tem qualquer justificativa para dar a sua principal atriz menos de uma página de diálogos. Apenas uma obra indicada ao Oscar de Melhor Filme é focada em personagens femininas: “Adoráveis Mulheres”, como deixa claro o título. E apenas uma tem personagens não brancos: “Parasita”, que é estrangeiro, realizado na Coreia do Sul. Por que o Emmmy consagra séries como “Fleabag”, “A Maravilhosa Sra. Meisel” e “Killing Eve” e o Oscar não consegue reconhecer tramas femininas? Como é possível ignorar o que o Spirit Awards, premiação do cinema independente americano, reconheceu há menos de 24 horas atrás, com a consagração de “A Despedida” (The Farewell), de Lulu Wang, como Melhor Filme do ano? Note-se: uma obra-prima com protagonistas femininas, escrito e dirigido por um mulher e com elenco inteiramente asiático. E que não recebeu uma mísera indicação ao Oscar. Para contrabalançar o fato de que prevaleceram histórias de homens, um comunicado dos organizadores buscou inverter a perspectiva ao destacar que 62 mulheres foram indicadas, compondo quase um terço dos candidatos ao Oscar deste ano. Nenhuma cineasta, porém, vai disputar o prêmio 100% masculino de Melhor Diretor. Greta Gerwig, que comandou “Adoráveis Mulheres”, conseguiu, ao menos, ser lembrada na vaga de Melhor Roteiro Adaptado. Mas vale comparar novamente: o Spirit Awards destacou três mulheres cineastas em sua premiação de Melhor Direção e ainda consagrou a (agora) cineasta Olivia Wilde como Revelação do ano, por “Fora de Série”. Por que tamanha diferença? É fácil encontrar explicação, bastando observar o momento de ruptura, em que o Oscar deixou de ser ousado. A premiação de “Moonlight”, de diretor negro, com elenco negro e temática homossexual, como Melhor Filme de 2017 deu início a uma pressão brutal da rede ABC, responsável pela transmissão da cerimônia nos EUA, por filmes mais convencionais. Com a justificativa supostamente não racista e não homofóbica de que dramas indies não têm apelo comercial para atrair audiência, o canal exigiu mudanças na premiação, desde a duração do evento até a “qualidade” dos indicados, com força econômica e contratual para forçar a Academia a se submeter. Vale lembrar que foi nesta época que a organização chegou a propor um prêmio para Filme Popular, que rendeu polêmica e acabou abortado. O Oscar 2020 se apresenta como resultado final dessa pressão. Nada mais é, portanto, que uma disputa entre filmes populares, reunindo a maior competição de blockbusters por estatuetas em décadas, quiçá de toda a História da premiação. “Coringa”, filme com maior número de indicações, fez mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias. Outros filmes de grande orçamento, como “Ford x Ferrari” e “1917”, também passaram pelo topo das bilheterias, e “Era uma Vez em Hollywood”, que fetichiza a Hollywood de antigamente, consagrou-se como um dos maiores sucessos da carreira do diretor Quentin Tarantino. Ainda por cima, todos os indicados são produções de grandes estúdios. Não há um longa independente sequer, quando a regra do século 21 era, até “Moonlight”, o contrário. O problema do Oscar também se estende aos consensos de comadres que resultam na consagração dos mais simpáticos e bonitos e não dos melhores atores, uma vez que se trata de uma votação entre colegas. Tanto que é possível garantir as premiações dos quatro nomes que disputam os prêmios de melhores intérpretes brancos deste ano: Joaquin Phoenix, Renée Zellweger, Brad Pitt e Laura Dern. Os dois primeiros seriam favoritos, de qualquer forma. Mas o quarteto inteiro? Por coincidência, são vitórias que deixam o Oscar já pouco diversificado com um tom mais loiro. Sam Mendes é outra barbada na categoria de Melhor Direção por “1917”? Está mais para seu Diretor de Fotografia, o veterano Roger Deakins. Nem dá para cravar que “1917” já pode ser considerado vencedor, horas antes da abertura do envelope de Melhor Filme. O Oscar mudou recentemente a forma como contabiliza os votos de sua categoria principal, criando a possibilidade de o vencedor não ser aquele mais votado como Melhor, e sim aquele que mais vezes aparecer nas células de votação – citado entre os melhores. Se, por exemplo, “Era uma Vez em Hollywood” (provável) ou “Parasita” (incrível) aparecer como segundo ou terceiro filme na preferência da maioria dos eleitores, pode acumular mais pontos, caso “1917” não seja eleito por unanimidade. Vale considerar que “1917”, apesar da narrativa convencional, é ousado tecnicamente, uma maravilha visual e o melhor filme de Sam Mendes desde sua estreia com “Beleza Americana”, quando venceu o Oscar pela primeira vez, há 20 anos, enquanto “Era uma Vez em Hollywood” representa seu oposto. A narrativa é anti-convencional, mas passa longe de ser o melhor trabalho de Quentin Tarantino, além de ser marginalmente racista e repetir a reviravolta subversiva de “Bastardos Inglórios” – é quase como se Tarantino virasse um sub-Tarantino, copiando a si mesmo. Só que a indústria cinematográfica adora se congratular e este filme tem até Hollywood em seu título. Uma vitória de “Parasita”, por outro lado, representaria algo completamente diferente, por abalar conceitos estabelecidos, como, por exemplo, o fato de o Oscar ser uma premiação de filmes americanos e não um troféu internacional. A vitória do francês “O Artista” em 2012 já tinha aberto uma brecha para o mundo. Mesmo assim, tratava-se de uma produção sem idioma estrangeiro (era cinema mudo) e uma homenagem a Hollywood (mais uma). “Roma” ensaiou assustar em 2019. Mas uma vitória de “Parasita”, com atores não brancos, equipe estrangeira e em língua não inglesa, seria um grande choque. Um novo paradigma. E sabe-se lá com que consequências. E o Oscar brasileiro? “Democracia em Vertigem” deveria ser o grande azarão da premiação. A disputa contra filmes premiadíssimos – e uma produção de Barack Obama – parecia encaminhar o fato de que sua vitória se resumia à própria indicação. Mas o documentário de Petra Costa ganhou grande impulso na reta final da votação, graças ao governo Bolsonaro, que o promoveu no mundo inteiro com ataques oficiais. Considerado vilão ambiental e inimigo da classe artística, por seus ataques pessoais ao “queridinho” Leonardo DiCaprio, Bolsonaro pode ter consagrado o longa com a mais inesperada vitória (ou a segunda, na possível chance de “Parasita” vencer como Melhor Filme) do Oscar 2020. A conferir, a partir das 22h, com transmissão ao vivo pelo canal pago TNT, pelo portal G1 e pela plataforma Globoplay. Mais canais de transmissão podem ser conferidos aqui.
Crusoé copia frases machistas de Pedro Bial para atacar Petra Costa
A revista digital de direita Crusoé, ligada ao site O Antagonista, copiou as frases machistas de Pedro Bial para atacar Petra Costa, a diretora de “Democracia em Vertigem”, que concorre ao Oscar de Melhor Documentário no domingo (9/2). Em entrevista à Rádio Gaúcha na segunda-feira (3/2), Bial afirmou que “Democracia em Vertigem”, que conta uma versão assumidamente parcial dos últimos anos da política brasileira, “vai contando as coisas num pé com bunda danado”, com “narração miada, insuportável, onde ela [Petra Costa, diretora e narradora] fica choramingando o filme inteiro”. Acusado de machismo, inclusive por colegas, como a ex-repórter da Globo Cristina Serra, Bial ainda arrematou: “É um filme de uma menina dizendo para a mamãe dela que fez tudo direitinho, que ela está ali cumprindo as ordens e a inspiração de mamãe, somos da esquerda, somos bons, não fizemos nada, não temos que fazer autocrítica”. “Nem que fosse por respeito às mulheres que fazem parte da sua vida (certamente, as há), Bial não poderia ter sido tão grosseiro na crítica que fez ao filme, usando os termos rasteiros que usou”, escreveu Cristina Serra em seu Facebook. Pois nesta sexta (7/2) a Crusoé fez copy-paste desse ataque. “’Democracia em Vertigem’ não oferece sequer material para debate ou discordância: é só o desabafo narcisista de uma garota inconformada porque o Brasil não é o país que sua mãe queria”, escreveu Jerônimo Teixeira na revista digital de direita, atacando também, entre outras coisas, “a voz chorosa de Petra”. Petra Costa, claro, não é uma “garota inconformada” nem uma “menina”, muito menos filhinha “chorosa” fazendo documentário para agradar a mãe. É uma cineasta que merece respeito por mais de uma década de reconhecimento internacional, que exibe seus filmes em festivais como Sundance, Locarno e Veneza, já venceu o Festival de Brasília, do Rio, de Havana, coleciona prêmios em vários eventos do mundo e vive atualmente o auge da carreira, com uma indicação ao Oscar. Pode-se discordar da narrativa claramente petista de “Democracia em Vertigem”, que de ingênua não tem nada – é uma aula de marketing político – , mas usar argumentos machistas para tentar diminuir a qualidade do trabalho (com 97% de aprovação no Rotten Tomatoes) e o talento amplamente reconhecido de sua diretora apenas demonstra o baixo nível a que chegou a discussão cultural neste país de presidente “imbroxável” e compartilhador de “golden shower”. “R-E-S-P-E-I-T-O”, já cantava Aretha Franklin (em versão traduzida), pedindo em nome das mulheres há meio século: “descubra o que isso significa”.










